A relação entre a Divina Providência e a liberdade e o destino do homem foi o tema das Catequeses nn. 36-37 de São João Paulo II sobre Deus Pai.
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Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
CREIO EM DEUS PAI
36.
A Divina Providência e a liberdade do homem
João Paulo II - 21 de maio de
1986
1. Em nosso caminho de aprofundamento
do mistério de Deus como Providência, muitas vezes nos defrontamos com esta
pregunta: se Deus está presente e operante em tudo, como é possível ao homem
ser livre? E sobretudo: que significado e que papel tem sua liberdade? E aquele
fruto amargo do pecado, que procede de uma liberdade equivocada, como deve ser
compreendido à luz da Divina Providência
Retomemos a solene afirmação do
Vaticano I: “Tudo o que criou, Deus o conserva e governa com sua Providência ‘alcançando
com força de uma extremidade a outra, e dispondo com suavidade todas as coisas’
(cf. Sb 8,1). Pois ‘tudo está nu e descoberto aos seus olhos’
(cf. Hb 4,13), mesmo o que há de acontecer por livre ação das
criaturas” (Denzinger, n. 3003).
O mistério da Divina Providência está
profundamente inscrito em toda a obra da criação. Como expressão da eterna sabedoria
de Deus, o plano da Providência precede a obra da criação; como expressão do seu
eterno poder, a preside e a realiza. É uma Providência transcendente, mas ao mesmo
tempo imanente às coisas, a toda a realidade. Isto vale, segundo o texto do
Concílio que lemos, sobretudo em relação às criaturas dotadas de inteligência
e de livre vontade.
O "Olho da Providência" [1] |
2. Ainda que abrangendo “fortiter
et suaviter” todo o criado, a Providência abarca de modo particular as
criaturas feitas à imagem e semelhança de Deus, as quais possuem, por causa da liberdade
que lhes foi concedida pelo Criador, a “autonomia dos seres criados”, no
sentido em que a entende o Concílio Vaticano II (cf. Gaudium et
spes, n. 36). No âmbito destas criaturas devem contar-se os seres criados
em uma natureza puramente espiritual [os anjos], dos quais falaremos mais adiante.
Eles constituem o mundo invisível. No mundo visível, objeto das particulares
atenções da Divina Providência, está o homem, o qual - como ensina o Concílio
Vaticano II - é “a única criatura na terra que Deus quis por si mesmo” (ibid.,
n. 24), e que precisamente por isto “não pode se encontrar plenamente a
não ser pelo sincero dom de si mesmo” (ibid.).
3. O fato de que o mundo visível
seja coroado pela criação do homem nos abre perspectivas completamente novas sobre
o mistério da Divina Providência. Destaca-o a afirmação dogmática do Concílio
Vaticano I, ao enfatizar que aos olhos da sabedoria e da ciência de Deus tudo
permanece “descoberto”, em certo modo “desnudo”, inclusive aquilo que a criatura
racional realiza por força da sua liberdade, o que será resultado de uma escolha
consciente e de uma livre decisão do homem. Mesmo em relação a esta esfera
a Providência Divina conserva a sua superior causalidade criadora e ordenadora.
É a transcendente superioridade da Sabedoria que ama, e por amor age com força
e suavidade, e é, portanto, Providência que com solicitude paternal guia, sustenta,
conduz ao seu fim a própria criatura, assim ricamente dotada, respeitando a sua
liberdade.
4. Neste ponto de encontro entre o
eterno plano criador de Deus e a liberdade do homem, se delineia sem dúvida um mistério
tão inescrutável quanto digno de adoração. O mistério consiste na relação íntima,
ontológica mais que psicológica, entre a ação divina e a autodecisão humana.
Sabemos que esta liberdade de decisão pertence ao dinamismo natural da criatura
racional. Conhecemos também por experiência o fato da liberdade humana, autêntica
ainda que ferida e débil. Quanto à sua relação com a causalidade divina, é
oportuno recordar o acento posto por Santo Tomás de Aquino sobre a concepção da
Providência como expressão da Sabedoria divina que ordena todas as coisas ao fim
nelas inscrito: “ratio ordinis rerum in finem”, a ordenação racional das
coisas ao seu fim” (cf. Summa Theologiae, I, 22, 1). Tudo
o que Deus cria recebe esta finalidade - e se torna, portanto, objeto da Divina
Providência (cf. ibid., I, 22, 2). No homem - criado
à imagem de Deus - toda a criação visível deve aproximar-se a Deus,
encontrando o caminho do seu definitivo cumprimento. A este pensamento, já
expresso, entre outros, por Santo Irineu (Adversus haereses 4, 38), faz eco
o ensinamento do Concílio Vaticano II sobre o desenvolvimento do
mundo por obra do homem (cf. Gaudium et spes, n. 7). O
verdadeiro desenvolvimento - isto é, o progresso - que o homem é chamado a
realizar no mundo, não deve ter apenas caráter “técnico”, mas sobretudo “ético”,
para levar a cumprimento no mundo criado o reino de Deus (cf. ibid.,
nn. 35.43.57.62).
5. O homem, criado à imagem e semelhança
de Deus, é a única criatura visível que o Criador “quis por si mesma” (Gaudium
et spes, n. 24). No mundo, submetido à transcendente sabedoria e poder
de Deus, o homem, embora tenha seu fim último em Deus, é também um ser que
é fim em si mesmo: possui como pessoa uma finalidade própria
(auto-teleologia), pela qual tende a autorrealizar-se. Enriquecido por um dom
que é também uma missão, o homem está envolvido no mistério da Divina Providência.
Lemos no Livro do Sirácida
[Eclesiástico]: “Da terra Deus criou o homem e o formou à sua imagem.
(...) dando-lhe autoridade sobre tudo o que há sobre a terra. (...) Concedeu ao
homem discernimento, língua, olhos, ouvidos e um coração para pensar; encheu-o
de inteligência e instrução. Deu-lhe ainda o conhecimento do espírito, encheu o
seu coração de bom senso e mostrou-lhe o bem e o mal. Infundiu o seu temor em
seu coração, mostrando-lhe a grandeza de suas obras. (...) Concedeu-lhe ainda a
instrução e entregou-lhe por herança a Lei da vida” (Eclo 17,1-2.5-7.9).
6. Dotado de tal “equipamento existencial”,
o homem parte para sua viagem no mundo, começa a escrever a própria história. A
Providência Divina o acompanha por todo o caminho. Lemos também no Livro do
Sirácida: “o caminho dos mortais estão sempre diante d’Ele, e não podem
ficar ocultos a seus olhos. (...) Todas as obras humanas estão como o sol à sua
vista, e seus olhos investigam sem cessar os seus caminhos” (Eclo 17,13.16).
O salmista refere-se a esta mesma
verdade com uma tocante expressão: “Se eu tomar as asas da aurora, para habitar
nas extremidades do mar, também ali me alcançará tua mão, e a tua direita me
segurará. (...) Conhecias plenamente a minha alma. Não ficaram escondidos de ti
os meus ossos...” (Sl 138,9-10.14c-15a).
7. A Providência Divina se faz presente,
portanto, na história do homem, na história do seu pensamento e da sua liberdade,
na história dos corações e das consciências. No homem e com o homem a
ação da Providência alcança uma dimensão “histórica”, no sentido de
que segue o ritmo e se adapta às leis do desenvolvimento da natureza humana, ainda
que permanecendo imutável na soberana transcendência do seu ser independente. A
Providência é uma eterna Presença na história do homem: dos indivíduos e das
comunidades. A história das nações e de todo o gênero humano se desenvolve sob o
“olho” de Deus e sob a sua ação onipotente. Se todo o criado é “custodiado” e
governado pela Providência, a autoridade de Deus, plena de solicitude paternal,
comporta, em relação aos seres racionais e livres, o pleno respeito à
liberdade, que é, no mundo criado, expressão da imagem e da semelhança com o mesmo
Ser divino, com a mesma Liberdade divina.
8. O respeito à liberdade criada é
tão essencial que Deus permite na sua Providência inclusive o pecado do
homem (e dos anjos). A criatura racional, excelsa entre todas embora sempre
limitada e imperfeita, pode fazer mal uso da própria liberdade, pode usá-la contra
Deus, seu Criador. É um tema perturbador para a mente humana, sobre o qual o Livro
do Sirácida já refletia com palavras muito profundas:
“Desde o princípio, Deus criou o homem e
o entregou às mãos do seu arbítrio. Se quiseres guardar os mandamentos, eles te
guardarão; se confias em Deus, tu viverás. Diante de ti Ele colocou o fogo e a água;
para o que quiseres tu podes estender a mão. Diante do homem estão a vida e a morte,
o bem e o mal; ele receberá aquilo que preferir. A sabedoria do Senhor é imensa,
Ele é forte e poderoso e tudo vê continuamente. Os olhos do Senhor estão voltados
para os que o temem; Ele conhece todas as obras do homem. Não mandou ninguém agir
como ímpio, e a ninguém deu licença para pecar” (Eclo 15,14-20).
9. “Quem pode discernir os próprios
erros?”, pergunta-se o salmista (Sl 18,13). Também sobre esta
inaudita rejeição do homem a Providência de Deus porta a sua luz, para que
aprendamos a não cometê-la.
No mundo no qual o homem foi criado
como ser racional e livre, o pecado não só era uma possibilidade, mas
se demonstrou também como um fato “desde o princípio”. O pecado é oposição
radical a Deus, é aquilo que Deus decidida e absolutamente não quer. No
entanto, Ele o permitiu criando seres livres, criando o homem; permitiu o
pecado, que é consequência do mal uso da liberdade criada. A partir deste fato,
conhecido pela Revelação e experimentado em suas consequências, podemos deduzir
que, aos olhos da transcendente sabedoria de Deus, na perspectiva da finalidade
de toda a criação, era mais importante que no mundo criado houvesse liberdade,
mesmo com o risco do seu mal uso, que privar dela o mundo para excluir na raiz a
possibilidade do pecado.
Se por uma parte o Deus providente
permitiu o pecado, por outra, com amorosa solicitude de Pai, previu desde
sempre o caminho da reparação, da redenção, da justificação, da salvação
mediante o Amor. A liberdade, com efeito, está ordenada ao amor: sem liberdade
não pode haver amor. E na luta entre o bem e o mal, entre o pecado e a redenção,
a última palavra será do amor.
37.
A Divina Providência e o destino do homem: O mistério da predestinação em
Cristo
João Paulo II - 28 de maio de
1986
1. A pergunta sobre o próprio
destino é muito viva no coração do homem. É uma pergunta grande, difícil, embora
decisiva: “Que será de mim amanhã?”. Existe o risco de que respostas
equivocadas conduzam a formas de fatalismo, de desesperação, ou também de segurança
orgulhosa e cega: “Insensato! Ainda nesta noite vão tomar a tua vida”, adverte
o Senhor (cf. Lc 12,20).
Precisamente aqui se manifesta a
inesgotável graça da Providência Divina. É Jesus quem aporta uma luz essencial:
falando da Providência Divina no Sermão da Montanha, Ele conclui com a seguinte
exortação: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça, e todas
essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6,33; cf. também
Lc 12,31). Na última catequese refletimos sobre a profunda relação que
existe entre a Providência de Deus e a liberdade do homem. É precisamente ao homem,
antes de tudo ao homem, criado à imagem de Deus, que se dirigem as palavras
sobre o reino de Deus e sobre a necessidade de buscá-lo sobre todas as coisas.
Este vínculo entre a Providência e
o mistério do reino de Deus, que deve realizar-se no mundo criado, orienta nosso
pensamento sobre a verdade do destino do homem: a sua predestinação em
Cristo. A predestinação do homem e do mundo em Cristo, Filho eterno do Pai,
confere à doutrina sobre a Providência Divina uma decisiva característica
soteriológica e escatológica. O mesmo Divino Mestre o indica em seu colóquio com
Nicodemos: “De tal modo Deus amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que
todo o que n’Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
2. Estas palavras de Jesus constituem
o núcleo da doutrina sobre a predestinação, que encontramos no ensinamento dos
Apóstolos e especialmente nas Cartas de São Paulo. Lemos na Carta aos
Efésios: “N’Ele [em Cristo], Deus nos escolheu,
antes da fundação do mundo, para sermos santos e íntegros diante d’Ele, no
amor. Conforme o desígnio benevolente de sua vontade, Ele nos predestinou à
adoção como filhos, por obra de Jesus Cristo, para o louvor e glória de sua graça,
com a qual nos agraciou no seu Bem-Amado” (Ef 1,4-6).
Estas luminosas afirmações explicam,
de modo autêntico e autorizado, que consiste aquilo que na linguagem cristã chamamos
“predestinação” (em latim, “praedestinatio”). É importante, com
efeito, liberar este termo dos significados errôneos e mesmo impróprios e não essenciais
introduzidos no uso comum: predestinação como sinônimo de “destino cego” (“fatum”)
ou de “ira” caprichosa de qualquer divindade invejosa. Na Revelação divina a
palavra “predestinação” significa a eterna eleição por parte Deus, uma eleição
paternal, inteligente e positiva, uma eleição de amor.
3. Esta eleição, com a decisão na
qual se traduz - isto é, o plano da criação e da redenção -, pertence
à vida íntima da Santíssima Trindade: é realizada eternamente pelo Pai junto com
o Filho no Espírito Santo. É uma eleição que, segundo São Paulo, precede a criação
do mundo (Ef 1,4) e do homem no mundo. O homem, antes ainda de
ser criado, é “eleito”, “escolhido” por Deus. Esta eleição se cumpre no Filho eterno
(ibid.), isto é, no Verbo da eterna Mente. O homem é, pois, eleito no
Filho à participação na sua mesma filiação por adoção divina. Esta é a essência
do mistério da predestinação, que manifesta o eterno amor do Pai (vv. 4-5). Na predestinação
está contida, portanto, a eterna vocação do homem à participação na própria
natureza de Deus. É vocação à santidade, mediante a graça da adoção filial: “para
sermos santos e íntegros diante d’Ele” (v. 4).
4. Neste sentido a predestinação
precede a “fundação do mundo”, isto é, a criação, já que esta se
realiza na perspectiva da predestinação do homem. Aplicando à vida divina as
analogias temporais da linguagem humana, podemos dizer que Deus quer “antes”
comunicar-se na sua divindade ao homem, chamado a ser sua imagem e semelhança no
mundo criado; “antes” o escolhe, em seu Filho eterno e consubstancial, a
participar em sua filiação (mediante a graça) e só “depois” quer a criação, quere
o mundo, ao qual pertence o homem. Deste modo o mistério da predestinação entra
em certo sentido “organicamente” em todo o plano da Divina Providência. A
revelação deste desígnio desvela diante de nós a perspectiva do reino de Deus e
nos conduz ao próprio coração deste reino, onde descobrimos a finalidade última
da criação.
5. Lemos, com efeito, na Carta
aos Colossenses: “Dai graças ao Pai que vos tornou dignos de participar da
herança dos santos, na luz. Foi Ele que nos livrou do poder das trevas,
transferindo-nos para o reino do seu Filho amado, no qual temos a redenção e o perdão
dos pecados” (Cl 1,12-14). O reino de Deus é, no plano eterno do Deus
Uno e Trino, o reino do “Filho amado”, particularmente porque por obra sua se cumpriu
“a redenção” e “o perdão dos pecados”. As palavras do Apóstolo aludem também ao
“pecado” do homem. A predestinação, isto é, a adoção como ser filhos no
Filho eterno, se opera, portanto, não só em relação à criação do
mundo e do homem no mundo, mas em relação à redenção levada a cabo pelo Filho,
Jesus Cristo. A redenção se torna expressão da Providência, isto é, do solícito
governo que Deus exerce particularmente em relação às criaturas dotadas de
liberdade.
6. Na Carta aos Colossenses
descobrimos que a verdade da “predestinação” em Cristo está estreitamente
ligada com a verdade da “criação em Cristo”. “Ele - escreve o Apóstolo - é a
imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois é n’Ele que foram
criadas todas as coisas...” (Cl 1,15-16). Assim, pois, o mundo criado
em Cristo, Filho eterno, desde o princípio porta em si, como primeiro dom
da Providência, o chamado, mais ainda, o dom da predestinação em Cristo, ao
qual está unido, como cumprimento da salvação escatológica definitiva, e antes de
tudo do homem, finalidade do mundo. “Pois Deus quis fazer habitar n’Ele toda a
plenitude” (Cl 1,19). O cumprimento da finalidade do mundo, e particularmente
do homem, tem lugar precisamente por obra desta plenitude que há em Cristo.
Cristo é a plenitude. N’Ele se cumpre em certo sentido aquela finalidade do
mundo segundo a qual a Providência Divina guarda e governa as coisas do mundo e
em particular o homem no mundo, a sua vida, a sua história.
7. Compreendemos assim outro
aspecto fundamental da Divina Providência: a sua finalidade salvífica. Deus,
com efeito, “quere que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da
verdade” (1Tm 2,4). Nesta perspectiva, é necessário ampliar certa
concepção naturalística da Providência, limitada ao bom governo da natureza
física ou mesmo do comportamento moral natural. Na realidade, a Providência
Divina se exprime na “conquista” das finalidades que correspondem ao
plano eterno da salvação. Neste processo, graças à “plenitude” de Cristo, n’Ele
e por meio d’Ele é vencido também o pecado, que se opõe essencialmente à
finalidade salvífica do mundo, ao cumprimento definitivo que o mundo e o homem
encontram em Deus. Falando da plenitude que habita em Cristo, o Apóstolo
proclama: “Pois Deus quis fazer habitar n’Ele toda a plenitude e, por Ele,
reconciliar consigo todas as coisas, estabelecendo a paz por seu sangue derramado
na cruz, tanto na terra como no céu” (Cl 1,19-20).
8. No contexto destas reflexões,
tomadas das Cartas de São Paulo, resulta mais compreensível a exortação de
Cristo a respeito da Providência do Pai celestial que abrange todas as
coisas (cf. Mt 6,23-34; Lc 12,22-31), quando
diz: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça, e todas essas
coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6,33; cf. também Lc
12,31). Com este “primeiro”, Jesus pretende indicar aquilo que Deus mesmo
quer “primeiro”, sua primeira intenção na criação do mundo e ao mesmo tempo o fim
último do próprio mundo: “o Reino de Deus e sua justiça” (a justiça de Deus). O
mundo inteiro foi criado em vista desse reino, a fim de que se realize no homem
e na sua história; para que por meio desse “reino” e dessa “justiça” se cumpra
aquela eterna predestinação do mundo e do homem em Cristo.
9. A esta visão paulina da predestinação
corresponde o que escreve São Pedro: “Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo. Em sua grande misericórdia, pela Ressurreição de Jesus Cristo
dentre os mortos, Ele nos fez nascer de novo para uma esperança viva, para uma herança
que não se desfaz, não se estraga nem se altera, e que é reservada para vós nos
céus. Graças à fé, e pelo poder de Deus, estais guardados para a salvação que deve
revelar-se no último tempo” (1Pd 1,3-5).
Verdadeiramente “seja bendito Deus”
que nos revela como a sua Providência é sua incansável e solícita intervenção
para nossa salvação. Ela está infatigavelmente em ação até que alcancemos “o último
tempo”, quando a “predestinação em Cristo” dos inícios se realizará
definitivamente mediante “a ressurreição em Jesus Cristo”, que é “o Alfa e o Ômega”
do nosso destino humano (Ap 1,8).
Ícone da Divina Providência (séc. XIX) Além do simbolismo dos círculos, note-se a centralidade de Cristo |
Nota:
[1] O olho dentro de um triângulo é o tradicional símbolo da Providência Divina (sendo o triângulo uma alusão à Trindade), com profundas raízes bíblicas e teológicas. O uso desse símbolo por outras tradições não anula o seu significado cristão.
Tradução nossa a partir do texto italiano divulgado no site da Santa Sé (21 de maio e 28 de maio de 1986).
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