“O Espírito e a Esposa dizem: Amém! Vem,
Senhor Jesus!” (Ap 22,17.20).
Os dias 17 a 24
de dezembro formam, dentro do Tempo do Advento, o período de preparação próxima
para o Natal do Senhor. Assim, de 17 a 23 de dezembro somos convidados
a recitar as Antífonas maiores do Advento ou Antífonas do Ó.
Confira nossa postagem sobre a história do Tempo do Advento clicando aqui.
Essas antífonas
são aclamações a Cristo precedidas pelo vocativo “Ó”, de onde o seu nome: Ó
Sabedoria, Ó Emmanuel... Constituem um admirável resumo da teologia do Advento,
expressando o desejo pela vinda de Cristo, invocado com diversos títulos messiânicos
do Antigo Testamento.
A origem das Antífonas do Ó
Uma antífona é
um “refrão”, isto é, uma frase tomada da Sagrada Escritura ou da tradição da
Igreja, que é entoada antes e depois de um salmo ou outro cântico bíblico ou
mesmo entre cada estrofe [1].
As Antífonas do
Ó, que provavelmente surgiram em Roma entre os séculos VII e VIII, são um
conjunto de sete antífonas entoadas antes e depois do cântico evangélico das
Vésperas (oração da tarde da Liturgia das Horas), o Magnificat (Lc 1, 46-55),
de 17 a 23 de dezembro (uma vez que no dia 24 rezam-se já as I
Vésperas do Natal): O Sapientia, O
Adonai, O Radix Jesse, O Clavis David, O Oriens, O Rex Gentium, O Emmanuel.
Quando as antífonas
se difundiram por outras igrejas do Ocidente, como Inglaterra ou França, seu
número aumentou, chegando a oito, nove ou mesmo doze. Por exemplo, em algumas
dioceses da França, as antífonas costumavam ser nove, entoadas durante a novena
de Natal, acompanhando o Magnificat e
a solene incensação do altar [2].
A unidade das
sete antífonas originais é dada pelo acróstico: se tomamos a primeira letra de
cada antífona na ordem inversa encontramos a expressão latina “ERO CRAS” (Emmanuel, Rex, Oriens, Clavis, Radix, Adonai e Sapientia), que significa “Virei amanhã” ou “Estarei amanhã”. O
acróstico é como que a resposta de Cristo à insistente súplica da Igreja ao
longo das antífonas: “Vinde!”.
Além do
acróstico, todas as sete antífonas são dirigidas a Cristo. Em contrapartida, as
antífonas que foram acrescentadas por outras igrejas eram dirigidas tanto a Cristo (como “O Rex Pacifice”, “O Sancte sanctorum” e “O
pastor Israel”), quanto à Virgem Maria (“O Virgo virginum” e “O mundi
Domina”), ao Arcanjo Gabriel (“O
Gabriel, nuntius coelorum”) e mesmo à cidade de Jerusalém (“O Hierusalem”).
A Virgem Maria, com
efeito, permanece ligada às Antífonas do Ó: Nossa Senhora da Expectação (ou da
Expectativa) do Parto, isto é, Nossa Senhora grávida, celebrada no dia 18 de
dezembro, também é chamada de Nossa Senhora do Ó, em referência às célebres
antífonas.
Nossa Senhora do Ó (Sabará - MG) |
Em língua
inglesa, por sua vez, as sete antífonas originais se popularizaram no século
XIX, após a publicação de uma paráfrase pelo reverendo anglicano John Mason
Neale (†1866). Trata-se da canção “O
come, o come, Emmanuel” (ou, em latim, “Veni,
veni, Emmanuel”).
As Antífonas do Ó hoje
Na Liturgia das
Horas reformada pelo Concílio Vaticano II, as Antífonas do Ó são propostas como
antífonas do cântico evangélico das Vésperas, o Magnificat (Lc 1,46-55),
dos dias 17 a 23 de dezembro. Mesmo no IV Domingo do Advento, que cai sempre
nesses dias, recita-se a respectiva Antífona do Ó, tal a sua importância.
Além da Liturgia
das Horas, uma versão mais breve das antífonas é proposta como versículo de
aclamação ao Evangelho para a Missa desses dias, junto ao “Aleluia”, porém em
uma ordem ligeiramente distinta.
Painéis com as Antífonas do Ó na Catedral de Jacarta (Indonésia) |
A seguir
publicamos o texto das Antífonas do Ó, em seu original em latim e em sua
tradução oficial para o português do Brasil presente na Liturgia das Horas [3]:
17 de dezembro: Ó Sabedoria
O Sapientia, quae ex ore Altissimi prodiisti,
attingens a fine usque ad finem,
fortiter suaviterque disponens omnia:
veni ad docendum nos viam prudentiae.
Ó Sabedoria, que
saístes da boca do Altíssimo,
e atingis os
confins de todo o universo
e com força e
suavidade governais o mundo inteiro:
Ó vinde
ensinar-nos o caminho da prudência!
18 de dezembro: Ó Adonai
O Adonai, et dux domus Israel,
qui Moysi in igne flammae rubi apparuisti,
et ei in Sina legem dedisti:
veni ad redimendum nos in bracchio extento.
Ó Adonai, guia
da casa de Israel,
que aparecestes
a Moisés na sarça ardente
e lhe destes vossa
lei sobre o Sinai:
Vinde salvar-nos
com o braço poderoso!
19 de dezembro: Ó Raiz de Jessé
O Radix Iesse, qui stas in signum populorum,
super quem continebunt reges os suum,
quem gentes deprecabuntur:
veni ad liberandum nos, iam noli tardare.
Ó Raiz de Jessé,
ó estandarte, levantado em sinal para as nações!
Ante vós se
calarão os reis da terra,
e as nações
implorarão misericórdia:
Vinde
salvar-nos! Libertai-nos sem demora!
20 de dezembro: Ó Chave de Davi
O Clavis David, et sceptrum domus Israel,
qui aperis, et nemo claudit; claudis, et
nemo aperit:
veni et educ vinctum de domo carceris,
sedentem in tenebris et umbra mortis.
Ó Chave de Davi,
Cetro da casa de Israel,
que abris e
ninguém fecha, que fechais e ninguém abre:
Vinde logo e
libertai o homem prisioneiro,
que nas trevas e
na sombra da morte está sentado.
21 de dezembro: Ó Sol Nascente
O Oriens, splendor lucis aeternae et sol iustitiae:
veni, et illumina sedentes in tenebris et
umbra mortis.
Ó Sol nascente,
justiceiro, resplendor da Luz eterna:
Ó vinde e iluminai
os que jazem entre as trevas
e na sombra do
pecado e da morte estão sentados!
22 de dezembro: Ó Rei das Nações
O Rex Gentium, et desideratus earum,
lapisque angularis, qui facis utraque unum:
veni, et salva hominem, quem de limo formasti.
Ó Rei das nações,
Desejado dos povos;
Ó Pedra angular,
que os opostos unis:
Ó vinde e salvai
este homem tão frágil,
que um dia
criastes do barro da terra.
23 de dezembro: Ó Emmanuel
O Emmanuel, Rex et legifer noster,
exspectatio gentium et Salvator earum:
veni ad salvandum nos, Domine Deus noster.
Ó Emanuel, Deus-conosco,
nosso Rei Legislador,
Esperança das
nações e dos povos Salvador:
Vinde enfim para
salvar-nos, ó Senhor e nosso Deus!
“Hoje sabereis que o Senhor mesmo virá,
e amanhã haveis de ver a sua glória em nosso meio”
(Antífona do Invitatório do dia 24 de dezembro).
Representação das sete Antífonas do Ó (Catedral Episcopal de São Marcos, Seattle - EUA) |
Confira também uma reflexão de Dom Henrique Soares da Costa (†2020) sobre as Antífonas do Ó, aprofundando seus fundamentos bíblicos, clicando aqui.
Notas:
[1] cf. BERGER, Rupert. Antífona. in: Dicionário de Liturgia Pastoral: Obra de consulta sobre
todas as questões referentes à Liturgia. São Paulo: Loyola, 2010, pp. 24-25.
[2] Como vimos
em nossa postagem sobre a novena de Natal, no Brasil foi publicado o Ofício
Divino das Comunidades, uma versão simplificada da Liturgia das Horas, no qual
há nove antífonas: além das sete tradicionais, propõem-se para os dias 15 e 16
de dezembro as invocações “Ó Mistério” e “Ó Libertação” (cf. OFÍCIO DIVINO DAS COMUNIDADES. São Paulo: Paulus, 1994, pp.
495-503).
[3] OFÍCIO
DIVINO. Liturgia das Horas segundo o Rito
Romano. Tradução para o Brasil da segunda edição típica. São Paulo: Paulus,
1999, v. I: Tempo do Advento e Tempo do Natal, pp. 291.299.306.314.322.330.338.
Referências:
Henry, Hugh. O Antiphons. in: The Catholic Encyclopedia,
vol. 11, 1911. Disponível em: The New Advent.
RIGHETTI, Mario.
Historia de la Liturgia, v. I:
Introducción general; El año litúrgico; El Breviario. Madrid: BAC, 1955, p.
686.
TABORDA,
Francisco. Estarei amanhã (Erro cras):
Uma meditação teológica para o Advento. in: Revista Eclesiástica Brasileira,
Petrópolis, vol. 76, n. 303, jul./set. 2016, pp. 644-673.
VIGNERON, Jomar.
Antífonas do Ó: Um tesouro da Liturgia do
Advento. São Paulo: Paulus, 2014.
Postagem
publicada originalmente em 17 de dezembro de 2012. Revista e ampliada em 14 de
novembro de 2021.
Magnifíco!
ResponderExcluirPreparemos o caminho do Senhor.Antifonas de meditação soam como o amor que Cristo nos presenteou
ResponderExcluirMuito bom a informação!
ResponderExcluirMaranatá...
ResponderExcluirVem Senhor Jesus!
Diácono Inácio Filho.
Arquidiocese de Maceió.
Muito reconfortante e de paz espiritual
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