sábado, 23 de agosto de 2025

Homilia: XXI Domingo do Tempo Comum - Ano C

Sermão anônimo do século IX
“Que ninguém se desespere pela gravidade dos seus pecados”

Irmãos, ouvistes com frequência falar que existem dois homens: Adão e Cristo. Adão é o homem velho, Cristo é o novo. Portanto, aquele que é mau é velho, por imitação daquele que, no paraíso, foi soberbo e desobediente. Porém, aquele que é bom é novo, por sua imitação d’Aquele que disse: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e do qual o Apóstolo disse: Humilhou-se até a morte.

Entretanto, como este tempo em que vivemos é chamado novo, admoestamos aos que são velhos por sua má vida, a que se façam novos por sua boa conduta. Exortamos aos que já são novos por suas boas obras, que tratem de renovar-se, neste tempo novo, por obras cada vez melhores. Por exemplo, aquele que é novo pela castidade abstendo-se de atos impuros, que se renove renunciando ao próprio deleite desses atos. Paralelamente, aquele que é humilde e obediente, misericordioso e paciente, é necessário que se renove rezando todos os dias e progredindo nessas mesmas virtudes, segundo o que está escrito: Caminharão de virtude em virtude.

Caríssimos, que nenhum de vós se creia seguro pelo fato de ter sido batizado, porque assim como nem todos os que estão no estádio correndo levam a coroa, isto é, o prêmio, mas unicamente aquele que chega por primeiro, assim também nem todos os que têm fé se salvam, mas unicamente os que perseveram na boa obra começada. E assim como o que compete com outro se impõe todo tipo de privações, assim também vós deveis abster-vos de todos os vícios, para poder superar o diabo, vosso perseguidor. E visto que o Senhor já vos chamou pela fé para sua vinha, a saber, para a unidade da santa Igreja, vivei e comportai-vos de maneira que possais receber, da liberalidade de Deus, o denário, isto é, a felicidade do Reino.

Que ninguém desespere pela gravidade dos seus pecados, dizendo: são tantos os pecados com os quais me envolvi até a velhice e a idade senil, que já não posso pensar em merecer o perdão, ainda mais tendo em conta que foram os pecados que me abandonaram e não eu a eles. Em absolto, este tal não deve desesperar da misericórdia de Deus, porque alguns são chamados para a vinha de Deus ao amanhecer, outros no meio da manhã, outros ao meio-dia, outros no meio da tarde e outros ao anoitecer, ou seja, alguns são chamados ao serviço de Deus na infância, outros na adolescência, outros na juventude, outros na velhice e outros na idade senil.

E assim como ninguém deve desesperar em razão da idade, se quer se converter a Deus, assim ninguém deve sentir-se seguro baseado somente na fé; antes, deve sentir verdadeiro horror pelo que está escrito: Muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos. Que fomos chamados pela fé, o sabemos; porém ignoramos se somos dos escolhidos. Assim, tanto mais humilde há de ser cada um quanto ignore se foi escolhido.

Que Deus todo-poderoso vos conceda não ser do número daqueles que passaram o Mar Vermelho a pé enxuto, comeram o maná do deserto, beberam a bebida espiritual e acabaram morrendo naquele mesmo deserto por causa de suas murmurações; mas sim daqueles outros que entraram na terra prometida e, trabalhando fielmente na vinha da Igreja, mereceram receber o denário da felicidade eterna; assim podereis, junto com Cristo, vossa Cabeça, de cujo Corpo sois membros, reinar por todos os séculos dos séculos. Amém.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 700-702. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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