quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Hinos da Memória dos Anjos da Guarda: Ofício das Leituras

Após a Festa dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael, no dia 29 de setembro, a Igreja de Rito Romano celebra a Memória dos Santos Anjos da Guarda, no dia 02 de outubro.

Uma vez que já apresentamos aqui em nosso blog os três hinos da Festa dos Arcanjos para a Liturgia das Horas [1], cabe-nos agora falar dos hinos indicados para a Memória dos Santos Anjos da Guarda, cuja história também já abordamos aqui em nosso blog.

Os três hinos dessa Memória são:
Ofício das Leituras: Aetérne rerum cónditor (Eterno Autor do mundo);
Laudes: Orbis patrátor óptime (Ó Deus, criando o mundo);
Vésperas: Custódes hóminum psállimus (Aos anjos cantemos).

Anjo da Guarda - Catedral de Sevilha, Espanha
(Bartolomé Esteban Murillo - séc. XVII)

Começamos pelo hino do Ofício das Leituras, Aetérne rerum cónditor (Eterno Autor do mundo), composição anônima do século XV. Confira a seguir seu texto original em latim e sua tradução oficial para o português do Brasil, além de alguns comentários sobre a sua teologia.

Ofício das Leituras: Aetérne rerum cónditor

Aetérne rerum cónditor,
qui mare, solum, aethera
gubérnas, iustus rédditor
cunctis secúndum ópera,

Supérbum qui iam spíritum
eiúsque cunctos cómplices
condémnans in intéritum,
veros firmásti súpplices,

Precámur te fidéntius,
hos defensóres dírige,
nobis per quos propítius
salútis dona pórrige.

Nos consolándo vísitent,
purgent, inflámment, dóceant,
ad bona semper íncitent,
vim daemonum coérceant.

Catequeses sobre os Salmos (36): Vésperas da quarta-feira da I semana

Dando continuidade à nossa série com as Catequeses do Papa João Paulo II sobre os salmos e cânticos da Liturgia das Horas, propomos hoje as reflexões do Papa polonês sobre as Vésperas da quarta-feira da I semana do Saltério, nos dias 21 de abril (Sl 26,1-6), 28 de abril (Sl 26,7-14) e 05 de maio de 2004 (Cl 1,12-20).

103. Confiança em Deus no perigo I: Sl 26(27),1-6
21 de abril de 2004

1. Retomamos hoje o nosso itinerário no âmbito das Vésperas com o Salmo 26, que a Liturgia distribui em dois trechos diferentes. Seguiremos agora a primeira parte deste díptico poético e espiritual (vv. 1-6) que tem como pano de fundo o templo de Sião, sede do culto de Israel. Com efeito, o salmista fala explicitamente de “santuário do Senhor”, do “seu templo” (v. 4), “seu teto, sua tenda, templo do Senhor” (vv. 5-6). Aliás, no original hebraico estas palavras indicam mais precisamente o “tabernáculo” e a “tenda”, ou seja, o próprio coração do templo, onde o Senhor se revela com a sua presença e com a sua palavra. Recorda-se também a “rocha” de Sião (v. 5), lugar de segurança e de refúgio, e é feita alusão à celebração dos sacrifícios de ação de graças (v. 6).
Por conseguinte, se a Liturgia é a atmosfera em que o Salmo está mergulhado, o fio condutor da oração é a confiança em Deus, tanto no dia da alegria como no tempo do receio.

2. A primeira parte do Salmo, que agora meditamos, está marcada por uma grande serenidade, fundada na confiança em Deus no dia tenebroso do assalto dos malvados. As imagens usadas para descrever estes adversários, que são o sinal do mal que corrompe a história, são de dois tipos. Por um lado, parece que há uma imagem de caça feroz: os malvados são como feras que avançam para se apoderar da sua vítima e para devorar a sua carne, mas resvalam e caem (v. 2). Por outro lado, há o símbolo militar de um assalto realizado por um exército inteiro: trata-se de uma batalha que se alastra impetuosa, semeando terror e morte (v. 3).
A vida do crente muitas vezes é submetida a tensões e contestações, por vezes também a uma recusa e até à perseguição. O comportamento do homem justo incomoda, porque ressoa como uma admoestação em relação aos prepotentes e perversos. Reconhecem isto sem meios termos os ímpios descritos no Livro da Sabedoria: o justo “tornou-se para nós uma condenação dos nossos sentimentos”; o justo “tornou-se uma viva censura para os nossos pensamentos; só o ato de o vermos nos incomoda, pois a sua vida não é semelhante à dos outros e os seus caminhos são muito diferentes” (Sb 2,14-15).

3. O fiel tem consciência de que a coerência cria isolamento e provoca inclusive desprezo e hostilidade numa sociedade que muitas vezes escolhe como estandarte a vantagem pessoal, o sucesso exterior, a riqueza, o prazer desenfreado. Contudo, ele não está só e o seu coração conserva uma paz interior surpreendente, porque como diz a maravilhosa “antífona” de abertura do Salmo: “O Senhor é minha luz e salvação” (v. 1). Repete continuamente: “de quem eu terei medo?... perante quem eu tremerei?... não temerá meu coração... mesmo assim confiarei” (vv. 1-3).
Parece que quase ouvimos a voz de São Paulo que proclama: “Se Deus está por nós, quem será contra nós?” (Rm 8,31). Mas a tranquilidade interior, a fortaleza de ânimo e a paz são um dom que se obtém refugiando-se no templo, isto é, recorrendo à oração pessoal e comunitária.

"O Senhor é minha luz e salvação" (Sl 26,1)
(Vitral inspirado na obra "Cristo, Luz do mundo" de William Hunt)

4. O orante, com efeito, entrega-se nos braços de Deus e o seu sonho é expresso também por outro Salmo: “habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida” (Sl 22,6). Lá ele poderá “saborear a suavidade do Senhor” (Sl 26,4), contemplar e admirar o mistério divino, participar na Liturgia sacrifical e elevar os seus louvores ao Deus libertador (v. 6). O Senhor cria à volta do seu fiel um horizonte de paz, que deixa de fora o tumulto do mal. A comunhão com Deus é fonte de serenidade, de alegria, de tranquilidade; é como entrar num oásis de luz e de amor.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Hinos da Festa dos Arcanjos: Vésperas

Três são os Arcanjos nomeados nas Sagradas Escrituras: Miguel, Gabriel e Rafael. Três são também os hinos para a Liturgia das Horas da sua Festa, celebrada no Rito Romano no dia 29 de setembro:

Ofício das Leituras: Festíva vos, archángeli (Arcanjos, para vós);
Laudes: Tibi, Christe, splendor Patris (Ó Cristo, Luz de Deus Pai);
Vésperas: Angelum pacis Míchael (Lá do alto enviai-nos, ó Cristo).

Após analisarmos os dois primeiros, concluímos esta breve série de postagens com o hino das Vésperas (oração da tarde): Angelum pacis Míchael (Lá do alto enviai-nos, ó Cristo), que, assim como o hino das Laudes, é uma composição anônima do século X.

Confira, pois, a seguir o texto original do hino em latim e sua tradução oficial para o português do Brasil, seguidos de alguns comentários sobre a sua teologia.

Os três Arcanjos: Rafael (com Tobias), Miguel e Gabriel
(Michele Tosini - séc. XVII)

Vésperas: Angelum pacis Míchael

Angelum pacis Míchael ad istam,
Christe, demítti rogitámus aulam,
cuncta quo crebro veniénte crescant
próspera nobis.

Angelus fortis Gábriel, ut hostem
pellat antíquum, vólitet supérne,
saepius templum cúpiens favéndo
vísere nostrum.

Angelum nobis médicum salútis
mitte de caelis Ráphael, ut omnes
sanet aegrótos paritérque nostros
dírigat actus.

Christe, sanctórum decus angelórum,
adsit illórum chorus usque nobis,
ut simul tandem Tríadi per aevum
cármina demus. Amen [1].

Vésperas: Lá do alto enviai-nos, ó Cristo

Lá do alto enviai-nos, ó Cristo,
vosso anjo da paz, São Miguel.
Sua ajuda fará vosso povo
crescer mais, prosperando, fiel.

Gabriel, o anjo forte na luta,
nosso tempo sagrado visite,
lance fora o antigo inimigo
e, propício, conosco habite.

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Festa da Exaltação da Santa Cruz em Moscou

No último dia 26 de setembro (correspondente ao dia 13 de setembro no calendário juliano) o Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa celebrou a Vigília da Festa da Exaltação da Santa Cruz na Catedral Patriarcal de Cristo Salvador em Moscou com a exposição da Santa Cruz para a adoração dos fiéis.

No dia 27 (correspondente ao dia 14 de setembro no calendário juliano), por sua vez, o Patriarca presidiu a Divina Liturgia da Festa, durante a qual conferiu uma Ordenação Presbiteral e uma Ordenação Diaconal.

Dia 26 de setembro: Vigília

Ícone da festa
(Para conhecer o simbolismo do ícone, clique aqui)
Evangelho
Incensação
Exposição da Santa Cruz

Hinos da Festa dos Arcanjos: Laudes

Em nossa postagem anterior começamos a apresentar os três hinos próprios da Liturgia das Horas para a Festa dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael, celebrada no Rito Romano no dia 29 de setembro:
Ofício das Leituras: Festíva vos, archángeli (Arcanjos, para vós);
Laudes: Tibi, Christe, splendor Patris (Ó Cristo, Luz de Deus Pai);
Vésperas: Angelum pacis Míchael (Lá do alto enviai-nos, ó Cristo).

Após o hino do Ofício das Leituras, trazemos aqui o hino das Laudes (oração da manhã): Tibi, Christe, splendor Patris (Ó Cristo, Luz de Deus Pai), composição anônima do século X.

Pala dos três Arcanjos
(Marco d'Oggiono - séc. XV-XVI)

Confira a seguir seu texto original em latim e sua tradução oficial para o português do Brasil, além de alguns comentários sobre a sua teologia.

Laudes: Tibi, Christe, splendor Patris

Tibi, Christe, splendor Patris, vita, virtus córdium,
in conspéctu angelórum votis, voce psállimus;
alternántes concrepándo melos damus vócibus.

Collaudámus venerántes ínclitos archángelos,
sed praecípue primátem caeléstis exércitus,
Michaélem in virtúte conteréntem Sátanam.

Quo custóde procul pelle, rex Christe piíssime,
omne nefas inimíci; mundos corde et córpore
paradíso redde tuo nos sola cleméntia.

Glóriam Patri melódis personémus vócibus,
glóriam Christo canámus, glóriam Paráclito,
qui Deus trinus et unus exstat ante saecula. Amen [1].

Ícone bizantino da Sinaxe dos "sete Arcanjos"
Sob o Cristo-Emmanuel encontram-se os querubins e serafins

Laudes: Ó Cristo, Luz de Deus Pai

Ó Cristo, Luz de Deus Pai,
vida e vigor que buscamos
dos vossos anjos, adiante,
de coração vos louvamos.
Doce cantar alternando,
nosso louvor elevamos.

À celestial legião
também cantamos louvor,
e destacamos seu Chefe
com sua força e vigor:
Miguel, invicto pisando
o vil dragão tentador.

Comemoração dos discípulos de Emaús na Terra Santa

A Custódia Franciscana da Terra Santa identifica a "Emaús" bíblica (cf. Lc 24,13-35) com a localidade de El Qubeibeh (ou Al-Qubeibeh). Para saber mais sobre essa localidade, clique aqui.

Após serem interrompidas em 2020 devido à pandemia de Covid-19, as duas celebrações anuais no Santuário da Manifestação do Senhor foram retomadas neste ano de 2021: a Missa e as Vésperas da segunda-feira da Oitava da Páscoa, no dia 05 de abril, e a comemoração dos discípulos de Emaús no domingo mais próximo ao dia 25 de setembro.

Como vimos em nossas postagens sobre o culto aos santos do Novo Testamento, os dois discípulos de Emaús são comemorados no dia 25 de setembro. O Evangelho nos dá o nome do primeiro, Cléofas, enquanto a tradição nomeou o segundo como Simeão , considerado o filho de Cléofas.

Na Terra Santa eles são venerados como mártires, donde os paramentos vermelhos utilizados na Santa Missa presidida pelo Custódio da Terra Santa, Padre Francesco Patton, no último domingo, 26 de setembro de 2021:

Altar do Santuário da Manifestação do Senhor em El-Qubeibeh
(Para conhecer a sua história, clique aqui)
Procissão de entrada
Ritos iniciais
Liturgia da Palavra
Evangelho

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Ângelus: XXVI Domingo do Tempo Comum - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 26 de setembro de 2021

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho da Liturgia de hoje (Mc 9,38-43.45.47-48) narra um breve diálogo entre Jesus e o apóstolo João, que fala em nome de todo o grupo de discípulos. Eles viram um homem que expulsava demônios em nome do Senhor, mas impediram-no de fazê-lo porque não pertencia ao seu grupo. Jesus, neste momento, convida-os a não impedirem aqueles que praticam o bem, pois concorrem para realizar o projeto de Deus (vv. 38-41). Depois os admoesta: em vez de dividir as pessoas em boas e más, somos todos chamados a vigiar o nosso coração, para não sucumbirmos ao mal e dar escândalo aos outros (vv. 42-45.47-48).

As palavras de Jesus revelam uma tentação e oferecem uma exortação. A tentação é o fechamento. Os discípulos desejavam impedir uma obra de bem só porque a pessoa que a realizava não pertencia ao seu grupo. Eles pensam que têm “direitos exclusivos sobre Jesus” e que são os únicos autorizados a trabalhar pelo Reino de Deus. Mas deste modo acabam por se sentir prediletos e consideram os outros como estranhos, a ponto de se tornarem hostis para com eles. Com efeito, irmãos e irmãs, cada fechamento afasta quantos não pensam como nós. E isto - como sabemos - é a raiz de tantos males da história: a partir do absolutismo que muitas vezes gerou ditaduras e de tantas violências para com aqueles que são diferentes.

Mas também devemos vigiar sobre o fechamento na Igreja. Porque o diabo, que é o divisor - é isso que a palavra “diabo” significa, ele faz divisão - insinua sempre suspeitas para dividir e excluir pessoas. Ele tenta com astúcia, e pode acontecer como com aqueles discípulos, que chegam ao ponto de excluir até quantos tinham expulsado o próprio diabo! Por vezes também nós, em vez de sermos comunidades humildes e abertas, podemos dar a impressão de sermos “os melhores da classe” e manter os outros à distância; em vez de procurarmos caminhar com todos, podemos exibir a nossa “carta de condução de crentes”: “sou crente”, “sou católico”, “sou católica”, “pertenço a esta associação, àquela outra...”; e os outros, pobrezinhos, não. Isto é um pecado. Exibir a “carta de condução de crentes” para julgar e excluir. Peçamos a graça de superar a tentação de julgar e de catalogar, e que Deus nos preserve da mentalidade do “ninho”, a de nos preservarmos ciosamente no pequeno grupo daqueles que se consideram bons:  o sacerdote com os seus fidelíssimos, os agentes pastorais fechados entre si para que ninguém se infiltre, os movimentos e as associações no próprio carisma particular, e assim por diante. Fechados. Tudo isto corre o risco de tornar as comunidades cristãs lugares de separação e não de comunhão. O Espírito Santo não quer fechamentos; quer abertura, comunidades acolhedoras onde haja lugar para todos.

E depois, no Evangelho, há a exortação de Jesus: em vez de julgarmos tudo e todos, prestemos atenção a nós mesmos! Na verdade, o risco é sermos inflexíveis para com os outros e indulgentes com nós próprios. E Jesus exorta-nos a não fazer acordos com o mal, com imagens que impressionam: “Se algo em ti é motivo de escândalo, corta-o”! (vv. 43-48). Se algo te faz mal, corta-o! Ele não diz: “Se algo é motivo de escândalo, para, reflete, melhora um pouco...”. Não: “Corta-o! Imediatamente!”.  Nisto Jesus é radical, exigente, mas para o nosso bem, como um bom médico. Cada corte, cada poda, é para crescer melhor e dar frutos no amor. Então perguntemo-nos: o que há em mim que contrasta com o Evangelho? O que quer Jesus que eu corte concretamente na minha vida?

Rezemos à Imaculada Virgem Maria para que nos ajude a sermos acolhedores para com os outros e vigilantes em relação a nós mesmos.

Jesus ensinando os Doze Apóstolos

Fonte: Santa Sé.

Hinos da Festa dos Arcanjos: Ofício das Leituras

Em 2020 publicamos em nosso blog um texto sobre a história da Festa dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael, celebrada no Rito Romano no dia 29 de setembro.

Na ocasião destacamos como essa festa possui três hinos próprios para a Liturgia das Horas, oração oficial da Igreja para a santificação das horas do dia. São estes:
Ofício das Leituras: Festíva vos, archángeli (Arcanjos, para vós);
Laudes: Tibi, Christe, splendor Patris (Ó Cristo, Luz de Deus Pai);
Vésperas: Angelum pacis Míchael (Lá do alto enviai-nos, ó Cristo).

A Liturgia das Horas, com efeito, possui quase 300 hinos, composições poéticas elaboradas ao longo da história da Igreja que introduzem no sentido da hora, do tempo ou da festa litúrgica [1].

Os três Arcanjos: Miguel, Rafael (com Tobias) e Gabriel
(Francesco Botticini - séc. XV)

Assim, como já fizemos aqui em nosso blog com os hinos de outras celebrações do Próprio dos Santos [2], nos próximos dias apresentaremos os três hinos da Festa dos Arcanjos no original em latim e em sua tradução oficial para o português do Brasil, além de alguns comentários sobre a sua teologia.

Começamos pelo hino do Ofício das Leituras, Festíva vos, archángeli (Arcanjos, para vós um canto de vitória), de nova composição (isto é, elaborado no contexto da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II).

Ofício das Leituras: Festíva vos, archángeli

Festíva vos, archángeli,
haec nostra tollunt cántica,
quos in supérna cúria
insígnit ingens glória.

Tu nos, cohórtis caelicae
invícte princeps, Míchael,
dextra corúsca róbora
Deíque serva grátiae.

Qui núntius deléctus es
mysteriórum máximus,
nos lucis usque, Gábriel,
fac diligámus sémitas.

Nobis adésto, Ráphael,
ac pátriam peténtibus
morbos repélle córporum,
affer salútem méntium.

domingo, 26 de setembro de 2021

Ordenações Diaconais em Milão

No último sábado, dia 25 de setembro, o Arcebispo de Milão, Dom Mario Enrico Delpini, celebrou a Santa Missa na Catedral de Santa Maria Nascente, o Duomo de Milão, para a Ordenação Diaconal de 26 seminaristas, sendo 22 da Arquidiocese e 4 do PIME (Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras).

Note-se que não foram utilizados os paramentos vermelhos, próprios para as Ordenações no Rito Ambrosiano, e sim os paramentos brancos, uma vez que nesse dia se celebra a Festa de Santo Anatalo e todos os Santos Bispos de Milão.

Em algumas imagens é possível ver também o faro, que remete à Festa de Santa Tecla, Mártir, padroeira da antiga Catedral de Milão. Para saber mais, clique aqui.

Procissão de entrada


Promessa de obediência
Ladainha de Todos os Santos

sábado, 25 de setembro de 2021

Homilia: XXVI Domingo do Tempo Comum - Ano B

Santo Agostinho
Sobre o consenso dos Evangelhos
Não o proibais

Mestre, temos visto um homem que expulsava demônios em teu nome, e não o permitimos, porque não é dos nossos. Este que fazia milagres em nome de Cristo e não estava no grupo dos discípulos de Jesus, na medida em que realizava milagres em seu nome, nessa mesma medida estava com eles e não contra eles; porém, na medida em que não aderia ao seu grupo, nessa mesma medida não estava com eles e sim contra eles. Mas como eles lhe proibiram de fazer aquilo no qual estava com eles, disse-lhes o Senhor: Não o proibais.

O que lhe deveriam proibir era o estar fora de sua companhia, para persuadir-lhe à unidade da Igreja, não aquilo em que estava com eles, valorizando o nome de seu Mestre e Senhor com a expulsão dos demônios. Assim atua a Igreja Católica ao não reprovar nos hereges os sacramentos comuns; no que a estes diz respeito, eles estão conosco e não contra nós. Porem, desaprova e proíbe a divisão e separação ou alguma sentença contrária à paz e à verdade; pois nisto estão contra nós e não recolhem conosco e, em consequência, dispersam...

Porque quem não está contra nós, está a nosso favor. Quem vos der a beber um copo de água em meu nome, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa. Com isto mostrou que tampouco aquele a quem João se referia, e de quem tomou origem este seu discurso, separava-se tanto do grupo dos discípulos que o censuravam, como fazem os hereges; o seu caso era frequente, de homens que não se atrevem ainda a receber os sacramentos de Cristo e, contudo, favorecem o nome cristão, até mesmo acolhem a cristãos simplesmente porque são cristãos.

Deles diz que não perderão a sua recompensa; não porque já devam considerar-se seguros e protegidos pela benevolência que têm para com os cristãos, mesmo que não estejam lavados pelo Batismo de Cristo nem estejam incorporados à sua unidade, mas porque já estão dirigidos pela misericórdia de Deus de tal maneira que chegam a essas obras e saem seguros deste mundo.

Realmente, estes, inclusive antes de unirem-se ao número dos cristãos, são mais úteis que aqueles outros que, já se dizendo cristãos e imbuídos inclusive dos sacramentos cristãos, induzem tais coisas que arrastam consigo ao castigo eterno àqueles a quem desviam. A esses se dá o nome de “membros”; e, como se se tratasse de uma mão ou de um olho que é ocasião de pecado, manda arrancá-los do corpo, ou seja, da mesma sociedade da unidade, sendo melhor chegar à vida sem sua companhia que ir para a Geena com eles.

Separar-se deles consiste em não dar-lhes assentimento quando movem ao mal, isto é, quando são ocasião de pecado. E quando os bons com quem se relacionam chegam também a conhecer a dita perversidade, são afastados completamente da comum companhia e até da participação nos sacramentos divinos. Se, pelo contrário, apenas alguns a conhecem (a perversidade), enquanto que à maioria ainda é desconhecida esta maldade, hão de ser tolerados como se tolera a palha na eira antes do ancinho, de forma que nem se lhes dê assentimento, comungando assim em sua iniquidade, nem se abandone a sociedade por causa deles. Isto o fazem aqueles que têm sal em si mesmos e paz entre eles.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 475-477. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de São Beda, o Venerável, para este domingo, clique aqui.

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Fotos da Missa do Papa com as Conferências Episcopais da Europa

No último dia 23 de setembro o Papa Francisco presidiu no altar da Cátedra de São Pedro a Santa Missa com os Presidentes das Conferências Episcopais da Europa, por ocasião da Assembleia Plenária do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (C.C.E.E.), o qual completa 50 anos (1971-2021).

O Santo Padre foi assistido por Monsenhor Guido Marini, até então Mestre das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice (eleito Bispo de Tortona, Itália) e por Mons. Pier Enrico Stefanetti. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Ritos iniciais
Liturgia da Palavra
Homilia do Santo Padre


Homilia do Papa: Missa com as Conferências Episcopais da Europa

Concelebração Eucarística com os participantes na Assembleia Plenária do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (C.C.E.E.)
Homilia do Papa Francisco
Basílica de São Pedro
Quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Temos três verbos que, hoje, nos oferece a Palavra de Deus e que nos interpelam como cristãos e pastores na Europa: refletir, reconstruir, ver.

Refletir é a primeira coisa que o Senhor convida a fazer por meio do profeta Ageu: «Refleti, no vosso coração, sobre o caminho que tomastes». Di-lo duas vezes ao povo (Ag 1,5.7). E sobre que aspectos do seu caminho devia refletir o povo de Deus? Ouçamos o que diz o Senhor: «É então tempo para vós habitardes em casas confortáveis, enquanto esta casa está em ruínas?» (v. 4). Regressado do exílio, o povo preocupara-se por arranjar as suas casas; agora se contenta com viver cômodo e tranquilo em casa, enquanto o templo de Deus está em ruínas e ninguém o reconstrói. Este convite a refletir interpela-nos: de fato, também hoje na Europa nós, cristãos, somos tentados a acomodar-nos nas nossas estruturas, nas nossas casas e nas nossas igrejas, nas nossas seguranças proporcionadas pelas tradições, na satisfação por um certo consenso, enquanto em redor os templos se esvaziam e Jesus fica cada vez mais esquecido.
Reflitamos! Quantas pessoas deixaram de ter fome e sede de Deus! Não porque sejam más, mas porque falta quem lhes abra o apetite da fé e reacenda a sede que há no coração do homem: aquela «concriada e já perpétua sede» de que fala Dante (Paraíso, II, 19) e que a ditadura do consumismo - ditadura leve, mas sufocante - tenta extinguir. Muitos são levados a sentir apenas necessidades materiais, não a falta de Deus. E com certeza preocupamo-nos com isso, mas verdadeiramente quanto nos importamos? É fácil julgar quem não crê, é cômodo elencar os motivos da secularização, do relativismo e de tantos outros ismos, mas no fundo é estéril. A Palavra de Deus leva-nos a refletir sobre nós mesmos: sentimos amizade e compaixão por quem não teve a alegria de encontrar Jesus ou a perdeu? Estamos tranquilos porque no fundo não nos falta nada para viver, ou inquietos ao ver tantos irmãos e irmãs longe da alegria de Jesus?
E o Senhor, por meio do profeta Ageu, pede ao povo para refletir sobre outra coisa. Diz assim: «Comestes mas não vos saciastes; bebestes, mas não apagastes a vossa sede; vestistes-vos, mas não vos aquecestes» (v. 6). Enfim, o povo tinha tudo o que queria, e não era feliz. Que lhe faltava? No-lo sugere Jesus com palavras que parecem recalcar as de Ageu: «Tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, (…) estava nu e não me vestistes» (Mt 25,42-43). A falta de caridade causa infelicidade, porque só o amor sacia o coração. Só o amor sacia o coração. Fechados no interesse pelas próprias coisas, os habitantes de Jerusalém perderam o sabor da gratuidade. Também este pode ser o nosso problema: concentrar-se sobre as várias posições da Igreja, os debates, as agendas e estratégias, e perder de vista o verdadeiro programa que é o do Evangelho: o zelo da caridade, o ardor da gratuidade. O caminho de saída dos problemas e fechamentos é sempre o do dom gratuito; não há outro. Reflitamos nisto.

E depois de ter refletido, temos o segundo passo: reconstruir. «Reedificai a [minha] casa»: pede Deus através do profeta (Ag 1,8). E o povo reconstrói o templo. Cessa de contentar-se com um presente tranquilo, e trabalha para o futuro. E como havia gente que era contrária, diz-nos o Livro das Crónicas que trabalhavam com uma mão nas pedras, para construir, e a outra na espada, para defender este processo de reconstrução. Não foi fácil reconstruir o templo. Disto precisa a construção da casa comum europeia: deixar as conveniências do imediato para voltar à visão clarividente dos pais fundadores, uma visão - atrever-me-ia a dizer - profética e de conjunto, porque não procuravam os consensos do momento, mas sonhavam o futuro de todos. Assim foram construídas as paredes da casa europeia e só as, é verdade sim se poderão robustecer. O mesmo vale também para a Igreja, casa de Deus. Para torná-la bela e acolhedora, é necessário olhar juntos para o futuro, não restaurar o passado. Infelizmente está na moda aquele “restauracionismo” do passado que nos mata, que nos mata a todos. Sem dúvida, devemos partir dos alicerces, das raízes - isto sim, é verdade -, porque dali se reconstrói: a partir da tradição viva da Igreja, que nos alicerça sobre o essencial, ou seja, o anúncio feliz, a proximidade e o testemunho. Daqui se reconstrói: a partir dos alicerces da Igreja dos primórdios e de sempre, da adoração de Deus e do amor ao próximo, não a partir dos próprios gostos de cada um, nem dos pactos e negociações que se possam fazer agora - digamos - para defender a Igreja e defender a cristandade.
Amados Irmãos, quero agradecer-vos por este trabalho não fácil de reconstrução, que realizais com a graça de Deus. Obrigado por estes primeiros 50 anos ao serviço da Igreja e da Europa. Encorajemo-nos, sem nunca ceder ao desânimo e à resignação: somos chamados pelo Senhor a uma obra esplêndida, a trabalhar para que a sua casa seja cada vez mais acolhedora, para que cada um possa entrar e viver nela, para que a Igreja tenha as portas abertas a todos e ninguém se sinta tentado a concentrar-se apenas em olhar e trocar as fechaduras. As pequenas coisas que nos deliciam… E somos tentados. Mas não! A mudança tem de vir doutra parte, vem das raízes. A reconstrução vem doutra parte.
O povo de Israel reconstruiu o templo com as suas próprias mãos. Os grandes reconstrutores da fé do continente fizeram o mesmo - pensemos nos Padroeiros. Puseram em jogo a sua pequenez, confiando em Deus. Penso nos Santos, como Martinho, Francisco, Domingos, Pio [de Pietrelcina] que hoje comemoramos; penso nos Patronos como Bento, Cirilo e Metódio, Brígida, Catarina de Sena, Teresa Benedita da Cruz. Começaram por si mesmos, por mudar a própria vida, acolhendo a graça de Deus. Não se preocuparam com os tempos sombrios, as adversidades e qualquer divisão, que sempre existiu. Não perderam tempo a criticar e culpabilizar. Viveram o Evangelho, sem se importar com a relevância e a política. Assim, com a força suave do amor de Deus, encarnaram o seu estilo de proximidade, de compaixão e de ternura - o estilo de Deus: proximidade, compaixão e ternura - e construíram mosteiros, bonificaram terras, deram alma a pessoas e países: nenhum programa “social” (entre aspas), só o Evangelho. E com o Evangelho progrediram.
Reedificai a minha casa. O verbo está conjugado no plural. Toda a reconstrução se realiza em conjunto, sob o signo da unidade, ou seja, com os outros. Pode haver diferentes visões, mas deve-se sempre guardar a unidade. Porque, se guardarmos a graça do todo, o Senhor edifica mesmo lá onde nós não conseguimos. A graça do conjunto. Esta é a nossa chamada: ser Igreja, formar um só Corpo entre nós. É a nossa vocação, como Pastores: reunir o rebanho, não o dispersar nem mesmo preservar em belos recintos fechados. Isto é matá-lo. Reconstruir significa fazer-se artesãos de comunhão, tecedores de unidade a todos os níveis: não por estratégia, mas pelo Evangelho.

Se edificarmos desta forma, daremos aos nossos irmãos e irmãs a chance de ver: é o terceiro verbo. Aparece na conclusão do Evangelho de hoje, onde se diz que Herodes procurava «ver Jesus» (cf. Lc 9,9). Hoje, como então, fala-se muito de Jesus. Então dizia-se que «João ressuscitara dos mortos, (...) Elias aparecera, (...) um dos profetas antigos ressuscitara» (Lc 9,7-8). Todos eles mostravam apreço por Jesus, mas não compreendiam a sua novidade e encerravam-No em esquemas já vistos: João, Elias, os profetas... Jesus, porém, não pode ser classificado nos esquemas do «ouvi dizer» ou do «já visto»... Jesus sempre é novidade, sempre. O encontro com Jesus gera em ti maravilha, e se, no encontro com Jesus, não sentes esta maravilha, não encontraste Jesus
Muitos na Europa pensam que a fé seja algo já visto, que pertence ao passado. Por quê? Porque não viram Jesus em ação nas suas vidas. E muitas vezes não O viram, porque nós não O mostramos suficientemente com as nossas vidas. Pois Deus vê-Se nos rostos e nos gestos de homens e mulheres transformados pela sua presença. E se os cristãos, em vez de irradiarem a alegria contagiante do Evangelho, repropuseram esquemas religiosos gastos, intelectualistas e moralistas, as pessoas não veem o Bom Pastor. Não reconhecem Aquele que, apaixonado por cada uma das suas ovelhas, a chama pelo nome, procura-a e trá-la de volta colocando-a aos ombros. Não veem Aquele de Quem pregamos a incrível Paixão, precisamente porque Ele tem uma única paixão: o homem. Este amor divino, misericordioso e impressionante é a novidade perene do Evangelho. E pede-nos a nós, amados Irmãos, opções sábias e ousadas, feitas em nome daquela ternura louca com que Cristo nos salvou. Não nos pede para demonstrar, pede-nos para mostrar Deus, como fizeram os Santos: não por palavras, mas com a vida. Pede oração e pobreza, pede criatividade e gratuidade. Ajudemos a Europa de hoje, doente de cansaço (esta é a doença da Europa atual) a reencontrar o rosto sempre jovem de Jesus e da sua esposa. Não podemos fazer outra coisa senão dar-nos completamente a nós mesmos para que se veja esta beleza sem ocaso. 


Fonte: Santa Sé.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Eleito novo Patriarca Católico Armênio

Na manhã da quinta-feira, 23 de setembro de 2021, os Bispos da Igreja Católica Armênica, reunidos em Roma, elegeram seu novo Patriarca: Raphaël François Minassian (74 anos), até então Ordinário para os Católicos Armênios na Europa Oriental, que assume o nome de Raphaël Bedros XXI Minassian.


Breve biografia

Raphaël François Minassian (Ռաֆայել Մինասյան) nasceu em 24 de outubro de 1946 em Beirut (Líbano).

Em 1958 ingressou no Seminário da Congregação Patriarcal de Bzommar (I.C.P.B.), prosseguindo seus estudos na Pontifícia Universidade Gregoriana e na Pontifícia Universidade Salesiana em Roma, residindo no Pontifício Colégio Armênio.

Foi ordenado sacerdote no dia 24 de junho de 1973. Após a ordenação, exerceu seu ministério como pároco, juiz do Tribunal Eclesiástico e professor no Líbano e nos Estados Unidos da América.

No dia 26 de setembro de 2005 o Padre Minassian foi nomeado Exarca Patriarcal para os Católicos Armênios em Jerusalém e Amman, ofício que ocuparia pelos seguintes seis anos.


Em 24 de junho de 2011 foi eleito pelo Sínodo dos Bispos da Igreja Católica Armênia, com o consentimento do Papa Bento XVI, como Arcebispo Titular de Cesareia da Capadócia dos Armênios e Ordinário para os Católicos Armênios na Europa Oriental (Armênia, Geórgia, Rússia...).

Dom Raphaël Minassian recebeu a Ordenação Episcopal no dia 16 de julho de 2011 na Catedral de Beirut (Líbano), sendo ordenante principal o então Patriarca, Nerses Bedros XIX Tarmouni (falecido em 2015).

No dia 23 de setembro de 2021, após o falecimento do Patriarca Grégoire Pierre XX Ghabroyan (25 de maio de 2021), Raphaël Bedros XXI Minassian foi eleito como 21º Patriarca Católico de Cilícia dos Armênios, recebendo a aprovação do Papa Francisco no mesmo dia.


Com informações do site da Santa Sé.

Para saber mais sobre as Igrejas Católicas Orientais, clique aqui.

Catequeses sobre os Salmos (35): Vésperas da terça-feira da I semana

Prosseguindo com suas Catequeses sobre os salmos e cânticos das Vésperas, o Papa João Paulo II refletiu sobre os textos da terça-feira da I semana do Saltério nos dias 10 de março (Sl 19), 17 de março (Sl 20) e 31 de março de 2004 (Ap 4,11; 5,9-10.12).

100. Oração pela vitória do rei: Sl 19(20),2-10
10 de março de 2004

1. A invocação final, “Ó Senhor, dai vitória e salvai o nosso rei, e escutai-nos no dia em que nós vos invocarmos” (v. 10), revela-nos a origem do Salmo 19, que agora meditaremos. Estamos, pois, na presença de um salmo real do antigo Israel, proclamado no templo de Sião durante um rito solene. Com ele é invocada a bênção divina sobre o soberano, sobretudo “no dia da aflição” (v. 2), isto é, no tempo em que toda a nação se sente atormentada por uma angústia profunda devido à ameaça de uma guerra. De fato, são recordados os carros e os cavalos (v. 8) que parecem avançar no horizonte; a eles, o rei e o povo contrapõem a sua confiança no Senhor, que se declara da parte dos fracos, dos oprimidos, das vítimas da arrogância dos conquistadores.
É fácil compreender como a tradição cristã tenha transformado este Salmo num hino a Cristo-Rei, o “consagrado” por excelência, o “Ungido”, isto é, o “Messias” (v. 7). Ele entra no mundo sem exércitos, mas com o poder do Espírito, e desencadeia o ataque definitivo contra o mal e a prevaricação, contra a prepotência e o orgulho, contra a mentira e o egoísmo. Ressoam também aos nossos ouvidos levemente as palavras que Cristo pronuncia, respondendo a Pilatos, emblema do poder imperial terrestre: “Eu sou rei. Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que é da Verdade escuta a minha voz” (Jo 18,37).

2. Examinando o desenvolvimento deste Salmo, percebemos que ele revela minuciosamente uma Liturgia celebrada no Templo hierosolimitano. Fazem parte do cenário os filhos de Israel, que rezam pelo rei, chefe da nação. Aliás, na abertura se entrevê um rito sacrifical, em sintonia com os vários sacrifícios e holocaustos oferecidos pelo soberano ao “Deus de Jacó” (v. 2), que não abandona “o seu Ungido” (v. 7), mas protege-o e defende-o.
A oração está marcada em grande medida pela convicção de que o Senhor é a fonte da segurança: Ele vai ao encontro do desejo confiante do rei e de toda a comunidade à qual está ligado pelo vínculo da aliança. O clima é, sem dúvida, o de um acontecimento bélico, com todos os receios e riscos que suscita. A Palavra de Deus não é uma mensagem abstrata, mas uma voz que se adapta às pequenas e grandes misérias da humanidade. Por isso o Salmo reflete a linguagem militar e a atmosfera que domina Israel em tempo de guerra (v. 6), adaptando-se assim aos sentimentos do homem em dificuldade.

"O Senhor há de dar a vitória ao seu Ungido" (Sl 19,7)
(A unção de Davi como rei - Félix-Joseph Barrias)

3. No texto do Salmo, o v. 7 marca uma mudança. Enquanto os versículos anteriores exprimem implicitamente pedidos dirigidos a Deus (vv. 2-5), o v. 7 afirma a certeza de que o pedido foi atendido: “E agora estou certo de que Deus dará a vitória, que o Senhor há de dar a vitória a seu Ungido; que haverá de atendê-lo do excelso santuário”.
O Salmo não esclarece qual sinal deu essa certeza. Contudo, expressa claramente um contraste entre a posição dos inimigos, que contam com a força material dos seus carros e cavalos, e a posição dos israelitas, que têm confiança em Deus e, por conseguinte, são vitoriosos. O pensamento corre para o célebre episódio de Davi e Golias: o jovem hebreu contrasta as armas e a prepotência do guerreiro filisteu com a invocação do nome do Senhor, que protege os fracos e inermes. De fato, Davi diz a Golias: “Tu vens a mim de espada, lança e escudo; eu, porém, vou a ti em nome do Senhor do universo... não é com a espada nem com a lança que o Senhor triunfa, porque Ele é o árbitro da guerra” (1Sm 17,45.47).

Catequese do Papa: A viagem à Hungria e Eslováquia

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de vos falar sobre a Viagem Apostólica que realizei a Budapeste (Hungria) e à Eslováquia, que se concluiu precisamente há uma semana, na quarta-feira passada. Irei resumi-la assim: foi uma peregrinação de oração, uma peregrinação às raízes, uma peregrinação de esperança. Oração, raízes e esperança.

1. A primeira etapa foi em Budapeste, para a Santa Missa de encerramento do Congresso Eucarístico Internacional, adiada exatamente de um ano por causa da pandemia. Houve uma grande participação nessa celebração. O povo santo de Deus, no dia do Senhor, reuniu-se perante o mistério da Eucaristia, pelo qual é continuamente gerado e regenerado. Foi abraçado pela Cruz que se erguia sobre o altar, mostrando a mesma direção indicada pela Eucaristia, ou seja, o caminho do amor humilde e abnegado, do amor generoso e respeitador de todos, da via da fé que purifica da mundanidade e conduz à essencialidade. Esta fé purifica-nos sempre e afasta-nos da mundanidade que nos arruína a todos: é um caruncho que nos corrói por dentro.

E a peregrinação de oração concluiu-se na Eslováquia, na Festa de Nossa Senhora das Dores. Também ali, em Šaštín, no Santuário da Virgem das Sete Dores, um grande povo de filhos veio à festa da Mãe, que é também a festividade religiosa nacional. Então, a minha foi uma peregrinação de oração no coração da Europa, começando pela adoração e terminando com a piedade popular. Rezar, pois o Povo de Deus é chamado sobretudo a isto: adorar, rezar, caminhar, peregrinar, fazer penitência e nisto tudo sentir a paz, a alegria que o Senhor nos dá. A nossa vida deve ser assim: adorar, rezar, caminhar, peregrinar, fazer penitência. E isto é de particular importância no continente europeu, onde a presença de Deus está diluída - vemo-lo todos os dias: a presença de Deus está diluída - pelo consumismo e pelos “vapores” de um pensamento único - estranho, mas real - fruto da mistura de velhas e novas ideologias. E isto afasta-nos da familiaridade com o Senhor, da familiaridade com Deus. Também neste contexto, a resposta de cura vem da oração, do testemunho e do amor humilde. O amor humilde que serve. Retomemos esta ideia: o cristão existe para servir.

Foi isto que vi no encontro com o povo santo de Deus. O que vi? Um povo fiel que sofreu a perseguição ateia. Também o vi no rosto dos nossos irmãos e irmãs judeus, com os quais nos recordamos do Shoah. Pois não há oração sem memória. Não há oração sem memória. O que significa isto? Que nós, quando rezamos, devemos recordar a nossa vida, a vida do nosso povo, a vida de tantas pessoas que nos acompanham na cidade, tendo em consideração qual foi a sua história. Um dos Bispos eslovacos, já idoso, ao saudar-me disse-me: “Eu fui condutor de elétrico para me esconder dos comunistas”. Este é um bom Bispo: na ditadura, na perseguição ele era um condutor de elétrico, depois, no escondimento, exercia o seu “ofício” de Bispo e ninguém o sabia. Assim é na perseguição. Não há oração sem memória. A oração, a memória da própria vida, da vida do próprio povo, da própria história: fazer memória e recordar. Isto faz bem e ajuda a rezar.

2. Segundo aspecto: esta viagem foi uma peregrinação às raízes. Encontrando-me com os irmãos Bispos, tanto em Budapeste como em Bratislava, pude tocar com as próprias mãos a memória grata destas raízes da fé e da vida cristã, vívidas no exemplo luminoso de testemunhas da fé, como o Cardeal Mindszenty e o Cardeal Korec, e o Beato Bispo Pavel Peter Gojdič. Raízes que remontam ao século IX, à obra evangelizadora dos Santos irmãos Cirilo e Metódio, que acompanharam esta viagem como uma presença constante. Senti a força destas raízes na celebração da Divina Liturgia em rito bizantino, em Prešov, na festa da Santa Cruz. Nos cânticos senti vibrar o coração do santo povo fiel, forjado por tantos sofrimentos padecidos em nome da fé.

Insisti várias vezes que estas raízes estão sempre vivas, cheias da linfa vital que é o Espírito Santo e que devem ser preservadas como tais: não como peças de museu, não ideologizadas nem instrumentalizadas por interesses de prestígio e de poder, para consolidar uma identidade fechada. Não! Isto significaria atraiçoá-las e esterilizá-las! Para nós, Cirilo e Metódio não são personagens a ser comemorados, mas modelos a imitar, mestres dos quais aprender sempre o espírito e o método da evangelização, assim como o compromisso civil - durante esta viagem ao coração da Europa pensei muitas vezes nos pais da União europeia, como a sonharam não como uma agência para distribuir as colonizações ideológicas na moda, não, como eles a sonharam.  Assim entendidas e vividas, as raízes são garantia de futuro: delas brotam frondosos ramos de esperança. Também nós temos raízes: cada um de nós tem as próprias raízes. Recordamos as nossas raízes? Dos pais, dos avós? E estamos ligados aos avós que são um tesouro? “Mas, são velhos...”. Não, não: eles deram-te a linfa, deves ir ter com eles e haurir para crescer e ir em frente. Não dizemos: “Vai, refugia-te nas raízes”: não. Não. “Vai às raízes, haure nelas a linfa e vai em frente. Vai para o teu lugar”. Não vos esqueçais disto. E repito-vos o que disse muitas vezes, aquele verso tão bonito: “Tudo o que a árvore tem de florido vem do que tem soterrado”. Podes crescer na medida em que estás unido às raízes: a força vem-te dali. Se cortares as raízes, tudo novo, ideologias novas, não te leva a nada, não te faz crescer: acabarás mal.

3. O terceiro aspecto desta Viagem: foi uma peregrinação de esperança. Oração, raízes e esperança, os três traços. Vi muita esperança nos olhos dos jovens, no inesquecível encontro no estádio de Košice. Também isto me deu esperança, ver muitos, muitos casais jovens e tantas crianças. E pensei no inverno demográfico que estamos a viver, e aqueles países florescem com casais jovens e crianças: um sinal de esperança. Especialmente em tempos de pandemia, este momento de festa foi um sinal forte e encorajador, também graças à presença de muitos casais jovens com os seus filhos. Igualmente forte e profético foi o testemunho da Beata Ana Kolesárová, jovem eslovaca que defendeu a própria dignidade contra a violência à custa da vida: um testemunho que infelizmente é relevante como nunca, pois a violência contra as mulheres é uma chaga aberta em todo o mundo.
Vi esperança em muitas pessoas que, silenciosamente, se ocupam e se preocupam com o próximo. Penso nas Irmãs Missionárias da Caridade do Centro Belém, em Bratislava, muito bem, irmãzinhas, que recebem os descartados da sociedade: rezam e servem, rezam e ajudam. E rezam muito e ajudam muito, sem pretensões. São as heroínas desta civilização. Gostaria que todos nós agradecêssemos à Madre Teresa e a estas religiosas: todos juntos aplaudamos estas boas religiosas! Elas acolhem os desabrigados. Penso na comunidade cigana e em todos aqueles que dedicam a eles num caminho de fraternidade e inclusão. Foi comovedor partilhar a festa da comunidade cigana: uma festa simples, que sabia a Evangelho. Os ciganos são nossos irmãos: devemos acolhê-los, devemos estar próximos como fazem os Padres salesianos ali em Bratislava, muito próximos dos ciganos.
Estimados irmãos e irmãs, esta esperança, esta esperança de Evangelho que pude ver na viagem, só pode ser realizada e concretizada se for declinada com outra palavra: juntos. A esperança nunca desilude, a esperança nunca vai sozinha, mas juntos. Em Budapeste e na Eslováquia encontramo-nos, juntos, com os diferentes ritos da Igreja católica, juntos com os nossos irmãos de outras Confissões cristãs, juntos com os irmãos judeus, juntos com os crentes de outras religiões, juntos com os mais débeis. Este é o caminho, porque o futuro será de esperança se permanecermos juntos. Não sozinhos: isto é importante.

E depois desta viagem, no meu coração há um grande “obrigado”. Obrigado aos Bispos, obrigado às Autoridades civis; obrigado ao Presidente da Hungria e à Presidente da Eslováquia; obrigado a todos os colaboradores na organização; obrigado aos muitos voluntários; obrigado a todos os que rezaram. Por favor, acrescentai ainda outra oração, para que as sementes lançadas durante a Viagem deem bons frutos! Rezemos por isto.


Fonte: Santa Sé.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Festa da Natividade de Maria em Moscou

O Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa celebrou no último dia 21 de setembro (08 de setembro conforme o calendário juliano, utilizado pelas Igrejas Orientais, a Divina Liturgia da Festa da Natividade de Maria na na Catedral Patriarcal de Cristo Salvador em Moscou, durante a qual conferiu uma Ordenação Presbiteral e uma Ordenação Diaconal.

Na noite da véspera, por sua vez, o Patriarca presidiu a Vigília da Festa na Catedral de Cristo Salvador.

Dia 20 de setembro: Vigília

Ícone da festa exposto no proskinetárion
(Para conhecer o simbolismo deste ícone, clique aqui)
O Patriarca incensa o ícone
Vigília
Evangelho

Dia 21 de setembro: Divina Liturgia

O Patriarca abençoa com o dikyrion e o trikyrion

Festa da Natividade de Maria em Kiev

No último dia 21 de setembro (que corresponde ao dia 08 de setembro no calendário juliano, utilizado pelas Igrejas Orientais) o Arcebispo Maior da Igreja Greco-Católica Ucraniana, Dom Sviatoslav Shevchuk (Святосла́в Шевчу́к), presidiu a Divina Liturgia no Seminário Teológico da Santíssima Trindade em Kiev por ocasião da Festa da Natividade de Maria.

Participou da celebração o novo Núncio Apostólico na Ucrânia, Dom Visvaldas Kulbokas, natural da Lituânia, que recebeu a Ordenação Episcopal no mês de agosto. No final da celebração o Núncio apresentou ao Arcebispo Maior da Igreja Greco-Católica Ucraniana suas cartas credenciais como embaixador da Santa Sé.

Entrada do Arcebispo Maior
Bênção com  dikyrion e o trikyrion
Dom Visvaldas Kulbokas, Núncio Apostólico na Ucrânia
Litania da paz
Incensação