São Doroteu de Gaza
Conferência 2
“Colocar-se
abaixo de todos”
Existem duas
classes de humildade, assim como existem duas classes de orgulho: a primeira
classe de orgulho consiste em desprezar ao seu irmão, não o levando em
consideração, como se não fosse nada, e em crer-se superior a ele. Se não tratamos
imediatamente de vigiar-nos com rigor, cairemos pouco a pouco na segunda
espécie que consiste em exaltar-se diante do próprio Deus e atribuir suas boas
obras a si mesmo e não a Deus. Devemos lutar contra a primeira classe de
orgulho, para não cair lentamente no orgulho total.
Existe também um
orgulho mundano e um orgulho monástico. O mundano consiste em crer-se mais do
que seu irmão por ser mais rico, mais belo, melhor vestido ou mais nobre do que
ele. Quando percebemos que nos gloriamos nestas coisas, ou que nosso monastério
seja maior ou mais rico ou mais numeroso, saibamos que ainda estamos no orgulho
mundano. O mesmo acontece quando nos vangloriamos de qualidades naturais, por
exemplo: ter uma bela voz ou salmodiar bem, ou ser hábil ou de trabalhar e
servir corretamente. Estes motivos são mais elevados que os primeiros. Embora ainda
se trate do orgulho mundano.
O orgulho
monástico consiste em gloriar-se de suas vigílias, de seus jejuns, de sua piedade,
de suas observações, de seu zelo, assim como em humilhar-se por vaidade. Tudo
isso é orgulho monástico. Se não podemos evitar de orgulhar-nos, convém que
este orgulho recaia sobre coisas monásticas e não mundanas. Explicamos, então,
qual é a primeira espécie de orgulho e qual a segunda; também temos definido o
orgulho mundano e o orgulho monástico. Mostremos agora quais são as espécies de
humildade.
A primeira
consiste em considerar ao seu irmão como mais inteligente que a si mesmo e
superior em tudo; a saber, como dizia um santo: “Colocar-se abaixo de todos”.
A segunda
espécie de humildade consiste em atribuir a Deus as boas obras. Essa é a
perfeita humildade dos santos. Ela nasce naturalmente na alma como consequência
da prática dos mandamentos. De fato olhemos, irmãos, as árvores carregadas de
frutos: são os frutos que fazem curvar e baixar os galhos. Ao contrário, o
galho que não tem frutos se ergue no espaço e cresce direito. Inclusive há
certas árvores cujos galhos não dão frutos enquanto se mantêm erguidos para o
céu, porém, se lhes coloca uma pedra para orientá-los para baixo, então dão
fruto. O mesmo acontece com a alma: quando se humilha dá fruto, e quanto mais
produz, mais se humilha. Porque quanto mais se aproxima de Deus, mais pecador
se vê.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
707-708. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
Confira também uma homilia de São Jerônimo para este domingo clicando aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário