sexta-feira, 20 de junho de 2025

Homilia do Papa: Jubileu do Esporte (2025)

Solenidade da Santíssima Trindade (Ano C)
Jubileu do Esporte
Homilia do Papa Leão XIV
Basílica de São Pedro
Domingo, 15 de junho de 2025

Queridos irmãos e irmãs,
Na 1ª leitura ouvimos as seguintes palavras: «Assim fala a Sabedoria de Deus: “O Senhor me possuiu como primícia de seus caminhos... Quando preparava os céus, ali estava eu... eu estava ao seu lado como mestre-de-obras; eu era seu encanto, dia após dia, brincando, todo o tempo, em sua presença, brincando na superfície da terra, e alegrando-me em estar com os filhos dos homens”» (Pr 8,22.27.30-31). Para Santo Agostinho, a Trindade e a sabedoria estão intimamente ligadas. A sabedoria divina é revelada na Santíssima Trindade e a sabedoria leva-nos sempre à verdade.

Hoje, enquanto celebramos a Solenidade da Santíssima Trindade, vivemos os dias do Jubileu do Esporte. O binômio Trindade-esporte não é usado com muita frequência, mas a associação não é descabida. Na verdade, toda boa atividade humana traz em si um reflexo da beleza de Deus, e certamente o esporte está entre elas. Afinal, Deus não é estático, nem está fechado em si mesmo. É comunhão, relação viva entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, que se abre à humanidade e ao mundo. A teologia denomina essa realidade de pericorese, ou seja, “dança”: uma dança de amor recíproco.


A vida brota desse dinamismo divino. Fomos criados por um Deus que se compraz e se alegra em dar a existência às suas criaturas e que “brinca”, como nos recordou a 1ª leitura (cf. Pr 8,30-31). Alguns Padres da Igreja chegam mesmo a falar, com ousadia, de um Deus ludens, de um Deus que se diverte (cf. São Salônio de Genebra, In Parabolas Salomonis expositio mystica; São Gregório Nazianzeno, Carmina, I, 2, 589). Eis a razão pela qual o esporte pode ajudar-nos a encontrar o Deus Trino: porque exige um movimento do “eu” para o outro, movimento que é certamente exterior, mas também e sobretudo interior. Sem isso, o esporte se reduz a uma estéril competição de egoísmos.

Pensemos na expressão “Dá-lhe!”, que é comumente usada pelos espectadores para encorajar os atletas durante as competições. Talvez não seja evidente, mas é um incentivo muito bonito: é o imperativo do verbo “dar”. E isso nos provoca uma reflexão: não se trata apenas de oferecer uma performance física, mesmo que extraordinária, mas de dar-se, de “jogar-se”. Trata-se de dar-se aos outros - para o próprio crescimento, para os torcedores, para os entes queridos, para os treinadores, para os colaboradores, para o público, até mesmo para os adversários - e, sendo verdadeiramente um esportista, isso vale além do resultado. São João Paulo II - que era, como sabemos, um esportista - assim falou: «O esporte é alegria de viver, jogo, festa, e como tal deve ser valorizado... mediante a recuperação da sua gratuidade, da sua capacidade de estreitar vínculos de amizade, de favorecer o diálogo e a abertura de uns aos outros... bem acima não só das duras leis da produção e do consumo, mas também de qualquer outra consideração puramente utilitarista e hedonista da vida» (Homilia na Missa do Jubileu dos Esportistas, 12 de abril de 1984).

Nesta perspectiva, gostaríamos de destacar três aspectos em particular que tornam o esporte, hoje, um meio precioso de formação humana e cristã.

Em primeiro lugar, em uma sociedade marcada pela solidão, na qual o individualismo exagerado deslocou o centro de gravidade do “nós” para o “eu”, fazendo com que o outro fosse ignorado, o esporte - especialmente quando é praticado em conjunto - ensina o valor da colaboração, do caminhar juntos, daquela partilha que, como já dissemos, está no coração mesmo da vida de Deus (cf. Jo 16,14-15). Desse modo, pode tornar-se um importante instrumento de recomposição e de encontro: entre os povos, nas comunidades, nos ambientes escolares e profissionais, nas famílias!

Em segundo lugar, em uma sociedade cada vez mais digital - na qual as tecnologias, embora aproximando pessoas distantes, muitas vezes afastam aqueles que estão próximos - o esporte valoriza a concretude do estar juntos, o sentido do corpo, do espaço, do esforço, do tempo real. Assim, contra a tentação de fugir para mundos virtuais, o esporte ajuda a manter um contato saudável com a natureza e com a vida concreta, único lugar onde é possível exercer o amor (cf. 1Jo 3,18).

Em terceiro lugar, em uma sociedade competitiva, onde parece que apenas os fortes e os vencedores merecem viver, o esporte também ensina a perder, colocando o homem frente a frente, na arte da derrota, com uma das verdades mais profundas da sua condição: a fragilidade, o limite, a imperfeição. Isto é importante, porque é a partir da experiência dessa fragilidade que nos abrimos à esperança. O atleta que nunca erra, que nunca perde, não existe. Os campeões não são máquinas infalíveis, mas homens e mulheres que, mesmo derrotados, encontram a coragem para se reerguer. A esse respeito, recordemos, mais uma vez, as palavras de São João Paulo II, que dizia que Jesus é “o verdadeiro atleta de Deus” porque venceu o mundo não com a força, mas com a fidelidade do amor (cf. Homilia na Missa do Jubileu dos Esportistas, 29 de outubro de 2000).

Não é por acaso que o esporte teve um papel significativo na vida de muitos santos do nosso tempo, tanto como prática pessoal quanto como meio de evangelização. Pensemos no Beato Pier Giorgio Frassati, padroeiro dos esportistas, que será proclamado santo no próximo dia 07 de setembro. A sua vida, simples e luminosa, recorda-nos que assim como ninguém nasce campeão, ninguém nasce santo. É o treinamento diário do amor que nos aproxima da vitória definitiva (cf. Rm 5,3-5) e nos torna capazes de trabalhar pela construção de um mundo novo. Afirmou-o também São Paulo VI que, vinte anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, recordava aos membros de uma associação esportiva católica o quanto o esporte tinha contribuído para trazer de volta a paz e a esperança a uma sociedade devastada pelas consequências da guerra (cf. Discurso aos membros do Centro Esportivo Italiano, 20 de março de 1965). Dizia ele: «Os vossos esforços visam a formação de uma nova sociedade... conscientes de que o esporte, nos sadios elementos formativos que valoriza, pode ser um instrumento muito útil para a elevação espiritual da pessoa humana, condição primeira e indispensável para uma sociedade ordenada, serena e construtiva» (ibid.).

Caros esportistas, a Igreja vos confia uma missão maravilhosa: ser reflexo do amor de Deus Trino nas vossas atividades, pelo vosso próprio bem e pelo bem dos vossos irmãos. Deixai-vos envolver com entusiasmo por esta missão: como atletas, como formadores, como sociedade, como grupos, como famílias. O Papa Francisco adorava sublinhar que, no Evangelho, Maria aparece ativa, em movimento, até mesmo “correndo” (cf. Lc 1,39), pronta a partir para socorrer os seus filhos - como sabem fazer as mães - ao menor sinal de Deus (cf. Discurso aos voluntários da Jornada Mundial da Juventude, 06 de agosto de 2023). Peçamos a ela que acompanhe as nossas iniciativas e os nossos esforços, orientando-os sempre para o melhor, até à vitória definitiva: a da eternidade, o “campo infinito” onde o jogo não terá fim e a alegria será plena (cf. 1Cor 9,24-25; 2Tm 4,7-8). 


Fonte: Santa Sé.

Nenhum comentário:

Postar um comentário