Concluindo a seção sobre a Ressurreição, “ápice da Revelação” e “fonte da salvação”, confira nesta postagem as Catequeses nn. 81-82 do Papa São João Paulo II sobre Jesus Cristo.
Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
CREIO EM JESUS CRISTO
81. A Ressurreição, ápice da Revelação
João Paulo II - 08 de março de 1989
1. Na Primeira Carta de São Paulo
aos Coríntios, citada várias vezes ao longo destas Catequeses sobre a Ressurreição
de Cristo, lemos estas palavras do Apóstolo: “Se Cristo não ressuscitou,
vã é a nossa pregação e vã é a nossa fé” (1Cor 15,14).
Evidentemente São Paulo vê na Ressurreição
o fundamento da fé cristã e como que a pedra angular de todo o edifício de doutrina
e de vida levantado sobre a Revelação, enquanto confirmação definitiva de todo o
conjunto da verdade trazida por Cristo. Por isso toda a pregação da Igreja, desde
os tempos apostólicos, através de todos os séculos e todas as gerações, até hoje,
se refere à Ressurreição e haure dela a força propulsora e persuasiva, assim como
seu vigor. É fácil compreender o porquê.
O Ressuscitado “revela as Escrituras” aos discípulos de Emaús |
2. A Ressurreição constitui antes
de tudo a confirmação de tudo o que o próprio Cristo “fez e ensinou”. Foi
o selo divino posto sobre suas palavras e sobre sua vida. Ele mesmo indicou aos
discípulos e aos adversários este sinal definitivo da sua verdade.
O anjo no sepulcro o recordou às mulheres na manhã do “primeiro dia depois do
sábado”: “Ressuscitou, como havia dito!” (Mt 28,6).
Se esta sua palavra e promessa se revelou como verdade, então todas as suas demais
palavras e promessas possuem a força da verdade que não passa, como Ele mesmo proclamou:
“O céu e a terra passarão, mas minhas palavras jamais passarão” (Mt 24,35; Mc 13,31; Lc 21,33).
Ninguém poderia imaginar ou pretender uma prova mais autorizada, mais forte, mais
decisiva que a Ressurreição dos mortos. Todas as verdades, mesmo as mais inacessíveis
à mente humana, no entanto, encontram sua justificação, inclusive no âmbito da
razão, se Cristo Ressuscitado deu a prova definitiva, prometida por Ele, da sua
autoridade divina.
3. Assim, a Ressurreição confirma a
verdade de sua própria divindade. Jesus havia dito: “Quando tiverdes levantado
(sobre a cruz) o Filho do homem, então sabereis que Eu sou” (Jo 8,28).
Aqueles que ouviram estas palavras queriam apedrejar Jesus, pois “Eu sou” para os
judeus era o equivalente ao nome inefável de Deus. Com efeito, pedindo a Pilatos
sua condenação à morte, apresentaram como acusação principal: “se fez Filho de Deus”
(Jo 19,7). Por esta mesma razão o haviam condenado no Sinédrio como
réu de blasfêmia, ao ter declarado, depois do interrogatório do sumo sacerdote,
ser o Cristo, o Filho de Deus (Mt 26,63-65; Mc 14,62; Lc 22,70):
ou seja, não só o Messias terreno, como era concebido e esperado pela tradição
judaica, mas o Messias-Senhor anunciado pelo Salmo 109 (cf. Mt 22,41ss),
o personagem misterioso vislumbrado por Daniel (Dn 7,13-14).
Essa era a grande blasfêmia, a causa
para a condenação à morte: ter-se proclamado Filho de Deus! E agora sua Ressurreição
confirmava a veracidade da sua identidade divina e legitimava a atribuição a si
mesmo, antes da Páscoa, do “nome” de Deus: “Em verdade vos digo: antes que Abraão
existisse, Eu sou” (Jo 8,58). Para os judeus essa era uma
pretensão passível de apedrejamento (cf. Lv 24,16) e, com
efeito, “pegaram pedras para apedrejarem-no; mas Jesus escondeu-se e saiu do templo”
(Jo 8,59). Mas se então não puderam apedrejá-lo, mais tarde conseguiram
“levantá-lo” sobre a cruz: a Ressurreição do Crucificado demostrava, porém, que
Ele era o “Eu sou”, o Filho de Deus.
4. Na realidade, Jesus, embora se autodenominasse
Filho do homem, não só afirmou ser o verdadeiro Filho de Deus, mas no
Cenáculo, antes da Paixão, rezou ao Pai para que revelasse que o Cristo, Filho
do homem, era o seu Filho eterno: “Pai, chegou a hora. Glorifica teu Filho,
para que teu Filho te glorifique” (Jo 17,1); “Glorifica-me junto de
ti mesmo, com a glória que Eu tinha junto a ti antes
que o mundo existisse” (v. 5). E o Mistério Pascal foi a realização desse pedido,
a confirmação da filiação divina de Cristo e, mais ainda, sua glorificação com aquela glória
que Ele “tinha junto ao Pai antes que o mundo existisse”: a
glória do Filho de Deus.
5. Segundo o Evangelho de João,
no período pré-pascal Jesus tinha aludido várias vezes a esta glória futura, que
se manifestaria na sua Morte e Ressurreição. Os discípulos compreenderam o
significado das suas palavras somente quando o fato se realizou.
Assim, lemos que durante a primeira
Páscoa em Jerusalém, após ter expulsado do templo os mercadores e cambistas, aos
judeus que lhe pediam um “sinal” do poder pelo qual agia dessa forma, Jesus
respondeu: “Destruí este santuário e Eu o levantarei em três dias... Ele,
porém, se referia ao santuário que é seu corpo. Depois que Jesus ressuscitou
dentre os mortos, os discípulos se recordaram de que Ele tinha
dito isso, e acreditaram na Escritura e nas palavra que Jesus havia falado” (Jo 2,19-22).
Também a resposta dada por Jesus aos
mensageiros das irmãs de Lázaro, que lhe pediam que fosse visitar o irmão enfermo,
fazia referência aos acontecimentos pascais: “Esta enfermidade não é para a morte,
mas para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja
glorificado por ela” (Jo 11,4). Não era só a glória que lhe poderia
advir do milagre, muito menos que esse provocaria sua morte (cf. Jo 11,46-54);
mas a sua verdadeira glorificação viria precisamente da sua elevação sobre a Cruz
(cf. Jo 12,32). Os discípulos compreenderam tudo isso depois
da Ressurreição.
6. Particularmente interessante é a
doutrina de São Paulo sobre o valor da Ressurreição como elemento determinante
da sua concepção cristológica, vinculada também à sua experiência pessoal com o
Ressuscitado. Assim, no início da Carta aos Romanos ele se apresenta: “Paulo,
servo de Cristo Jesus, chamado a ser Apóstolo, separado para o Evangelho de Deus,
que foi prometido por meio de seus profetas nas Sagradas Escrituras, a respeito
de seu Filho, o qual, segundo a carne, era descendente de Davi, mas, segundo
o Espírito de santidade, foi constituído Filho de Deus com poder, desde a Ressurreição
dos mortos: Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 1,1-4).
Isto significa que desde o primeiro
momento da sua concepção humana e do seu nascimento (da linhagem de Davi), Jesus
era o Filho eterno de Deus, que se fez Filho do homem. Mas na Ressurreição essa
filiação divina se manifestou em toda a sua plenitude, pelo poder de Deus que,
por obra do Espírito Santo, devolveu a vida a Jesus (cf. Rm 8,11)
e o constitui no estado glorioso de “Kyrios”
(Fl 2,9-11; Rm 14,9; At 2,36), de modo que Jesus
merece por seu novo título, messiânico, o reconhecimento, o culto, a glória do
nome eterno de Filho de Deus (At 13,33; Hb 1,1-5;
5,5).
7. Paulo expôs esta mesma doutrina
em Antioquia da Pisídia, no dia de sábado, quando, convidado pelos responsáveis
da sinagoga, tomou a palavra para anunciar que no ápice da economia da salvação
realizada na história de Israel entre luzes e sombras, Deus ressuscitou Jesus dos
mortos, o qual apareceu durante muitos dias aos que haviam subido com Ele da Galileia
a Jerusalém e estes eram agora suas testemunhas diante do povo. Conclui o
Apóstolo: “Nós vos anunciamos este Evangelho: a promessa que Deus fez aos
nossos pais, Ele a cumpriu para nós, os filhos, ao ressuscitar Jesus, como está
escrito no Salmo: ‘Tu és meu filho, Eu hoje te gerei’” (At 13,32-33;
cf. Sl 2,7).
Para Paulo há uma espécie de “osmose”
conceitual entre a glória da Ressurreição e a eterna filiação divina de Cristo,
que se revela plenamente nessa conclusão vitoriosa da sua missão messiânica.
8. Nesta glória do “Kyrios” se manifesta aquele poder do Ressuscitado
(Homem-Deus) que Paulo conheceu por experiência no momento da sua conversão no
caminho de Damasco, quando também ele se sentiu chamado a ser Apóstolo (embora
não um dos Doze) enquanto testemunha ocular do Cristo vivo, e recebeu d’Ele a força
para enfrentar todos as dificuldades e suportar todos os sofrimentos da sua missão.
O espírito de Paulo ficou tão marcado por essa experiência que em sua doutrina e
em seu testemunho ele antepõe a ideia do poder do Ressuscitado à da participação
nos sofrimentos de Cristo, que também lhe era cara: o que ocorreu na sua experiência
pessoal, ele também o propunha aos fiéis como uma regra de pensamento e uma
norma de vida: “Julgo que tudo é prejuízo diante desse bem supremo que é o conhecimento
do Cristo Jesus, meu Senhor... a fim de ganhar Cristo e ser encontrado unido a Ele... É
assim que eu conheço Cristo, a força da sua Ressurreição e a comunhão
com os seus sofrimentos, tornando-se semelhante a Ele na sua Morte, para ver se
chego até a Ressurreição dentre os mortos” (Fl 3,8-11). E neste
ponto seu pensamento se dirige à experiência do caminho de Damasco: “Eu mesmo fui
alcançado por Cristo Jesus” (v. 12).
9. Como resulta dos textos citados,
a Ressurreição de Cristo está estreitamente ligada ao mistério da Encarnação
do Filho de Deus: é o seu cumprimento, segundo o eterno desígnio de Deus. É,
mais ainda, a suprema coroação de tudo o que Jesus manifestou e realizou ao
longo da sua vida, do nascimento à Paixão e Morte, com as obras, os prodígios, o
magistério, o exemplo de uma santidade perfeita, e sobretudo com a transfiguração.
Ele nunca revelou diretamente a glória que tinha junto ao Pai “antes que o
mundo existisse” (Jo 17,5), mas ocultava esta glória na
sua humanidade, até o definitivo despojamento através da Morte na cruz (cf. Fl 2,7-8).
Na Ressurreição foi revelado que
em Cristo “habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2,9;
cf. 1,19). Assim a Ressurreição “completa” a manifestação do conteúdo
da Encarnação. Por isso podemos dizer que é também a plenitude da Revelação. Portanto,
como dissemos, ela está no centro da fé cristã e da pregação da Igreja.
82. O valor salvífico da Ressurreição
João Paulo II - 15 de março de 1989
1. Se a fé cristã e a pregação da Igreja
têm seu fundamento na Ressurreição de Cristo, que é a confirmação definitiva e a
plenitude da Revelação, como vimos na Catequese anterior, é preciso acrescentar
que, enquanto integração do Mistério Pascal, ela também é fonte do
poder salvífico do Evangelho e da Igreja. Segundo São Paulo, com
efeito, Jesus Cristo, mediante a Ressurreição
dos mortos, foi revelado “segundo o Espírito de santidade” como “Filho de Deus
com poder” (Rm 1,4). E Ele transmite aos homens essa santidade
porque foi “entregue por causa de nossas transgressões e ressuscitado para nossa
justificação” (Rm 4,25). Há como que um duplo aspecto no Mistério Pascal:
a Morte para a libertação do pecado e a Ressurreição para abrir o acesso à vida
nova.
Certamente o Mistério Pascal, como
toda a vida e a obra de Cristo, tem uma profunda unidade interna na sua função
redentora e na sua eficácia, mas isso não impede que possam distinguir-se vários
aspectos em relação aos efeitos que dele provêm no homem. Daí a atribuição do
efeito específico da “vida nova” à Ressurreição, como afirma São Paulo.
2. Em relação a esta doutrina é
preciso fazer algumas anotações que, sempre em referência aos textos do Novo
Testamento, nos permitem revelar toda a sua verdade e beleza.
Antes de tudo, podemos dizer certamente
que Cristo Ressuscitado é princípio e fonte de uma vida nova para todos os homens.
Isto aparece também na maravilhosa oração de Jesus na véspera da sua Paixão,
que João relata com estas palavras: “Pai... glorifica teu
Filho, para que teu Filho te glorifique, assim como lhe deste autoridade sobre
toda a carne, para que conceda a vida eterna a todos os que lhe deste” (Jo 17,1-2).
Em sua oração Jesus vê e abraça antes
de tudo seus discípulos, aos quais advertiu da próxima e dolorosa separação que
se verificaria através da sua Paixão e Morte, mas aos quais também prometeu: “Eu
vivo, e vós vivereis” (Jo 14,19). Isto é: tereis parte na minha vida,
a qual se revelará depois da Ressurreição. Mas o olhar de Jesus se estende em um
raio de amplitude universal: “Não rogo somente por eles (os discípulos), mas também
por aqueles que hão de crer em mim pela palavra deles” (Jo 17,20):
todos devem tornar-se um só na participação da glória de Deus em Cristo.
A vida nova concedida aos crentes
em virtude da Ressurreição de Cristo consiste na vitória sobre a morte do pecado
e na nova participação na graça. Afirma-o São Paulo de forma lapidar: “Deus,
porém, rico em misericórdia... quando ainda estávamos mortos por
causa dos nossos pecados, deu-nos a vida com Cristo” (Ef 2,4-5).
E, de forma análoga, São Pedro: “Deus, o Pai de nosso Senhor... em sua grande misericórdia,
pela Ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, nos fez nascer de novo para
uma esperança viva” (1Pd 1,3).
Esta verdade se reflete no ensinamento
paulino sobre o Batismo: “Pelo Batismo fomos sepultados juntamente com Ele (Cristo)
na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dos mortos por meio da glória
do Pai, assim também nós caminhemos em uma vida nova” (Rm 6, 4).
3. Esta vida nova -
a vida segundo o Espírito - manifesta a adoção como filhos, outro conceito
paulino de fundamental importância. A este respeito é “clássica” a passagem da Carta
aos Gálatas: “Deus enviou seu Filho... para resgatar os que estavam
sujeitos à Lei, e para que todos recebêssemos a adoção filial” (Gl 4,4-5).
Esta adoção divina por obra do Espírito Santo torna o homem semelhante
ao Filho Unigênito: “Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus,
são Filhos de Deus” (Rm 8,14). Na Carta aos Gálatas, São
Paulo apela à experiência que os crentes fazem da nova condição em que se encontram:
“A prova de que sois filhos é que Deus enviou aos nossos corações o
Espírito do seu Filho, que clama: ‘Abbá, Pai!’. Portanto, já não és mais
escravo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro; tudo isso por graça de Deus”
(Gl 4,6-7). Portanto, há no homem novo um primeiro efeito da redenção:
a libertação da escravidão; mas a aquisição da liberdade realiza-se com o tornar-se
filho adotivo, não tanto no plano do acesso legal à herança, mas com o dom real
da vida divina, que as três Pessoas da Trindade infundem no homem (cf. Gl 4,6; 2Cor
13,13). A fonte desta vida nova do homem em Deus é a Ressurreição
de Cristo.
A participação na vida nova também
faz com que os homens se tornem “irmãos” de Cristo,
como o próprio Jesus chama os discípulos depois da Ressurreição: “Ide anunciar
a meus irmãos...” (Mt 28,10; Jo 20,17). Irmãos não
por natureza, mas por dom de graça, pois essa filiação adotiva dá uma verdadeira
e real participação na vida do Filho Unigênito, plenamente revelada na sua Ressurreição.
4. A Ressurreição de Cristo - e, mais
ainda, o Cristo Ressuscitado - é, por fim, princípio e fonte da
nossa futura ressurreição. Anunciando a instituição da Eucaristia, o
próprio Jesus falou dela como sacramento da vida eterna, da ressurreição
futura: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna,
e Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,54). E percebendo
que os ouvintes “murmuravam”, Jesus lhes perguntou: “Isto vos escandaliza? Que
será, então, quando virdes o Filho do homem subir para onde estava antes?” (vv.
61-62). Desse modo Ele indicava indiretamente que sob as espécies sacramentais
da Eucaristia é dado aos que a recebem participar do Corpo e Sangue de
Cristo glorificado.
Também São Paulo destaca a relação
entre a Ressurreição de Cristo e a nossa, sobretudo na sua Primeira Carta aos
Coríntios. Com efeito, ele escreve: “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias
dos que morreram... Como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos reviverão”
(1Cor 15,20-22); “Com efeito, é preciso que este ser corruptível
se vista de incorruptibilidade e este ser mortal se vista
de imortalidade. E quando este ser corruptível estiver vestido
de incorruptibilidade e este ser mortal estiver vestido de imortalidade, então estará
cumprida a palavra da Escritura: ‘A morte foi tragada pela vitória’” (vv. 53-54);
“Graças sejam dadas a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor, Jesus Cristo”
(v. 57).
A vitória definitiva sobre a morte,
já conquistada por Cristo, é partilhada por Ele com a humanidade, à medida em
que esta recebe os frutos da redenção. É um processo de admissão à “vida nova”,
à “vida eterna”, que dura até o fim dos tempos. Graças a esse processo vai se
formando ao longo dos séculos uma nova humanidade, o povo dos redimidos, reunidos
na Igreja, verdadeira comunidade da Ressurreição. No final da história, todos ressuscitarão,
e os que pertenceram a Cristo terão a plenitude da vida na glória, na
definitiva realização da comunidade dos redimidos por Cristo, “para que Deus seja
tudo em todos” (1Cor 15,28).
5. O Apóstolo ensina também que o processo
da redenção, que culmina na ressurreição dos mortos, realiza-se em uma esfera
de inefável espiritualidade, que supera tudo o que se possa conceber e realizar
humanamente. Com efeito, se por um lado ele escreve que “a carne e o sangue
não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorruptibilidade”
(1Cor 15,50) - que é a constatação da nossa incapacidade natural
para a vida nova -, por outro lado, na Carta aos Romanos, assegura
aos crentes: “Se o Espírito d’Aquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita
em vós, Aquele que ressuscitou Cristo dentre os mortos vivificará também
vossos corpos mortais pelo seu Espírito que habita em vós” (Rm 8,11).
É um misterioso processo de espiritualização, que no momento da ressurreição atingirá
também os corpos, pelo poder daquele mesmo Espírito Santo que realizou
a Ressurreição de Cristo.
Sem dúvida trata-se de realidades
que escapam à nossa capacidade de compreensão e de demonstração racional, e por
isso são objeto da nossa fé fundada na Palavra de Deus, a qual, segundo São Paulo,
nos faz penetrar no mistério que supera todos os confins do espaço e do tempo:
“O primeiro homem, Adão, tornou-se um ser vivente; o último Adão
tornou-se um espírito que dá vida” (1Cor 15,45); “E como já trazemos
a imagem do homem terrestre, traremos também a imagem do homem celeste” (v. 49).
6. Na expectativa dessa transcendente
plenitude final, o Cristo Ressuscitado vive nos corações dos seus
discípulos e seguidores como fonte de santificação no Espírito Santo, fonte da
vida divina e da divina filiação, fonte da futura ressurreição.
Essa certeza faz São Paulo afirmar
na Carta aos Gálatas: “Com Cristo, eu fui pregado na cruz. Eu vivo,
mas não eu: é Cristo que vive em mim. Minha vida atual na carne, eu a
vivo na fé, crendo no Filho de Deus que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,19-20).
Como o Apóstolo, também cada cristão, embora vivendo ainda na carne (cf. Rm 7,5),
vive uma vida já espiritualizada pela fé (cf. 2Cor 10,3),
porque o Cristo vivo, o Cristo Ressuscitado se tornou como que o sujeito de
todas as suas ações: Cristo vive em mim (cf. Rm 8,2.10-11; Fl 1,21; Cl 3,3).
É a vida no Espírito Santo.
Esta certeza sustenta o Apóstolo, como
pode e deve sustentar cada cristão nas dificuldades e sofrimentos da vida presente,
como Paulo aconselhava ao discípulo Timóteo na passagem de uma de suas Cartas com
a qual queremos encerrar - para nossa instrução e consolo - nossa Catequese
sobre a Ressurreição de Cristo: “Lembra-te de Jesus Cristo, descendente de Davi,
ressuscitado dentre os mortos, segundo o meu Evangelho... Por isso tudo suporto,
por causa dos eleitos, para que eles também alcancem a salvação que está no
Cristo Jesus com a glória eterna. É digna de fé esta afirmação: se morremos com
Ele, também com Ele viveremos; se resistimos com Ele, também com Ele reinaremos;
se o negamos, Ele também nos negará; se lhe somos infiéis, Ele permanece fiel, pois
não pode negar-se a si mesmo” (2Tm 2,8-13).
“Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado
dentre os mortos”: esta afirmação do Apóstolo nos dá a chave da esperança na verdadeira
vida no tempo e na eternidade.
O Ressuscitado parte o pão com os discípulos de Emaús (Raúl Berzosa Fernández) |
Tradução nossa a partir do texto italiano
divulgado no site da Santa Sé (08 de março e 15 de março de 1989).
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