terça-feira, 15 de abril de 2025

Catequese do Papa João Paulo II: Semana Santa (2000)

Nesta Semana Santa do Ano Jubilar de 2025 recordamos a Catequese proferida pelo Papa São João Paulo II (†2005) há 25 anos, durante a Semana Santa do Grande Jubileu do Ano 2000:

João Paulo II
Audiência Geral
Quarta-feira, 19 de abril de 2000
Semana Santa

Queridos irmãos e irmãs,
1. O itinerário quaresmal, que iniciamos na Quarta-feira de Cinzas, atinge o seu ápice nesta Semana oportunamente denominada “Santa"”. Com efeito, preparamo-nos para reviver nos próximos dias os acontecimentos mais sagrados da nossa salvação:  a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Cristo.

Diante de nós, nestes dias, como símbolo eloquente do amor de Deus pela humanidade, está a Cruz. Ao mesmo tempo ressoa na Liturgia a invocação do Redentor agonizante: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” (Mt 27,46; Mc 15,34). Sentimos muitas vezes como “nosso” este grito de sofrimento nas várias e penosas situações da existência, que podem causar íntimo desalento, gerar preocupações e incertezas. Nos momentos de solidão e de desorientação, não raros na vida do homem, pode brotar na alma do fiel a exclamação: o Senhor me abandonou!


A Paixão de Cristo e a sua glorificação no lenho da Cruz, porém, oferecem uma chave de leitura diferente destes eventos. No Gólgota, no auge do sacrifício do seu Filho Unigênito, o Pai não o abandona, mas, antes, leva à plena realização o desígnio de salvação em favor de toda a humanidade. Na sua Paixão, Morte e Ressurreição nos é revelado que a última palavra na existência humana não é a morte, mas a vitória de Deus sobre a morte. O amor divino, manifestado em plenitude no Mistério Pascal, vence a morte e o pecado, que é a sua causa (cf. Rm 5,12).

2. Nestes dias da Semana Santa entramos no coração do desígnio salvífico de Deus. De modo particular durante este Ano jubilar, a Igreja quer recordar a todos que Cristo morreu por cada homem e cada mulher, porque o dom da salvação é universal. A Igreja mostra o rosto de um Deus crucificado, que não suscita temor, mas comunica apenas amor e misericórdia. Não é possível permanecer indiferente diante do sacrifício de Cristo! Na alma de quem se detém a contemplar a Paixão do Senhor brotam espontaneamente sentimentos de profunda gratidão. Subindo espiritualmente com Ele ao Calvário, chegamos a experimentar de algum modo a luz e a alegria que emanam da sua Ressurreição.

Reviveremos isto, com a ajuda de Deus, no Tríduo Pascal. Através da eloquência dos ritos da Semana Santa, a Liturgia nos mostrará a inseparável continuidade existente entre a Paixão e a Ressurreição. A Morte de Cristo traz já em si a semente da Ressurreição.

3. Prelúdio do Tríduo Pascal será a celebração da Santa Missa Crismal na manhã da Quinta-feira Santa, que verá reunidos nas Catedrais diocesanas os presbíteros em torno dos seus respectivos Pastores. Serão abençoados os Óleos dos Enfermos, dos Catecúmenos e o Crisma para a administração dos Sacramentos. Um rito denso de significado, acompanhado do gesto igualmente significativo da renovação dos compromissos e das promessas sacerdotais por parte dos presbíteros. É o dia dos sacerdotes, que todos os anos nos leva - a nós, ministros da Igreja - a redescobrir o valor e o sentido do nosso sacerdócio, dom e mistério de amor.

À tarde reviveremos o memorial da instituição da Eucaristia, sacramento do amor infinito de Deus pela humanidade. Judas trai Jesus; Pedro, apesar de todas as suas afirmações, o nega; os outros Apóstolos, no momento da Paixão, fogem. Poucos permanecem ao seu lado. No entanto, é a estes homens frágeis que o Senhor confia o seu testamento, oferecendo-se a si mesmo no Corpo entregue e no Sangue derramado para a vida do mundo (cf. Jo 6,51). Mistério incomensurável de condescendência e de bondade!

Na Sexta-feira Santa ressoará o relato da Paixão e seremos convidados a venerar a Cruz, símbolo extraordinário da misericórdia divina. Ao homem, muitas vezes incerto em distinguir o bem do mal, o Crucificado indica a única via que dá sentido à existência humana. É o caminho do total acolhimento da vontade de Deus e do generoso dom de si aos irmãos.

No Sábado Santo, um dia de grande silêncio litúrgico, nos deteremos a refletir sobre o sentido destes eventos. A Igreja vigiará solícita com Maria, Mãe das Dores, e com ela esperará a aurora da Ressurreição. Com efeito, no início do “primeiro dia depois do sábado” o silêncio será rompido pelo jubiloso anúncio pascal, proclamado pelo festivo cântico do Exsultet durante a solene Liturgia da Vigília Pascal. O triunfo de Cristo sobre a morte virá abalar, com a pedra do sepulcro, os corações e as mentes dos fiéis e inundá-los do mesmo júbilo experimentado por Madalena, pelas mulheres piedosas, pelos Apóstolos e por aqueles aos quais o Ressuscitado manifestou-se no dia de Páscoa.

4. Caríssimos irmãos e irmãs, disponhamos o coração para vivermos intensamente este Tríduo Sagrado. Deixemo-nos invadir pela graça destes dias santos e, como já exortava o Bispo Santo Atanásio, “sigamos também nós o Senhor, isto é, imitemo-lo, e assim encontraremos o modo de celebrar a festa não só exteriormente, mas da maneira mais efetiva, isto é, não só com as palavras, mas também com as obras” (Cartas pascais, 14, 2).

Com estes sentimentos, desejo a todos vós e aos vossos entes queridos um profícuo Tríduo Sagrado e uma alegre Páscoa da Ressurreição.

Cristo Crucificado
(Jerzy Duda-Gracz)

Fonte: Santa Sé (com pequenas correções do autor deste blog).

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