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quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio: Jesus Cristo 56

A última seção das Catequeses do Papa São João Paulo II sobre Jesus Cristo foi dedicada à Ascensão do Senhor (nn. 83-85). Reproduzimos a seguir as primeiras duas meditações, sobre a Ascensão como mistério anunciado e realizado.

Confira a Introdução e o índice de todas as Catequeses clicando aqui.

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
CREIO EM JESUS CRISTO

VI. Ascensão de Cristo

83. Ascensão: Mistério anunciado
João Paulo II - 05 de abril de 1989

1. Os mais antigos Símbolos da fé põem após o artigo sobre a Ressurreição de Cristo aquele sobre sua Ascensão. A este respeito os textos evangélicos relatam que Jesus Ressuscitado, depois de ter permanecido com seus discípulos por quarenta dias, com várias aparições e em lugares diversos, subtraiu-se plena e definitivamente às leis do tempo e do espaço para subir ao céu, completando assim o “retorno ao Pai” iniciado já com a Ressurreição dos mortos.

Nesta Catequese veremos como Jesus anunciou sua Ascensão (ou retorno ao Pai), falando dela com a Madalena e com os discípulos nos dias pascais e pré-pascais.

2. Encontrando a Madalena depois da Ressurreição, Jesus lhe disse “Não me segures! Eu ainda não subi para junto do Pai; mas vai dizer aos meus irmãos que Eu subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17).

Ascensão, detalhe (Benjamin West)

Esse mesmo anúncio Jesus o fez várias vezes aos seus discípulos no período pascal, especialmente durante a Última Ceia, “sabendo que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai... sabendo que o Pai tinha entregue tudo em suas mãos e que saíra de junto de Deus e para Deus voltava” (Jo 13,1-3). Jesus certamente tinha em mente a sua morte já próxima e, no entanto, olhava mais além e disse essas palavras na perspectiva da sua próxima partida, do seu retorno ao Pai mediante a Ascensão ao céu: “Vou para Aquele que me enviou” (Jo 16,5); “Vou para o Pai e não mais me vereis” (v. 10). Os discípulos não compreenderam bem, na ocasião, o que Jesus tinha em mente, muito menos quando Ele disse de forma misteriosa: “Vou, mas voltarei a vós”, e acrescentou: “Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que Eu” (Jo 14,28). Após a Ressurreição, essas palavras se tornaram mais compreensíveis e transparentes para os discípulos, como anúncio da sua Ascensão ao céu.

3. Se queremos examinar brevemente o conteúdo dos anúncios relatados, podemos notar antes de tudo que a Ascensão ao céu constitui a etapa final da peregrinação terrena de Cristo, Filho de Deus, consubstancial ao Pai, que se fez homem para nossa salvação. Mas esta última etapa permanece estreitamente conectada à primeira, isto é, à sua “descida do céu”, ocorrida na Encarnação. Cristo que “saiu do Pai” e veio ao mundo através da Encarnação, agora, após a conclusão da sua missão, “deixa o mundo e vai para o Pai” (Jo 16,28). É um modo único de “subida”, como foi de “descida”. Somente Aquele que saiu do Pai como Cristo pode retornar ao Pai como Cristo. O próprio Jesus o evidencia no diálogo com Nicodemos: “Ninguém subiu ao céu, senão Aquele que desceu do céu” (Jo 3,13). Só Ele possui a energia divina e o direito de “subir ao céu”, ninguém mais. A humanidade entregue a si mesma, às suas forças naturais, não tem acesso a essa “casa do Pai” (Jo 14,2), à participação na vida e na felicidade de Deus. Só Cristo pode abrir ao homem esse acesso: Ele, o Filho que “desceu do céu”, que “saiu do Pai” precisamente para isso.

Eis um primeiro resultado da nossa análise: a Ascensão se integra no mistério da Encarnação, da qual é o momento conclusivo.

4. A Ascensão ao céu, portanto, está estreitamente conectada à “economia da salvação”, que se expressa no mistério da Encarnação e, sobretudo, na Morte redentora de Cristo na Cruz. Precisamente no já mencionado diálogo com Nicodemos, o próprio Jesus, referindo-se a um fato simbólico e figurativo narrado no Livro dos Números, afirma: “Como Moisés elevou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do homem seja elevado (isto é, crucificado), a fim de que todo o que n’Ele crer tenha a vida eterna” (Jo 3,14-15; cf. Nm 21,4-9).

E no final do seu ministério, já próximo da Páscoa, Jesus repetiu claramente que era Ele quem abriria à humanidade o acesso à “casa do Pai” por meio da sua Cruz: “Quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32). A “elevação” na Cruz é o sinal particular e o anúncio definitivo da outra “elevação”, que acontecerá através da Ascensão ao céu. O Evangelho de João vê esta “exaltação” do Redentor já no Gólgota. A Cruz é o início da Ascensão ao céu.

5. Encontramos a mesma verdade na Carta aos Hebreus, onde se lê que Jesus Cristo, o único Sacerdote da nova e eterna aliança, “não entrou em um santuário feito por mãos humanas... mas no próprio céu, a fim de comparecer agora, na presença de Deus, em nosso favor” (Hb 9,24). E entrou “com seu próprio sangue, e isto uma vez por todas, obtendo uma redenção eterna” (v. 12). Entrou como Filho, que é “o resplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser. Ele sustenta todas as coisas com a sua palavra poderosa. Tendo feito a purificação dos pecados, sentou-se à direita da Majestade, nas alturas” (Hb 1,3).

Este texto da Carta aos Hebreus e aquele do diálogo com Nicodemos coincidem no conteúdo substancial, ou seja, na afirmação do valor redentor da Ascensão ao céu no ápice da economia da salvação, em conexão com o princípio fundamental posto por Jesus: “Ninguém subiu ao céu, senão Aquele que desceu do céu: o Filho del homem” (Jo 3,13).

6. Outras palavras de Jesus, pronunciadas no Cenáculo, se referem à sua Morte, mas na perspectiva da Ascensão: “Filhinhos, por pouco tempo ainda estou convosco. Vós me procurareis, e... para onde Eu vou, vós (agora) não podeis ir” (Jo 13,33). Em seguida, porém, Ele diz: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, Eu vos teria dito, porque vou preparar-vos um lugar” (Jo 14,2).

É um discurso dirigido aos Apóstolos, mas que deve ser estendido muito além do seu grupo. Jesus Cristo vai ao Pai - à casa do Pai - para “introduzir” os homens, que sem Ele não poderiam “entrar”. Só Ele pode abrir o acesso a todos: Ele que “desceu do céu” (Jo 3,13), que “saiu do Pai” (Jo 16,28), e agora retorna ao Pai “com seu próprio sangue... obtendo uma redenção eterna” (Hb 9,12). Ele mesmo afirma: “Eu sou o Caminho... Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6).

7. Por esta razão Jesus também acrescenta, na mesma noite da véspera da Paixão: “É bom para vós que Eu vá”. Sim, é bom, é necessário, é indispensável do ponto de vista da eterna economia salvífica. Jesus o explica profundamente aos Apóstolos: “É bom para vós que Eu vá. Se Eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se Eu for, o enviarei a vós” (Jo 16,7). Sim, Cristo deve concluir sua presença terrena, a presença visível do Filho de Deus feito homem no mundo, para que possa permanecer de modo invisível, em virtude do Espírito da verdade, do Consolador-Paráclito. E por isso promete repetidamente: “Eu vou, mas voltarei a vós” (Jo 14,3.28).

Aqui nos encontramos diante de um duplo mistério: o mistério da eterna disposição ou predestinação divina, que fixa os modos, os tempos, os ritmos da história da salvação com um desígnio admirável, mas insondável para nós; e o mistério da presença de Cristo no mundo humano através do Espírito Santo, santificador e vivificador: o modo como a humanidade do Filho age através do Espírito Santo nas almas e na Igreja - verdade claramente ensinada por Jesus - permanece envolvido na névoa luminosa do mistério trinitário e cristológico, e requer nosso humilde e sapiente ato de fé.

8. A presença invisível de Cristo age na Igreja também de modo sacramental. No centro da Igreja se encontra a Eucaristia. Quando Jesus anunciou sua instituição pela primeira vez, muitos “se escandalizaram”, pois Ele falava de “comer o seu corpo e beber o seu sangue”. Foi então que Jesus reafirmou: “Isso vos escandaliza? Que será, então, quando virdes o Filho do homem subir para onde estava antes? O Espírito é que dá a vida, a carne não serve para nada” (Jo 6,61-63).

Jesus fala aqui da sua Ascensão ao céu: quando seu corpo terreno for entregue à morte na cruz, se manifestará o Espírito que dá a vida”. Cristo subirá ao Pai para que venha o Espírito. E, no dia da Páscoa, o Espírito glorificará o corpo de Cristo na Ressurreição. No dia de Pentecostes o Espírito descerá sobre os Apóstolos e sobre a Igreja para que, renovando na Eucaristia o memorial da Morte de Cristo, possamos participar na vida nova do seu corpo glorificado pelo Espírito, e deste modo nos prepararmos para entrar nas “moradas eternas”, onde nosso Redentor nos precedeu para preparar-nos um lugar na “casa do Pai” (Jo 14,2).

84. Ascensão: Mistério realizado
João Paulo II - 12 de abril de 1989

1. Já nos “anúncios” da Ascensão, que examinamos na Catequese anterior, projetam muita luz sobre a verdade expressa pelos mais antigos Símbolos da fé com as concisas palavras “subiu aos céus”. Já indicamos que se trata de um “mistério”, que é objeto de fé. Integra o próprio mistério da Encarnação e é o cumprimento último da missão messiânica do Filho de Deus, que veio à terra para realizar a nossa redenção.
No entanto, é também um “fato” que podemos conhecer através dos elementos biográficos e históricos de Jesus, referidos pelos Evangelhos.

2. Recorramos aos textos de Lucas, antes de tudo àquele que conclui o seu Evangelho: “Jesus levou-os para fora, até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os. E enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi elevado ao céu” (Lc 24,50-51). Isto significa que os Apóstolos tiveram a sensação de “movimento” de toda a figura de Jesus, e de uma ação de “separação” da terra. O fato de Jesus abençoar os Apóstolos naquele momento indica o sentido salvífico da sua partida, a qual, como toda a sua missão redentora, contém e doa ao mundo todo tipo de bens espirituais.

Detendo-nos neste texto de Lucas, prescindindo dos demais, poderíamos deduzir que Jesus subiu ao céu no mesmo dia da Ressurreição, como conclusão da sua aparição aos Apóstolos (cf. Lc 24,36-39). Mas se lemos bem todo o texto, percebemos que o evangelista quer sintetizar os acontecimentos finais da vida de Cristo, cuja missão salvífica, concluída com sua glorificação, pretendia descrever. Outros detalhes desses fatos conclusivos seriam referidos por ele em outro livro, que é como o complemento do seu Evangelho: o Livro dos Atos dos Apóstolos, que retoma a narração do Evangelho, continuando a história das origens da Igreja.

3. Com efeito, lemos no início dos Atos um texto de Lucas que apresenta as aparições e a Ascensão de modo mais detalhado: “Depois da sua Paixão, Jesus mostrou-se vivo a eles (isto é, aos Apóstolos) com numerosas provas. Apareceu-lhes por um período de quarenta dias, falando do Reino de Deus” (At 1,3). O texto nos oferece, portanto, uma indicação sobre a data da Ascensão: quarenta dias depois da Ressurreição. Veremos adiante que nos dá informação também sobre o lugar.

Quanto o problema do tempo, não há razão para negar que Jesus tenha aparecido aos seus repetidamente por quarenta dias, como afirmam os Atos. O simbolismo bíblico do número quarenta, utilizado para indicar uma duração plenamente suficiente para alcançar o fim desejado, é aceito por Jesus, que já havia se retirado por quarenta dias no deserto antes de começar seu ministério, e agora por quarenta dias aparece sobre a terra antes de subir definitivamente ao céu. Certamente o tempo de Jesus Ressuscitado pertence a uma ordem de medida distinta da nossa. O Ressuscitado já está no “agora eterno, que não conhece sucessões ou variações. Mas, enquanto ainda age no mundo, instrui os Apóstolos, põe em marcha a Igreja, o “agora” transcendente entra no tempo do mundo humano, adaptando-se mais uma vez por amor. Assim, o mistério da relação eternidade-tempo se condensa na permanência de Cristo Ressuscitado na terra. No entanto, o mistério não anula sua presença no tempo e no espaço, ao contrário, enobrece e eleva ao nível dos valores eternos o que Ele faz, diz, toca, institui, dispõe: em uma palavra, a Igreja. Por isso mais uma vez dizemos: Creio, mas sem fugir da realidade da qual Lucas nos falou.

Certamente quando Cristo subiu ao céu essa coexistência e intersecção entre o “agora” eterno e o tempo terreno se dissolve, e permanece o tempo da Igreja peregrina na história. A presença de Cristo é agora invisível e “supratemporal”, como a ação do Espírito Santo, que atua nos corações.

4. Segundo os Atos dos Apóstolos, Jesus “foi elevado ao céu” (At 1,2) no Monte das Oliveiras (v. 12): dali, com efeito, os Apóstolos voltaram a Jerusalém depois da Ascensão. Mas antes que isso acontecesse, Jesus lhes deu suas últimas instruções. Por exemplo, ordenou-lhes: “Não vos afasteis de Jerusalém, mas esperai a realização da promessa do Pai” (v. 4). Esta promessa do Pai era a vinda do Espírito Santo: “Sereis batizados com o Espírito Santo” (v. 5); “Recebereis a força do Espírito Santo que virá sobre vós, e sereis minhas testemunhas...” (v. 8). E foi então que, “depois de dizer isso, Jesus foi elevado, à vista deles, e uma nuvem o ocultou aos seus olhos” (v. 9).

O Monte das Oliveiras, que já tinha sido o lugar da agonia de Jesus no Getsêmani, é, pois, o último ponto de contato entre o Ressuscitado e o pequeno grupo dos seus discípulos no momento da Ascensão. Isto acontece depois que Jesus renovou o anúncio do envio do Espírito, por cuja ação aquele pequeno grupo seria transformado na Igreja e guiado pelos caminhos da história. A Ascensão é, portanto, o evento conclusivo da vida e da missão terrena de Cristo: o Pentecostes será o primeiro dia da vida e da história “do seu Corpo, que é a Igreja” (Cl 1,24). Este é o sentido fundamental do fato da Ascensão, para além das circunstâncias particulares nas quais aconteceu e do quadro dos simbolismos bíblicos nos quais pode ser considerado.

5. Segundo Lucas, Jesus “foi elevado, à vista deles, e uma nuvem o ocultou aos seus olhos” (At 1,9). Deste texto é possível haurir dois momentos essenciais: “foi elevado” (a elevação-exaltação) e “uma nuvem o ocultou” (a entrada no claro-escuro do mistério).

Foi elevado”: com esta expressão, correspondente à experiência sensível e espiritual dos Apóstolos, se alude a um movimento ascensional, a uma passagem da terra ao céu, sobretudo como sinal de outra “passagem”: Cristo passa ao estado de glorificação em Deus. O primeiro significado da Ascensão é precisamente este: revelar que o Ressuscitado entrou na intimidade celestial de Deus. Demonstra-o a “nuvem”, sinal bíblico da presença divina. Cristo desaparece aos olhos dos seus discípulos, entrando na esfera transcendente do Deus invisível.

6. Também esta última consideração confirma o significado do mistério da Ascensão de Jesus Cristo ao céu. O Filho que “saiu do Pai e veio ao mundo” agora “deixa o mundo e vai ao Pai” (cf. Jo 16,28). Neste “retorno” ao Pai encontra sua concretização a elevação “à direita do Pai”, verdade messiânica anunciada já no Antigo Testamento. Portanto, quando o evangelista Marcos nos diz que “o Senhor Jesus foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus” (Mc 16,19), em suas palavras evoca o “oráculo do Senhor” enunciado no Salmo: “Disse o Senhor ao meu senhor: ‘Senta-te à minha direita, até que Eu faça de teus inimigos o estrado dos teus pés” (Sl 109,1). “Sentar-se à direita de Deus” significa participar do seu poder real e da sua dignidade divina.

O próprio Jesus tinha predito: “Vereis o Filho do homem sentado à direita do Poderoso, vindo com as nuvens do céu”, como lemos no Evangelho de Marcos (Mc 14,62). Lucas, por sua vez, escreve: “O Filho do homem estará sentado à direita do Poder de Deus” (Lc 22,69). Do mesmo modo o primeiro mártir de Jerusalém, o diácono Estêvão, verá Cristo no momento da sua morte: “Estou vendo o céus aberto e o Filho do homem, em pé, à direita de Deus” (At 7,56). O conceito, portanto, tinha se enraizado e difundido nas primeiras comunidades cristãs, como expressão da realeza que Jesus alcançou com sua Ascensão ao céu.

7. Também o Apóstolo Paulo, escrevendo aos romanos, expressa a mesma verdade sobre o Cristo Jesus, “que morreu, mais ainda, que ressuscitou e está à direita de Deus, intercedendo por nós” (Rm 8,34). Na Carta aos Colossenses escreve: “Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está entronizado à direita de Deus” (Cl 3,1; cf. Ef 1,20). Na Carta aos Hebreus lemos: “Tal é o Sumo Sacerdote que temos, que se sentou à direita do trono da Majestade, nos céus” (Hb 8,1; cf. 1,3). E ainda: “Suportou a cruz, não se importando com a infâmia, e assentou-se à direita do trono de Deus” (Hb 12,2; cf. 10,12).
Pedro, por sua vez, proclama que Cristo, “tendo subido ao céu, está à direita de Deus, e a Ele estão submetidos os Anjos, as Potestades e os Poderes” (1Pd 3,22).

8. O mesmo Apóstolo Pedro, tomando a palavra no primeiro discurso depois de Pentecostes, dirá que Cristo foi “exaltado à direita de Deus” e recebeu o Espírito Santo que fora prometido pelo Pai e o derramou, como estais vendo e ouvindo” (At 2,33; cf. 5,31). Aqui se insere na verdade da Ascensão e da realeza de Cristo um elemento novo, em referência ao Espírito Santo.

Reflitamos sobre isso um momento. No Símbolo dos Apóstolos a Ascensão ao céu é associada à elevação do Messias ao reino do Pai: “Subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai...”. Trata-se da inauguração do reino do Messias, no qual se cumpre a visão profética do Livro de Daniel sobre o Filho do homem: “Foi-lhe dado o poder, a honra e o reino, e todos os povos, tribos e línguas o serviram. Seu poder é um poder eterno, que não lhe será tirado, e seu reino jamais será destruído!” (Dn 7,13-14).

O discurso de Pentecostes proferido por Pedro nos dá a conhecer que, aos olhos dos Apóstolos, no contexto do Novo Testamento, a elevação de Cristo à direita do Pai está ligada sobretudo à vinda do Espírito Santo. As palavras de Pedro testemunham a convicção dos Apóstolos de que só com a Ascensão Jesus “recebeu o Espírito Santo” do Pai para derramá-lo como tinha prometido.

9. O discurso de Pedro testemunha também que, com a vinda do Espírito Santo, amadureceu definitivamente na consciência dos Apóstolos a visão daquele Reino que Cristo tinha anunciado desde o início e do qual tinha falado também depois da Ressurreição (cf. At 1,3). Mesmo então seus ouvintes tinham-no questionado sobre a restauração do reino de Israel (v. 6), tão enraizada em sua interpretação temporal da missão messiânica. Só depois de terem recebido a “força” do Espírito da verdade, tornaram-se testemunhas” de Cristo (v. 8) e desse Reino messiânico que se realizou de modo definitivo quando o Cristo glorificado “sentou-se à direita do Pai”.

Na economia salvífica de Deus há, portanto, uma estreita relação entre a elevação de Cristo e a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos. A partir desse momento os Apóstolos se tornaram testemunhas do Reino que não terá fim. Nesta perspectiva adquirem pleno significado também as palavras que eles ouviram depois da Ascensão de Cristo: “Esse Jesus que, do meio de vós, foi elevado ao céu, virá assim, do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (At 1,11). Anúncio de uma plenitude final e definitiva que ocorrerá quando, na força do Espírito de Cristo, todo o desígnio divino na história alcance seu cumprimento.

Ascensão (Benjamin West)

Tradução nossa a partir do texto italiano divulgado no site da Santa Sé (05 de abril e 12 de abril de 1989).

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