“Estou no meio de vós
como aquele que serve” (Lc 22,27)
Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas
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Paixão
segundo Lucas III: Lc 22,21-23
“Todavia, a mão de
quem Me vai entregar está Comigo, nesta mesa. Sim, o Filho do Homem vai morrer,
como está determinado. Mas, mas ai daquele homem por meio de quem Ele é
entregue”. Então, os apóstolos começaram a perguntar uns aos outros qual deles
haveria de fazer tal coisa (Lc 22,21-23).
Que revelação tão surpreendente: um dos discípulos, um de
nós, que comemos à Mesa do Senhor, que a cada Domingo partilhamos a Sua santa
Eucaristia...
Caro irmão, quem dentre nós pode dizer que nunca negou o
Senhor, que nunca O traiu, que nunca Lhe faltou? Um de nós...
Que o mundo odeie e fustigue o Senhor, nós já o sabemos -
basta ver o tanto de maldade contra a Igreja, sua doutrina, sua reta Tradição
apostólica, contra a verdade católica que ela traz e trará sempre no seu DNA!
Mas, somos nós, Seus discípulos, às vezes mesmo pastores da Sua Igreja, que
tanta vez O traímos com nosso pecado, com nossa infidelidade, com nossa
incoerência, com nossa pouca generosidade em corresponder ao Seu amor!
Lava pés - Duccio di Buoninsegna |
O Filho do Homem (frágil como todo filho de Adão, mas também
misterioso e grande como aquele Filho do Homem anunciado por Daniel como Juiz
dos últimos tempos), o Filho do Homem vai morrer, pois está misteriosamente
determinado pelo Pai. Mas, isto em nada tira a responsabilidade humana: a de
Judas, a minha, a sua... Ai daquele por
quem o Filho do Homem for entregue! Ai de mim, pelos meus pecados! Ai de
mim por minhas infidelidades e omissões! Ai de mim, que a providência do Senhor
Deus que tudo dirige em nada fere ou diminui a minha liberdade e minha
responsabilidade!
Senhor Jesus, Salvador nosso! Nem preciso Te perguntar! Eu
sei que sou eu, sei que Te entrego tantas vezes com meu pecado!
Ajuda-me, ó Redentor, para que eu não Te entregue como
Judas, não Te renegue como Pedro, não fuja como os Doze, mas, como o Bom
Ladrão, diga: Jesus, lembra-Te de mim
quando vieres no Teu Reino!
Paixão
segundo Lucas IV: Lc 22,24-30
Houve também uma
discussão entre eles sobre qual deles deveria ser considerado o maior. Jesus,
porém, lhes disse: “Os reis das nações dominam sobre elas, e os que têm poder
se fazem chamar benfeitores. Entre vós, não deve ser assim. Pelo contrário, o
maior entre vós seja como o mais novo, e o que manda, como quem está servindo.
Afinal, quem é o maior: quem está sentado à mesa, ou quem está servindo? Não é
quem está sentado à mesa? Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que
serve. Vós permanecestes Comigo em Minhas provações. Por isso, assim como o Pai
Me confiou o Reino, Eu também vos confio o Reino. Vós havereis de comer e beber
à Minha Mesa no Meu Reino, e sentar-vos em tronos para julgar as doze tribos de
Israel! (Lc 22,24-30).
Irmão meu, o nosso pecado - o seu, o meu! Jesus acaba de se
dar totalmente no pão, Seu Corpo, e no vinho, Seu Sangue; acaba de assinar Sua
entrega que será consumada na dor tremenda da Cruz... Jesus acaba de dizer que
é por nós, para nossa salvação... E nós discutimos sobre quem de nós é o maior,
o mais importante, o primeiro!
Até quando estaremos tão distantes do Coração do nosso
Salvador? Até quando à Sua lógica de servir, de doar-Se a nós, nós
contraporemos a lógica nossa, mundana, do prevalecer, do impor-nos, do nos
fazer valer? Esta é a lógica do mundo, dos grandes do mundo, dos “reis das
nações”: dominar, passar por bons e benfeitores... Infelizmente, ela está
também tão presente na Igreja... Mais do que imaginamos e admitimos... Que
pena! Que tristeza! Que vergonha!
- Perdão, meu Jesus! Perdão porque entre nós não deveria ser
assim e, infelizmente, tantas vezes, entre nós, Teus discípulos, Teus cristãos,
Teus ministros sagrados, é assim! Perdão, Senhor, porque nosso coração
disfarçadamente pulsa muitas vezes na lógica do mundo e não na Tua! Perdão,
Senhor, porque num momento tão solene quanto este da Ceia derradeira e de cada
Eucaristia ainda teimamos em arengar, disputar, querer impor-nos! Quão grande é
nossa dureza, quão medonha é nossa cegueira, quão duro é nosso coração!
Mestre, Senhor, crava em Ti o nosso olhar, fixa em Ti o
nosso coração: Tu és o Mestre, Tu, o Senhor! - e, no entanto, estás entre nós
(estarás sempre) como aquele que serve dando a vida sem medidas e sem reservas!
Perdoa-nos, Senhor, converte-nos Senhor, cura nosso coração de pedra, ó
Salvador nosso!
Depois, meu caro internauta, aquela palavra estupenda de
Jesus aos Doze, e que vale também para nós: “Vós permanecestes Comigo em Minhas provações. Por isso, assim como o
Pai Me confiou o Reino, Eu também vos confio o Reino”. Vale para cada
cristão, mas vale de modo todo especial para a ordem sacerdotal: os Bispos e
presbíteros. Vós permanecestes Comigo em
Minhas provações: nas provações da vida, nas solidões e dores, nos cansaços
e incompreensões, no desânimo e na vontade de ir-se embora, vós permaneceste
Comigo: vosso sofrimento tornou-se Meu sofrimento e Meu sofrimento tornou-se
presente e completo no vosso sofrimento! Vós permanecestes Comigo, não
fugistes! E como o Meu Pai entregou-Me o Reino pela Minha obediência até a
Morte, Eu também vos faço participantes desse Meu Reino (porque tudo quanto o
Pai tem é Meu)! Estai certos: comereis à Minha Mesa na Eucaristia eterna do
Céu, na qual Eu mesmo serei o alimento que sacia o coração, alegra a vida e
enche de sentido a existência. Não mais comerei nem beberei convosco neste
mundo... Ânimo, coragem! Eu vos preparo no Céu outra Mesa e lá vos saciareis
eternamente, porque permanecestes Comigo em todas as Minhas tribulações!
Nós Vos adoramos,
Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz
remistes o mundo!
Dom Henrique venera a Cruz |
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