Em suas Catequeses nn. 34-35 sobre Deus Pai, o Papa São João Paulo II deu continuidade à reflexão sobre a Divina Providência, iniciada no encontro anterior.
Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
CREIO EM DEUS PAI
34.
A Divina Providência: Afirmação bíblica ligada à obra da criação
João Paulo II - 07 de maio de
1986
1. Continuamos hoje a catequese
sobre a Divina Providência.
Ao criar, Deus chamou do nada à
existência tudo o que começou a ser fora d’Ele. Mas o ato criador de Deus não
se esgota aqui. O que surgiu do nada retornaria ao nada se fosse deixado por si
mesmo e não fosse, ao contrário, conservado na existência pelo Criador. Na realidade,
Deus, tendo criado o cosmos uma vez, continua a criá-lo, mantendo-o
na existência. A conservação é uma criação contínua (conservatio est
continua creatio).
2. Podemos dizer, antes de tudo,
que a Providência Divina, entendida no sentido mais genérico, se manifesta nessa
“conservação”: isto é, mantendo na existência tudo o que recebeu o ser do nada.
Nesse sentido, a Providência é como uma constante e incessante confirmação
da obra da criação em toda a sua riqueza e variedade. Ela significa a
constante e ininterrupta presença de Deus como criador, em toda a
criação: uma presença que continuamente cria e continuamente atinge as mais
profundas raízes de tudo o que existe, para aí operar como causa primeira do
ser e do agir.
Nesta presença de Deus se exprime continuamente a
mesma vontade eterna de criar e de conservar o que foi criado: uma vontade
suma e plenamente soberana, mediante a qual Deus, segundo a natureza mesma do bem
que lhe é própria de modo absoluto (bonum diffusivum sui) continua a
pronunciar-se, assim como no primeiro ato da criação, a favor do ser contra
o nada, a favor da vida contra a morte, a favor da “luz” contra
as trevas (cf. Jo 1,4-5); em uma palavra: a favor da verdade,
do bem e da beleza de tudo o que existe. No mistério da Providência se prolonga
de modo ininterrupto e irreversível o juízo contido no Livro do Gênesis:
“Deus viu que era bom... era muito bom” (cf. Gn 1). Essa constitui
a fundamental e inquebrantável afirmação da obra da criação.
Deus Criador e Providente (Cima da Conegliano) |
3. Esta afirmação essencial não é
atacada por nenhum mal que derive dos limites inerentes a cada coisa do cosmos,
ou que se produza, como aconteceu, na história do homem, em doloroso contraste
com o original “Deus viu que era bom... era muito bom”. Dizer Providência
Divina significa reconhecer que no eterno plano de Deus, em seu desígnio criador, esse
mal, que originariamente não tinha lugar, uma vez cometido pelo homem e
permitido por Deus, está definitivamente subordinado ao bem: “Tudo coopera para
o bem”, como diz o Apóstolo (cf. Rm 8,28). Mas esta é uma questão
à qual precisaremos voltar.
4. A verdade da Providência
Divina está presente em toda a Revelação. Mais ainda: podemos dizer que ela
permeia toda a Revelação, assim como a verdade da criação. Juntamente com
esta constitui o primeiro e fundamental ponto de referência em tudo o que Deus “muitas
vezes e de muitos modos” quis dizer aos homens “pelos Profetas” e, por último, “por
mio do Filho” (Hb 1,1). É preciso, pois, reler esta verdade seja
nos textos da Revelação onde se fala dela diretamente, seja onde a Sagrada
Escritura dá testemunho dela de modo indireto.
5. Essa se encontra desde o início
como verdade fundamental da fé no Magistério ordinário da Igreja, ainda que
apenas o Concílio Vaticano I tenha se pronunciado sobre ela de modo solene na Constituição
Dogmática Dei Filius sobre a fé católica. Eis as palavras do Vaticano
I: “Tudo o que criou, Deus o conserva e governa com sua Providência ‘alcançando
com força de uma extremidade a outra, e dispondo com suavidade todas as coisas’
(cf. Sb 8,1). Pois ‘tudo está nu e descoberto aos seus olhos’
(cf. Hb 4,13), mesmo o que há de acontecer por livre ação das
criaturas” (Denzinger, n. 3003).
6. O texto conciliar, ainda
que conciso, como se vê, era ditado pela particular necessidade dos tempos (século
XIX). O Concílio queria antes de tudo confirmar o constante ensinamento da Igreja
sobre a Providência e, portanto, a imutável Tradição doutrinal vinculada à totalidade
da mensagem bíblica, como provam as passagens do Antigo e do Novo Testamento presentes
no texto. Confirmando esta constante doutrina da fé cristã, o Concílio pretendia se
contrapor aos erros do materialismo e do deísmo de então. O materialismo,
como se sabe, nega a existência de Deus, enquanto o deísmo, embora admita a
existência de Deus e a criação do mundo, sustenta que Ele não se importa em
absoluto com o mundo que criou. Poderíamos dizer, pois, que é justamente o
deísmo que com sua doutrina ataca diretamente a verdade sobre a Divina Providência.
7. A separação entre a obra da criação
e a Providência Divina, típica do deísmo, e ainda mais a total negação de Deus própria
do materialismo abrem caminho ao determinismo materialista, ao qual o homem
e a sua história são completamente subordinados. O materialismo teórico se
transforma em materialismo histórico. Neste contexto, a verdade sobre a existência
de Deus - e em particular sobre a Divina Providência - constitui a fundamental e
definitiva garantia do homem e da sua liberdade no cosmos. A
Sagrada Escritura o sugere já no Antigo Testamento, quando vê Deus como apoio forte
e indestrutível: “Eu te amo, Senhor, minha força, Senhor, minha rocha firme, minha
cidadela e meu libertador; meu Deus, meu rochedo, no qual me refugio; meu
protetor, minha força salvadora e meu defensor” (Sl 17,2-3). Deus é
o fundamento inquebrantável sobre o qual o homem se apoia com todo o seu ser: “Minha
vida está em tuas mãos” (cf. Sl 15,5).
Podemos dizer que a Providência
Divina como soberana afirmação, por parte de Deus, de toda a criação e, em
particular, da preeminência do homem entre as criaturas, constitui a garantia
fundamental da soberania do próprio homem em relação ao mundo. Isto não
significa a anulação da determinação imanente nas leis da natureza, mas a
exclusão daquele determinismo materialista que reduz toda a existência humana ao
“reino da necessidade”, praticamente aniquilando o “reino da liberdade”, que, ao
contrário, o Criador destinou ao homem. Deus com a sua Providência não cessa de
ser o apoio último do “reino da liberdade”.
8. A fé na Providência Divina
permanece, como se vê, intimamente conectada com a concepção basilar da existência
humana, isto é, com o sentido da vida do homem. O homem pode afrontar a própria
existência de modo essencialmente diverso quando tem a certeza de não estar à
mercê de um destino cego (fatum), mas de depender de Alguém que é seu Criador
e Pai. Por isso a fé na Divina Providência, inscrita nas primeiras palavras do
Símbolo Apostólico - “Creio em Deus Pai todo-poderoso” -, liberta a existência
humana das diversas formas de pensamento fatalista.
9. Seguindo a constante tradição do
ensinamento da Igreja e em particular a doutrina do Concílio Vaticano I, também
o Concílio Vaticano II fala muitas vezes da Divina Providência. Dos textos
das suas Constituições se deduz que Deus é Aquele que “cuida de todos com solicitude
paterna” (Gaudium et spes, n. 24), particularmente “do gênero
humano” (Dei Verbum, n. 3). Expressão desta solicitude é também a “lei
divina - eterna, objetiva e universal - com a qual Deus, em seu desígnio de sabedoria
e amor, ordena, dirige e governa o mundo inteiro e os caminhos da comunidade
humana” (Dignitatis humanae, n. 3). “O homem... não existe senão porque,
criado por Deus por amor, é sempre conservado por amor; e não vive plenamente
segundo a verdade a não ser que reconheça livremente esse amor e se entregue
ao seu Criador” (Gaudium et spes, n. 19).
35.
A Divina Providência: Sabedoria transcendente que ama
João Paulo II - 14 de maio de
1986
1. À recorrente e às vezes relutante
pergunta sobre “se” e “como” Deus está presente hoje no mundo, a fé cristã
responde com luminosa e sólida certeza: “Tudo o que criou, Deus o conserva e
governa com sua Providência”. Com estas concisas palavras o Concílio Vaticano I
formulou a doutrina revelada sobre a Providência Divina. Segundo a Revelação, da
qual encontramos uma rica expressão no Antigo e no Novo Testamento, no conceito
de Divina Providência estão presentes dois elementos: o elemento do
cuidado (“conserva”) e ao mesmo tempo o da autoridade (“governa”). Esses
dois elementos se compenetram mutuamente. Deus como Criador tem sobre toda a criação a
autoridade suprema (o “dominium altum”), como se diz por analogia ao
poder soberano dos príncipes terrenos. Com efeito, tudo o que foi criado, pelo
próprio fato de ter sido criado, pertence a Deus, seu Criador, e, por
consequência, depende d’Ele. Em certo sentido cada ser é mais “de Deus”
que “de si mesmo”. É primeiro “de Deus” e depois “de si”, de um modo radical e
total que supera infinitamente todas as analogias da relação entre autoridade e
súditos sobre a terra.
2. A autoridade do Criador (“governa”) se
exprime como solicitude paterna (“conserva”, “cuida”). Esta outra analogia contém
em certo sentido o próprio núcleo da verdade sobre a Divina Providência. Para
expressar a mesma verdade, a Sagrada Escritura se serve de uma comparação: “O
Senhor é meu Pastor, nada me falta” (Sl 22,1). Que imagem
estupenda! Embora os antigos Símbolos da fé e da tradição cristã dos primeiros
séculos tenham expressado a verdade sobre a Providência com o termo “Omni-potens”
(Todo-poderoso), correspondente ao grego “Panto-krator” (Παντοκράτωρ), este
conceito não transmite a densidade e a beleza do “Pastor” bíblico, como nos comunica
com sentido tão vivo a verdade revelada. A Providência Divina é, com efeito, uma
“autoridade cheia de solicitude” que realiza um desígnio eterno de sabedoria e amor
ao governar o mundo criado e em particular “os caminhos da comunidade humana” (cf.
Dignitatis humanae, n. 3). É uma “autoridade solícita”, plena de
poder e ao mesmo tempo de bondade. Segundo o texto do Livro da Sabedoria
citado pelo Concílio Vaticano I, essa “se estende com força (fortiter) de
uma extremidade a outra, dispondo com suavidade (suaviter) todas as
coisas” (cf. Sb 8,1): isto é, abraça, sustenta, guarda e em certo
sentido nutre - segundo outra expressão bíblica - toda a criação.
3. O Livro de Jó se expressa
assim: “Deus é sublime no seu poder. Que mestre será semelhante a Ele? (...) Ele
recolhe as gotas da chuva e derrama como um rio os aguaceiros. A nuvens soltam
suas águas e as fazem gotejar sobre a multidão. (...) É por estas coisas que
Ele governa os povos e lhes dá alimento em abundância” (Jó 36,22.27-28.31).
“O relâmpago é arremessado da
nuvem e elas propagam seu clarão. Elas iluminam ao redor onde quer que as
conduza a vontade de Quem as governa, até realizaram, sobre a superfície terrestre,
tudo o que Ele mandar” (Jó 37,11-12).
De modo semelhante o Livro do
Sirácida [Eclesiástico]: “Com a sua vontade faz cair rapidamente a
neve, e lança os relâmpagos do seu julgamento” (Eclo 43,14).
O salmista, por sua vez, exalta a “grandeza
do poder”, a “bondade imensa”, a “esplêndida glória de Deus, que “estende sua compaixão
a todas as suas criaturas”, e proclama: “Os olhos de todos esperam em ti, e Tu
lhes dás alimento no tempo oportuno. Abres a tua mão e sacias com benevolência todo
ser vivo” (Sl 144,5-7.9.15-16).
E também: “Produzes o pasto para os
jumentos e as plantas que o homem cultiva para tirar da terra o pão, e o vinho,
que alegra o coração do homem. Fazes brilhar seu rosto com o óleo, e, com o
pão, o coração lhe revigoras” (Sl 103,14-15).
4. A Sagrada Escritura em muitas
passagens louva a Providência Divina como suprema autoridade sobre o
mundo, a qual, plena de solicitude por todas as criaturas, e especialmente
pelo homem, se serve da potência eficiente das causas criadas.
Precisamente nisto se manifesta a sabedoria criadora da qual se pode dizer que é
soberanamente providente, por analogia a um dom essencial da prudência
humana. Deus, com efeito, que transcende infinitamente tudo o que é criado, ao
mesmo tempo faz com que o mundo apresente essa ordem maravilhosa, que se pode
constatar tanto no macrocosmo como no microcosmo. É justamente a Providência,
enquanto Sabedoria transcendente do Criador, que faz com que o mundo não seja “caos”,
mas “cosmos”. “Tudo dispuseste com medida, número e peso” (Sb 11,20).
5. Ainda que o modo de se
expressar da Bíblia atribua diretamente a Deus o governo das coisas, permanece
suficientemente clara a diferença entre a ação de Deus Criador como Causa
Primeira e a atividade das criaturas como causas segundas. Aqui nos
encontramos com uma pregunta muito próxima ao coração do homem moderno: aquela relativa
à autonomia do criado e, por tanto, ao papel de artífice do mundo que o
homem procura desempenhar. Segundo a fé católica, pois, é próprio da transcendente
sabedoria do Criador fazer com que Deus esteja presente no mundo como Providência
e ao mesmo tempo que o mundo criado possua aquela “autonomia” da qual fala
o Concílio Vaticano II. Por um lado, com efeito, ao manter todas as coisas na existência,
Deus fazem com que sejam aquilo que são: “pois pela própria natureza da criação,
todas as coisas são dotadas de próprio fundamento, verdade, bondade e próprias leis
e ordem” (Gaudium et spes, n. 36). Por outro lado, precisamente pelo
modo com o qual Deus rege o mundo, este se encontra em uma situação de verdadeira
autonomia, que “está de acordo com a vontade do Criador” (ibid.).
A Providência Divina se exprime
precisamente nesta “autonomia das coisas criadas”, na qual se manifesta tanto a
força como a “doçura” próprias de Deus. Nela se confirma que a Providência do
Criador, como sabedoria transcendente - e para nós sempre misteriosa -, compreende
tudo (“alcançando de uma extremidade a outra”), realiza tudo com a sua potência
criadora e sua firmeza ordenadora (“fortiter”), embora deixando intacta o
papel das criaturas como causas segundas, imanentes, no dinamismo da formação e
do desenvolvimento do mundo, como podemos ver indicado naquele “suaviter”
do Livro da Sabedoria (Sb 8,1).
6. No que se refere à imanente
formação do mundo, o homem possui, pois, desde o princípio e
constitutivamente, enquanto criado à imagem e semelhança de Deus, um lugar
totalmente particular. Segundo o Livro do Gênesis, foi criado para “dominar”,
para “submeter” a terra (cf. Gn 1,28). Participando como sujeito
racional e libre, embora sempre como criatura, do domínio do Criador sobre o
mundo, o homem se torna em certo sentido “providência” para si mesmo, segundo
a bela expressão de Santo Tomás de Aquino (cf. Summa Theologiae, I,
22, 2 ad 4). Pela mesma razão, porém, pesa sobre ele desde o princípio uma particular
responsabilidade tanto diante de Deus como diante das criaturas e, em particular,
diante dos outros homens.
7. Estas noções sobre a Divina Providência
que nos são oferecidas pela tradição bíblica do Antigo Testamento, são
confirmadas e enriquecidas pelo Novo. Entre todas as palavras de Jesus que o Novo
Testamento registra sobre este tema, são particularmente tocantes aquelas relatadas
pelos evangelistas Mateus e Lucas: “Não fiqueis preocupados, dizendo: ‘Que comeremos?
Que beberemos? Que vestiremos?’. Tudo isso os gentios o procuram, mas vosso Pai
celeste sabe que precisais de tudo isso. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e
sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6,31-33;
cf. também Lc 12,29-31).
“Não se vendem dois pardais por
uma moedinha? No entanto, nenhum deles cai no chão sem que vosso Pai o permita.
Quanto a vós, até os cabelos da cabeça estão todos contados. Não tenhais medo:
vós valeis mais que muitos pardais” (Mt 10,29-31; cf. também Lc 21,18).
“Olhai os pássaros do céu: não semeiam,
não colhem, nem ajuntam em celeiros. No entanto, vosso Pai celeste os
alimenta. Será que vós não valeis mais do que eles? (...) E por que ficar
preocupados quanto ao vestuário? Aprendei dos lírios do campo, como crescem. Não
trabalham nem fiam e, no entanto, nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se
vestiu como um só dentre eles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje
está aí e amanhã é lançada ao forno, não o fará muito mais a vós, fracos na fé?”
(Mt 6,26.28-30; cf. também Lc 12,24-28).
8. Com tais palavras o Senhor Jesus
não só confirma o ensinamento sobre a Providência Divina contido no Antigo
Testamento, mas aprofunda o discurso no que se refere ao homem, a cada homem,
tratado por Deus com a refinada delicadeza de um pai.
Sem dúvida eram magníficas as
estrofes dos salmos que exaltavam o Altíssimo como refúgio, segurança e conforto
do homem; assim, por exemplo, no Salmo 90: “Aquele que habita sob a proteção do
Altíssimo descansará à sombra do Onipotente. Ele dirá ao Senhor: Meu refúgio e
minha fortaleza, meu Deus, em quem confio! (...) Pois tu, Senhor, és o meu refúgio.
Fizeste do Altíssimo a tua morada. (...)
Porque se apegou a mim, Eu o livrarei; Eu o protegerei, pois conhece o meu Nome.
Clamará por mim, e Eu o atenderei; com ele estarei na tribulação” (Sl 90,1-2.9.14-15).
9. São expressões muito belas; mas
as palavras de Cristo atingem uma plenitude de significado ainda maior.
Com efeito, as pronuncia o Filho, que “perscrutando” tudo o que se havia dito
sobre o tema da Providência, dá testemunho perfeito do mistério de seu
Pai: mistério de Providência e de solicitude paterna, que abraça cada
criatura, mesmo a mais insignificante, como a erva do campo ou os pássaros. Quanto
mais o homem, então! É isto que Cristo quer destacar acima de tudo: se a Providência
Divina se mostra tão generosa em relação as criaturas tão inferiores ao homem, tanto
mais ela cuidará dele! Nesta passagem do Evangelho sobre a Providência se encontra a
verdade sobre a hierarquia dos valores que está presente desde o princípio
no Livro do Gênesis, na descrição da criação: o homem possui o primado
sobre as coisas; o possui em sua natureza e no seu espírito, o possui nas atenções
e cuidados da Providência, o possui no coração de Deus!
10. Além disso, Jesus proclama com
insistência que o homem, tão privilegiado por seu Criador, tem o dever de cooperar
com o dom recebido da Providência. Ele não pode, pois, contentar-se apenas com os
valores do sentido, da matéria e da utilidade; deve buscar sobretudo “o Reino
de Deus e sua justiça”, porque “todas essas coisas” (os bens terrenos) lhe “serão
dadas por acréscimo” (cf. Mt 6,33).
As palavras de Cristo chamam nossa
atenção para esta dimensão particular da Providência, no centro da qual se
encontra o homem, ser racional e livre. Sobre este tema retornaremos nas
próximas reflexões.
Triunfo da Divina Providência (detalhe) - Pietro da Cortona |
Tradução nossa a partir do texto italiano divulgado no site da Santa Sé (07 de maio e 14 de maio de 1986).
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