São João Crisóstomo
Sermão II sobre a penitência
“Sê
humilde e te livrarás dos laços do pecado”
Eis aqui
enumerado diversos canais de penitência, para tornar-te fácil, mediante a
diversidade de caminhos, o acesso à salvação. E qual é, então, este terceiro
canal? A humildade. Sê humilde e te livrarás dos laços do pecado. Também aqui a
Escritura nos oferece uma demonstração na parábola do fariseu e do publicano. Subiram - diz - ao templo para orar um fariseu e um publicano. O fariseu começou
a narrar suas virtudes: Eu - diz - não sou pecador como os outros homens, nem
como esse publicano. Miserável e desventurada alma! Condenaste a todo
mundo, por que te metes também com teu próximo? Não te bastava condenar todo
mundo, mas tens que condenar também o publicano?
E o que fazia o
publicano? Adorou com a cabeça profundamente inclinada, e disse: Ó Deus, tem compaixão deste pecador! E, ao
mostrar-se humilde, acabou justificado. Assim, ao descer do templo o fariseu
tinha perdido a justiça, o publicano a tinha recuperado: as palavras venceram
as obras. De fato, o fariseu, apesar das obras, perdeu a justiça; o publicano,
porém, alcançou a justiça pela humildade de suas palavras. Embora seja verdade
que a sua não era propriamente humildade: a humildade, de fato, se dá quando
alguém que é grande se humilha a si mesmo. A atitude do publicano não foi
humildade, mas verdade: suas palavras eram verdadeiras, pois ele era pecador.
Porque, existe
coisa pior que um publicano? Buscava tirar proveito das desgraças do próximo,
aproveitando-se dos suores alheios; e sem o menor respeito pelas aflições dos
demais, somente estava atento a aumentar os seus lucros. Era enorme, em
consequência, o pecado do publicano. Entretanto, se o publicano, ainda sendo um
pecador, ao dar mostras de humildade, alcançou um dom tão grande, quanto mais
não o conseguirá aquele que está adornado de virtudes e se comporta com
humildade?
Portanto, se
confessas os teus pecados e és humilde, ficas justificado. Queres saber quem é
verdadeiramente humilde? Observas Paulo, que era verdadeiramente humilde: ele,
o mestre universal, pregador espiritual, instrumento escolhido, porto tranquilo
que, apesar do seu físico modesto, percorreu o mundo inteiro como se tivesse
asas nos pés.
Vede com que
humildade e modéstia se define a si mesmo como inexperiente e amante da
sabedoria, como indigente e rico. Humilde era quando dizia: Eu sou o menor dos
apóstolos e não sou digno de chamar-me apóstolo. Isto é ser verdadeiramente
humilde: rebaixar-se em tudo e declarar-se o menor de todos. Pensa em quem era
aquele que pronunciava estas palavras: Paulo, cidadão do céu, ainda que
revestido do corpo, coluna das igrejas, homem celeste. É tal, de fato, a
potência da virtude, que transforma o homem em anjo e faz que a alma, como se
estivesse dotada de asas, se eleve ao céu.
Que Paulo nos
ensine esta virtude: procuremos ser imitadores desta virtude.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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