Orígenes
Comentário sobre a Carta aos Romanos
Se
estamos enxertados em Cristo, será necessário que o Pai nos pode, Ele que é o
agricultor
Se a nossa existência está unida a Ele em
uma morte semelhante à sua, igualmente em uma comum ressurreição. Compreendamos
que nossa velha condição foi crucificada com Cristo, ficando destruída nossa
personalidade de pecadores e nós, livres da escravidão do pecado; porque aquele
que morre permanece absolvido do pecado.
Por esta razão o
Apóstolo afirma também que estamos mortos ao pecado, e que aqueles que pelo
Batismo nos incorporamos a Cristo, fomos incorporados à sua Morte. Agora
escreve que nossa existência está unida a Ele em uma morte semelhante à sua,
acrescentando que se participamos de uma morte semelhante à sua, pela qual Ele
morreu ao pecado, podemos esperar participar também de uma comum ressurreição.
Como possa
realizar-se isto, o demonstra dizendo que nossa velha condição deve ser
crucificada juntamente com Cristo. Por velha condição entende-se a vida de
pecado que levamos anteriormente, à qual pusemos fim - e, de certo modo, demos
morte - quando recebemos a fé na cruz de Cristo, mediante a qual de tal forma
fica destruída nossa personalidade de pecadores, que nossos membros,
anteriormente escravos do pecado, não sirvam mais ao pecado, mas a Deus.
Mas retomando o
fio do discurso, vejamos agora o que quer dizer ser enxertados em uma morte
como a de Cristo. O Apóstolo nos apresenta a Morte de Cristo comparando-a à
planta de uma árvore qualquer, na qual nos quer enxertados, de maneira que
nossa raiz, sugando a seiva da sua raiz, produza ramos de justiça e dê frutos
de vida.
E se queres
saber, mediante o testemunho das Escrituras, qual seja a planta na qual temos
de ser enxertados, e de que tipo há de ser essa árvore, escuta o que se escreve
na Sabedoria: É árvore de vida, diz, para os que a colhem, são bem-aventurados os
que a retêm. Portanto, Cristo, força
de Deus e sabedoria de Deus, é a árvore da vida, na qual devemos estar
enxertados; e por um novo e amável dom de Deus, sua Morte se converteu para nós
em árvore da vida. É com razão, pois, que o Apóstolo, consciente de que no
presente texto não é seu propósito falar da morte, tributo comum da condição
humana, mas da morte ao pecado, não disse: “fomos incorporados à sua morte”,
mas “a uma morte semelhante à sua”.
Pois de tal maneira Cristo morreu de uma vez ao pecado, que não cometeu pecado
algum nem encontraram falsidade em sua boca.
Isto é a única
coisa da qual é capaz a natureza humana: morrer de uma morte semelhante à sua,
não pecando à sua imitação. E detém-te na oportunidade do simbolismo da planta.
Toda planta, após a morte do inverno, espera a ressurreição da primavera.
Portanto, se também nós somos enxertados na morte de Cristo no inverno deste
mundo e da vida presente, verificamos que, na primavera futura, produzimos
frutos de justiça sugados da seiva de sua raiz; e se estamos enxertados em
Cristo, será necessário que, como as ramos da videira verdadeira, o Pai nos
pode, Ele que é o agricultor, para que demos fruto abundante.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 354-355. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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