sábado, 28 de junho de 2025

Homilia do Papa João Paulo II: São Pedro e São Paulo (2000)

Celebrando a Solenidade de São Pedro e São Paulo, Apóstolos, recordamos a homilia e a meditação durante o Ângelus proferidas pelo Papa São João Paulo II (†2005) nesta ocasião há 25 anos, durante o Grande Jubileu do Ano 2000:

Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
Concelebração Eucarística e Imposição do Pálio aos Arcebispos Metropolitanos
Homilia do Papa João Paulo II
Praça de São Pedro
Quinta-feira, 29 de junho de 2000

1. E vós, quem dizeis que Eu sou?” (Mt 16,15).
Jesus dirige aos discípulos esta pergunta sobre a sua identidade enquanto se encontra com eles na Alta Galileia. Muitas vezes acontecera que fossem eles a dirigir perguntas a Jesus; agora é Ele que os interpela. A sua pergunta é precisa e espera uma resposta. Simão Pedro toma a palavra em nome de todos: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (v. 16).

A resposta é extraordinariamente lúcida. Nela se reflete de modo perfeito a fé da Igreja. Nela nos refletimos também nós. De modo particular, reflete-se nas palavras de Pedro o Bispo de Roma, que por vontade divina é seu indigno sucessor. E em volta dele e com ele vos refletis nessas palavras também vós, queridos Arcebispos Metropolitanos, aqui reunidos de várias partes do mundo para receber o Pálio na Solenidade dos Santos Pedro e Paulo.

A cada um de vós dirijo a minha mais cordial saudação que, de bom grado, estendo a quantos vos acompanharam a Roma e às vossas Comunidades, espiritualmente unidas a nós nesta solene circunstância.


2.Tu és o Cristo!”. À confissão de Pedro, Jesus responde: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu” (v. 17).
És feliz, Pedro! És feliz porque esta verdade, que é central na fé da Igreja, não podia emergir na tua consciência de homem, senão por obra de Deus. Disse Jesus: “Ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11,27).

Reflitamos sobre esta passagem do Evangelho particularmente densa: o Verbo encarnado revelou o Pai aos seus discípulos; agora é o momento que o próprio Pai lhes revele o seu Filho Unigênito. Pedro acolhe a iluminação interior e proclama com coragem: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!”.

Estas palavras nos lábios de Pedro provêm do profundo do mistério de Deus. Revelam a verdade íntima, a própria vida de Deus. E Pedro, sob a ação do Espírito divino, torna-se testemunha e confessor desta verdade sobre-humana. A sua profissão de fé constitui assim a sólida base da fé da Igreja: “Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18). Sobre a fé e a fidelidade de Pedro está edificada a Igreja de Cristo.

A primeira comunidade cristã estava bem consciente disso, de modo que, como narram os Atos dos Apóstolos, quando Pedro estava na prisão, se recolheu para elevar a Deus uma ardente oração por ele (cf. At 12,5). Ela foi ouvida, porque a presença de Pedro ainda era necessária à comunidade que dava os seus primeiros passos: o Senhor enviou o seu anjo para libertá-lo das mãos dos perseguidores (vv. 7-11). Estava escrito nos desígnios de Deus que Pedro, depois de ter confirmado na fé os seus irmãos por muito tempo, deveria receber o martírio aqui em Roma, juntamente com Paulo, o Apóstolo das nações, também ele muitas vezes salvo da morte.

3. O Senhor esteve a meu lado e me deu forças; Ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações” (2Tm 4,17). São palavras de Paulo ao fiel discípulo Timóteo que escutamos na 2ª leitura. Elas dão testemunho da obra nele realizada pelo Senhor, que o escolheu como ministro do Evangelho, “alcançando-o” no caminho de Damasco (cf. Fl 3,12).

Envolvido em uma luz fulgurante, o Senhor se apresentou a ele dizendo: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9,4), enquanto uma força misteriosa o lançava por terra. “Quem és tu, Senhor?”, pergunta Saulo. “Eu sou Jesus, a quem tu estás perseguindo!” (v. 5). Foi esta a resposta de Cristo. Saulo perseguia os seguidores de Jesus, que o fez saber que era Ele mesmo a ser perseguido neles. Ele, Jesus de Nazaré, o Crucificado, que os cristãos afirmavam ter ressuscitado. Se, agora, Saulo experimentava sua poderosa presença, era claro que Deus o havia verdadeiramente ressuscitado dos mortos. Era precisamente Ele o Messias esperado por Israel, era Ele o Cristo vivo e presente na Igreja e no mundo!

Saulo poderia compreender unicamente com a sua razão tudo aquilo que tal evento comportava? Certamente não! Com efeito, fazia parte dos desígnios misteriosos de Deus. Será o Pai a dar a Paulo a graça de conhecer o mistério da redenção realizada em Cristo. Será Deus a permitir-lhe entender a estupenda realidade da Igreja, que vive por Cristo, com Cristo e em Cristo. E ele, que se tornou participante desta verdade, não cessará de proclamá-la incansavelmente até aos extremos confins da terra.

A partir de Damasco, Paulo iniciará o seu itinerário apostólico, que o levará a difundir o Evangelho em tantas partes do mundo então conhecido. O seu impulso missionário contribuirá assim para a realização do mandato de Cristo aos Apóstolos: “Ide e fazei discípulos todos os povos...” (Mt 28,19).

4. Caríssimos irmãos no Episcopado que viestes para receber o Pálio, a vossa presença põe em eloquente destaque a dimensão universal da Igreja, que derivou do mandato do Senhor: “Ide e fazei discípulos todos os povos...” (Mt 28,19).

Com efeito, provindes de quinze países de quatro continentes, e fostes chamados pelo Senhor a ser Pastores de Igrejas Metropolitanas. A imposição do Pálio ressalta o particular vínculo de comunhão que vos une à Sé de Pedro e manifesta a índole católica da Igreja.

Todas as vezes que endossardes este Pálio, irmãos caríssimos, recordai que como Pastores somos chamados a salvaguardar a pureza do Evangelho e a unidade da Igreja de Cristo, fundada sobre a “rocha” da fé de Pedro. A isto nos chama o Senhor; esta é a nossa irrenunciável missão de guias previdentes do rebanho que o Senhor nos confiou.

5. A plena unidade da Igreja! Sinto ressoar em mim o mandato de Cristo. Trata-se de um mandato mais do que nunca urgente neste início de novo milênio. Por isto rezamos e trabalhamos sem nos cansarmos de esperar.

Com estes sentimentos, abraço e saúdo com afeto a delegação do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla que veio para celebrar conosco a memória litúrgica de Pedro e Paulo. Obrigado, venerados irmãos, pela vossa presença e pela vossa cordial participação nesta solene celebração litúrgica. Deus nos conceda chegarmos quanto antes à plena unidade de todos os que creem em Cristo.

Obtenham-nos este dom os Apóstolos Pedro e Paulo, que a Igreja de Roma recorda neste dia, no qual se faz memória do seu martírio e, portanto, do seu nascimento para a vida em Deus. Por causa do Evangelho eles aceitaram sofrer e morrer e se tornaram participantes da Ressurreição do Senhor. A sua fé, confirmada pelo martírio, é a mesma fé de Maria, a Mãe dos que creem, dos Apóstolos, dos Santos e Santas de todos os séculos.

Hoje a Igreja proclama novamente a sua fé. É a nossa fé, a imutável fé da Igreja em Jesus, único Salvador do mundo; em Cristo, o Filho do Deus vivo, morto e ressuscitado por nós e por toda a humanidade.

Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
Papa João Paulo II
Ângelus
Quinta-feira, 29 de junho de 2000

Caríssimos irmãos e irmãs,
1. Hoje o Povo de Deus está em festa, de modo particular a cidade e a Diocese de Roma, pela Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, considerados as colunas da Igreja universal. Pedro, a “rocha” sobre a qual Cristo fundou sua Igreja (cf. Mt 16,18); Paulo, o “instrumento escolhido” para levar o Evangelho às nações (cf. At 9,15). O pescador da Galileia que, superada a prova dos dias sombrios da Paixão do seu Senhor, deverá confirmar na fé os irmãos e apascentar o rebanho de Cristo; o fariseu zeloso que, convertido no caminho de Damasco, se tornará arauto da salvação que vem da fé.
Um arcano desígnio da Providência conduziu ambos a Roma, para selar com o sangue o seu testemunho: Pedro, crucificado; Paulo, decapitado. Um sepultado aos pés da colina do Vaticano; o outro ao longo da Via Ostiense.

2. Como todos os anos, nesta solene circunstância temos a honra e a alegria de acolher a Delegação do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, que se une a nós para celebrar os Príncipes dos Apóstolos. A cada um dos membros da Delegação dirijo a minha cordial saudação e um fraterno abraço de paz no Senhor.
A significativa presença destes irmãos na fé é um gesto que convida a esperar e a prosseguir, sem desanimarmos, no caminho do diálogo ecumênico. Invocamos o Senhor para que quanto antes os cristãos do Oriente e do Ocidente possam experimentar a alegria e a graça da plena unidade e da comunhão coral de fé e de empenho apostólico.
Por esta especial intenção convido a rezar sobre os Túmulos dos Apóstolos também vós, caros peregrinos vindos de todas as partes da terra para o Grande Jubileu. Confio-vos duas intenções que estão particularmente no meu coração no início do terceiro milênio: a unidade dos cristãos e a nova evangelização.

3. Interceda por nós São Pedro, para que o ministério do seu Sucessor seja reconhecido e aceito por todos como serviço à unidade do Povo de Deus. A São Paulo peçamos que sustente a ação missionária da Igreja, especialmente em relação a quantos ainda não receberam a Boa-Nova de Cristo Salvador.
Dirijamos, por fim, o nosso coração a Maria Santíssima, que hoje invocamos como Rainha dos Apóstolos e Salus Populi Romani - salvação do povo romano. E precisamente a vós, caríssimos irmãos e irmãs da Diocese de Roma, me é grato dirigir um pensamento muito especial. Rezemos para que os Santos Pedro e Paulo fortaleçam a nossa fé e nos ajudem a testemunhá-la em cada ambiente e em cada circunstância.

Imagens dos Apóstolos expostas na Praça de São Pedro

Fonte: Santa Sé (Homilia / Ângelus). 

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