São Cirilo de Alexandria
Sermão 15 sobre a Encarnação do Verbo
“A
Santíssima Virgem deve ser chamada Mãe de Deus”
Profundo, grande
e realmente admirável é o mistério da religião, ardentemente desejado inclusive
pelos santos anjos. De fato, diz em certa passagem um dos discípulos do
Salvador, referindo-se ao que os santos profetas falaram sobe Cristo, Salvador
de todos nós: E agora vos são anunciadas
por meio de pregadores que vos trazem o Evangelho com a força do Espírito
enviado do céu. São coisas que os anjos anseiam penetrar. E, na verdade,
quantos de forma inteligente se somaram a este grande mistério da religião, ao
encarnar-se Cristo, e davam graças por nós dizendo: Glória a Deus no céu, e na terra paz aos homens que Deus ama.
E apesar de ser
por sua própria natureza verdadeiro Deus, Verbo que procede de Deus Pai,
consubstancial e coeterno com Ele, resplandecente com a excelência de sua
própria dignidade, e da mesma condição do que o gerou, não se vangloriou de ser Deus, ao contrário, despojou-se de sua
distinção, e assumiu de Santa Maria a
condição de escravo, fazendo-se semelhante aos homens. E desta forma, atuando
como um dentre nós, esvaziou-se a si mesmo submetendo-se inclusive à morte, e
morte de cruz. E deste modo quis humilhar-se até ao aniquilamento Aquele
que a todos enriquece com a sua plenitude. Humilhou-se por nós sem ser coagido
por ninguém, mas assumindo livremente a condição servil por nós, Ele que era
livre por sua própria natureza.
Fez-se um de nós
Aquele que estava acima de toda a criatura; revestiu-se de mortalidade Aquele
que a todos vivifica. Ele é o pão vivo
para a vida do mundo. Conosco se submeteu à lei aquele que como Deus era
superior à lei e seu legislador. Fez-se, insisto, semelhante a um dos nascidos,
cuja vida tem um começo, Aquele que existia antes do tempo e há todos os
séculos; ainda mais: Ele que é o Autor e Criador dos tempos.
Como, então, se
fez igual a nós? Assumindo um corpo na Santíssima Virgem: e não um corpo
inanimado, como creram alguns hereges, mas um corpo informado por uma alma
racional. Foi desta forma que nasceu homem perfeito de uma mulher, porém sem
pecado. Nasceu verdadeiramente, e não somente em aparência ou de forma
maravilhosa. Ainda que, isso sim, sem renunciar à divindade nem deixar de ser o
que sempre foi, é e será: Deus! E precisamente por isso afirmamos que a
Santíssima Virgem é Mãe de Deus. Pois, como disse o bem-aventurado Paulo: Um só Deus, o Pai, de quem procede o
universo; e um só Senhor, Jesus Cristo, por quem existe o universo. Longe
de nós dividir em dois filhos ao único Deus e Salvador, ao Verbo de Deus
humanado e encarnado.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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