segunda-feira, 23 de junho de 2025

Discurso do Papa Leão XIV sobre a música sacra (2025)

Na tarde do dia 18 de junho de 2025 o Papa Leão XIV encontrou-se na Sala Régia do Palácio Apostólico com os participantes de um evento promovido pela Fundação Cardeal Domenico Bartolucci por ocasião dos 500 anos do nascimento de Giovanni Pierluigi da Palestrinagrande compositor italiano do Renascimento.

Após o lançamento de um selo comemorativo (com uma imagem realizada pelo pintor espanhol Raúl Berzosa) e uma apresentação musical, o Papa proferiu um breve discurso, destacando a figura de Palestrina e a importância da música sacra:

Papa Leão XIV
Discurso aos participantes do evento promovido pela Fundação Domenico Bartolucci no 500° aniversário do nascimento de Giovanni Pierluigi da Palestrina
Sala Régia do Palácio Apostólico
Quarta-feira, 18 de junho de 2025

Queridos irmãos e irmãs, boa tarde!
Depois de ter escutado estas vozes angelicais, quase seria melhor não falar e deixar-nos com esta belíssima experiência...

Gostaria de saudar Sua Eminência o Cardeal Dominique Mamberti, a Irmã Raffaella Petrini, os estimados Relatores e os ilustres convidados. Com alegria participo deste encontro no qual, com palavras e com música, celebramos a nova Emissão Filatélica promovida pela Fundação Bartolucci e realizada pelos Correios Vaticanos por ocasião do 5º Centenário de Palestrina.

Apresentação musical diante da Capela Paulina

Giovanni Pierluigi da Palestrina (1525-1594) foi, na história da Igreja, um dos compositores que mais contribuiu à promoção da música sacra, para «a glória de Deus e a santificação e edificação dos fiéis» (São Pio X, Motu proprio Tra le sollecitudini, 22 de novembro de 1903, n. 1), no contexto delicado e ao mesmo tempo apaixonante da Contrarreforma. As suas composições, solenes e austeras, inspiradas no canto gregoriano, unem estreitamente música e Liturgia, «quer dando mais doçura à oração e favorecendo maior harmonia, quer dando mais solenidade aos ritos sagrados» (Concílio Vaticano II, Constituição Sacrosanctum Concilium, n. 112).

A polifonia em si mesma, ademais, é uma forma musical cheia de significado, para a oração e para a vida cristã. Antes de tudo, com efeito, ela se inspira no texto sagrado, que pretende «revestir de melodia adequada» (Tra le sollecitudini, n. 1) para que possa alcançar melhor a «inteligência dos fiéis» (ibid.). Além disso, realiza este objetivo confiando as palavras a várias vozes, cada uma das quais as repete de modo próprio e original, com movimentos melódicos e harmônicos variados e complementares. Por fim, harmoniza tudo graças à habilidade com a qual o compositor desenvolve e entrelaça as melodias, respeitando as regras do contraponto, fazendo-as ecoar entre si, às vezes criando até mesmo dissonâncias, que depois encontram solução em novos acordes. O efeito dessa unidade dinâmica na diversidade - metáfora do nosso comum caminho de fé sob a guia do Espírito Santo - é o de ajudar o ouvinte a entrar sempre mais profundamente no mistério expresso pelas palavras, respondendo, quando oportuno, com responsórios ou in alternatim [alternadamente].

O Papa com o coro da Fundação Bartolucci

Precisamente graças a essa riqueza de forma e conteúdo, a tradição polifônica romana, além de ter nos deixado um imenso patrimônio de arte e espiritualidade, continua sendo ainda hoje, no campo musical, um ponto de referência a seguir, embora com as necessárias adaptações, na composição sacra e litúrgica, para que, através do canto, os fiéis participem de maneira «plena, consciente e ativa das celebrações litúrgicas» (Sacrosanctum Concilium, n. 14), com profundo envolvimento de voz, mente e coração. De tudo isso a Missa Papae Marcelli, no seu gênero, é um exemplo por excelência, assim como o precioso repertório de composições que nos foi deixado pelo inesquecível Cardeal Domenico Bartolucci (†2013), ilustre compositor e diretor do Coro da Pontifícia Capela Musical Sistina por quase cinquenta anos.

Portanto, agradeço todos que tornaram possível este encontro: a Fundação Bartolucci, os Relatores, o Coro e todos vós. Recordo-vos na minha oração. Santo Agostinho, falando do canto do Aleluia pascal, dizia: «Cantemo-lo agora, meus irmãos... Como costumam cantar os caminhantes, cantem, mas caminhem... Avante, avante no bem... Cantem e caminhem! Não se desviem do caminho, não voltem atrás, não parem!». (Sermão 256, 3). Façamos nosso o seu convite, particularmente neste tempo santo de júbilo. A todos a minha bênção.

Selo comemorativo dos 500 anos de Palestrina
(Com pintura de Raúl Berzosa)

Tradução nossa a partir do original italiano. Fonte: Santa Sé.

Confira também uma execução da Missa Papae Marcelli, mencionada no discurso do Papa: 


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