terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Homilia do Papa: Vésperas da Conversão de São Paulo (2025)

Vésperas da Conversão de São Paulo Apóstolo
58ª Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos
Homilia do Papa Francisco
Basílica de São Paulo fora dos muros
Sábado, 25 de janeiro de 2025

A homilia do Papa foi centrada no Evangelho (Jo 11,17-27), do qual foi tomado o tema da Semana da Unidade: “Crês nisso?” (v. 26).

Jesus chega à casa das suas amigas Marta e Maria, quando o irmão delas, Lázaro, se encontrava morto já há quatro dias. Toda a esperança parece perdida, de tal modo que as primeiras palavras de Marta exprimem a sua tristeza e, simultaneamente, a sua consternação porque Jesus veio tarde demais: «Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido» (Jo 11,21). A chegada de Jesus, porém, acende a luz da esperança no coração de Marta e a leva a fazer uma profissão de fé: «Mas mesmo assim, eu sei que o que pedires a Deus, Ele te concederá» (v. 22). É aquela atitude de deixar sempre a porta aberta, nunca fechada! E Jesus, com efeito, anuncia-lhe a ressurreição dos mortos não apenas como um acontecimento que terá lugar no fim dos tempos, mas como algo que já acontece no presente, porque Ele mesmo é ressurreição e vida. E, depois, faz-lhe uma pergunta: «Crês nisso?» (v. 26). Essa pergunta é também para nós, para ti, para mim: “Crês nisso?”.

Detenhamo-nos nessa interrogação: «Crês nisso?». É uma pergunta concisa, mas exigente.


Este terno encontro entre Jesus e Marta, que escutamos no Evangelho, ensina-nos que, mesmo nos momentos de desolação, não estamos sós e podemos continuar a ter esperança. Jesus dá vida, mesmo quando parece que toda a esperança desapareceu. Depois de uma perda dolorosa, uma doença, uma amarga desilusão, uma traição ou outras experiências difíceis, a esperança pode vacilar; mas, embora cada um de nós viva momentos de desespero ou encontre pessoas que perderam a esperança, o Evangelho diz-nos que com Jesus a esperança renasce sempre, porque Ele sempre nos reergue das cinzas da morte. Jesus nos reergue sempre, dando-nos a força para retomar o caminho e recomeçar.

Queridos irmãos e irmãs, nunca esqueçamos disso: a esperança não decepciona! A esperança nunca decepciona! A esperança é aquela corda com a âncora à qual, na praia, nos agarramos. E isso nunca decepciona! Isto é importante também para a vida das comunidades cristãs, das nossas Igrejas e relações ecumênicas. Às vezes nos sentimos esmagados pelo cansaço, desanimamos perante os resultados do nosso esforço, parece até que o diálogo e a colaboração entre nós não têm esperança, estão condenados quase à morte, e tudo isto nos faz experimentar a mesma angústia de Marta. Mas o Senhor vem. Cremos nisto? Cremos que Ele é ressurreição e vida? Que toma as nossas fadigas e nos dá sempre a graça de retomar, juntos, o caminho? Cremos nisto?

Esta mensagem de esperança está no centro do Jubileu que iniciamos. O Apóstolo Paulo, cuja conversão a Cristo recordamos hoje, dizia aos cristãos de Roma: «A esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5,5). Todos nós - todos! - recebemos o mesmo Espírito, e este é o fundamento do nosso caminho ecumênico. É o Espírito que nos guia neste caminho. Não se trata de coisas práticas que fazem com que nos compreendamos melhor. Não, o Espírito é presente, e temos de seguir sob a orientação desse Espírito.

E este Ano jubilar da esperança, celebrado pela Igreja Católica, coincide com uma efeméride de enorme significado para todos os cristãos: o aniversário dos 1700 anos do primeiro grande Concílio Ecumênico, o Concílio de Niceia. Este Concílio esforçou-se por preservar a unidade da Igreja em um momento muito difícil, e os Padres conciliares aprovaram por unanimidade o Credo que muitos cristãos ainda hoje recitam todos os domingos durante a Eucaristia. Este Credo é uma profissão de fé comum que vai além de todas as divisões que feriram o Corpo de Cristo ao longo dos séculos. Portanto, o aniversário do Concílio de Niceia representa um ano de graça e uma oportunidade para todos os cristãos que recitam o mesmo Credo e creem no mesmo Deus: recuperemos as raízes comuns da fé, preservemos a unidade! Sempre em frente! Aquela unidade que todos nós queremos alcançar, que desejamos que aconteça. Não vos lembrais do que um grande teólogo ortodoxo, Ioannis Zizioulas, costumava dizer: “Sei quando será a data da plena unidade: no dia seguinte ao Juízo Final”? Mas, por agora, temos de caminhar juntos, trabalhar juntos, rezar juntos, amar juntos. E isso é muito bonito!

Queridos irmãos e irmãs, esta fé que partilhamos é um dom precioso, mas é também um desafio. Com efeito, o aniversário não deve ser celebrado apenas como “memória histórica”, mas também como compromisso de testemunhar a crescente comunhão entre nós. Devemos encontrar o modo para não deixá-la fugir, para construir laços sólidos, para cultivar a amizade recíproca, para ser tecelões de comunhão e fraternidade.

Nesta Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos também podemos viver o aniversário do Concílio de Niceia como um convite a perseverar no caminho rumo à unidade. De modo providencial, este ano, precisamente durante o aniversário ecumênico, a Páscoa será celebrada no mesmo dia tanto no calendário gregoriano como no juliano. Renovo o meu apelo para que esta coincidência sirva de estímulo a todos os cristãos para darem resolutamente um passo rumo à unidade, em torno de uma data comum, uma data para a Páscoa (cf. Bula Spes non confundit, n. 17); e a Igreja Católica está disposta a aceitar a data que todos quiserem estipular: uma data da unidade.

Agradeço a presença do Metropolita Policarpo, em representação do Patriarcado Ecumênico; do “Arcebispo” Ian Ernest, em representação da Comunhão Anglicana e que conclui seu valioso serviço, pelo qual lhe estou muito grato - desejo-lhe as maiores felicidades quando regressar à sua terra natal -; e dos representantes de outras Igrejas e comunidades que participam no sacrifício de louvor desta tarde. É importante rezarmos juntos, e a vossa presença aqui esta tarde é uma fonte de alegria para todos. Saúdo também os estudantes apoiados pela Comissão para a Colaboração Cultural com as Igrejas Ortodoxas e Ortodoxas Orientais do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, os participantes na visita de estudo do Instituto Ecumênico de Bossey do Conselho Mundial de Igrejas e os muitos outros grupos ecumênicos e peregrinos que vieram a Roma para esta celebração. Agradeço ao coro, que nos proporciona um ambiente de oração tão bonito. Que, como São Paulo, cada um de nós possa encontrar a própria esperança no Filho de Deus encarnado e a ofereça aos outros onde ela se tenha desvanecido, onde as vidas tenham sido despedaçadas ou onde os corações tenham sido esmagados pela adversidade (cf. Homilia na Abertura da Porta Santa, 24 de dezembro de 2024).

Em Jesus a esperança é sempre possível. Ele sustenta também a esperança do nosso caminho comum na sua direção. Surge, por isso, de novo a pergunta feita a Marta e, nesta tarde, a cada um: “Crês nisso?”. Cremos na comunhão entre nós? Cremos que a esperança não decepciona?

Queridos irmãos e irmãs, este é o momento de confirmar a nossa profissão de fé no único Deus e encontrar em Cristo Jesus o caminho da unidade. Enquanto esperamos que o Senhor venha «em sua glória, para julgar os vivos e os mortos» (cf. Credo Niceno), nunca nos cansemos, diante dos povos, de dar testemunho do Filho Unigênito de Deus, fonte de toda a nossa esperança.


Fonte: Santa Sé

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