segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Mensagem à 74ª Semana Litúrgica Nacional (Itália)

De 26 a 29 de agosto teve lugar em Modena (Itália) a 74ª Semana Litúrgica Nacional promovida pelo Centro Azione Liturgica, com o tema «Na Liturgia, a verdadeira oração da Igreja: Povo de Deus e ars celebrandi - “Fruto dos lábios que confessam o seu nome” (Hb 13,15)».

Confira a mensagem enviada pelo Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, em nome do Papa Francisco:

Papa Francisco
Mensagem assinada pelo Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, por ocasião da 74ª Semana Litúrgica Nacional
Modena, 26-29 agosto 2024

Do Vaticano, 21 de agosto de 2024.

A Sua Excelência Reverendíssima Dom Claudio Maniago, Arcebispo Metropolitano de Catanzaro-Squillace, Presidente do Centro Azione Liturgica

Excelência Reverendíssima,
Estou contente em transmitir a Mensagem do Santo Padre para os trabalhos da 74ª Semana Litúrgica Nacional, promovida pelo Centro de Ação Litúrgica (Centro Azione Liturgica) e acolhida pela Igreja de Modena-Nonantola, rica de história e de dons de santidade. O Papa Francisco, ao dirigir sua saudação a todos que participarão na Semana como organizadores, palestrantes, conferencistas e voluntários, assegura uma recordação especial na oração pelo melhor êxito das sessões de estudo e dos momentos celebrativos.

74ª Semana Litúrgica Nacional (Modena)

A Semana Litúrgica que vos preparais para viver tem como tema «Na Liturgia, a verdadeira oração da Igreja: Povo de Deus e ars celebrandi - “Fruto dos lábios que confessam o seu nome” (Hb 13,15)». Esse tema nos remete à especificidade da oração litúrgica, que rejeita toda forma de individualismo e de divisão. Ela, com efeito, é «participação na oração de Cristo, dirigida ao Pai no Espírito Santo» (Catecismo da Igreja Católica, n. 1073); é participação no sopro amoroso da Igreja-Esposa, que nos faz sentir parte da comunidade dos discípulos de todos os lugares e de todos os tempos; é escola de comunhão que liberta o coração da indiferença, encurta as distâncias entre os irmãos e conforma aos sentimentos de Jesus; é via mestra que nos transforma, educando-nos na Igreja para a vida boa do Evangelho.

Caríssimos, a Liturgia - como afirmava Romano Guardini - «introduz toda a amplitude da verdade na oração; de fato, ela não é outra cosa que o dogma rezado, a verdade revivida rezando» (O Espírito da Liturgia). As palavras do grande teólogo reforçam a evidência da dimensão objetiva da Liturgia, que «deve ser celebrada com fervor, para que a graça derramada no rito não se disperse, mas abranja a vida de cada pessoa» (Francisco, Catequese de 03 de fevereiro de 2021). Esta iniludível necessidade transparece também do vosso programa de estudos, que se centra na ars celebrandi, compromisso e atitude que todos os batizados são chamados a viver para sair da própria individualidade e abrir-se ao “nós” da Igreja na oração.

Na sua Carta Apostólica sobre a formação litúrgica o Papa Francisco recorda que os gestos próprios da assembleia, como o reunir-se, as posturas do corpo, o estar em silêncio, as expressões da voz, o envolvimento dos sentidos, são os modos pelos quais ela participa da celebração (cf. Desiderio desideravi, n. 51). E acrescenta que «realizar todos juntos o mesmo gesto, falar todos juntos a uma só voz, transmite a cada um a força de toda a assembleia. É uma uniformidade que não só não mortifica, mas que, pelo contrário, educa cada fiel a descobrir a unicidade autêntica da própria personalidade, não em atitudes individualistas, mas na consciência de ser um só corpo» (ibid.).

Partindo dessas perspectivas, o Santo Padre deseja oferecer-vos algumas prioridades concretas para centrar vossa reflexão na Liturgia como “verdadeira” oração da Igreja.

O primeiro compromisso que nos é proposto é redescobrir a coralidade da oração litúrgica, através da qual, unindo-nos à língua materna da Igreja, nos tornamos um só corpo e uma só voz. Santo Agostinho nos recordou a profunda relação da nossa oração com Cristo: quando rezamos, falamos com Dios, é o próprio Jesus quem «reza por nós, reza em nós e é rezado por nós. (...) Reconheçamos, pois, nossas vozes n’Ele e sua voz em nós» (Enarationes in Psalmos 85, 1: CCL 39, 1176). A beleza da verdade da oração cristã está precisamente nesse entrelaçamento de vozes, que poderíamos justamente chamar coralidade. Toda oração cristã é sempre feita a várias vozes, como toda ação litúrgica é sempre feita a várias mãos: estamos unidos a Cristo, e em Cristo encontramos toda a humanidade. Ora, o valor dessa coralidade da oração litúrgica não deve ser simplesmente afirmado, mas deve ser experimentado através da nossa celebração. Um dos momentos mais importantes em que podemos fazer essa experiência é a Liturgia das Horas, que ainda merece empenho para que se torne efetivamente oração do povo de Deus. Que nossas comunidades voltem a elevar em coro a oração dos Salmos e aprendam a viver, na Liturgia e na vida, o valor da unidade e da comunhão.

Catedral de Modena (Itália)

O segundo aspecto proposto ao vosso compromisso com a pastoral litúrgica é a relação com o canto sacro. A música na Liturgia não é um elemento ornamental, mas é parte integrante e necessária dela (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 112), contribuindo, junto com as demais linguagens que compõem a Liturgia, à epifania do mistério celebrado. No canto, com efeito, os fiéis vivem e expressam sua fé. São Paulo VI escreveu a respeito com grande sabedoria: «Se os fiéis cantam, não abandonam a Igreja; se não abandonam a Igreja, conservam a fé e a vida cristã» (Discurso à Assembleia Plenária do Episcopado da Itália, 14 de abril de 1964). O Papa recomenda, portanto, um cuidado especial, de modo particular na celebração da Eucaristia dominical, recordando como no canto, através da concordância das vozes, se expressa a união espiritual daqueles que se comunicam, se manifesta a alegria do coração e se enfatiza o caráter comunitário dos que se aproximam para receber a Eucaristia (cf. Instrução Geral do Missal Romano, n. 86).

A terceiro instrução diz respeito ao silêncio para o qual a Liturgia nos educa, como demonstram as constantes recordações na sinaxe eucarística ao ato de calar. O Papa, portanto, nos pede para rejeitar o frenesi, o ruído e a tagarelice que nos ameaçam na vida quotidiana, valorando o silêncio sagrado, gesto eloquente, tempo propício e espaço fecundo para permanecer no amor do Senhor, cultivar um olhar contemplativo, dar profundidade à oração do coração e deixar-se transformar pelo Espírito. Essa familiaridade ao acolher o silencio é o verdadeiro requisito para que a Igreja possa escutar Aquele que se revela no «sussurro de uma brisa suave» (cf. 1Rs 19,12).

A quarta e última dimensão que o Santo Padre confia ao vosso cuidado é a promoção da ministerialidade litúrgica, como fruto do ser a Igreja do Pentecostes (cf. Desiderio desideravi, n. 33).  Nessa ótica, e não em uma perspectiva funcional, é importante ler os ministérios a serviço da Liturgia: neles, com efeito, se manifesta a diversidade dos dons que o Espírito Santo suscita na comunidade cristã. A presença de uma ministerialidade diversificada, nutrida pela comunhão em Cristo, alimenta a participação ativa da assembleia e promove a corresponsabilidade na missão, manifestando concretamente a natureza sinodal da Igreja. Essa consciência, como nos recordou o Papa Francisco (cf. ibid., n. 38), requer um empenho constante de formação, para que se evitem personalismos e manias de protagonismo e se realize um verdadeiro serviço à comunhão.

O Santo Padre, ao enviar sua bênção a Vossa Excelência, a Dom Erio Castellucci, Arcebispo de Modena-Nonantola e Bispo de Carpi, aos demais Bispos e a todos os participantes, deseja que essas instruções impulsionem nossas comunidades cristãs a viver a oração litúrgica como um encontro com o Senhor Ressuscitado e com o seu Corpo que é a Igreja.

Enquanto também expresso a minha saudação pessoal, aproveito a ocasião para confirmar-me com sentimentos de distinto obséquio, de Vossa Excelência Reverendíssima devotíssimo,

Cardeal Pietro Parolin
Secretário de Estado


Tradução livre nossa a partir do texto italiano. Fonte: Santa Sé

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