quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Homilia do Papa: Comemoração dos Mártires do Século XXI (2025)

Comemoração dos Mártires e Testemunhas da Fé do Século XXI
Homilia do Papa Leão XIV
Basílica de São Paulo fora dos muros
Domingo, 14 de setembro de 2025

Irmãos e irmãs,
«Quanto a mim, que eu me glorie somente da cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo» (Gl 6,14). As palavras do Apóstolo Paulo, estando reunidos em torno ao seu túmulo, nos introduzem à Comemoração dos Mártires e Testemunhas da Fé do século XXI, na Festa da Exaltação da Santa Cruz.

Aos pés da cruz de Cristo, nossa salvação, descrita como a “esperança dos cristãos” e a “glória dos mártires” (cf. Vésperas da Liturgia Bizantina para a Festa da Exaltação da Cruz), saúdo os representantes das Igrejas Ortodoxas, das Antigas Igrejas Orientais, das comunidades cristãs e das organizações ecumênicas, a quem agradeço por terem aceitado o meu convite para esta celebração. A vós todos aqui presentes, dirijo o meu abraço de paz!


Estamos convencidos de que o martyria (testemunho) até à morte é «a comunhão mais verdadeira que possa existir com Cristo que derrama o seu Sangue e, neste sacrifício, aproxima aqueles que outrora estavam longe (cf. Ef 2,13)» (Encíclica Ut unum sint, n. 84). Também hoje podemos afirmar com João Paulo II que, onde o ódio parecia permear todos os aspectos da vida, estes audaciosos servos do Evangelho e mártires da fé demonstraram de forma evidente que «o amor é mais forte que a morte» (Comemoração das Testemunhas da Fé do Século XX, 07 de maio de 2000).

Recordemos estes nossos irmãos e irmãs com o olhar voltado para o Crucificado. Com a sua cruz, Jesus revelou-nos o verdadeiro rosto de Deus, a sua infinita compaixão pela humanidade; tomou sobre si o ódio e a violência do mundo, para compartilhar o destino de todos aqueles que são humilhados e oprimidos: «Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, carregou as nossas dores» (Is 53,4).

Muitos irmãos e irmãs, ainda hoje, por causa do seu testemunho de fé em situações difíceis e contextos hostis, carregam a mesma cruz do Senhor: como Ele, são perseguidos, condenados, mortos. Sobre eles, Jesus diz: «Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim» (Mt 5,10-11). São homens e mulheres, religiosos e religiosas, sacerdotes e leigos, que pagam com a vida a fidelidade ao Evangelho, o compromisso com a justiça, a luta pela liberdade religiosa onde ela ainda é violada, a solidariedade com os mais pobres. Segundo os critérios do mundo, eles foram “derrotados”. Na realidade, como nos diz o Livro da Sabedoria: «Aos olhos dos homens parecem ter sido castigados, mas sua esperança é cheia de imortalidade» (Sb 3,4).

Irmãos e irmãs, durante o Ano Jubilar, celebramos a esperança dessas corajosas testemunhas da fé. É uma esperança cheia de imortalidade, porque o seu martírio continua a difundir o Evangelho em um mundo marcado pelo ódio, pela violência e pela guerra; é uma esperança cheia de imortalidade, porque, apesar de terem sido mortos no corpo, ninguém poderá silenciar a sua voz ou apagar o amor que deram; é uma esperança cheia de imortalidade, porque o seu testemunho permanece como profecia da vitória do bem sobre o mal.

Sim, a sua é uma “esperança desarmada”. Eles testemunharam a fé sem nunca usar as armas da força e da violência, mas abraçando a força frágil e mansa do Evangelho, segundo as palavras do Apóstolo Paulo: «De bom grado eu me gloriarei das minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim... Pois, quando eu me sinto fraco, é então que sou forte» (2Cor 12,9-10).

Penso na força evangélica da Irmã Dorothy Stang, empenhada na causa dos sem-terra na Amazônia: quando aqueles que se preparavam para matá-la lhe perguntaram se estava armada, ela mostrou-lhes a Bíblia, respondendo: «Esta é a minha única arma». Penso no Padre Ragheed Ganni, sacerdote caldeu de Mossul, no Iraque, que renunciou à luta para testemunhar como se comporta um verdadeiro cristão. Penso no Irmão Francis Tofi, anglicano e membro da Melanesian Brotherhood, que deu a vida pela paz nas Ilhas Salomão. Os exemplos seriam muitos, porque, infelizmente, apesar do fim das grandes ditaduras do século XX, ainda hoje não acabou a perseguição aos cristãos; pelo contrário, em algumas partes do mundo, aumentou.

Estes audaciosos servos do Evangelho e mártires da fé «constituem como que um grande afresco da humanidade cristã... Um afresco do Evangelho das Bem-Aventuranças, vivido até ao derramamento do sangue» (João Paulo II, Comemoração das Testemunhas da Fé do Século XX, 07 de maio de 2000).

Queridos irmãos e irmãs, não podemos, não queremos esquecer. Queremos recordar. Fazemo-lo, certos de que, tal como nos primeiros séculos, também no terceiro milênio «o sangue dos mártires é semente de novos cristãos» (Tertuliano, Apologeticum 50, 13). Queremos preservar a memória juntamente com os nossos irmãos e irmãs das outras Igrejas e comunidades cristãs. Desejo, portanto, reiterar o compromisso da Igreja Católica em guardar a memória das testemunhas da fé de todas as tradições cristãs. A Comissão para os Novos Mártires, junto ao Dicastério para as Causas dos Santos, cumpre essa tarefa, colaborando com o Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

Como reconhecemos durante o recente Sínodo, o ecumenismo do sangue une os «cristãos de diferentes filiações que, juntos, dão a vida pela fé em Jesus Cristo. O testemunho do seu martírio é mais eloquente do que quaisquer palavras: a unidade vem da Cruz do Senhor» (XVI Assembleia Sinodal, Documento final, n. 23). Que o sangue de tantos testemunhos aproxime o dia abençoado em que beberemos do mesmo cálice da salvação!

Queridos irmãos, um pequeno paquistanês, Abish Masih, morto em um atentado contra a Igreja Católica, tinha escrito no seu caderno: «Making the world a better place», «Tornar o mundo um lugar melhor». Que o sonho desta criança nos incentive a testemunhar com coragem a nossa fé, para sermos juntos fermento de uma humanidade pacífica e fraterna.


Fonte: Santa Sé.

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