Santo Agostinho
Sermão 190 sobre a Natividade do Senhor
“Aproximemo-nos
ao presépio”
Celebremos, ó
cristãos, neste dia não o nascimento divino, mas o humano, isto é, aquele
mediante o qual Ele se moldou a nós, para que, tornando-se visível o invisível,
nós passemos das coisas visíveis às invisíveis.
Em conformidade
com a fé católica, devemos aceitar os dois nascimentos do Senhor: um divino e
outro humano; aquele fora do tempo, e este no tempo; ambos igualmente
maravilhosos. O primeiro sem mãe, o segundo sem pai. Se não chegamos a
compreender este, quando nos será possível narrar aquele? Quem poderá
compreender esta novidade nova, inaudita, única no mundo, incrível, porém
tornada crível, e de forma incrível crida no mundo, a saber: que uma virgem
concebesse, e uma virgem desse à luz e permanecesse sendo virgem? O que a razão
humana não compreende, o percebe a fé, e onde a razão humana desfalece, a fé
faz progressos.
Quem dirá que a
Palavra de Deus, por quem foram feitas todas as coisas, não pode produzir-se
uma carne inclusive sem mãe? Mas como Ele mesmo criou os dois sexos, isto é, o
masculino e o feminino, por esta razão quis honrar até em seu nascimento ambos
os sexos, por cuja libertação tinha vindo.
Sem dúvida,
conheceis a história da primeira queda. A serpente não se atreveu a falar ao
varão, e para derrubá-lo se serviu da ajuda da mulher. Através do sexo mais
frágil conseguiu chegar ao mais forte, e entrando por um só, alcançou a vitória
sobre os dois... Assim, pois, em nenhum deles temos de ofender ao Criador; o
nascimento do Senhor é esperança de salvação para os dois. A honra para o sexo
masculino está na carne de Cristo; a honra do feminino na Mãe de Cristo. A
graça de Jesus Cristo venceu a astúcia da serpente.
Renasçam ambos
os sexos no que hoje nasceu, e celebrem este dia, não porque Cristo o Senhor
começasse a existir hoje, mas porque o que existia desde sempre junto ao Pai
trouxe a esta luz a carne que recebeu de sua mãe, e a qual outorgou a
fecundidade, porém, sem privá-la da integridade. Ele é concebido, nasce, é um
infante. Quem é este infante? Chama-se infante a quem não consegue dizer nada,
ou seja, a quem não pode falar. Por isso, o Menino é o que não pode falar e ao
mesmo tempo é a Palavra. Na carne silencia, mas ensina através dos anjos. É
anunciado aos pastores o príncipe e pastor dos pastores, e está no presépio,
como alimento para os jumentos que são os fiéis. Tinha sido predito pelo
profeta: O boi reconheceu ao seu dono, e
o jumento o presépio do seu Senhor. Por isso estava sentado em um asno
quando entrou em Jerusalém em meio aos louvores da multidão que lhe seguia e
precedia. O reconheçamos também nós, nos aproximemos ao presépio, comamos o
alimento, levemos conosco a nosso Senhor e guia, para que sob sua direção
cheguemos à Jerusalém celeste. O nascimento de Cristo de sua mãe está selado
pela debilidade, porém grande é a majestade de seu nascimento divino. O dia
efêmero procede dos dias efêmeros, porém Ele é o dia eterno que procede do dia
eterno.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
541-543. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
Confira também uma homilia de São Leão Magno para esta celebração clicando aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário