sábado, 29 de dezembro de 2018

Homilia: Festa da Sagrada Família - Ano C

São Gregório de Nissa
Comentário sobre o Cântico dos Cânticos - Sermão 3
“O Menino Jesus que nos nasceu é a verdadeira luz, a verdadeira vida e a justiça verdadeira”

O Menino Jesus que nos nasceu e que, nos que o recebem, cresce diversamente em sabedoria, idade e graça, não é idêntico em todos, mas se adapta à capacidade e idoneidade de cada um, e, na medida em que é acolhido, assim aparece ou como menino, ou como adolescente, ou como homem perfeito. É o que ocorre com o cacho de uvas: nem sempre ele se mostra idêntico na vide, mas vai mudando ao ritmo das estações: germina, floresce, frutifica, amadurece e se torna finalmente em vinho.
Assim, pois, a vinha, no fruto ainda não maduro nem apto para converter-se em vinho, contém já a promessa, porém deve esperar a plenitude dos tempos. Enquanto isso, o fruto não está de modo algum desprovido de atrativo: em vez de lisonjear ao gosto, lisonjeia ao olfato; na espera da vindima, conforta os sentidos da alma com a fragrância da esperança. A fé certa e segura da graça que espera é motivo de alegria para quem espera pacientemente alcançar o objeto da esperança. É exatamente o que acontece com o cacho de Chipre: promete vinho, não o sendo ainda; mas, mediante a flor - a flor da esperança -, garante a graça futura.
E uma vez que quem adere à lei do Senhor plenamente e a medita dia e noite se torna árvore perene, fértil com o frescor de águas vivas e frutificando a seu tempo, por esta razão a vinha do Esposo - que afunda suas raízes no fertilíssimo oásis de Engadi, isto é, na profunda meditação regada e alimentada pela Sagrada Escritura, produziu este cacho abundante de flor e de vitalidade - fixa a morada em quem o plantou e cultivou. Que belo cultivo, cujo fruto reflete a beleza do Esposo!
Ele é em verdade a verdadeira luz, a verdadeira vida e a justiça verdadeira, como se lê na Sabedoria e em outros trechos paralelos. E quando alguém, com suas obras, converte-se no que ele é, ao contemplar o “cacho” de sua consciência, vê nele ao mesmo Esposo, pois intui a luz da verdade no esplendor e na pureza de sua vida. Por isso diz aquela fértil videira: Meu é o cacho que floresce e germina. Ele é o verdadeiro cacho, que a si mesmo se exibe no madeiro e cujo sangue é alimento e salvação para quantos o bebem e se alegram em Cristo Jesus, nosso Senhor, ao qual a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 547-548. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de Orígenes para esta festa clicando aqui.

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