quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Homilia do Papa: VII Domingo do Tempo Comum - Ano C (2025)

Jubileu dos Diáconos
Santa Missa com Ordenações Diaconais
Homilia do Papa Francisco
Basílica de São Pedro
Domingo, 23 de fevereiro de 2025

A homilia preparada pelo Papa Francisco foi lida por Dom Rino Fisichella, Pró-Prefeito do Dicastério para a Evangelização (1ª seção), que presidiu a celebração.

A mensagem das leituras que acabamos de escutar poderia ser resumida em uma palavra: gratuidade. Um termo certamente caro a vós, diáconos, aqui reunidos para a celebração do Jubileu. Reflitamos, pois, sobre esta dimensão fundamental da vida cristã e do vosso ministério, considerando, em particular, três aspectos: o perdão, o serviço desinteressado e a comunhão.

Primeiro: o perdão. A proclamação do perdão é uma tarefa essencial do diácono. Efetivamente, é um elemento indispensável para qualquer caminho eclesial e uma condição para toda a convivência humana. Jesus mostra-nos a sua necessidade e alcance quando diz: «Amai os vossos inimigos» (Lc 6,27). E é exatamente assim: para crescermos juntos, partilhando luzes e sombras, sucessos e fracassos uns dos outros, é necessário saber perdoar e pedir perdão, restabelecendo as relações e não excluindo do nosso amor nem mesmo quem nos ataca e trai. Um mundo onde só prevalece o ódio pelos adversários é um mundo sem esperança, sem futuro, condenado a ser dilacerado por guerras, divisões e vinganças intermináveis - como, infelizmente, vemos ainda hoje, a tantos níveis e em várias partes do mundo. Perdoar, portanto, significa preparar em nós e nas nossas comunidades uma casa acolhedora e segura para o futuro. E o diácono, investido pessoalmente de um ministério que o leva às periferias do mundo, compromete-se a ver - e a ensinar os outros a ver - em cada um, mesmo naqueles que erram e causam sofrimento, uma irmã e um irmão feridos na alma e, por isso mesmo, mais necessitados do que qualquer outro de reconciliação, de orientação e de ajuda.


A 1ª Leitura fala-nos desta abertura de coração, apresentando-nos o amor leal e generoso de Davi por Saul, seu rei, mas também seu perseguidor (cf. 1Sm 26,2.7-9.12-13.22-23). Mostra-nos ainda, em outro contexto, a morte exemplar do diácono Estêvão, que morre apedrejado, perdoando os seus lapidadores (cf. At 7,60). Mas, sobretudo, vemo-la em Jesus, modelo de toda a diaconia, que na cruz, “esvaziando-se” até dar a vida por nós (cf. Fl 2,7), reza pelos seus algozes e abre as portas do Paraíso ao bom ladrão (cf. Lc 23,34.43).

E chegamos ao segundo ponto: o serviço desinteressado. O Senhor, no Evangelho, descreve-o com uma frase tão simples e clara: «Fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca» (Lc 6,35). São poucas palavras, mas trazem em si o bom perfume da amizade. Antes de tudo, aquela que Deus nutre por nós, mas também a nossa. Para o diácono, esta atitude não é um aspecto acessório das suas ações, mas uma dimensão substancial do seu ser. Realmente, ele é consagrado para ser, no ministério, “escultor” e “pintor” do rosto misericordioso do Pai, testemunha do mistério de Deus-Trindade.

Em muitas passagens evangélicas Jesus fala de si mesmo sob esta perspectiva. Assim o faz com Filipe, no Cenáculo, pouco depois de ter lavado os pés aos Doze, dizendo-lhe: «Quem me vê, vê o Pai» (Jo 14,9). O mesmo acontece na instituição da Eucaristia, quando afirma: «Eu estou no meio de vós como aquele que serve» (Lc 22,27). Mas já antes, no caminho para Jerusalém, quando os discípulos discutiam entre si sobre quem seria o maior, Ele tinha-lhes explicado que o «Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos» (Mc 10,45).

Portanto, irmãos diáconos, o trabalho gratuito que realizais, como expressão da vossa consagração à caridade de Cristo, é para vós o primeiro anúncio da Palavra, fonte de confiança e de alegria para aqueles que vos encontram. Acompanhai-o tanto quanto possível com um sorriso, sem reclamar e sem buscar reconhecimento, apoiando-vos mutuamente, inclusive nas vossas relações com os Bispos e os presbíteros, «como expressão de uma Igreja disposta a crescer no serviço do Reino com a valorização de todos os graus do ministério ordenado» (CEI, I Diaconi permanenti nella Chiesa in Italia: Orientamenti e norme, 1993, 55). Dessa maneira, a vossa ação unida e generosa será uma ponte que liga o Altar à rua, a Eucaristia à vida quotidiana das pessoas; a caridade será a vossa mais bela liturgia e a Liturgia o vosso mais humilde serviço.

E chegamos ao último ponto: a gratuidade como fonte de comunhão. Dar sem esperar nada em troca une e cria laços, porque exprime e alimenta um estar juntos que não tem outro fim senão o dom de si e o bem das pessoas. São Lourenço, vosso patrono, quando os seus acusadores lhe pediram para entregar os tesouros da Igreja, mostrou-lhes os pobres e disse: «Aqui estão os nossos tesouros!». É assim que se constrói a comunhão: dizendo ao irmão e à irmã, com palavras, mas sobretudo com ações concretas, tanto pessoalmente quanto em comunidade: “tu és importante para nós”, “te queremos bem”, “queremos que participes do nosso caminho e da nossa vida”. É isso que fazeis: maridos, pais e avós, prontos, no serviço, a alargar as vossas famílias aos necessitados, onde quer que vivais.

Assim, a vossa missão, que vos retira da sociedade para nela vos fazer reentrar, tornando-a cada vez mais um lugar acolhedor e aberto a todos, é uma das mais belas expressões de uma Igreja sinodal e “em saída”.

Daqui a pouco, alguns de vós, ao receberem o Sacramento da Ordem, “descerão” os degraus do ministério. Digo e sublinho intencionalmente que “descerão”, e não que “subirão”, pois, com a Ordenação, não se sobe, mas se desce, torna-se pequeno, abaixa-se e despoja-se. Para usar as palavras de São Paulo, abandona-se, no serviço, o “homem terreno”, e se reveste, na caridade, do “homem celeste” (cf. 1Cor 15,45-49).

Meditemos todos sobre o que vamos fazer, confiando-nos à Virgem Maria, a serva do Senhor, e a São Lourenço, vosso padroeiro. Que eles nos ajudem a viver o nosso ministério com um coração humilde e cheio de amor, e a ser, na gratuidade, apóstolos do perdãoservos desinteressados dos irmãos construtores de comunhão.


Fonte: Santa Sé.

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