São Gregório de Nissa
Comentário sobre o Cântico dos Cânticos -
Sermão 3
“O
Menino Jesus que nos nasceu é a verdadeira luz, a verdadeira vida e a justiça
verdadeira”
O Menino Jesus
que nos nasceu e que, nos que o recebem, cresce diversamente em sabedoria,
idade e graça, não é idêntico em todos, mas se adapta à capacidade e idoneidade
de cada um, e, na medida em que é acolhido, assim aparece ou como menino, ou
como adolescente, ou como homem perfeito. É o que ocorre com o cacho de uvas:
nem sempre ele se mostra idêntico na vide, mas vai mudando ao ritmo das
estações: germina, floresce, frutifica, amadurece e se torna finalmente em
vinho.
Assim, pois, a
vinha, no fruto ainda não maduro nem apto para converter-se em vinho, contém já
a promessa, porém deve esperar a plenitude dos tempos. Enquanto isso, o fruto
não está de modo algum desprovido de atrativo: em vez de lisonjear ao gosto,
lisonjeia ao olfato; na espera da vindima, conforta os sentidos da alma com a
fragrância da esperança. A fé certa e segura da graça que espera é motivo de
alegria para quem espera pacientemente alcançar o objeto da esperança. É exatamente
o que acontece com o cacho de Chipre: promete vinho, não o sendo ainda; mas,
mediante a flor - a flor da esperança -, garante a graça futura.
E uma vez que
quem adere à lei do Senhor plenamente e a medita dia e noite se torna árvore
perene, fértil com o frescor de águas vivas e frutificando a seu tempo, por
esta razão a vinha do Esposo - que afunda suas raízes no fertilíssimo oásis de
Engadi, isto é, na profunda meditação regada e alimentada pela Sagrada
Escritura, produziu este cacho abundante de flor e de vitalidade - fixa a
morada em quem o plantou e cultivou. Que belo cultivo, cujo fruto reflete a
beleza do Esposo!
Ele é em verdade
a verdadeira luz, a verdadeira vida e a justiça verdadeira, como se lê na
Sabedoria e em outros trechos paralelos. E quando alguém, com suas obras,
converte-se no que ele é, ao contemplar o “cacho” de sua consciência, vê nele
ao mesmo Esposo, pois intui a luz da verdade no esplendor e na pureza de sua
vida. Por isso diz aquela fértil videira: Meu
é o cacho que floresce e germina. Ele é o verdadeiro cacho, que a si mesmo
se exibe no madeiro e cujo sangue é alimento e salvação para quantos o bebem e
se alegram em Cristo Jesus, nosso Senhor, ao qual a glória e o poder pelos
séculos dos séculos. Amém.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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