Na postagem anterior da nossa série sobre as Missas votivas dos santuários da Terra Santa, começamos a apresentar as “Missas votivas do
lugar” celebradas nos Santuários ligados
ao mistério da Encarnação: Nazaré e Ain Karem. Resta-nos agora falar sobre as igrejas de Belém.
Como já referimos, apresentaremos aqui a “oração do lugar”,
as indicações de leituras e do prefácio de cada celebração, além de algumas
adaptações dignas de nota.
3. BELÉM
3a. Basílica da Natividade / Igreja de
Santa Catarina
Ao falar de Belém, nosso pensamento se dirige primeiramente
à Basílica da Natividade, uma das três grandes Basílicas da Terra Santa (junto
com a Anunciação em Nazaré e o Santo Sepulcro em Jerusalém), que marca o local,
segundo a tradição, do nascimento de Jesus (Lc 2,1-7).
A primeira Basílica foi construída sob o patrocínio do
Imperador Constantino, após a visita de sua mãe, Santa Helena, à Terra Santa. Concluída
em 339, a primitiva igreja foi atingida por um incêndio em meados do século VI,
sendo restaurada sob o Imperador bizantino Justiniano.
Os cruzados mantiveram o edifício, enriquecendo-o com
mosaicos (hoje apenas parcialmente conservados). Embora tenha sido
posteriormente saqueada pelos muçulmanos e danificada por terremotos, a igreja
sobreviveu ao passo dos séculos.
Um dos elementos arquitetônicos que ajudou na sua
preservação é a chamada “porta da humildade”, o acesso à igreja de cerca de um
metro e meio de altura. Inicialmente um grande pórtico, foi diminuído justamente para
proteger a Basílica de ataques. Contudo, dá-se a esta entrada um sentido
simbólico: para contemplar o mistério, é necessário “abaixar-se”.
"Porta da humildade" |
Assim como o Santo Sepulcro, a Basílica da Natividade é
compartilhada pelas igrejas Católica Romana, Ortodoxa Bizantina e Ortodoxa
Armênia. A Igreja Ortodoxa Bizantina detém o controle sobre a maior parte da
Basílica, incluindo sua nave central.
Sob o altar central encontra-se a “Gruta da Natividade”, um
dos espaços mais antigos da Basílica. Nesta Gruta está o “Altar da Natividade”,
com uma placa de mármore que marca o local tradicional do nascimento de Jesus.
Uma estrela de prata de 14 pontas traz a inscrição: “Hic de Virgine Maria Jesus Christus natus est” (Aqui, da Virgem Maria, Jesus Cristo nasceu).
O número de pontas da estrela faz referência à genealogia de
Jesus no Evangelho de Mateus: “de
Abraão até Davi, 14 gerações; de Davi até o exílio na Babilônia, 14 gerações; e
do exílio na Babilônia até Cristo, 14 gerações” (Mt 1,17).
"Aqui, da Virgem Maria, Jesus Cristo nasceu" |
O “Altar da Natividade” é mantido pelas três igrejas,
simbolizadas pelas diversas lamparinas sempre acesas sob ele. Não obstante, próximo
à Gruta da Natividade há dois altares confiados à Custódia: o “altar da
Manjedoura” e o “altar dos Magos”. Além disso, há outras grutas próximas onde
os católicos podem celebrar a Missa, como a gruta de São José, a gruta dos
Santos Inocentes e a gruta de São Jerônimo, que passou o fim de sua vida
justamente junto à Basílica da Natividade.
Altar de São Jerônimo |
A Custódia da Terra Santa, porém, tem como templo principal
a igreja de Santa Catarina de Alexandria, ao lado da Basílica. Sua atual
construção remonta a meados do século XIX.
Missas votivas do
Nascimento do Senhor: Noite, Aurora e Dia
Tanto na igreja de Santa Catarina quanto nas grutas da
Basílica pode ser celebrada, primeiramente, a Missa votiva do seu mistério
titular: o nascimento do Senhor.
Toma-se um dos três formulários da solenidade: Missa da
Noite, Missa da Aurora ou Missa do Dia, com algumas adaptações (geralmente substituindo
o “hoje” por “aqui”).
Missa da Noite:
Antífona de entrada:
“Alegremo-nos todos no Senhor, pois aqui
nasceu o Salvador do mundo...”;
Oração do lugar:
“Ó Deus, que fizestes resplandecer este
santo lugar com a claridade da
verdadeira luz, concedei que, tendo vislumbrado na terra este mistério,
possamos gozar no céu sua plenitude”;
Refrão do salmo: “Aqui nasceu para nós o Salvador” (cf. Lc 2,11);
Evangelho: “José
subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, até esta cidade de Davi, chamada Belém, na Judeia...” (Lc 1,4);
“juntou-se ao anjo uma multidão da corte celeste. Cantavam aqui louvores a Deus...” (v. 13);
Antífona da Comunhão:
“A Palavra se fez homem e aqui nós
vimos a sua glória” (Jo 1,14) ou “Aqui, na cidade de Davi nasceu um
salvador que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11).
Missa da Aurora:
Antífona de entrada:
“Aqui surgiu a luz para o mundo: o
Senhor nasceu para nós...”;
Oração do lugar:
“Ó Deus onipotente, agora que a nova luz do vosso Verbo aqui Encarnado invade o nosso coração, fazei que manifestemos em
ações o que brilha pela fé em nossas mentes”;
Refrão do salmo: “Aqui a luz se levantou para nós”;
Evangelho: “Os
pastores vieram às pressas aqui a Belém e encontraram Maria e
José, e o recém-nascido, deitado na manjedoura...” (Lc 2,16).
Missa do Dia:
Antífona de entrada:
“Aqui um menino nasceu para nós: um
filho nos foi dado...” (cf. Is 9,5);
Oração do lugar:
“Ó Deus, que admiravelmente criastes o ser humano e mais admiravelmente
restabelecestes a sua dignidade, dai-nos participar da divindade do vosso
Filho, que aqui se dignou assumir a
nossa humanidade”;
Antífona da Comunhão:
“Os confins do universo contemplaram aqui
a salvação do nosso Deus” (Sl 97,3) ou
“A Palavra se fez homem e aqui nós
vimos a sua glória” (Lc 2,11).
Prefácio:
Qualquer que seja o formulário adotado, o Missal divulgado
pela Custódia indica os três Prefácios do Natal, à escolha. Dois deles também
possuem adaptações ao lugar:
Prefácio do Natal II:
“Ele, no mistério do Natal que celebramos, invisível em sua divindade,
tornou-se aqui visível em nossa
carne...”;
Prefácio do Natal III:
“Por ele, realiza-se aqui o
maravilhoso encontro que nos dá vida nova em plenitude...”.
Missa votiva da
Epifania do Senhor
Além
da Missa votiva do nascimento do Senhor, pode-se celebrar também a Missa votiva
da Epifania, tomando as orações e leituras da respectiva Solenidade.
Oração do dia: “Ó Deus, que nesta região do mundo revelastes o
vosso Filho às nações, guiando-as pela estrela, concedei aos vossos servos e
servas que já vos conhecem pela fé, contemplar-vos um dia face a face no céu”;
Evangelho: “Tendo nascido Jesus aqui na cidade de Belém, na Judeia, no
tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram...” (Mt 2,1);
Prefácio da Epifania: “Revelastes aqui o mistério de vosso Filho como luz
para iluminar todos os povos...” (o
Missal em português traz erroneamente o “hoje” ao invés do “aqui”, o qual
consta na edição em latim).
Missa votiva dos Santos Inocentes
Além
das duas Missas votivas dos mistérios centrais do Natal e da Epifania, pode-se celebrar
também a Missa votiva dos Santos Inocentes no altar dedicado em sua honra.
Tomam-se as orações da sua Festa (com um dos prefácios do Natal).
Oração do dia: “Ó Deus, aqui os Santos Inocentes proclamaram
vossa glória não por palavras, mas pela própria morte; dai-nos também testemunhar
com a nossa vida o que os nossos lábios professam”;
Leituras: Hab 1,2-4; 2,2-3 / Sl 123,2-6.8
(R: v. 7) / Hb 10,32-39 / Mt 2,13-18.
Missa votiva de São José
Junto
à gruta dos Santos Inocentes está o altar de São José, que marca o local onde o
anjo teria lhe avisado em sonho para fugir ao Egito. Neste altar pode-se
celebrar a Missa votiva de São José, sobre a qual já falamos na postagem sobre Nazaré.
3b. Gruta do Leite
Próximo à Basílica da Natividade encontra-se a Gruta do
Leite, onde, segundo a tradição, a Virgem Maria amamentou o Menino Jesus
enquanto José fazia os preparativos para a fuga ao Egito.
Desde os séculos V-VI os fiéis acorrem a esta gruta,
especialmente as mulheres que desejam engravidar ou as mães que têm dificuldade
em amamentar seus filhos. A atual igreja, porém, só foi construída em 1872.
Entrada da Gruta do Leite |
Missas votivas do
Nascimento do Senhor
Nesta gruta, por sua proximidade com a Basílica da
Natividade, pode-se celebrar as Missas votivas do nascimento do Senhor (da
Noite, da Aurora ou do Dia), como vimos acima.
Missa votiva de Santa
Maria Mãe de Deus
A titular da gruta, porém, é a Virgem Maria. Portanto, cabe
aqui a sua Missa votiva, com os textos já indicados quando falamos da Basílica da Anunciação: orações da Solenidade do dia 01 de janeiro (com o Prefácio da
Virgem Maria I) e leituras do Comum de Nossa Senhora.
3c. Beit Sahour: Campo dos Pastores
A localidade de Beit Sahour, próxima a Belém, é identificada
pela tradição como o “campo dos pastores”, onde estes guardavam os rebanhos
quando receberam o anúncio do anjo (Lc 2,8-20).
A igreja foi construída em 1953, inspirada em uma tenda de
pastores nômades. Os três altares da capela recordam: o anúncio do anjo aos
pastores (vv. 8-14), seu encontro com o Menino (vv. 15-19) e o seu retorno,
louvando a Deus (v. 20).
Igreja do campo dos pastores (Beit Sahour) |
As escavações em torno da igreja descobriram algumas grutas,
provavelmente usadas na agricultura, como depósitos de grãos. Nelas também é
possível celebrar a Missa.
Missas votivas do
Nascimento do Senhor
Dada sua associação com Belém, na igreja do “campo dos
pastores” pode-se celebrar as Missas votivas do nascimento do Senhor, como
vimos acima.
Missa votiva do
anúncio do Anjo aos pastores
Esta peculiar igreja possui também um formulário próprio de Missa
votiva do lugar: a Missa do anúncio do Anjo aos pastores (De commemoratione evangelizationis pastorum), sem paralelos no
Missal Romano (tomando deste apenas um dos Prefácios do Natal, à escolha).
Oração do lugar: “Aqui, ó Pai, pelo anúncio do anjo aos
humildes pastores, quisestes revelar, de modo admirável, o nascimento do vosso
Filho. Concedei a nós, que professamos a fé na sua Encarnação, participar da
sua vida imortal”;
Leituras: Is
11,1-10 / Sl 112,1-2. 4-8 (R: vv. 1.7) / 1Cor 1,19-31 / Lc 2,8-20;
Evangelho: “Aqui nesta região havia pastores que
passavam a noite nos campos, tomando conta do seu rebanho...” (Lc 2,8); “Os
pastores voltaram aqui, glorificando
e louvando a Deus...” (v. 20).
Imagens: Wikimedia Commons
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