quarta-feira, 23 de março de 2022

Dom Henrique Soares da Costa: Paixão segundo Lucas 9-10

“Então, o Senhor Se voltou e olhou para Pedro” (Lc 22,61).

Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas

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Paixão segundo Lucas IX: Lc 22,54-62

Eles prenderam Jesus e O levaram, conduzindo-O à casa do Sumo Sacerdote. Pedro acompanhava de longe. Eles acenderam uma fogueira no meio do pátio e sentaram-se ao redor. Pedro sentou-se no meio deles. Ora, uma criada viu Pedro sentado perto do fogo; encarou-o bem e disse: “Este aqui também estava com Ele!” Mas Pedro negou: “Mulher, eu nem O conheço!” Pouco depois um outro viu Pedro e disse: “Tu também és um deles!” Mas Pedro respondeu: “Homem, não sou”. Passou mais ou menos uma hora, e um outro insistia: “Certamente, este aqui também estava com Ele, porque é galileu!” Mas Pedro respondeu: “Homem, não sei o que estás dizendo!” Nesse momento, enquanto Pedro ainda falava, um galo cantou. Então, o Senhor Se voltou e olhou para Pedro. E Pedro lembrou-se da palavra que o Senhor lhe tinha dito: “Hoje, antes que o galo cante, três vezes Me negarás”. Então Pedro saiu para fora e chorou amargamente (Lc 22,54-62).

Prenderam Jesus. O homem pecador prende o Deus Santo, o Justo, o Inocente! Ainda hoje o processo maldito continua - e continua de modo particular no Ocidente, que nasceu do Evangelho, que se nutriu da seiva de Cristo, e, agora, com ódio cego e insano, volta-se contra o Senhor que um dia o iluminara. Nossa cultura neo-pagã prende Jesus: querem reduzi-Lo à vida privada, querem tirá-Lo de nossas escolas e repartições públicas, querem, a força, denegrir e desmoralizar Sua Igreja, querem emporcalhar por atacado todos os ministros do Senhor, desmoralizando o sacerdócio e esvaziando o sentido do celibato... Prenderam Jesus e matarão Jesus! Quanta loucura, quanta treva, quanto cheiro de pecado e de morte!

Cristo diante do Sinédrio e a negação de Pedro - Duccio di Buoninsegna

Levaram o Senhor nosso à casa de Caifás e de Anás, seu sogro, e verdadeiro chefe político de Israel. Não se poderia esperar outra atitude dos inimigos de Jesus, homens endurecidos no coração, homens que tinham tornado a religião um negócio e a Lei de Moisés uma prisão... Aqueles homens já não se comoviam, já não se deixavam questionar, já não sabiam rir com a beleza e simplicidade das coisas, já não procuravam a verdade... Estavam presos nas suas armadilhas ideológicas, nas suas convicções enferrujadas... Como poderiam, então, reconhecer em Jesus o bendito Enviado de Deus, o Santo Messias de Israel? - Cuidado, porque este também pode ser o nosso pecado: acostumar-se com Jesus, já não mais nos surpreendermos com Ele, que é tão surpreendente, e já não mais nos encantar com Ele, que é tão belo!

Mas, e nós, e Pedro, nesta história toda? “Pedro acompanhava de longe”.  Que vergonha eu sinto, Jesus, que vergonha! Porque sou como Pedro; não sou melhor! Quantas vezes Te sigo de longe, como se nada tivesse a ver Contigo, como se não Te conhecesse e não soubesse Quem és e não Te amasse! Jesus, Jesus! Traze-me para perto de Ti! Dá-me coragem para não Te seguir de longe, de modo descomprometido, mas de perto, participando de Tua dor, tomando parte da Tua vergonha, mostrando a cara, mostrando o peito e dizendo: “Sou cristão, sou discípulo d’Ele, sou encantado com o Seu amor, aposto n’Ele a minha vida!”.

Pedro, eu, eu, Pedro... Aquela mulher linguaruda e o mundo incrédulo encaram bem nos olhos e apontam para Pedro - para mim! - “Este aqui também estava com Ele! Tu também és um deles! Certamente, este aqui também estava com Ele...” Que honra para Pedro - para mim - deveriam ser essas acusações: estar com Ele, com o Salvador, com o amado Jesus! Ser um de Seus discípulos! Estar com Ele quando Lhe vem a vergonha da prisão e da paixão! - Estar Contigo sempre e, de modo, particular, nos momentos de cruz da minha vida, da vida da Igreja, da vida do mundo...

E, no entanto, eu e Pedro, Pedro e eu, eu Pedro, Te renego! Ai que vergonha, que palavras tristes, daquelas de cortar coração: “Eu nem O conheço...”.

Com meus atos já agi assim, com minha covardia já disse desse jeito, eu, meu querido Jesus, que tanto Te conheço, que sei que és o Santo de Deus, que és o sentido de minha vida, que és o Filho bendito de Deus!

Eu Te conheço, meu bom Mestre!

Que eu diga isto ao mundo, que eu não Te renegue: eu Te conheço, eu sou um dos Teus discípulos, eu sou filho da Tua Esposa Católica, eu sou cristão! Eu quero sê-lo sempre, na vida e na morte!

Então, o Senhor Se voltou e olhou para Pedro. E Pedro lembrou-se da palavra que o Senhor lhe tinha dito: ‘Hoje, antes que o galo cante, três vezes Me negarás’. Então Pedro saiu para fora e chorou amargamente”. - O Senhor Se voltou para Pedro e o olhou... Nenhuma palavra, só um olhar... Ai, que dor! De repente a luz de Cristo penetrou o coração de Pedro e ele se viu: viu sua miséria, sua covardia, sua indignidade, sua incapacidade de ser fiel, sua inaptidão para ser discípulo de Jesus!

- Olhar do meu Senhor, que repousando sobre mim me acusa e me perdoa, mostra minha culpa e a purifica! Olhar do meu Jesus, tão verdadeiro, tão doce, tão cheio de lamento, de dor e de misericórdia!

Que eu não fuja do Teu olhar, meu Jesus, mesmo quando ele me dói tanto! E, se eu te renego tanto, eu Pedro, que também eu chore amarga e arrependidamente como o Teu Apóstolo!

Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz remistes o mundo!

Paixão segundo Lucas X: Lc 22,63-65

Os guardas caçoavam de Jesus e espancavam-No; cobriam o Seu rosto e Lhe diziam: “Profetiza: quem foi que Te bateu?’ E O insultavam de muitos outros modos (Lc 22,63-65).

É grotesca a cena narrada no santo Evangelho: exposição ao ridículo, espancamento, insultos... Precisava a salvação do mundo incluir detalhes tão baixos, tão pouco nobres, tão pouco elegantes?

Hoje se tem uma tendência fortíssima de reduzir a nossa fé cristã a ideias: direitos humanos, solidariedade, valores do Reino, igualdade, cuidado com o meio ambiente, inclusão... Mas, a nossa fé é muito mais que isto! É a adesão à Pessoa adorável de Jesus nosso Senhor! A salvação não se deu por uma teoria, por uma ideia abstrata e aceitável por todos!

O mistério de nossa redenção, caro irmão, exigiu, de um modo que somente Deus sabe e nós nunca saberemos completamente, a Encarnação do Filho eterno: fez-Se homem, habitou nove meses num ventre, nasceu e cresceu como qualquer criança, passou pelos anos silenciosos de Nazaré, suou debaixo do sol quente da Palestina, cansou-Se, teve fome e sede, caiu em sono profundo naquele barco em plena tempestade, teve medo da morte, angustiou-Se...

Deus quis, Deus quer que a salvação passe pelo concreto de nossa existência: pelos nossos joelhos dobrados diante do Santíssimo, pela obediência às Sagradas Escrituras e à fé católica, pelo zelo para com os ritos litúrgicos, pelo jejum e a abstinência de carne de verdade, pelo esforço sincero de crescer nas virtudes como a castidade, a pureza de coração, a pobreza, o espírito de serviço aos irmãos...

Não! Não se pode ser discípulo de Cristo só com ideias: a coisa é concreta! Concreta como aqueles escarros, como as cusparadas e bofetadas, concreta - e, por vezes, ridícula - como aquele pano colocado como tampão no rosto do Salvador!

Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz remistes o mundo! 

Dom Henrique venera a Cruz

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