Nesta Semana Santa do Ano Jubilar de 2025 recordamos a Catequese proferida pelo Papa São João Paulo II (†2005) há 25 anos, durante a Semana Santa do Grande Jubileu do Ano 2000:
João Paulo II
Audiência Geral
Quarta-feira, 19 de abril de 2000
Semana Santa
Queridos irmãos e irmãs,
1. O itinerário quaresmal, que iniciamos na Quarta-feira de Cinzas, atinge o seu ápice nesta Semana oportunamente denominada “Santa"”.
Com efeito, preparamo-nos para reviver nos próximos dias os acontecimentos mais
sagrados da nossa salvação: a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Cristo.
Diante de nós, nestes dias, como símbolo eloquente do amor de Deus
pela humanidade, está a Cruz. Ao mesmo tempo ressoa na Liturgia a invocação do
Redentor agonizante: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” (Mt 27,46; Mc 15,34).
Sentimos muitas vezes como “nosso” este grito de sofrimento
nas várias e penosas situações da existência, que podem causar íntimo
desalento, gerar preocupações e incertezas. Nos momentos de solidão e de desorientação,
não raros na vida do homem, pode brotar na alma do fiel a exclamação: o
Senhor me abandonou!
A Paixão de Cristo e a sua glorificação no lenho da Cruz, porém,
oferecem uma chave de leitura diferente destes eventos. No Gólgota, no auge do
sacrifício do seu Filho Unigênito, o Pai não o abandona, mas, antes, leva à
plena realização o desígnio de salvação em favor de toda a humanidade. Na sua Paixão,
Morte e Ressurreição nos é revelado que a última palavra na existência humana
não é a morte, mas a vitória de Deus sobre a morte. O amor divino, manifestado
em plenitude no Mistério Pascal, vence a morte e o pecado, que é a sua causa (cf. Rm 5,12).
2. Nestes dias da Semana Santa entramos no coração do desígnio
salvífico de Deus. De modo particular durante este Ano jubilar, a Igreja quer
recordar a todos que Cristo morreu por cada homem e cada mulher, porque o dom
da salvação é universal. A Igreja mostra o rosto de um Deus crucificado, que
não suscita temor, mas comunica apenas amor e misericórdia. Não é possível permanecer
indiferente diante do sacrifício de Cristo! Na alma de quem se detém a
contemplar a Paixão do Senhor brotam espontaneamente sentimentos de profunda
gratidão. Subindo espiritualmente com Ele ao Calvário, chegamos a experimentar
de algum modo a luz e a alegria que emanam da sua Ressurreição.
Reviveremos isto, com a ajuda de Deus, no Tríduo Pascal. Através
da eloquência dos ritos da Semana Santa, a Liturgia nos mostrará a inseparável
continuidade existente entre a Paixão e a Ressurreição. A Morte de Cristo traz já
em si a semente da Ressurreição.
3. Prelúdio do Tríduo Pascal será a celebração da Santa Missa
Crismal na manhã da Quinta-feira Santa, que verá reunidos nas Catedrais
diocesanas os presbíteros em torno dos seus respectivos Pastores. Serão abençoados
os Óleos dos Enfermos, dos Catecúmenos e o Crisma para a administração dos
Sacramentos. Um rito denso de significado, acompanhado do gesto igualmente
significativo da renovação dos compromissos e das promessas sacerdotais por
parte dos presbíteros. É o dia dos sacerdotes, que todos os anos nos leva - a nós,
ministros da Igreja - a redescobrir o valor e o sentido do nosso sacerdócio,
dom e mistério de amor.
À tarde reviveremos o memorial da instituição da Eucaristia,
sacramento do amor infinito de Deus pela humanidade. Judas trai Jesus; Pedro,
apesar de todas as suas afirmações, o nega; os outros Apóstolos, no momento da Paixão,
fogem. Poucos permanecem ao seu lado. No entanto, é a estes homens frágeis que
o Senhor confia o seu testamento, oferecendo-se a si mesmo no Corpo entregue e
no Sangue derramado para a vida do mundo (cf. Jo 6,51).
Mistério incomensurável de condescendência e de bondade!
Na Sexta-feira Santa ressoará o relato da Paixão e seremos
convidados a venerar a Cruz, símbolo extraordinário da misericórdia divina. Ao
homem, muitas vezes incerto em distinguir o bem do mal, o Crucificado indica a
única via que dá sentido à existência humana. É o caminho do total acolhimento
da vontade de Deus e do generoso dom de si aos irmãos.
No Sábado Santo, um dia de grande silêncio litúrgico, nos deteremos
a refletir sobre o sentido destes eventos. A Igreja vigiará solícita com Maria,
Mãe das Dores, e com ela esperará a aurora da Ressurreição. Com efeito, no início
do “primeiro dia depois do sábado” o silêncio será rompido pelo jubiloso
anúncio pascal, proclamado pelo festivo cântico do Exsultet durante
a solene Liturgia da Vigília Pascal. O triunfo de Cristo sobre a morte virá
abalar, com a pedra do sepulcro, os corações e as mentes dos fiéis e inundá-los
do mesmo júbilo experimentado por Madalena, pelas mulheres piedosas, pelos
Apóstolos e por aqueles aos quais o Ressuscitado manifestou-se no dia de
Páscoa.
4. Caríssimos irmãos e irmãs, disponhamos o coração para vivermos
intensamente este Tríduo Sagrado. Deixemo-nos invadir pela graça destes dias
santos e, como já exortava o Bispo Santo Atanásio, “sigamos também nós o
Senhor, isto é, imitemo-lo, e assim encontraremos o modo de celebrar a festa
não só exteriormente, mas da maneira mais efetiva, isto é, não só com as
palavras, mas também com as obras” (Cartas pascais, 14, 2).
Com estes sentimentos, desejo a todos vós e aos vossos entes
queridos um profícuo Tríduo Sagrado e uma alegre Páscoa da Ressurreição.
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Cristo Crucificado (Jerzy Duda-Gracz) |
Fonte: Santa Sé (com pequenas correções do autor deste blog).
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