sábado, 1 de maio de 2021

Homilia: V Domingo de Páscoa - Ano B

Orígenes
Comentário sobre a Carta aos Romanos
Se estamos enxertados em Cristo, será necessário que o Pai nos pode, Ele que é o agricultor

Se a nossa existência está unida a Ele em uma morte semelhante à sua, igualmente em uma comum ressurreição. Compreendamos que nossa velha condição foi crucificada com Cristo, ficando destruída nossa personalidade de pecadores e nós, livres da escravidão do pecado; porque aquele que morre permanece absolvido do pecado.

Por esta razão o Apóstolo afirma também que estamos mortos ao pecado, e que aqueles que pelo Batismo nos incorporamos a Cristo, fomos incorporados à sua Morte. Agora escreve que nossa existência está unida a Ele em uma morte semelhante à sua, acrescentando que se participamos de uma morte semelhante à sua, pela qual Ele morreu ao pecado, podemos esperar participar também de uma comum ressurreição.

Como possa realizar-se isto, o demonstra dizendo que nossa velha condição deve ser crucificada juntamente com Cristo. Por velha condição entende-se a vida de pecado que levamos anteriormente, à qual pusemos fim - e, de certo modo, demos morte - quando recebemos a fé na cruz de Cristo, mediante a qual de tal forma fica destruída nossa personalidade de pecadores, que nossos membros, anteriormente escravos do pecado, não sirvam mais ao pecado, mas a Deus.

Mas retomando o fio do discurso, vejamos agora o que quer dizer ser enxertados em uma morte como a de Cristo. O Apóstolo nos apresenta a Morte de Cristo comparando-a à planta de uma árvore qualquer, na qual nos quer enxertados, de maneira que nossa raiz, sugando a seiva da sua raiz, produza ramos de justiça e dê frutos de vida.

E se queres saber, mediante o testemunho das Escrituras, qual seja a planta na qual temos de ser enxertados, e de que tipo há de ser essa árvore, escuta o que se escreve na Sabedoria: É árvore de vida, diz, para os que a colhem, são bem-aventurados os que a retêm. Portanto, Cristo, força de Deus e sabedoria de Deus, é a árvore da vida, na qual devemos estar enxertados; e por um novo e amável dom de Deus, sua Morte se converteu para nós em árvore da vida. É com razão, pois, que o Apóstolo, consciente de que no presente texto não é seu propósito falar da morte, tributo comum da condição humana, mas da morte ao pecado, não disse: “fomos incorporados à sua morte”, mas “a uma morte semelhante à sua”. Pois de tal maneira Cristo morreu de uma vez ao pecado, que não cometeu pecado algum nem encontraram falsidade em sua boca.

Isto é a única coisa da qual é capaz a natureza humana: morrer de uma morte semelhante à sua, não pecando à sua imitação. E detém-te na oportunidade do simbolismo da planta. Toda planta, após a morte do inverno, espera a ressurreição da primavera. Portanto, se também nós somos enxertados na morte de Cristo no inverno deste mundo e da vida presente, verificamos que, na primavera futura, produzimos frutos de justiça sugados da seiva de sua raiz; e se estamos enxertados em Cristo, será necessário que, como as ramos da videira verdadeira, o Pai nos pode, Ele que é o agricultor, para que demos fruto abundante.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 354-355. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de Santo Agostinho para este domingo, clique aqui.

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