quinta-feira, 17 de abril de 2025

Homilia do Papa João Paulo II: Missa Crismal (2000)

Nesta Semana Santa do Ano Jubilar de 2025 recordamos a homilia proferida pelo Papa São João Paulo II (†2005) na Missa Crismal (Missa dos Santos Óleos) há 25 anos, na manhã da Quinta-feira Santa do Grande Jubileu do Ano 2000:

Santa Missa Crismal
Homilia do Papa João Paulo II
Basílica de São Pedro
Quinta-feira Santa, 20 de abril de 2000

1.A Jesus, que... fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai, a Ele a glória e o poder para sempre” (Ap 1,5-6).
Escutamos estas palavras do Livro do Apocalipse na hodierna solene Missa Crismal, que precede o Sagrado Tríduo Pascal. Antes de celebrar os mistérios centrais da salvação, cada comunidade diocesana se reúne nesta manhã ao redor do próprio Pastor para a bênção dos Santos Óleos, que são instrumento da salvação nos diversos Sacramentos: Batismo, Confirmação, Ordem, Unção dos Enfermos. Estes sinais da graça divina recebem a sua eficácia do Mistério Pascal da Morte e Ressurreição de Cristo. Eis porque a Igreja coloca este rito no limiar do Tríduo Sagrado, no dia em que, com supremo ato sacerdotal, o Filho de Deus feito homem se ofereceu ao Pai em resgate por toda a humanidade.


2. “Fez de nós um reino e sacerdotes”. Entendemos esta expressão em dois níveis. O primeiro, como recorda o Concílio Vaticano II, em referência a todos os batizados, que “são consagrados como casa espiritual e sacerdócio santo, para que por todas as obras do homem cristão ofereçam sacrifícios espirituais” (Lumen gentium, n. 10). Todo cristão é sacerdote. Trata-se aqui do sacerdócio chamado “comum”, que compromete os batizados a viver o carácter sua oblação a Deus na participação na Eucaristia e nos Sacramentos, no testemunho de uma vida santa, na abnegação e na caridade concreta (cf. ibid.).

Em outro nível, a afirmação de que Deus “fez de nós um reino e sacerdotes” refere-se aos sacerdotes ordenados como ministros, isto é, chamados a formar e reger o povo sacerdotal e a oferecer em seu nome o sacrifício eucarístico a Deus na pessoa de Cristo (cf. ibid.). A Missa “Crismal” faz, assim, solene memória do único Sacerdócio de Cristo e exprime a vocação sacerdotal da Igreja, em particular do Bispo e dos presbíteros unidos a ele. No-lo recordará daqui a pouco o Prefácio: Cristo não só “enriqueceu a Igreja com um sacerdócio”, mas, “com bondade fraterna, escolhe homens que, pela imposição das mãos, participem do seu ministério sagrado”.

3.O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou com a unção... e enviou-me...” (Lc 4,18).
Caros sacerdotes, estas palavras referem-se a nós de maneira direta. Com a Ordenação Presbiteral fomos chamados a partilhar a mesma missão de Cristo, e hoje renovamos juntos os comuns compromissos sacerdotais. Com viva emoção, fazemos memória do dom recebido de Cristo, que nos chamou a uma especial participação no seu Sacerdócio.

Com a Bênção dos Óleos e, em particular, do santo Crisma, queremos dar graças pela unção sacramental, que se tornou a nossa parte da herança (cf. Sl 15,5). É um sinal de força interior, que o Espírito Santo concede a todo o homem chamado por Deus a particulares tarefas no serviço do seu Reino.

Ave sanctum Oleum: Oleum catechumenorum, Oleum infirmorum, Oleum ad sanctum Chrisma”. Enquanto damos graças em nome de quantos receberão estes santos sinais, oremos ao mesmo tempo para que a força sobrenatural que age através desses sinais não cesse de agir também na nossa vida. O Espírito Santo, que pousou sobre cada um de nós, encontre em cada um a devida disponibilidade para cumprir a missão para a qual fomos “ungidos” no dia da nossa Ordenação.

4. “Louvor a vós, ó Cristo, rei de eterna glória”. Vós viestes no meio de nós para proclamar o ano da graça do Senhor (cf. Lc 4,19).
Como recordei na Carta enviada aos Sacerdotes para a celebração de hoje, o Sacerdócio de Cristo está intrinsecamente unido ao mistério da Encarnação, cujo bimilenário celebramos neste Ano Jubilar. “Está inscrito na sua identidade de Filho encarnado, de homem-Deus” (n. 7). Eis porque esta sugestiva Liturgia da Quinta-feira Santa constitui, de certo modo, como que uma conatural celebração jubilar para nós, embora o Jubileu dos Sacerdotes neste Ano Santo esteja previsto para o próximo dia 18 de maio.

A existência terrena de Cristo, a sua “passagem” na história, desde sua Concepção no seio da Virgem Maria até sua Ascensão à direita do Pai, constitui um único acontecimento sacerdotal e sacrifical, inteiramente sob a “unção” do Espírito Santo (cf. Lc 1,35; 3,22).

Neste dia encontramos de modo especial Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, e cruzamos espiritualmente esta Porta Santa, que abre de par em par a todo o homem a plenitude do amor salvífico. Como Cristo foi dócil à ação do Espírito na condição de homem e de servo obediente, assim também o batizado e, de modo particular, o ministro ordenado devem sentir-se empenhados em realizar a própria consagração sacerdotal no humilde e fiel serviço a Deus e aos irmãos.

Iniciemos com estes sentimentos o Tríduo Pascal, ápice do Ano Litúrgico e do Grande Jubileu. Disponhamo-nos a realizar a intensa peregrinação pascal seguindo os passos de Jesus que sofre, morre e ressuscita. Sustentados pela fé de Maria, sigamos Cristo sacerdote e vítima, “que nos ama, que por seu sangue nos libertou dos nossos pecados e que fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai” (Ap 1,5-6).
Sigamo-lo e juntos proclamemos: “Louvor a vós, ó Cristo, rei de eterna glória”.
Vós, ó Cristo, sois o mesmo ontem, hoje e sempre. Amém!

Diáconos com o Óleo do Crisma
(Note-se o brasão de São João Paulo II na ânfora)

Fonte: Santa Sé (com pequenas correções do autor deste blog).

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