A última seção das Catequeses do Papa São João Paulo II sobre Jesus Cristo foi dedicada à Ascensão do Senhor (nn. 83-85). Reproduzimos a seguir as primeiras duas meditações, sobre a Ascensão como mistério anunciado e realizado.
Confira a Introdução e o índice de todas as Catequeses clicando aqui.
Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
CREIO EM JESUS CRISTO
VI. Ascensão de Cristo
83. Ascensão: Mistério anunciado
João Paulo II - 05 de abril de 1989
1. Os mais antigos Símbolos da fé põem
após o artigo sobre a Ressurreição de Cristo aquele sobre sua Ascensão. A este
respeito os textos evangélicos relatam que Jesus Ressuscitado, depois de ter permanecido
com seus discípulos por quarenta dias, com várias aparições e em lugares diversos,
subtraiu-se plena e definitivamente às leis do tempo e do espaço para subir ao céu,
completando assim o “retorno ao Pai” iniciado já com a Ressurreição
dos mortos.
Nesta Catequese veremos como Jesus
anunciou sua Ascensão (ou retorno ao Pai), falando dela com a Madalena e com os
discípulos nos dias pascais e pré-pascais.
2. Encontrando a Madalena depois da
Ressurreição, Jesus lhe disse “Não me segures! Eu ainda não subi para junto do Pai;
mas vai dizer aos meus irmãos que Eu subo para junto do meu Pai e vosso
Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17).
Ascensão, detalhe (Benjamin West) |
Esse mesmo anúncio Jesus o fez várias
vezes aos seus discípulos no período pascal, especialmente durante a Última
Ceia, “sabendo que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai...
sabendo que o Pai tinha entregue tudo em suas mãos e que saíra de junto de Deus
e para Deus voltava” (Jo 13,1-3). Jesus certamente tinha em mente a
sua morte já próxima e, no entanto, olhava mais além e disse essas palavras na
perspectiva da sua próxima partida, do seu retorno ao Pai mediante a Ascensão ao
céu: “Vou para Aquele que me enviou” (Jo 16,5); “Vou
para o Pai e não mais me vereis” (v. 10). Os discípulos não compreenderam bem, na
ocasião, o que Jesus tinha em mente, muito menos quando Ele disse de forma
misteriosa: “Vou, mas voltarei a vós”, e acrescentou: “Se me amásseis, ficaríeis
alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que Eu” (Jo 14,28).
Após a Ressurreição, essas palavras se tornaram mais compreensíveis e
transparentes para os discípulos, como anúncio da sua Ascensão ao céu.
3. Se queremos examinar brevemente
o conteúdo dos anúncios relatados, podemos notar antes de tudo que a Ascensão
ao céu constitui a etapa final da peregrinação terrena de Cristo, Filho de Deus,
consubstancial ao Pai, que se fez homem para nossa salvação. Mas esta última
etapa permanece estreitamente conectada à primeira, isto é, à sua
“descida do céu”, ocorrida na Encarnação. Cristo que “saiu do Pai” e
veio ao mundo através da Encarnação, agora, após a conclusão da sua missão, “deixa
o mundo e vai para o Pai” (Jo 16,28). É um modo único de “subida”,
como foi de “descida”. Somente Aquele que saiu do Pai como Cristo pode
retornar ao Pai como Cristo. O próprio Jesus o evidencia no diálogo com
Nicodemos: “Ninguém subiu ao céu, senão Aquele que desceu
do céu” (Jo 3,13). Só Ele possui a energia divina e o direito
de “subir ao céu”, ninguém mais. A humanidade entregue a si mesma, às suas forças
naturais, não tem acesso a essa “casa do Pai” (Jo 14,2), à participação
na vida e na felicidade de Deus. Só Cristo pode abrir ao homem
esse acesso: Ele, o Filho que “desceu do céu”, que “saiu do Pai”
precisamente para isso.
Eis um primeiro resultado da nossa
análise: a Ascensão se integra no mistério da Encarnação, da qual é o momento
conclusivo.
4. A Ascensão ao céu, portanto, está
estreitamente conectada à “economia da salvação”, que se expressa no mistério da
Encarnação e, sobretudo, na Morte redentora de Cristo na Cruz. Precisamente
no já mencionado diálogo com Nicodemos, o próprio Jesus, referindo-se a um fato
simbólico e figurativo narrado no Livro dos Números, afirma: “Como
Moisés elevou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do homem
seja elevado (isto é, crucificado), a fim de que todo o que n’Ele crer tenha a
vida eterna” (Jo 3,14-15; cf. Nm 21,4-9).
E no final do seu ministério, já
próximo da Páscoa, Jesus repetiu claramente que era Ele quem abriria à
humanidade o acesso à “casa do Pai” por meio da sua Cruz: “Quando Eu for elevado
da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32). A “elevação” na Cruz
é o sinal particular e o anúncio definitivo da outra “elevação”, que acontecerá
através da Ascensão ao céu. O Evangelho de João vê esta “exaltação” do
Redentor já no Gólgota. A Cruz é o início da Ascensão ao céu.
5. Encontramos a mesma verdade na Carta
aos Hebreus, onde se lê que Jesus Cristo, o único Sacerdote da nova e eterna
aliança, “não entrou em um santuário feito por mãos humanas... mas no próprio
céu, a fim de comparecer agora, na presença de Deus, em nosso favor” (Hb 9,24).
E entrou “com seu próprio sangue, e isto
uma vez por todas, obtendo uma redenção eterna” (v. 12). Entrou como
Filho, que é “o resplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser. Ele sustenta
todas as coisas com a sua palavra poderosa. Tendo feito a purificação dos
pecados, sentou-se à direita da Majestade, nas alturas” (Hb 1,3).
Este texto da Carta aos
Hebreus e aquele do diálogo com Nicodemos coincidem no conteúdo substancial,
ou seja, na afirmação do valor redentor da Ascensão ao céu no ápice da economia
da salvação, em conexão com o princípio fundamental posto por Jesus: “Ninguém
subiu ao céu, senão Aquele que desceu do céu: o Filho del homem” (Jo 3,13).
6. Outras palavras de Jesus, pronunciadas
no Cenáculo, se referem à sua Morte, mas na perspectiva da Ascensão: “Filhinhos,
por pouco tempo ainda estou convosco. Vós me procurareis, e... para onde Eu vou,
vós (agora) não podeis ir” (Jo 13,33). Em seguida, porém, Ele diz:
“Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, Eu vos teria
dito, porque vou preparar-vos um lugar” (Jo 14,2).
É um discurso dirigido aos Apóstolos,
mas que deve ser estendido muito além do seu grupo. Jesus Cristo vai ao Pai - à
casa do Pai - para “introduzir” os homens, que sem Ele não poderiam “entrar”.
Só Ele pode abrir o acesso a todos: Ele que “desceu do céu” (Jo 3,13),
que “saiu do Pai” (Jo 16,28), e agora retorna ao Pai “com seu próprio
sangue... obtendo uma redenção eterna” (Hb 9,12). Ele mesmo afirma:
“Eu sou o Caminho... Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6).
7. Por esta razão Jesus também acrescenta,
na mesma noite da véspera da Paixão: “É bom
para vós que Eu vá”. Sim, é bom, é necessário, é indispensável
do ponto de vista da eterna economia salvífica. Jesus o explica profundamente aos
Apóstolos: “É bom para vós que Eu vá. Se Eu não for, o Paráclito
não virá a vós; mas se Eu for, o enviarei a vós” (Jo 16,7). Sim,
Cristo deve concluir sua presença terrena, a presença visível do Filho de Deus feito
homem no mundo, para que possa permanecer de modo invisível, em virtude do Espírito
da verdade, do Consolador-Paráclito. E por isso promete repetidamente: “Eu vou,
mas voltarei a vós” (Jo 14,3.28).
Aqui nos encontramos diante de um duplo
mistério: o mistério da eterna disposição ou predestinação divina, que
fixa os modos, os tempos, os ritmos da história da salvação com um desígnio admirável,
mas insondável para nós; e o mistério da presença de Cristo no mundo
humano através do Espírito Santo, santificador e vivificador: o modo como
a humanidade do Filho age através do Espírito Santo nas almas e na Igreja - verdade
claramente ensinada por Jesus - permanece envolvido na névoa luminosa do mistério
trinitário e cristológico, e requer nosso humilde e sapiente ato de fé.
8. A presença invisível de Cristo age
na Igreja também de modo sacramental. No centro da Igreja se encontra a
Eucaristia. Quando Jesus anunciou sua instituição pela primeira vez, muitos
“se escandalizaram”, pois Ele falava de “comer o seu corpo e beber o seu sangue”.
Foi então que Jesus reafirmou: “Isso vos escandaliza? Que será, então, quando
virdes o Filho do homem subir para onde estava antes? O Espírito é que dá a vida,
a carne não serve para nada” (Jo 6,61-63).
Jesus fala aqui da sua Ascensão
ao céu: quando seu corpo terreno for entregue à morte na cruz, se
manifestará o Espírito “que dá a vida”. Cristo subirá ao
Pai para que venha o Espírito. E, no dia da Páscoa, o Espírito glorificará o corpo
de Cristo na Ressurreição. No dia de Pentecostes o Espírito descerá sobre os
Apóstolos e sobre a Igreja para que, renovando na Eucaristia o memorial da Morte
de Cristo, possamos participar na vida nova do seu corpo glorificado pelo Espírito,
e deste modo nos prepararmos para entrar nas “moradas eternas”, onde nosso
Redentor nos precedeu para preparar-nos um lugar na “casa do Pai” (Jo 14,2).
84. Ascensão: Mistério realizado
João Paulo II - 12 de abril de 1989
1. Já nos “anúncios” da Ascensão,
que examinamos na Catequese anterior, projetam muita luz sobre a verdade expressa
pelos mais antigos Símbolos da fé com as concisas palavras “subiu aos céus”. Já
indicamos que se trata de um “mistério”, que é objeto de fé. Integra
o próprio mistério da Encarnação e é o cumprimento último da missão messiânica
do Filho de Deus, que veio à terra para realizar a nossa redenção.
No entanto, é também um “fato” que
podemos conhecer através dos elementos biográficos e históricos de Jesus, referidos
pelos Evangelhos.
2. Recorramos aos
textos de Lucas, antes de tudo àquele que conclui o seu Evangelho: “Jesus
levou-os para fora, até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os. E enquanto
os abençoava, afastou-se deles e foi elevado ao céu” (Lc 24,50-51).
Isto significa que os Apóstolos tiveram a sensação de “movimento” de toda a figura
de Jesus, e de uma ação de “separação” da terra. O fato de Jesus abençoar os Apóstolos
naquele momento indica o sentido salvífico da sua partida, a qual,
como toda a sua missão redentora, contém e doa ao mundo todo tipo de bens
espirituais.
Detendo-nos neste texto de Lucas, prescindindo
dos demais, poderíamos deduzir que Jesus subiu ao céu no mesmo dia da Ressurreição,
como conclusão da sua aparição aos Apóstolos (cf. Lc 24,36-39).
Mas se lemos bem todo o texto, percebemos que o evangelista quer sintetizar os
acontecimentos finais da vida de Cristo, cuja missão salvífica, concluída com
sua glorificação, pretendia descrever. Outros detalhes desses fatos conclusivos
seriam referidos por ele em outro livro, que é como o complemento do seu Evangelho:
o Livro dos Atos dos Apóstolos, que retoma a narração do Evangelho,
continuando a história das origens da Igreja.
3. Com efeito, lemos no início dos Atos um
texto de Lucas que apresenta as aparições e a Ascensão de modo mais detalhado:
“Depois da sua Paixão, Jesus mostrou-se vivo a eles (isto é, aos Apóstolos) com
numerosas provas. Apareceu-lhes por um período de quarenta dias, falando do Reino
de Deus” (At 1,3). O texto nos oferece, portanto, uma indicação
sobre a data da Ascensão: quarenta dias depois da Ressurreição. Veremos
adiante que nos dá informação também sobre o lugar.
Quanto o problema do tempo,
não há razão para negar que Jesus tenha aparecido aos seus repetidamente por quarenta
dias, como afirmam os Atos. O simbolismo bíblico do número quarenta,
utilizado para indicar uma duração plenamente suficiente para alcançar o fim desejado,
é aceito por Jesus, que já havia se retirado por quarenta dias no deserto antes
de começar seu ministério, e agora por quarenta dias aparece sobre a terra
antes de subir definitivamente ao céu. Certamente o tempo de Jesus
Ressuscitado pertence a uma ordem de medida distinta da nossa. O Ressuscitado já
está no “agora” eterno, que não conhece sucessões ou variações.
Mas, enquanto ainda age no mundo, instrui os Apóstolos, põe em marcha a Igreja,
o “agora” transcendente entra no tempo do mundo humano, adaptando-se mais uma
vez por amor. Assim, o mistério da relação eternidade-tempo se condensa na permanência
de Cristo Ressuscitado na terra. No entanto, o mistério não anula sua presença no
tempo e no espaço, ao contrário, enobrece e eleva ao nível dos valores eternos o
que Ele faz, diz, toca, institui, dispõe: em uma palavra, a Igreja. Por isso mais
uma vez dizemos: Creio, mas sem fugir da realidade da qual Lucas nos
falou.
Certamente quando Cristo subiu ao céu
essa coexistência e intersecção entre o “agora” eterno e o tempo terreno se dissolve,
e permanece o tempo da Igreja peregrina na história. A presença de Cristo é agora
invisível e “supratemporal”, como a ação do Espírito Santo, que atua nos corações.
4. Segundo os Atos dos Apóstolos,
Jesus “foi elevado ao céu” (At 1,2) no Monte das Oliveiras (v. 12):
dali, com efeito, os Apóstolos voltaram a Jerusalém depois da Ascensão. Mas
antes que isso acontecesse, Jesus lhes deu suas últimas instruções. Por exemplo, ordenou-lhes:
“Não vos afasteis de Jerusalém, mas esperai a realização da promessa do Pai”
(v. 4). Esta promessa do Pai era a vinda do Espírito Santo: “Sereis batizados com
o Espírito Santo” (v. 5); “Recebereis a força do Espírito Santo que virá sobre vós,
e sereis minhas testemunhas...” (v. 8). E foi então que, “depois de dizer isso,
Jesus foi elevado, à vista deles, e uma nuvem o ocultou aos
seus olhos” (v. 9).
O Monte das Oliveiras, que já tinha
sido o lugar da agonia de Jesus no Getsêmani, é, pois, o último ponto de contato
entre o Ressuscitado e o pequeno grupo dos seus discípulos no momento da Ascensão.
Isto acontece depois que Jesus renovou o anúncio do envio do Espírito, por cuja
ação aquele pequeno grupo seria transformado na Igreja e guiado pelos caminhos
da história. A Ascensão é, portanto, o evento conclusivo da vida e da missão
terrena de Cristo: o Pentecostes será o primeiro dia da vida e da história “do
seu Corpo, que é a Igreja” (Cl 1,24). Este é o sentido fundamental
do fato da Ascensão, para além das circunstâncias particulares nas quais aconteceu
e do quadro dos simbolismos bíblicos nos quais pode ser considerado.
5. Segundo Lucas, Jesus “foi
elevado, à vista deles, e uma nuvem o ocultou aos seus olhos” (At 1,9).
Deste texto é possível haurir dois momentos essenciais: “foi elevado” (a elevação-exaltação)
e “uma nuvem o ocultou” (a entrada no claro-escuro do mistério).
“Foi elevado”: com esta
expressão, correspondente à experiência sensível e espiritual dos Apóstolos, se
alude a um movimento ascensional, a uma passagem da terra ao céu, sobretudo
como sinal de outra “passagem”: Cristo passa ao estado de glorificação
em Deus. O primeiro significado da Ascensão é precisamente este: revelar
que o Ressuscitado entrou na intimidade celestial de Deus. Demonstra-o
a “nuvem”, sinal bíblico da presença divina. Cristo desaparece aos olhos dos seus
discípulos, entrando na esfera transcendente do Deus invisível.
6. Também esta última consideração
confirma o significado do mistério da Ascensão de Jesus Cristo ao céu.
O Filho que “saiu do Pai e veio ao mundo” agora “deixa o mundo e vai ao Pai” (cf. Jo 16,28).
Neste “retorno” ao Pai encontra sua concretização a elevação “à direita do Pai”,
verdade messiânica anunciada já no Antigo Testamento. Portanto, quando o evangelista
Marcos nos diz que “o Senhor Jesus foi elevado ao céu e sentou-se à direita
de Deus” (Mc 16,19), em suas palavras evoca o “oráculo do Senhor”
enunciado no Salmo: “Disse o Senhor ao meu senhor: ‘Senta-te à minha direita, até
que Eu faça de teus inimigos o estrado dos teus pés” (Sl 109,1).
“Sentar-se à direita de Deus” significa participar do seu poder real e da sua
dignidade divina.
O próprio Jesus tinha predito:
“Vereis o Filho do homem sentado à direita do Poderoso, vindo com as nuvens do céu”,
como lemos no Evangelho de Marcos (Mc 14,62). Lucas, por sua
vez, escreve: “O Filho do homem estará sentado à direita do Poder de Deus” (Lc 22,69).
Do mesmo modo o primeiro mártir de Jerusalém, o diácono Estêvão, verá Cristo no
momento da sua morte: “Estou vendo o céus aberto e o Filho do homem, em pé, à direita
de Deus” (At 7,56). O conceito, portanto, tinha se enraizado e
difundido nas primeiras comunidades cristãs, como expressão da realeza que Jesus
alcançou com sua Ascensão ao céu.
7. Também o Apóstolo Paulo, escrevendo
aos romanos, expressa a mesma verdade sobre o Cristo Jesus, “que morreu, mais ainda,
que ressuscitou e está à direita de Deus, intercedendo por nós” (Rm 8,34).
Na Carta aos Colossenses escreve: “Se ressuscitastes com Cristo,
buscai as coisas do alto, onde Cristo está entronizado à direita de Deus”
(Cl 3,1; cf. Ef 1,20). Na Carta aos
Hebreus lemos: “Tal é o Sumo Sacerdote que temos, que se sentou à
direita do trono da Majestade, nos céus” (Hb 8,1; cf. 1,3). E
ainda: “Suportou a cruz, não se importando com a infâmia, e assentou-se
à direita do trono de Deus” (Hb 12,2; cf. 10,12).
Pedro, por sua vez, proclama que
Cristo, “tendo subido ao céu, está à direita de
Deus, e a Ele estão submetidos os Anjos, as Potestades e os Poderes” (1Pd 3,22).
8. O mesmo Apóstolo Pedro, tomando
a palavra no primeiro discurso depois de Pentecostes, dirá que
Cristo foi “exaltado à direita de Deus” e “recebeu o Espírito
Santo que fora prometido pelo Pai e o derramou, como estais vendo
e ouvindo” (At 2,33; cf. 5,31). Aqui se insere na verdade da
Ascensão e da realeza de Cristo um elemento novo, em referência ao Espírito
Santo.
Reflitamos sobre isso um momento. No
Símbolo dos Apóstolos a Ascensão ao céu é associada à elevação do Messias ao reino
do Pai: “Subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai...”. Trata-se da
inauguração do reino do Messias, no qual se cumpre a visão
profética do Livro de Daniel sobre o Filho do homem: “Foi-lhe dado o
poder, a honra e o reino, e todos os povos, tribos e línguas o serviram. Seu
poder é um poder eterno, que não lhe será tirado, e seu reino
jamais será destruído!” (Dn 7,13-14).
O discurso de Pentecostes proferido
por Pedro nos dá a conhecer que, aos olhos dos Apóstolos, no
contexto do Novo Testamento, a elevação de Cristo à direita do
Pai está ligada sobretudo à vinda do Espírito Santo. As palavras de
Pedro testemunham a convicção dos Apóstolos de que só com a Ascensão Jesus “recebeu
o Espírito Santo” do Pai para derramá-lo como tinha prometido.
9. O discurso de Pedro testemunha também
que, com a vinda do Espírito Santo, amadureceu definitivamente na consciência dos
Apóstolos a visão daquele Reino que Cristo tinha anunciado desde
o início e do qual tinha falado também depois da Ressurreição (cf. At 1,3).
Mesmo então seus ouvintes tinham-no questionado sobre a restauração do reino de
Israel (v. 6), tão enraizada em sua interpretação temporal da missão messiânica.
Só depois de terem recebido a “força” do Espírito da verdade, “tornaram-se
testemunhas” de Cristo (v. 8) e desse Reino messiânico que se realizou
de modo definitivo quando o Cristo glorificado “sentou-se à direita do Pai”.
Na economia salvífica de Deus há,
portanto, uma estreita relação entre a elevação de Cristo e a descida do Espírito
Santo sobre os Apóstolos. A partir desse momento os Apóstolos se tornaram testemunhas
do Reino que não terá fim. Nesta perspectiva adquirem pleno
significado também as palavras que eles ouviram depois da Ascensão
de Cristo: “Esse Jesus que, do meio de vós, foi elevado ao céu, virá assim,
do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (At 1,11). Anúncio
de uma plenitude final e definitiva que ocorrerá quando, na força do Espírito
de Cristo, todo o desígnio divino na história alcance seu cumprimento.
Ascensão (Benjamin West) |
Tradução nossa a partir do texto italiano
divulgado no site da Santa Sé (05 de abril e 12 de abril de 1989).
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