São Cirilo de Alexandria
Comentário ao livro do Profeta Isaías
“Cristo
é portador de uma boa notícia para os pobres de toda a terra”
Cristo, a fim de
restaurar o mundo e reconduzir a Deus Pai todos os habitantes da terra,
melhorando e renovando tudo, como quem diz, a
face da terra, assumiu a condição de servo – apesar de ser o Senhor do
universo – e trouxe a boa notícia aos pobres, afirmando que exatamente para
isso tinha sido enviado.
São pobres e
como tais devemos considerar aos que se debatem na indigência de tudo. Bem, não
lhes resta esperança alguma e, como diz a Escritura, estão no mundo privados de
Deus. Pertencem a este número os que, vindos do paganismo, foram enriquecidos
pela fé nele, alcançaram um tesouro celestial e divino; refiro-me à pregação do
Evangelho de salvação, mediante o qual são partícipes do reino celestial e da
companhia dos santos, e herdeiros de alguns bens que nem a imaginação nem a
linguagem humana são capazes de abarcar. Pois como está escrito: Nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem o
homem imaginou o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.
A não ser que o
que aqui quer dizer-nos é que aos pobres no espírito Cristo lhes concedeu o
multifacetado ministério dos carismas. Chama de quebrantados de coração aos que
possuem um espírito fraco e frágil, e são incapazes de enfrentarem os assaltos
das tentações e, de tal forma a elas estão submetidos, que se diriam seus
escravos. A estes lhes promete a salvação e a cura, e aos cegos lhe dá a vista.
Pelo que se
refere àqueles que prestam culto à criatura e dizem a um lenho: és meu pai; a uma pedra: gerou-me, e depois, não
conheceram ao que por natureza é o verdadeiro Deus, que outra coisa são a não
ser cegos e dotados de um coração privado da luz divina e inteligível? A estes
o Pai lhes infunde a luz do verdadeiro conhecimento de Deus, pois foram
chamados mediante a fé e lhe conheceram; ainda mais: foram conhecidos dele.
Sendo como eram filhos da noite e das trevas, converteram-se em filhos da luz,
porque para eles despontou o dia, ergueu-se o Sol da justiça e brilhou o
resplandecente luzeiro.
Julgo que não
existe nenhum inconveniente em aplicar tudo o que foi dito aos irmãos nascidos
no seio do judaísmo. Também eles eram pobres, tinham o coração desgarrado,
estavam como cativos e jaziam nas trevas. Veio Cristo e, com preferência aos
demais, anunciou aos israelitas as majestosas e ilustres façanhas de sua
presença; veio, também, para proclamar o ano da graça do Senhor, o dia da
desforra. Ano da graça foi aquele em que, por nós, Cristo foi crucificado. Foi
naquela ocasião quando nos convertemos em pessoas gratas a Deus Pai e quando,
por meio de Cristo, demos fruto. É o que ele nos ensinou quando disse: Asseguro-vos que, se o grão de trigo não cai
na terra e morre, permanece infecundo; mas se morre, dá muito fruto.
Por Cristo, veio
efetivamente o consolo sobre os aflitos de Sião, e sua cinza converteu-se em
glória. De fato, deixaram de chorá-la e de lamentar-se por ela, e começaram, no
auge de sua alegria, a pregar e anunciar o Evangelho.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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