São Fausto de Riez
Sermão 5 na Epifania
“É
melhor e mais forte o vinho do Evangelho”
Três dias depois celebravam-se bodas.
Que outras bodas podem ser estas, senão as promessas e alegrias da salvação
humana? As mesmas que se celebram, evidentemente, ou por causa da confissão da
Trindade, ou pela fé na ressurreição, como se indica no mistério do número
três.
Assim como
também em outra das leituras evangélicas se recebe com cantos, música e pompas
nupciais o retorno do filho mais jovem, ou seja, a conversão do povo gentio.
Por isso, como o esposo que sai de seu aposento,
desceu o Senhor até a terra para unir-se, mediante a encarnação, com a Igreja,
que tinha de congregar-se entre os gentios, para a qual deu seu penhor e seu
dote: o penhor, quando Deus se uniu com o homem; o dote, quando se imolou por
sua salvação.
Por penhor
entendemos a redenção atual, e por dote, a vida eterna. Todas estas coisas
eram, para aqueles que as viam, outros milagres; para aqueles que as entendiam,
outros mistérios. Porque, se observarmos bem, de alguma maneira na própria água
se dá certa analogia do Batismo e da regeneração. Porque, enquanto uma coisa se
transforma em outra, enquanto a criatura inferior se transforma em algo
superior mediante uma secreta conversão, conclui-se o mistério do segundo
nascimento. Rapidamente se modificam as águas que irão transformar os homens.
Assim, pelo
poder de Cristo, na Galileia a água se transforma em vinho – isto é, conclui a
lei e lhe sucede a graça; afasta-se o que não era mais do que sombra, e se faz
presente a verdade; o carnal se coloca junto ao espiritual; a antiga
observância se converte em Novo Testamento; como diz o Apóstolo: o antigo passou, o novo começou; e como
aquela água que era contida nas tinas, sem deixar de ser de jeito algum o que
era, começou a ser o que não era, da mesma forma a lei, manifestada pelo
advento de Cristo, não perece, mas se aperfeiçoa.
Se falta vinho,
se traz outro: o vinho do Antigo Testamento é bom, mas o Novo é melhor; o
Antigo Testamento, que observam os judeus, dilui-se na letra, enquanto que o
novo, que é o que nos corresponde, converte em graça o sabor da vida.
Trata-se de
“vinho bom” sempre que ouças falar de um bom preceito da lei: Amarás ao teu próximo e odiarás ao teu
inimigo. Porém, é melhor e mais forte o vinho do Evangelho, como quando
ouves dizer: Eu, porém, vos digo: Amai os
vossos inimigos e rezai pelos que vos perseguem.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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