quinta-feira, 3 de julho de 2025

Homilia do Papa: Jubileu dos Sacerdotes (2025)

Solenidade do Sagrado Coração de Jesus (Ano C)
Santa Missa com Ordenações Presbiterais
Jubileu dos Sacerdotes
Homilia do Papa Leão XIV
Basílica de São Pedro
Sexta-feira, 27 de junho de 2025

Hoje, Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, celebramos com alegria esta Eucaristia no Jubileu dos Sacerdotes.

Dirijo-me, portanto, em primeiro lugar a todos vós, queridos irmãos sacerdotes, que viestes ao túmulo do Apóstolo Pedro para atravessar a Porta Santa e para mergulhar de novo as vossas vestes batismais e sacerdotais no Coração do Salvador. Para alguns dos presentes este gesto realiza-se em um dia único da sua vida: o da Ordenação.

Falar do Coração de Cristo neste contexto é falar de todo o mistério da Encarnação, Morte e Ressurreição do Senhor, confiado a nós de modo especial para que o tornemos presente no mundo. Por isso, à luz das leituras que escutamos, meditemos juntos sobre o modo como podemos contribuir para esta obra de salvação.


Na 1ª leitura (Ez 34,11-16), o profeta Ezequiel fala-nos de Deus como um pastor que passa pelo meio do seu rebanho, contando as suas ovelhas uma a uma: vai à procura das perdidas, cura as feridas, ampara as fracas e doentes. Assim nos recorda, em um tempo de grandes e terríveis conflitos, que o amor do Senhor, pelo qual somos chamados a deixar-nos abraçar e plasmar, é universal, e que, aos seus olhos - e consequentemente também aos nossos -, não há lugar para divisões e ódios de qualquer tipo.

Depois, na 2ª leitura (Rm 5,5-11), recordando-nos que Deus nos reconciliou «quando ainda éramos fracos» (v. 6) e «pecadores» (v. 8), São Paulo convida a abandonarmo-nos à ação transformadora do Espírito que habita em nós, em um caminho quotidiano de conversão. A nossa esperança baseia-se na certeza de que o Senhor não nos abandona, mas acompanha-nos sempre. Somos chamados, porém, a colaborar com Ele, primeiramente colocando a Eucaristia no centro da nossa existência, «fonte e ápice de toda a vida cristã» (Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium, n. 11); depois, «pela frutuosa recepção dos sacramentos, especialmente pela frequente recepção do sacramento da Penitência» (Decreto Presbyterorum ordinis, n. 18); e, finalmente, através da oração, da meditação da Palavra e do exercício da caridade, conformando cada vez mais o nosso coração ao do «Pai das misericórdias» (ibid.).

E isto leva-nos ao Evangelho que ouvimos (Lc 15,3-7), que fala da alegria de Deus - e de todo o pastor que ama segundo o seu Coração - pelo regresso ao redil de uma só das suas ovelhas. É um convite a viver a caridade pastoral com a mesma magnanimidade do Pai, cultivando em nós o seu desejo: que ninguém se perca (cf. Jo 6,39), mas que todos, também através de nós, cheguem ao conhecimento de Cristo e n’Ele tenham a vida eterna (cf. Jo 6,40). É um convite a tornarmo-nos intimamente unidos a Jesus (cf. Presbyterorum ordinis, n. 14), semente de concórdia no meio dos irmãos, carregando sobre os nossos ombros quem se perdeu, perdoando quem errou, indo à procura de quem se afastou ou ficou excluído, cuidando de quem sofre no corpo e no espírito, em uma grande troca de amor que, brotando do lado transpassado do Crucificado, envolve todos os homens e preenche o mundo. O Papa Francisco escreveu a este respeito: «Da ferida do lado de Cristo continua a correr aquele rio que nunca se esgota, que não passa, que se oferece sempre de novo a quem quer amar. Só o seu amor tornará possível uma nova humanidade» (Encíclica Dilexit nos, n. 219).

O ministério sacerdotal é um ministério de santificação e de reconciliação para a unidade do Corpo de Cristo (cf. Lumen gentium, n. 7). Por isso, o Concílio Vaticano II pede aos presbíteros que se esforcem por «levar todos à unidade da caridade» (Presbyterorum ordinis, n. 9), harmonizando as diferenças para «que ninguém se sinta estranho» (ibid.). E recomenda-lhes a união com o Bispo e no presbitério (cf. nn. 7-8). Com efeito, quanto maior a unidade entre nós, tanto mais saberemos também conduzir os outros ao redil do Bom Pastor, para viver como irmãos na única casa do Pai.

Santo Agostinho, a este respeito, em um sermão proferido por ocasião do aniversário da sua ordenação, falou de um feliz fruto de comunhão que une os fiéis, os presbíteros e os Bispos, e que tem a sua raiz no sentirmo-nos todos redimidos e salvos pela mesma graça e misericórdia. Foi precisamente neste contexto que pronunciou a célebre frase: «Para vós sou Bispo, convosco sou cristão» (Sermão 340, 1).

Na Missa solene do início do meu pontificado expressei diante do Povo de Deus um grande desejo: «Uma Igreja unida, sinal de unidade e comunhão, que se torne fermento para um mundo reconciliado» (Homilia, 18 de maio de 2025). Volto, hoje, a partilhá-lo com todos vós: reconciliados, unidos e transformados pelo amor que jorra copiosamente do Coração de Cristo, caminhemos juntos nos seus passos, humildes e decididos, firmes na fé e abertos a todos na caridade, levemos ao mundo a paz do Ressuscitado, com aquela liberdade que nasce da consciência de sabermo-nos amados, escolhidos e enviados pelo Pai.

E agora, antes de terminar, dirijo-me a vós, queridos ordenandos, que em breve, pela imposição das mãos do Bispo e com uma renovada efusão do Espírito Santo, vos tornareis sacerdotes. Digo-vos algumas coisas simples, mas que considero importantes para o vosso futuro e o das almas que vos serão confiadas. Amai a Deus e aos vossos irmãos, sede generosos, fervorosos na celebração dos Sacramentos, na oração, especialmente na adoração, e no ministério; sede próximos do vosso rebanho, doai o vosso tempo e as vossas energias por todos, sem vos poupar, sem fazer distinções, como nos ensinam o lado transpassado do Crucificado e o exemplo dos santos. E, a este respeito, lembrai-vos que a Igreja, na sua história milenar, teve - e tem ainda hoje - figuras maravilhosas de santidade sacerdotal: a partir das comunidades das origens, entre os seus sacerdotes ela gerou e conheceu mártires, apóstolos incansáveis, missionários e campeões da caridade. Fazei desta riqueza um tesouro: interessai-vos pelas suas histórias, estudai as suas vidas e as suas obras, imitai as suas virtudes, deixai-vos inflamar pelo seu zelo, invocai a sua intercessão muitas vezes, com insistência! O nosso mundo frequentemente propõe modelos de sucesso e de prestígio duvidosos e inconsistentes. Não vos deixeis fascinar por eles! Em vez disso, olhai para o exemplo sólido e os frutos do apostolado, muitas vezes escondido e humilde, daqueles que na sua vida serviram ao Senhor e aos irmãos com fé e dedicação, e continuai a sua memória com a vossa fidelidade.

Por fim, confiemo-nos todos à proteção materna da Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe dos sacerdotes e Mãe da esperança: que ela acompanhe e sustente os nossos passos, para que cada dia configuremos mais o nosso coração com o de Cristo, supremo e eterno Pastor.


Fonte: Santa Sé.

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