Celebrando a Solenidade de São Pedro e São Paulo, Apóstolos, recordamos a homilia e a meditação durante o Ângelus proferidas pelo Papa São João Paulo II (†2005) nesta ocasião há 25 anos, durante o Grande Jubileu do Ano 2000:
Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
Concelebração Eucarística e Imposição do Pálio aos Arcebispos Metropolitanos
Homilia do Papa João Paulo II
Praça de São Pedro
Quinta-feira, 29 de junho de 2000
1. “E vós, quem dizeis que Eu sou?” (Mt 16,15).
Jesus dirige aos discípulos esta pergunta sobre a sua
identidade enquanto se encontra com eles na Alta Galileia. Muitas vezes
acontecera que fossem eles a dirigir perguntas a Jesus; agora é Ele que os
interpela. A sua pergunta é precisa e espera uma resposta. Simão Pedro toma a
palavra em nome de todos: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (v. 16).
A resposta é extraordinariamente lúcida. Nela se reflete de
modo perfeito a fé da Igreja. Nela nos refletimos também nós. De modo
particular, reflete-se nas palavras de Pedro o Bispo de Roma, que por
vontade divina é seu indigno sucessor. E em volta dele e com ele vos refletis
nessas palavras também vós, queridos Arcebispos Metropolitanos,
aqui reunidos de várias partes do mundo para receber o Pálio na Solenidade dos
Santos Pedro e Paulo.
A cada um de vós dirijo a minha mais cordial saudação que,
de bom grado, estendo a quantos vos acompanharam a Roma e às vossas
Comunidades, espiritualmente unidas a nós nesta solene circunstância.
2. “Tu és o Cristo!”. À confissão de Pedro, Jesus responde:
“Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te
revelou isso, mas o meu Pai que está no céu” (v. 17).
És feliz, Pedro! És feliz porque esta verdade, que é central
na fé da Igreja, não podia emergir na tua consciência de homem, senão por obra
de Deus. Disse Jesus: “Ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece
o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11,27).
Reflitamos sobre esta passagem do Evangelho particularmente
densa: o Verbo encarnado revelou o Pai aos seus discípulos; agora é o momento
que o próprio Pai lhes revele o seu Filho Unigênito. Pedro acolhe a iluminação
interior e proclama com coragem: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!”.
Estas palavras nos lábios de Pedro provêm do profundo do
mistério de Deus. Revelam a verdade íntima, a própria vida de Deus. E Pedro,
sob a ação do Espírito divino, torna-se testemunha e confessor desta verdade
sobre-humana. A sua profissão de fé constitui assim a sólida base da fé da
Igreja: “Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18).
Sobre a fé e a fidelidade de Pedro está edificada a Igreja de Cristo.
A primeira comunidade cristã estava bem consciente disso, de
modo que, como narram os Atos dos Apóstolos, quando Pedro estava na
prisão, se recolheu para elevar a Deus uma ardente oração por ele (cf. At 12,5).
Ela foi ouvida, porque a presença de Pedro ainda era necessária à comunidade
que dava os seus primeiros passos: o Senhor enviou o seu anjo para libertá-lo
das mãos dos perseguidores (vv. 7-11). Estava escrito nos desígnios de Deus que
Pedro, depois de ter confirmado na fé os seus irmãos por muito tempo, deveria receber
o martírio aqui em Roma, juntamente com Paulo, o Apóstolo das nações, também
ele muitas vezes salvo da morte.
3. “O Senhor esteve a meu lado e me deu forças; Ele fez
com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as
nações” (2Tm 4,17). São palavras de Paulo ao fiel discípulo
Timóteo que escutamos na 2ª leitura. Elas dão testemunho da obra nele realizada
pelo Senhor, que o escolheu como ministro do Evangelho, “alcançando-o” no caminho
de Damasco (cf. Fl 3,12).
Envolvido em uma luz fulgurante, o Senhor se apresentou a
ele dizendo: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9,4),
enquanto uma força misteriosa o lançava por terra. “Quem és tu, Senhor?”,
pergunta Saulo. “Eu sou Jesus, a quem tu estás perseguindo!” (v. 5). Foi
esta a resposta de Cristo. Saulo perseguia os seguidores de Jesus, que o fez saber
que era Ele mesmo a ser perseguido neles. Ele, Jesus de Nazaré, o Crucificado,
que os cristãos afirmavam ter ressuscitado. Se, agora, Saulo experimentava sua
poderosa presença, era claro que Deus o havia verdadeiramente ressuscitado dos
mortos. Era precisamente Ele o Messias esperado por Israel, era Ele o Cristo
vivo e presente na Igreja e no mundo!
Saulo poderia compreender unicamente com a sua razão tudo
aquilo que tal evento comportava? Certamente não! Com efeito, fazia parte dos
desígnios misteriosos de Deus. Será o Pai a dar a Paulo a graça de conhecer o
mistério da redenção realizada em Cristo. Será Deus a permitir-lhe entender a
estupenda realidade da Igreja, que vive por Cristo, com Cristo e em Cristo. E
ele, que se tornou participante desta verdade, não cessará de proclamá-la
incansavelmente até aos extremos confins da terra.
A partir de Damasco, Paulo iniciará o seu itinerário
apostólico, que o levará a difundir o Evangelho em tantas partes do mundo então
conhecido. O seu impulso missionário contribuirá assim para a realização do
mandato de Cristo aos Apóstolos: “Ide e fazei discípulos todos os povos...” (Mt 28,19).
4. Caríssimos irmãos no Episcopado que viestes para receber
o Pálio, a vossa presença põe em eloquente destaque a dimensão universal da
Igreja, que derivou do mandato do Senhor: “Ide e fazei discípulos todos os
povos...” (Mt 28,19).
Com efeito, provindes de quinze países de quatro
continentes, e fostes chamados pelo Senhor a ser Pastores de
Igrejas Metropolitanas. A imposição do Pálio ressalta o
particular vínculo de comunhão que vos une à Sé de Pedro e manifesta a índole
católica da Igreja.
Todas as vezes que endossardes este Pálio, irmãos
caríssimos, recordai que como Pastores somos chamados a salvaguardar a pureza
do Evangelho e a unidade da Igreja de Cristo, fundada sobre a “rocha” da fé de
Pedro. A isto nos chama o Senhor; esta é a nossa irrenunciável missão de guias
previdentes do rebanho que o Senhor nos confiou.
5. A plena unidade da Igreja! Sinto ressoar em mim o mandato
de Cristo. Trata-se de um mandato mais do que nunca urgente neste início de
novo milênio. Por isto rezamos e trabalhamos sem nos cansarmos de esperar.
Com estes sentimentos, abraço e saúdo com afeto a delegação
do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla que veio para celebrar conosco a
memória litúrgica de Pedro e Paulo. Obrigado, venerados irmãos, pela vossa
presença e pela vossa cordial participação nesta solene celebração litúrgica.
Deus nos conceda chegarmos quanto antes à plena unidade de todos os que creem
em Cristo.
Obtenham-nos este dom os Apóstolos Pedro e Paulo, que a
Igreja de Roma recorda neste dia, no qual se faz memória do seu martírio e, portanto,
do seu nascimento para a vida em Deus. Por causa do Evangelho eles aceitaram
sofrer e morrer e se tornaram participantes da Ressurreição do Senhor. A sua
fé, confirmada pelo martírio, é a mesma fé de Maria, a Mãe dos que creem, dos
Apóstolos, dos Santos e Santas de todos os séculos.
Hoje a Igreja proclama novamente a sua fé.
É a nossa fé, a imutável fé da Igreja em Jesus, único Salvador
do mundo; em Cristo, o Filho do Deus vivo, morto e ressuscitado por nós e por
toda a humanidade.
Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
Papa João Paulo II
Ângelus
Quinta-feira, 29 de junho de 2000
Caríssimos irmãos e irmãs,
1. Hoje o Povo de Deus está em festa, de modo particular a
cidade e a Diocese de Roma, pela Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e
Paulo, considerados as colunas da Igreja universal. Pedro, a “rocha” sobre
a qual Cristo fundou sua Igreja (cf. Mt 16,18); Paulo, o “instrumento escolhido”
para levar o Evangelho às nações (cf. At 9,15). O pescador da Galileia
que, superada a prova dos dias sombrios da Paixão do seu Senhor, deverá
confirmar na fé os irmãos e apascentar o rebanho de Cristo; o fariseu zeloso
que, convertido no caminho de Damasco, se tornará arauto da salvação que vem da
fé.
Um arcano desígnio da Providência conduziu ambos a Roma,
para selar com o sangue o seu testemunho: Pedro, crucificado; Paulo,
decapitado. Um sepultado aos pés da colina do Vaticano; o outro ao longo da Via
Ostiense.
2. Como todos os anos, nesta solene circunstância temos a
honra e a alegria de acolher a Delegação do Patriarcado Ecumênico de
Constantinopla, que se une a nós para celebrar os Príncipes dos Apóstolos.
A cada um dos membros da Delegação dirijo a minha cordial saudação e um
fraterno abraço de paz no Senhor.
A significativa presença destes irmãos na fé é um gesto que
convida a esperar e a prosseguir, sem desanimarmos, no caminho do diálogo ecumênico.
Invocamos o Senhor para que quanto antes os cristãos do Oriente e do Ocidente
possam experimentar a alegria e a graça da plena unidade e da comunhão coral de
fé e de empenho apostólico.
Por esta especial intenção convido a rezar sobre os Túmulos
dos Apóstolos também vós, caros peregrinos vindos de todas as partes da terra
para o Grande Jubileu. Confio-vos duas intenções que estão particularmente no
meu coração no início do terceiro milênio: a unidade dos cristãos e a nova
evangelização.
3. Interceda por nós São Pedro, para que o ministério do seu
Sucessor seja reconhecido e aceito por todos como serviço à unidade do Povo de
Deus. A São Paulo peçamos que sustente a ação missionária da Igreja, especialmente
em relação a quantos ainda não receberam a Boa-Nova de Cristo Salvador.
Dirijamos, por fim, o nosso coração a Maria Santíssima, que
hoje invocamos como Rainha dos Apóstolos e Salus Populi Romani - salvação
do povo romano. E precisamente a vós, caríssimos irmãos e irmãs da Diocese de
Roma, me é grato dirigir um pensamento muito especial. Rezemos para que os
Santos Pedro e Paulo fortaleçam a nossa fé e nos ajudem a testemunhá-la em cada
ambiente e em cada circunstância.
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Imagens dos Apóstolos expostas na Praça de São Pedro |
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