Santa Missa Pro Ecclesia com os Cardeais
Homilia do Papa Leão XIV
Capela Sistina
Sexta-feira, 09 de maio de 2025
Foi celebrada a Missa “pela Igreja” com suas leituras (Ap 21,9b-14; Sl
97; 1Pd 2,4-9; Mt 16,13-19).
Desejo repetir as palavras do Salmo responsorial:
“Cantai ao Senhor um canto novo, porque Ele fez prodígios” (Sl
97,1). Na verdade, não só comigo, mas com todos nós.
Caros irmãos Cardeais, enquanto celebramos a
Eucaristia nesta manhã, convido-vos a reconhecer os prodígios que o Senhor fez,
as bênçãos que o Senhor continua a derramar sobre todos nós através do
Ministério de Pedro.
Vós me chamastes a carregar esta cruz e a
ser abençoado com esta missão, e eu sei que posso contar com todos e cada um de
vós para caminhardes comigo, enquanto continuamos, como Igreja, como comunidade
dos amigos de Jesus e como fiéis, a anunciar a Boa Nova, a anunciar o
Evangelho.
«Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo» (Mt 16,16).
Com estas palavras, Pedro, interrogado juntamente com os outros discípulos pelo
Mestre sobre a sua fé n’Ele, expressa em síntese o tesouro que a Igreja,
através da sucessão apostólica, guarda, aprofunda e transmite há dois mil anos.
Jesus é o Messias, o Filho do Deus vivo, ou
seja, o único Salvador, que revela o rosto do Pai.
N’Ele, para se tornar próximo e acessível
aos homens, Deus revelou-se nos olhos confiantes de uma criança, na mente viva
de um jovem, na fisionomia madura de um homem (cf. Concílio Vaticano II,
Constituição Pastoral Gaudium et spes, n. 22), até aparecer aos
seus, após a Ressurreição, com o seu corpo glorioso. Mostrou-nos assim um
modelo de humanidade santa que todos podemos imitar, juntamente com a promessa
de um destino eterno, que ultrapassa todos os nossos limites e capacidades.
Na sua resposta, Pedro compreende ambas as
coisas: o dom de Deus e o caminho a percorrer para se deixar transformar,
dimensões inseparáveis da salvação, confiadas à Igreja para que as anuncie para
o bem da humanidade. Confiadas a nós, escolhidos por Ele antes de sermos
formados no ventre materno (cf. Jr 1,5), regenerados na
água do Batismo e, apesar dos nossos limites e sem mérito nosso, conduzidos até
aqui e daqui enviados, para que o Evangelho seja anunciado a toda a criatura (cf. Mc 16,15).
E Deus, de modo particular, chamando-me
através do vosso voto a suceder ao Primeiro dos Apóstolos, confia-me este
tesouro para que, com a sua ajuda, eu seja seu fiel administrador (cf. 1Cor 4,2) em benefício de todo o Corpo Místico da
Igreja; para que ela seja cada vez mais cidade colocada sobre o monte (cf. Ap 21,10), arca de salvação que navega sobre as ondas
da história, farol que ilumina as noites do mundo. E isto não tanto pela
magnificência das suas estruturas e pela grandiosidade dos seus edifícios -
como estes monumentos em que nos encontramos -, mas pela santidade dos seus
membros, do povo que Deus adquiriu, a fim de proclamar as maravilhas d’Aquele
que o chamou das trevas para a sua luz admirável (cf. 1Pd 2
9).
No entanto, antes do diálogo em que Pedro
faz a sua profissão de fé, há outra pergunta: «Quem dizem os homens - interpela
Jesus - ser o Filho do Homem?» (Mt 16,13). Não se trata de uma
pergunta banal, antes, diz respeito a um aspecto importante do nosso
ministério: a realidade em que vivemos, com os seus limites e potencialidades,
as suas interrogações e convicções.
«Quem dizem os homens ser o Filho do
Homem?». Pensando nesta cena, refletindo sobre ela, poderíamos encontrar duas
possíveis respostas a esta pergunta e traçar outras tantas atitudes.
Em primeiro lugar, há a resposta do mundo.
Mateus sublinha que o diálogo entre Jesus e os seus sobre a sua identidade tem
lugar na belíssima cidade de Cesareia de Filipe, cheia de palácios luxuosos,
inserida em uma paisagem natural encantadora, no sopé do Monte Hermon, mas
também sede de círculos de poder cruéis e palco de traições e infidelidades.
Esta imagem fala-nos de um mundo que considera Jesus uma pessoa totalmente
desprovida de importância, quando muito um personagem curioso, capaz de
suscitar admiração com a sua maneira invulgar de falar e agir. Por isso, quando
a sua presença se tornará incômoda, devido aos pedidos de honestidade e às
exigências morais que solicita, este “mundo” não hesitará em rejeitá-lo e
eliminá-lo.
Depois, há outra possível resposta à
pergunta de Jesus: a das pessoas comuns. Para elas, o Nazareno não é um
“charlatão”: é um homem justo, corajoso, que fala bem e que diz coisas certas,
como outros grandes profetas da história de Israel. Por isso, seguem-no, pelo
menos enquanto podem fazê-lo sem demasiados riscos ou inconvenientes. Porém,
porque essas pessoas o consideram apenas um homem, no momento do perigo,
durante a Paixão, também elas o abandonam e vão embora, desiludidas.
Impressiona a atualidade destas duas
atitudes. Com efeito, elas encarnam ideias que poderíamos facilmente
reencontrar - talvez expressas com uma linguagem diferente, mas essencialmente
idênticas - nos lábios de muitos homens e mulheres do nosso tempo.
Ainda hoje não faltam contextos em que a fé
cristã é considerada uma coisa absurda, para pessoas fracas e pouco
inteligentes; contextos nos quais em vez dela se preferem outras seguranças,
como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer.
São ambientes onde não é fácil testemunhar
nem anunciar o Evangelho, e onde quem acredita se vê ridicularizado,
contrastado, desprezado, ou, quando muito, suportado e digno de pena. No
entanto, precisamente por isso, são lugares onde a missão se torna urgente,
porque a falta de fé, muitas vezes, traz consigo dramas como a perda do sentido
da vida, o esquecimento da misericórdia, a violação - sob as mais dramáticas
formas - da dignidade da pessoa, a crise da família e tantas outras feridas das
quais a nossa sociedade sofre, e não pouco.
Ainda hoje, não faltam contextos nos quais
Jesus, embora apreciado como homem, é simplesmente reduzido a uma espécie de
líder carismático ou super-homem, e isto não apenas entre os não crentes, mas
também entre muitos batizados, que acabam por viver, a este nível, em um
ateísmo prático.
Este é o mundo que nos está confiado e no
qual, como tantas vezes nos ensinou o Papa Francisco, somos chamados a
testemunhar a alegria da fé em Cristo Salvador. Por isso, também para nós, é
essencial repetir: «Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo».
É essencial fazê-lo, primeiramente, na nossa
relação pessoal com Ele, no empenho em percorrer um caminho quotidiano de
conversão. Mas depois também, como Igreja, vivendo juntos a nossa pertença ao
Senhor e levando a todos a sua Boa Nova (cf. Concílio Vaticano II,
Constituição Dogmática Lumen gentium, n. 1).
Digo isto, em primeiro lugar, para mim
mesmo, como Sucessor de Pedro, ao iniciar esta minha missão de Bispo da Igreja
que está em Roma, chamada a presidir na caridade à Igreja universal, segundo a
célebre expressão de Santo Inácio de Antioquia (cf. Carta aos
Romanos, Proêmio). Ele, enquanto era conduzido como prisioneiro a esta
cidade, lugar do seu iminente sacrifício, escrevia aos cristãos que aqui se
encontravam: «Então serei verdadeiro discípulo de Jesus, quando o meu corpo for
subtraído à vista do mundo» (ibid., IV, 1). Referia-se ao ser devorado
pelas feras no circo, como aconteceu; porém, as suas palavras recordam, em um
sentido mais amplo, um compromisso irrenunciável para quem, na Igreja, exerce
um ministério de autoridade: desaparecer para que Cristo permaneça, fazer-se
pequeno para que Ele seja conhecido e glorificado (cf. Jo 3,30),
gastar-se até o limite para que a ninguém falte a oportunidade de conhecê-lo e
amá-lo.
Que Deus me dê esta graça, hoje e sempre,
com a ajuda da terna intercessão de Maria, Mãe da Igreja.
Fonte: Santa Sé.
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