Ao iniciarmos a Semana Santa deste Ano Jubilar de 2025 recordamos a homilia proferida pelo Papa São João Paulo II (†2005) há 25 anos, no Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor (Ano B) do Grande Jubileu do Ano 2000:
Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor
Homilia do Papa João Paulo II
Praça de São Pedro
Domingo, 16 de abril de 2000
1. “Benedictus
qui venit in nomine Domini... Bendito o que vem em nome
do Senhor!” (Mt 21,9; cf. Sl 117,26).
Na onda destas palavras chega a nós o eco do entusiasmo com
que os habitantes de Jerusalém acolheram Jesus para a festa da Páscoa.
Escutamo-las novamente cada vez que, durante a Missa, entoamos o “Sanctus”.
Depois de dizer: “Pleni sunt coeli et terra gloria tua”,
acrescentamos: “Benedictus qui venit in nomine Domini. Hosanna in
excelsis”.
Esse hino, cuja primeira parte foi tomada do profeta
Isaías (cf. Is 6,3), exalta o Deus “três vezes santo”. Prossegue
em seguida, na segunda parte, expressando a alegria reconhecida da assembleia
diante da realização das promessas messiânicas: “Bendito o que vem em nome do
Senhor! Hosana nas alturas!”.
O pensamento dirige-se naturalmente para o povo da Aliança
que, durante séculos e gerações, viveu na expectativa do Messias. Alguns acreditavam
ver em João Batista aquele em quem se cumpriam as promessas. Como sabemos, porém,
à pergunta explícita sobre sua eventual identidade messiânica, o Precursor
respondeu com uma clara negação, remetendo a Jesus quantos o interrogavam.
A convicção de que os tempos haviam chegado crescia no povo,
primeiro pelo testemunho do Batista, e depois graças às palavras e aos sinais
realizados por Jesus e, de modo especial, por causa da ressurreição de Lázaro,
ocorrida alguns dias antes do ingresso em Jerusalém, do qual fala o Evangelho de
hoje. Eis porque a multidão, quando Jesus chega na cidade cavalgando um
jumento, recebe-o com uma explosão de júbilo: “Bendito o que vem em nome do
Senhor! Hosana no mais alto dos céus!” (Mt 21,9).
2. Os ritos do Domingo de Ramos refletem a exultação do povo
à espera do Messias, mas, ao mesmo tempo, caracterizam-se como Liturgia “da Paixão”
em sentido pleno. Eles, com efeito, abrem diante de nós a perspectiva do já
iminente drama, que acabamos de reviver no relato do evangelista Marcos. Também
as outras leituras nos introduzem no mistério da Paixão e Morte do Senhor. As
palavras do profeta Isaías, que alguns gostam de ver quase um evangelista da
Antiga Aliança, apresentam-nos a imagem de um condenado flagelado e esbofeteado
(cf. Is 50,6). O refrão do Salmo responsorial, “Meu Deus, meu Deus, por
que me abandonastes?” (Sl 21,2a), faz-nos contemplar a agonia de Jesus
na cruz (cf. Mc 15,34).
Mas é o Apóstolo Paulo que, na 2ª Leitura, nos introduz na
análise mais profunda do Mistério Pascal: Jesus, “existindo em condição divina,
não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas esvaziou-se a si mesmo,
assumindo a condição de servo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com
aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte
de cruz” (Fl 2,6-8). Na austera Liturgia da Sexta-feira Santa
ouviremos novamente estas palavras, que prosseguem assim: “Por isso, Deus o
exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome. Assim, ao
Nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda
língua proclame: ‘Jesus Cristo é o Senhor’, para a glória de Deus Pai” (vv.
9-11).
A humilhação e a exaltação: eis a chave para compreender o Mistério
Pascal; eis a chave para entrar na admirável economia de Deus, que se realiza
nos acontecimentos da Páscoa.
3. Por que nesta solene Liturgia estão presentes, como em
todos os anos, muitos jovens? Com efeito, há vários anos o Domingo de Ramos tornou-se
a festa anual dos jovens. Daqui em 1984, Ano da Juventude e, em certo sentido, Ano
Jubilar dos Jovens, teve início a peregrinação das Jornadas Mundiais da
Juventude que, passando por Buenos Aires, Santiago de Compostela, Czestochowa,
Denver, Manila e Paris, voltará a Roma no próximo mês de agosto, para a Jornada
Mundial da Juventude do Ano Santo 2000.
Portanto, por que tantos jovens se encontram no Domingo de
Ramos aqui em Roma e em cada Diocese? Sem dúvida são muitos os motivos e as
circunstâncias que podem explicar este fato. Parece, porém, que a motivação
mais profunda, subjacente a todas as outras, pode ser identificada naquilo que
a Liturgia de hoje nos revela: o misterioso desígnio de salvação do Pai
celeste, que se realiza na humilhação e na exaltação do seu Filho Unigênito,
Jesus Cristo. Aqui está a resposta às perguntas e às inquietações fundamentais
de todo homem e mulher e, especialmente, dos jovens.
Por nós Cristo se fez “obediente até a morte, e morte de
cruz. Por isso, Deus o exaltou” (Fl 2,8-9). Como estas palavras estão
próximas da nossa existência! Vós, caros jovens, começais a experimentar a
dramaticidade da vida. E vos interrogais sobre o sentido da existência, da
vossa relação convosco mesmos, com os outros e com Deus. Ao vosso coração sedento
de verdade e de paz, aos vossos numerosos problemas e interrogações, às vezes
até mesmo repletos de angústia, Cristo, Servo sofredor e humilhado, que se rebaixou
até a morte de cruz e foi exaltado na glória à direita do Pai, se oferece a si
mesmo como única resposta válida. Com efeito, não há outra resposta tão
simples, completa e convincente.
4. Caríssimos jovens, obrigado pela vossa participação nesta
solene Liturgia. Com sua entrada em Jerusalém, Cristo dá início ao caminho de
amor e de sofrimento da Cruz. Olhai para Ele com renovado impulso de fé. Segui-o!
Ele não promete felicidades ilusórias; ao contrário, para que possais alcançar
a autêntica maturidade humana e espiritual, Ele vos convida a seguir o seu
exemplo exigente, fazendo vossas as suas comprometedoras opções.
Maria, a fiel discípula do Senhor, vos acompanhe neste
itinerário de conversão e de progressiva intimidade com o seu divino Filho que,
como recorda o tema da próxima Jornada Mundial da Juventude, “se fez carne e
habitou entre nós” (Jo 1,14). Jesus se fez pobre para nos
enriquecer com a sua pobreza (cf. 2Cor 8,9), assumiu as nossas culpas
para que fôssemos redimidos pelo seu sangue derramado na cruz (cf. 1Pd
2,24) Sim, por nós Cristo se fez obediente até a morte, e morte de cruz.
“Glória e louvor a vós, ó Cristo!”.
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Entrada de Jesus em Jerusalém (Jerzy Duda-Gracz) |
Fonte: Santa Sé (com pequenas correções do autor deste blog).
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