“Não seja feita a
Minha vontade, mas a Tua!” (Lc 22,42).
Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas
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Paixão
segundo Lucas VII: Lc 22,39-46
Jesus saiu e, como de
costume, foi para o Monte das Oliveiras. Os discípulos O acompanharam. Chegando
ao lugar, Jesus lhes disse: “Orai para não entrardes em tentação”. Então
afastou-Se a uma certa distância e, de joelhos, começou a rezar: “Pai, se
queres, afasta de Mim este cálice; contudo, não seja feita a Minha vontade, mas
a Tua!” apareceu-Lhe um anjo do céu, que O confortava. Tomado de angústia,
Jesus rezava com mais insistência. Seu suor tornou-se como gotas de sangue que
caíam no chão. Levantando-Se da oração, Jesus foi para junto dos discípulos e
encontrou-os dormindo, de tanta tristeza. E perguntou-lhes: “Por que estais
dormindo? Levantai-vos e orai para não entrardes em tentação” (Lc 22,39-46).
Quantas vezes Jesus não deve ter rezado durante à noite
naquele monte! São Lucas diz: “como de
costume, foi para o Monte das Oliveiras”. O Senhor rezou, o Senhor fez de
toda a Sua existência uma oração, um estar e caminhar na presença do Pai...
Toda a existência humana do Filho bendito de Deus foi um diálogo com o Pai. Por
isso, sempre e em tudo, o nosso santíssimo Salvador não fez nada mais que falar
o que o Pai mandara, fazer o que o Pai Lhe ordenara, cumprir a missão do Pai
recebida... E agora, na Hora suprema, Hora da dor, da escuridão interior, da
agonia, fria como aquela noite, fria como aquelas trevas, o Filho amado pode
continuar com os olhos fixos no Pai! Só quem reza vê a Deus, só quem reza
caminha diante de Deus, só quem reza sabe a vontade de Deus, só quem reza pode
discernir os caminhos de Deus!
Agonia no Getsêmani - Duccio di Buoninsegna |
Por isso, nesta hora tremenda, a advertência de Jesus à Sua
Igreja, a cada um de nós: “Orai para não
entrardes em tentação”. Não há outro caminho! “Vigiai, unidos a Mim, Comigo
orando, sempre orando! Orai para estardes Comigo, orai para ritmar vosso
coração no ritmo do Meu, orai para que vossa luta seja a Minha luta e vosso
combate o Meu combate! Orai para sentirdes como Eu, para verdes como Eu vejo!”.
Jesus reza em agonia, Jesus reza com a alma humana em
trevas, Jesus reza na angústia que nós sentimos nos momentos de profunda treva
da nossa existência! Ele, de verdade, experimentou a nossa agonia - e ainda
maior, pois Sua dor era moral e espiritual: ali, naquele horto, Ele sentiu toda
a densidade do pecado do mundo, da maldade dos homens, das trevas da história
humana! Tudo parecia inútil, tudo sem sentido, tudo sem Deus! “Pai, onde estás?
Pai, por que escondes Teu Rosto bendito que ilumina Meus dias?”. Silêncio! Deus
Se cala!
“Afastou-se a uma
certa distância e, de joelhos, começou a rezar: ‘Pai, se queres, afasta de Mim
este cálice; contudo, não seja feita a Minha vontade, mas a Tua!’ Apareceu-Lhe
um anjo do céu, que O confortava. Tomado de angústia, Jesus rezava com mais
insistência. Seu suor tornou-se como gotas de sangue que caíam no chão”. A
dor foi tanta, a prostração moral é tamanha, que o Senhor caiu por terra, como
Seu suor em sangue... Bendita a nossa terra, a terra de nossa vida, que bebeu o
sangue angustiado do Salvador! E Ele rezou com mais insistência, teimosamente,
com perseverança... E o Pai silenciou! “Pai amado! Pai bendito! Eu sei que
sempre Me escutas, Eu sei que sempre Me amas!” E o Pai o confortou... Mas, Se manteve
silencioso e levou o Filho até a morte...
Senhor, Pai queridíssimo, quem pode compreender Teus
caminhos? Quem pode sondar Teus desígnios? Quem pode ver as marcas dos Teus
passos quando passas nas escuridões e dores de nossa pobre vida?
Senhor, sustenta a nossa fé! Senhor, une nosso coração ao
Coração do Teu Filho em agonia! Senhor bendito, Deus santo de Israel, Deus de
Abraão, de Isaac e de Jacó, acorda-nos do sono de nossa pouca fé, de nossa
indiferença, de nosso medo! Livra-nos do sono que nos faz ignorar Tuas dores
nas dores de Tua Igreja, dos Teus servos fieis!
E Tu, ó queridíssimo Jesus, ó bendito e santo Salvador
nosso!
Tu, repreende-nos, corrige-nos e mais uma vez faze-nos
ouvir: “Por que estais dormindo?
Levantai-vos e orai para não entrardes em tentação!”
Acorda-nos de nossa preguiça, aumenta a nossa fé, faz-nos
permanecer Contigo na agonia para estarmos Contigo na Glória!
Nós Vos adoramos,
Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz
remistes o mundo!
Paixão
segundo Lucas VIII: Lc 22,47-53
Jesus ainda falava,
quando chegou uma multidão. Na frente, vinha um dos Doze, chamado Judas, que se
aproximou de Jesus para beijá-Lo. Jesus lhe disse: “Judas, com um beijo tu
entregas o Filho do Homem?” Vendo o que ia acontecer, os que estavam com Jesus
disseram: “Senhor, vamos atacá-los com a espada?” E um deles feriu o empregado
do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Jesus, porém, ordenou:
“Deixai, basta!” E tocando a orelha do homem, o curou. Depois Jesus disse aos
sumos sacerdotes, aos chefes dos guardas do templo e aos anciãos, que tinham
vindo prendê-Lo: “Vós saístes com espadas e paus, como se eu fosse um ladrão?”
Todos os dias Eu estava convosco no templo, e nunca levantastes a mão contra
Mim. Mas esta é a vossa hora, a hora do poder das trevas” (Lc 22,47-53).
Não há desculpas para Judas: ele traiu Jesus! Fora amado
pelo Senhor, chamado, escolhido a dedo pelo Mestre e, agora, O traiu: traiu Seu
amor, traiu Sua confiança, traiu Sua eleição... Não sabemos bem seus motivos.
Os evangelistas dizem que ele era ladrão, e pela atitude mesquinha na casa de
Lázaro, reclamando do desperdício de Maria com o nardo nos pés do Senhor, vemos
que no coração do Iscariotes já não havia amor algum, mas somente o cálculo frio,
o egoísmo mesquinho e ruindade de coração...
Judas, o traidor, o “filho da perdição”, como Jesus o chama,
traiu o Mestre com um beijo. Judas era um dos nossos, era discípulo! - Senhor,
quantas vezes também nós Te traímos! Quantas vezes eu Te traí, fui-Te infiel;
quantas vezes, frio em relação a Ti e insensível aos Teus apelos! Pela traição
de Judas, Senhor, tem piedade! Pelas minhas traições, Senhor, misericórdia!
Pelas indiferenças e infidelidades de Teus discípulos, Senhor perdão!
“Esta é a vossa hora, a
hora do poder das trevas” - Palavras dramáticas, tremendas, do Salvador! Na
Sua Paixão e Morte é toda a força do mal que se manifesta, toda a potência
maléfica do pecado! Não nos iludamos: o mal existe e é tremendo! Existe e, em
última análise é manifestação de um mal maior, misterioso, articulado, pelo
Príncipe deste Mundo, o Pai da Mentira, aquele que é sedutor e mentiroso deste
o princípio! A Luz veio ao mundo para dissipar as trevas e agora elas investem
contra a Luz! Vão apagá-La na Sexta-feira Santa, como se já não houvesse mais
esperança, como se o bem fracassasse, como se a potência da Luz se exaurisse...
Há momentos em que essas trevas diabólicas mostram de tal
modo sua força e sua presença que se tornam quase palpáveis! Exemplos bem
concretos, atuais? O triste escândalo de alguns padres pedófilos, que é
aumentado, requentado, somente para denegrir a Igreja e abalar a credibilidade
do sacerdócio; a armação bem pensada e articulada para caluniar, difamar e
acusar levianamente a Igreja em bloco, procurando solapar sua autoridade
moral... Outro exemplo? O relativismo na fé e na moral que vemos no coração e
na boca de tantos membros da Igreja! “Esta
é a vossa hora, a hora do poder das trevas”.
- Senhor, quando trevas tão densas parecem extinguir a Tua luz
da vida do mundo, da vida da Igreja, da nossa vida, faz-nos olhar para Ti, ó
Luz que não se apaga, ó Sol que não conhece tramonto, ó Dia sem fim! Tu és a
Luz do mundo! As trevas não conseguiram Te reter, nunca conseguirão! Sobre a
treva tão densa do homem que nega o seu Deus e chega a matá-Lo na Cruz e no seu
coração, a Tua Luz é capaz de brilhar e dissipar toda noite, toda escuridão!
Que mistério: ao criar tudo, Deus criou a luz - só a luz! -
e separou a luz das trevas. Depois, as trevas quiseram matar a luz. Por fim, a
luz venceu na Ressurreição e, no final de tudo, como diz o Apocalipse, já não haverá noite, e ninguém mais vai precisar da luz
da lâmpada ou da luz do sol, porque o próprio Cordeiro imolado e ressuscitado
nos iluminará para sempre!
Nós Vos adoramos,
Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz
remistes o mundo!
Dom Henrique venera a Cruz |
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