quarta-feira, 29 de abril de 2015

XII Catequese do Papa sobre a Família

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 22 de Abril de 2015
A Família (12): O homem e a mulher (II)

Prezados irmãos e irmãs!
Na precedente catequese sobre a família, meditei sobre a primeira narração da criação do ser humano, no primeiro capítulo do Gênesis, onde está escrito: «Deus criou o homem à sua imagem, à sua imagem Deus criou-os; criou-os varão e mulher» (1,27).
Hoje gostaria de completar a reflexão com a segunda narração, que encontramos no capítulo 2. Ali lemos que o Senhor, depois de ter criado o céu e a terra, «plasmou, pois, o homem do barro da terra, soprou nas suas narinas o fôlego da vida, e o homem tornou-se um ser vivo» (2,7). É o ápice da criação. Mas falta algo: em seguida, Deus coloca o homem num lindo jardim, para que o cultive e preserve (cf. 2,15).
O Espírito Santo, que inspirou a Bíblia inteira, sugere por um momento a imagem do homem só - falta-lhe algo - sem a mulher. E sugere o pensamento de Deus, quase o sentimento de Deus que o vê, que observa Adão sozinho no jardim: é livre, é senhor... mas está sozinho. E Deus vê que isto «não é bom»: é como uma falta de comunhão, falta-lhe uma comunhão, há uma falta de plenitude. «Não é bom» - diz Deus - e acrescenta: «quero oferecer-lhe uma ajuda que lhe seja adequada» (2,18).
Então, Deus apresenta ao homem todos os animais; o homem dá um nome a cada um deles - e esta é outra imagem do senhorio do homem sobre a criação - mas em nenhum animal encontra alguém semelhante a si mesmo. O homem continua sozinho. Quando, finalmente, Deus apresenta a mulher, o homem reconhece exultante que aquela criatura - e somente aquela - faz parte dele: «osso dos meus ossos, carne da minha carne» (2,23). Finalmente há um reflexo, uma reciprocidade. Quando uma pessoa - trata-se de um exemplo para compreender bem isto - quer dar a mão à outra, deve tê-la diante de si: se alguém dá a mão, mas não há ninguém à sua frente, a mão permanece ali... falta-lhe a reciprocidade. Assim era o homem, pois faltava-lhe algo para alcançar a sua plenitude, faltava-lhe a reciprocidade. A mulher não é uma «réplica» do homem; ela deriva diretamente do gesto criador de Deus. A imagem da «costela» não exprime de modo algum uma inferioridade ou subordinação mas, pelo contrário, que o homem e a mulher são da mesma substância, são complementares, e que também possuem esta reciprocidade. E a constatação de que - ainda na parábola - Deus plasma a mulher enquanto o homem dorme ressalta precisamente que ela não é de modo algum uma criatura do homem, mas de Deus. E sugere também algo mais: para encontrar a mulher - e, podemos dizer, para encontrar o amor na mulher - o homem deve primeiro sonhá-la e depois encontrá-la.
A confiança que Deus tem no homem e na mulher, aos quais confia a terra, é generosa, direta e completa. Confia neles. No entanto, eis que o maligno introduz na sua mente a suspeita, a incredulidade e a desconfiança. Enfim, chega a desobediência ao mandamento que os salvaguardava. Eles caem naquele delírio de omnipotência que polui tudo e destrói a harmonia. Também nós o sentimos dentro de nós muitas vezes, todos!
O pecado gera desconfiança e divisão entre o homem e a mulher. A sua relação será ameaçada por mil formas de prevaricação e de subjugação, de sedução enganadora e de prepotência humilhante, até às mais dramáticas e violentas. A história tem em si os vestígios disto. Pensemos, por exemplo, nos excessos negativos das culturas patriarcais. Pensemos nas múltiplas formas de machismo, quando a mulher era considerada de segunda classe. Pensemos na instrumentalização e comercialização do corpo feminino na cultura mediática contemporânea. Mas pensemos inclusive na recente epidemia de desconfiança, de cepticismo e até de hostilidade, que se propaga na nossa cultura - de maneira particular, a partir de uma compreensível desconfiança das mulheres - a propósito de uma aliança entre o homem e a mulher, que seja capaz de aperfeiçoar a intimidade da comunhão e, ao mesmo tempo, de salvaguardar a dignidade da diferença.
Se não encontrarmos um sobressalto de simpatia por esta aliança, capaz de proteger as novas gerações contra a desconfiança e a indiferença, os filhos virão ao mundo cada vez mais desenraizados da mesma, desde o ventre materno. A desvalorização social da aliança estável e generativa do homem e da mulher é sem dúvida uma perda para todos. Devemos restituir a honra ao matrimônio e à família! A Bíblia diz algo muito bonito: o homem encontra a mulher; eles encontram-se e o homem deve deixar algo para a encontrar plenamente. Por isso, o homem deixará o seu pai e a sua mãe para ir ao encontro da mulher. É bonito! Isto significa começar a percorrer um novo caminho. O homem é todo para a mulher, e a mulher é inteiramente para o homem.
Por conseguinte, a preservação desta aliança entre o homem e a mulher, embora sejam pecadores e feridos, estejam confundidos e humilhados, desanimados e incertos, é para nós crentes uma vocação exigente e cheia de paixão nas condições de hoje. A mesma narração da criação e do pecado, na sua conclusão, confia-nos um ícone muito bonito: «O Senhor Deus fez vestes de pele para Adão e para a sua mulher, e vestiu-os» (Gn 3,21). Trata-se de uma imagem de ternura em relação àquele casal de pecadores, que nos deixa boquiabertos: a ternura de Deus pelo homem e pela mulher! É uma imagem de guarda paternal do casal humano. É o próprio Deus quem cuida e salvaguarda a sua obra-prima!


Fonte: Santa Sé 

Regina Coeli: III Domingo da Páscoa - Ano B

Papa Francisco
Regina Coeli
Domingo, 19 de abril de 2015

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Nas leituras bíblicas da Liturgia de hoje ressoa duas vezes a palavra «testemunhas». A primeira vez é dita por Pedro: ele, depois da cura do paralítico junto da porta do templo de Jerusalém, exclama: «Matastes o autor da vida, mas Deus ressuscitou-o dos mortos: e nós somos testemunhas disso» (At 3,15). A segunda vez é Jesus Ressuscitado que a pronuncia: Ele, na noite de Páscoa, abre a mente dos discípulos ao mistério da sua morte e ressurreição e diz-lhes: «Disto vós sois testemunhas» (Lc 24,48). Os Apóstolos, que viram com os seus olhos Cristo Ressuscitado, não podiam deixar de contar a sua extraordinária experiência. Ele tinha aparecido a eles para que a verdade da sua Ressurreição chegasse a todos mediante o seu testemunho. E a Igreja tem a tarefa de prolongar no tempo esta missão; cada batizado está chamado a testemunhar, com as palavras e com a vida, que Jesus ressuscitou, que Jesus está vivo e presente no meio de nós. Todos estamos chamados a dar testemunho de que Jesus está vivo.

Podemos perguntar-nos: mas quem é a testemunha? A testemunha é quem viu, recorda e conta. Verrecordar e contar são os três verbos que descrevem a sua identidade e missão. A testemunha é quem viu, com um olhar objetivo, viu uma realidade, mas não com um olhar indiferente; viu e deixou-se envolver num acontecimento. Por isso recorda, não só porque sabe reconstruir de modo claro os factos que se verificaram, mas também porque aqueles factos lhe falaram e ele captou o seu sentido profundo. Então a testemunha conta, não de modo insensível e distante, mas como alguém que se deixou pôr em questão, e a partir daquele dia mudou de vida. A testemunha é uma pessoa que mudou de vida.

O conteúdo do testemunho cristão não é uma teoria, não é uma ideologia, um sistema complexo de preceitos e proibições nem um moralismo, mas é uma mensagem de salvação, um evento concreto, aliás, uma Pessoa: é Cristo ressuscitado, vivo e único Salvador de todos. Ele pode ser testemunhado por quantos fizeram a experiência pessoal d’Ele, na oração e na Igreja, através de um caminho que tem o seu fundamento no Batismo, o seu alimento na Eucaristia, o seu selo na Confirmação, a sua conversão contínua na Penitência. Graças a este caminho, guiado sempre pela Palavra de Deus, cada cristão pode tornar-se testemunha de Jesus Ressuscitado. E o seu testemunho é tanto mais credível quanto mais transparecer de um modo de viver evangélico, jubiloso, corajoso, manso, pacífico, misericordioso. Se ao contrário o cristão se deixar cativar pela comodidade, pela vaidade, pelo egoísmo, se se tornar surdo e cego ao pedido de «ressurreição» de tantos irmãos, como poderá comunicar Jesus vivo, como poderá comunicar o poder libertador de Jesus vivo e a sua ternura infinita?

Maria nossa Mãe nos ampare com a sua intercessão, para que possamos tornar-nos, com os nossos limites, mas com a graça da fé, testemunhas do Senhor Ressuscitado, levando às pessoas que encontramos os dons pascais da alegria e da paz.


Fonte: Santa Sé.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Exéquias do Cardeal Roberto Tucci

Na sexta-feira, dia 17 de abril, o Cardeal Angelo Sodano, Decano do Colégio Cardinalício,  presidiu no Altar da Cátedra da Basílica Vaticana a Santa Missa Exequial do Cardeal Roberto Tucci, S.I., falecido no dia 14.

Como de costume para os Cardeais falecidos em Roma, no final da celebração o Papa presidiu os ritos da Ultima Commendatio et Valedicitio (Ultima Encomendação e Despedida). Nestes ritos foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Vincenzo Peroni.

O Cardeal Tucci nasceu em 19 de abril de 1921 em Nápoles (Itália). Ordenado sacerdote em 24 de agosto de 1950, para a Companhia de Jesus, foi durante muitos anos Diretor da Rádio Vaticana. O Papa São João Paulo II o criou Cardeal em 21 de fevereiro de 2001, concedendo-lhe a Diaconia de Santo Inácio de Loyola "a Campo Marzio".

Entrada do Santo Padre

Aspersão do caixão

Incensação
Procissão de saída

Nota de falecimento: Cardeal Francis George

Na última sexta-feira, dia 17 de abril, faleceu o Cardeal Francis Eugene George, Arcebispo Emérito de Chicago.


Francis Eugene George nasceu em 16 de janeiro de 1937 em Chicago (EUA). Foi ordenado sacerdote em 21 de dezembro de 1963, para a Congregação dos Oblatos de Maria Imaculada.

Em 1990, o Papa São João Paulo II o nomeou Bispo de Yakima, recebendo a ordenação episcopal em 21 de setembro do mesmo ano. Em 1996 foi nomeado Arcebispo de Portland e no ano seguinte Arcebispo de Chicago.

No Consistório do dia 21 de fevereiro de 1998, João Paulo II o criou Cardeal, concedendo-lhe o Título Presbiteral de São Bartolomeu “all’Isola”. Participou dos Conclaves de 2005 e 2013.


Em 20 de setembro de 2014 o Papa Bento XVI aceitou sua renúncia ao governo da Arquidiocese. Na época já lutava contra o câncer que levou-o a falecer na última sexta.

O Cardeal George destacou-se por sua defesa da doutrina, especialmente da moral. Era chamado “o Karol Wojtyla das Américas”.

Com sua morte (e com os oitenta anos do Cardeal Rigali no domingo) o Colégio Cardinalício passa a 223 membros, sendo 120 eleitores ( o número máximo permitido, que havia sido extrapolado por Francisco em fevereiro).



segunda-feira, 20 de abril de 2015

XI Catequese do Papa sobre a Família

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 15 de Abril de 2015
A Família (11): O homem e a mulher (I)

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
A catequese de hoje é dedicada a um aspecto central do tema da família: o grande dom que Deus ofereceu à humanidade com a criação do homem e da mulher, e com o sacramento do matrimônio. Esta catequese e a próxima serão dedicadas à diferença e à complementaridade entre o homem e a mulher, que estão no ápice da criação divina; depois, nas duas que se seguirão, serão abordados outros temas do Matrimônio.
Comecemos com um breve comentário à primeira narração da criação, contida no Livro do Gênesis. Ali lemos que Deus, depois de ter criado o universo e todos os seres vivos, criou a obra-prima, isto é o ser humano, e fê-lo à sua própria imagem: «Criou-o à imagem de Deus; criou-os varão e mulher» (Gn 1,27), assim reza o Livro do Gênesis.
E como todos nós sabemos, a diferença sexual está presente em muitas formas de vida, na longa escala dos seres vivos. Mas unicamente no homem e na mulher ela tem em si a imagem e a semelhança de Deus: o texto bíblico repete-o três vezes, em dois versículos (26-27): homem e mulher são imagem e semelhança de Deus. Isto diz-nos que não apenas o homem em si mesmo é imagem de Deus, não só a mulher em si mesma é imagem de Deus, mas também o homem e a mulher, como casal, são imagem de Deus. A diferença entre homem e mulher não é para a contraposição, nem para a subordinação, mas para a comunhão e a geração, sempre à imagem e semelhança de Deus.
É a experiência que no-lo ensina: para se conhecer bem e crescer harmoniosamente, o ser humano tem necessidade da reciprocidade entre homem e mulher. Quando isto não se verifica, as consequências são evidentes. Somos feitos para nos ouvir e ajudar reciprocamente. Podemos dizer que sem o enriquecimento mútuo neste relacionamento - no pensamento e na ação, nos afetos e no trabalho, mas também na fé - os dois não conseguem nem sequer entender até ao fundo o que significa ser homem e mulher.
A cultura moderna e contemporânea abriu novos espaços, outras liberdades e renovadas profundidades para o enriquecimento da compreensão desta diferença. Mas introduziu inclusive muitas dúvidas e um grande cepticismo. Por exemplo, pergunto-me se a chamada teoria do gender não é também expressão de uma frustração e resignação, que visa cancelar a diferença sexual porque já não sabe confrontar-se com ela. Sim, corremos o risco de dar um passo atrás. Com efeito, a remoção da diferença é o problema, não a solução. Ao contrário, para resolver as suas problemáticas de relação, o homem e a mulher devem falar mais entre si, ouvir-se e conhecer-se mais, amar-se mais. Devem tratar-se com respeito e cooperar com amizade. Só com estas bases humanas, sustentadas pela graça de Deus, é possível programar a união matrimonial e familiar para a vida inteira. O vínculo matrimonial e familiar é algo sério, e para todos, não apenas para os crentes. Gostaria de exortar os intelectuais a não desertar este tema, como se fosse secundário para o compromisso a favor de uma sociedade mais livre e mais justa.
Deus confiou a terra à aliança do homem e da mulher: a sua falência torna árido o mundo dos afetos e ofusca o céu da esperança. Os sinais já são preocupantes, como podemos ver. Gostaria de indicar, entre muitos, dois pontos que na minha opinião devem comprometer-nos com maior urgência.
Primeiro. É indubitável que devemos fazer muito mais a favor da mulher, se quisermos dar nova força à reciprocidade entre homens e mulheres. Com efeito, é necessário que a mulher não seja só mais ouvida, mas que a sua voz tenha um peso real, uma autoridade reconhecida tanto na sociedade como na Igreja. O próprio modo como Jesus considerava a mulher num contexto menos favorável que o nosso, porque naquela época a mulher ocupava realmente o segundo lugar, e Jesus considerou-a de uma maneira que lança uma luz poderosa, que ilumina um caminho que vai longe, do qual percorrermos apenas um breve trecho. Ainda não entendemos em profundidade aquilo que nos pode proporcionar o gênio feminino, o que a mulher pode oferecer à sociedade e também a nós: a mulher sabe ver tudo com outros olhos, que completam o pensamento dos homens. Trata-se de uma senda que devemos percorrer com mais criatividade e audácia.
Uma segunda reflexão diz respeito ao tema do homem e da mulher criados à imagem de Deus. Pergunto-me se a crise de confiança colectiva em Deus, que nos causa tantos males, nos faz adoecer de resignação à incredulidade e ao cinismo, não esteja também relacionada com a crise da aliança entre homem e mulher. Com efeito, a narração bíblica, com o grande afresco simbólico no paraíso terrestre e o pecado original, diz-nos precisamente que a comunhão com Deus se reflete na comunhão do casal humano e a perda da confiança no Pai celeste gera divisão e conflito entre homem e mulher.
Eis a grande responsabilidade da Igreja, de todos os crentes, e antes de tudo das famílias crentes, para redescobrir a beleza do desígnio criador que inscreve a imagem de Deus também na aliança entre o homem e a mulher. A terra enche-se de harmonia e de confiança quando a aliança entre homem e mulher é vivida no bem. E se o homem e a mulher a procuram juntos entre si e com Deus, sem dúvida encontram-na. Jesus encoraja-nos explicitamente ao testemunho desta beleza que é a imagem de Deus.

Adão e Eva: "homem e mulher os criou"
Fonte: Santa Sé

domingo, 19 de abril de 2015

10 anos da eleição de Bento XVI

Hoje celebramos 10 anos da eleição do Papa Bento XVI!!!

PRIMEIRA SAUDAÇÃO DE SUA SANTIDADE BENTO XVI
Terça-feira, 19 de Abril de 2005

Amados Irmãos e Irmãs,
Depois do grande Papa João Paulo II, os Senhores Cardeais elegeram-me, simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor.
Consola-me saber que o Senhor sabe trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes. E, sobretudo, recomendo-me às vossas orações.
Na alegria do Senhor Ressuscitado, confiantes na sua ajuda permanente, vamos em frente. O Senhor ajudar-nos-á. Maria, sua Mãe Santíssima, está connosco. Obrigado!



Fonte: Santa Sé

Homilia do Cardeal Ratzinger na Missa Pro Eligendo Romano Pontifice

Ontem, 18 de abril de 2015, completaram-se dez anos da Missa "Pro Eligendo Romano Pontifice" (pela eleição do Romano Pontífice) celebrada pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, após a morte de São João Paulo II.

CAPELA PAPAL
SANTA MISSA «PRO ELIGENDO ROMANO PONTIFICE»
HOMILIA DO CARDEAL JOSEPH RATZINGER 
DECANO DO COLÉGIO CARDINALÍCIO
Segunda-feira 18 de Abril de 2005

Nesta hora de grande responsabilidade, ouvimos com particular atenção quanto o Senhor nos diz com as suas mesmas palavras. Gostaria de escolher, das três leituras (Is 61, 1-3a. 8v-9 / Ef 4, 11-16 / Jo 15, 9-17), só alguns trechos, que nos dizem respeito directamente num momento como este.
A primeira leitura oferece um retrato profético da figura do Messias um retrato que recebe todo o seu significado a partir do momento em que Jesus lê este texto na sinagoga de Nazaré, quando diz: "Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura" (Lc 4, 21). No centro do texto profético encontramos uma palavra que pelo menos à primeira vista é contraditória. O Messias, falando de si, diz que é enviado "para proclamar o ano de misericórdia do Senhor, um dia de vingança para o nosso Deus" (Is 61, 2). Ouvimos, com alegria, o anúncio do ano de misericórdia: a misericórdia divina põe um limite ao mal disse-nos o Santo Padre. Jesus Cristo é a misericórdia divina em pessoa: encontrar Cristo significa encontrar a misericórdia de Deus. O mandato de Cristo tornou-se nosso mandato através da unção sacramental; somos chamados a promulgar não só com palavras mas com a vida, e com os sinais eficazes dos sacramentos, "o ano de misericórdia do Senhor". Mas que pretende dizer Isaías quando anuncia o "dia da vingança para o nosso Deus"?
Jesus, em Nazaré, na sua leitura do texto profético, não pronunciou estas palavras concluiu anunciando o ano da misericórdia. Foi porventura este o motivo do escândalo que se realizou depois da sua pregação? Não o sabemos. De qualquer forma o Senhor ofereceu o seu comentário autêntico a estas palavras com a morte de cruz. "Subindo ao madeiro da cruz, Ele levou os nossos pecados no seu corpo...", diz São Pedro (1 Pd 2, 24). E São Paulo escreve aos Gálatas: "Cristo resgatou-nos da maldição da lei, ao fazer-se maldição por nós, pois está escrito: Maldito seja todo aquele que é suspenso no madeiro. Isto, para que a bênção de Abraão chegasse até aos gentios, em Cristo Jesus, para recebermos a promessa do Espírito, por meio da fé" (Gl 3, 13 s.).
A misericórdia de Cristo não é uma graça a bom preço, não supõe a banalização do mal. Cristo leva no seu corpo e na sua alma todo o peso do mal, toda a sua força destruidora. Ele queima e transforma o mal no sofrimento, no fogo do seu amor sofredor. O dia da vingança e o ano da misericórdia coincidem no mistério pascal, no Cristo morto e ressuscitado. Esta é a vingança de Deus: ele mesmo, na pessoa do Filho, sofre por nós. Quanto mais formos tocados pela misericórida do Senhor, tanto mais entramos em solidariedade com o seu sofrimento tornamo-nos disponíveis para completar na nossa carne "o que falta aos padecimentos de Cristo" (Cl 1, 24).
Passamos à segunda leitura, à carta aos Efésios. Trata-se aqui em substância de três coisas: em primeiro lugar, dos ministérios e dos carismas na Igreja, como dons do Senhor ressuscitado que subiu ao céu; por conseguinte, da maturação da fé e do conhecimento do Filho de Deus, como condição e conteúdo da unidade no corpo de Cristo; e, por fim, da comum participação ao crescimento do corpo de Cristo, isto é, da transformação do mundo na comunhão com o Senhor.
Detenhamo-nos apenas sobre dois pontos. O primeiro é o caminho rumo à "maturidade de Cristo"; assim diz, simplificando um pouco, o texto italiano. Mais precisamente deveríamos, segundo o texto grego, falar da "medida da plenitude de Cristo", que somos chamados a alcançar para sermos realmente adultos na fé. Não deveríamos permanecer crianças na fé, em estado de menoridade. Em que consiste ser crianças na Fé? Responde São Paulo: significa ser "batidos pelas ondas e levados por qualquer vento da doutrina..." (Ef 4, 14). Uma descrição muito actual!
Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decénios, quantas correntes ideológicas, quantas modas do pensamento... A pequena barca do pensamento de muitos cristãos foi muitas vezes agitada por estas ondas lançada de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, até à libertinagem, ao colectivismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo e por aí adiante. Cada dia surgem novas seitas e realiza-se quanto diz São Paulo acerca do engano dos homens, da astúcia que tende a levar ao erro (cf. Ef 4, 14). Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, muitas vezes é classificado como fundamentalismo. Enquanto o relativismo, isto é, deixar-se levar "aqui e além por qualquer vento de doutrina", aparece como a única atitude à altura dos tempos hodiernos. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e as suas vontades.
Ao contrário, nós, temos outra medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. É ele a medida do verdadeiro humanismo. "Adulta" não é uma fé que segue as ondas da moda e a última novidade; adulta e madura é uma fé profundamente radicada na amizade com Cristo. É esta amizade que nos abre a tudo o que é bom e nos dá o critério para discernir entre verdadeiro e falso, entre engano e verdade. Devemos amadurecer esta fé, para esta fé devemos guiar o rebanho de Cristo. E é esta fé só esta fé que gera unidade e se realiza na caridade. São Paulo oferece-nos a este propósito em contraste com as contínuas peripécias dos que são como crianças batidas pelas ondas uma bela palavra: praticar a verdade na caridade, como fórmula fundamental da existência cristã. Em Cristo, coincidem verdade e caridade. Na medida em que nos aproximamos de Cristo, também na nossa vida, verdade e caridade fundem-se. A caridade sem verdade seria cega; a verdade sem caridade seria como "um címbalo que retine" (1 Cor 13, 1).
Falemos agora do Evangelho, de cuja riqueza gostaria de extrair só duas pequenas observações. O Senhor dirige-nos estas maravilhosas palavras: "Já não vos chamo servos... mas a vós chamei-vos amigos" (Jo 15, 15). Muitas vezes sentimos que somos como é verdade unicamente servos inúteis (cf. Lc 17, 10). E, não obstante, o Senhor chama-nos amigos, torna-nos seus amigos, oferece-nos a sua amizade. O Senhor define a amizade de uma dupla forma. Não existem segredos entre amigos: Cristo diz-nos tudo quando ouve o Pai; oferece-nos a sua plena confiança e, com a confiança, também o conhecimento. Revela-nos o seu rosto, o seu coração. Mostra-nos a sua ternura por nós, o seu amor apaixonado que vai até à loucura da cruz. Confia-se a nós, dá-nos o poder de falar com o seu eu: "este é o meu corpo...", "eu te absolvo...". Confia o seu corpo, a Igreja, a nós. Confia às nossas mentes débeis, às nossas mãos débeis a sua verdade o mistério do Deus Pai, Filho e Espírito Santo; o mistério do Deus que "tanto amou o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito" (Jo 3, 16). Fez de nós amigos seus e nós como respondemos?
O segundo elemento, com que Jesus define a amizade, é a comunhão das vontades. "Idem velle idem nolle", era também para os Romanos a definição de amizade. "Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando" (Jo 15, 14). A amizade com Cristo coincide com o que exprime a terceira pergunta do Pai Nosso: "seja feita a tua vontade assim na terra como no céu". Na hora do Getsémani Jesus transformou a nossa vontade humana rebelde em vontade conforme e unida à vontade divina. Sofreu todo o drama da nossa autonomia e precisamente levando a nossa vontade às mãos de Deus, oferece-nos a liberdade verdadeira: "Não como eu quero, mas segundo a tua vontade (Mt 21, 39). Nesta comunhão da vontade realiza-se a nossa redenção: ser amigos de Jesus, tornar-nos amigos de Deus. Quanto mais amamos Jesus, quanto mais o conhecemos, tanto mais cresce a nossa verdadeira liberdade, cresce a alegria de ser remidos. Obrigado Jesus, pela tua amizade!
O outro elemento do Evangelho que desejo mencionar é o sermão de Jesus sobre o dar fruto: "fui eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça" (Jo 15, 16).
Realça aqui o dinamismo da existência do cristianismo, do apóstolo: constituí-vos para irdes...
Devemos estar animados por uma santa preocupação: a preocupação de levar a todos o dom da fé, da amizade com Cristo. Na verdade, o amor, a amizade de Deus foi dada para que chegue também aos outros. Recebemos a fé para a levar aos outros somos sacerdotes para servir os outros. E devemos levar um fruto que permaneça. Todos os homens querem deixar vestígios duradouros. Mas o que permanece? O dinheiro não. Também os edifícios não permanecem; os livros também não. Depois de um certo tempo, mais ou menos longo, todas estas coisas desaparecem. A única coisa que permanece eternamente, é a alma humana, o homem criado por Deus para a eternidade. O fruto que permanece é portanto quanto semeámos nas almas humanas o amor, o conhecimento; o gesto capaz de tocar o coração; a palavra que abre a alma à alegria do Senhor. Então vamos rezar ao Senhor, para que nos ajude a dar fruto, um fruto que permaneça. Só assim a terra será mudada de vale de lágrimas para jardim de Deus.
Por fim, voltemos mais uma vez à carta aos Efésios. A carta diz com as palavras do Salmo 68 que Cristo, subindo ao céu, "deu dádivas aos homens" (Ef 4, 8). O vencedor distribui dons. E estes dons são apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. O nosso ministério é um dom de Cristo aos homens, para construir o seu corpo o mundo novo. Vivamos o nosso ministério assim, como dom de Cristo aos homens! Mas nesta hora, sobretudo, peçamos com insistência ao Senhor, para que depois do grande dom do Papa João Paulo II, nos ofereça um pastor segundo o seu coração, um pastor que nos guie ao conhecimento de Cristo, ao seu amor, à verdadeira alegria. Amém.


Fonte: Santa Sé

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Domingo de Páscoa na Igreja Ortodoxa Russa

Na madrugada do último dia 12 de abril, o Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa celebrou na Catedral Patriarcal do Cristo Salvador em Moscou a Divina Liturgia do Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor (segundo o calendário juliano).


Procissão



Regina Coeli: II Domingo da Páscoa - Ano B

Papa Francisco
Regina Coeli
Domingo, 12 de abril de 2015

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje é o oitavo dia depois da Páscoa, e o Evangelho de João documenta-nos as duas aparições de Jesus Ressuscitado aos Apóstolos reunidos no Cenáculo: na tarde de Páscoa, quando Tomé estava ausente, e oito dias mais tarde, na presença de Tomé. Na primeira vez, o Senhor mostrou aos discípulos as feridas do seu corpo, fez o sinal de soprar sobre eles e disse: «Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio» (Jo 20,21). Transmite-lhes a sua própria missão, com a força do Espírito Santo.

Mas naquela tarde não estava presente Tomé, que não queria acreditar no testemunho dos outros. «Se eu não vir nem tocar as suas chagas - disse - não acreditarei» (Jo 20,25). Oito dias depois - ou seja, precisamente como hoje - Jesus volta a apresentar-se no meio dos seus e dirige-se imediatamente a Tomé, convidando-o a tocar as feridas das suas mãos e do seu lado. Ele vai ao encontro da sua incredulidade para que, através dos sinais da paixão, ele possa alcançar a plenitude da fé pascal, isto é, a fé na Ressurreição de Jesus.

Tomé é alguém que não se contenta e procura, tenciona averiguar pessoalmente, realizar uma sua experiência pessoal. Após as resistências e inquietações iniciais, no final também ele consegue crer; não obstante proceda com dificuldade, alcança a fé. Jesus espera-o pacientemente e oferece-se às dificuldades e às inseguranças daquele que chegou por último. O Senhor proclama «bem-aventurados» aqueles que creem sem ver (cf. v. 29) - e a primeira é Maria, sua Mãe - mas vai também ao encontro da exigência do discípulo incrédulo: «Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos...» (v. 27). Ao contato salvífico com as chagas do Ressuscitado, Tomé mostra as suas feridas, as suas chagas, as suas dilacerações, a sua humilhação; no sinal dos pregos encontra a prova decisiva de que era amado, esperado e entendido. Encontra-se diante de um Messias cheio de docilidade, de misericórdia e de ternura. Era aquele o Senhor que ele procurava, Ele, nas profundidades secretas do próprio ser, porque sempre soubera que era assim. E quantos de nós procuram, no profundo do coração, encontrar Jesus como Ele é: dócil, misericordioso e terno! Pois no íntimo nós sabemos que Ele é assim! Tendo recuperado o contato pessoal com a amabilidade e a paciência misericordiosa de Cristo, Tomé compreende o significado profundo da sua Ressurreição e, intimamente transformado, declara a sua fé completa e total n’Ele, exclamando: «Meu Senhor e meu Deus!» (v. 28). Como é bonita esta expressão de Tomé!

Ele conseguiu tocar» o Mistério pascal que manifesta plenamente o amor salvífico de Deus, rico de misericórdia (cf. Ef 2,4). E como Tomé, também todos nós: neste segundo Domingo de Páscoa, somos convidados a contemplar nas feridas do Ressuscitado a Misericórdia Divina, que ultrapassa qualquer limite humano e resplandece sobre a obscuridade do mal e do pecado. Um tempo intenso e prolongado para receber as imensas riquezas do amor misericordioso de Deus será o próximo Jubileu Extraordinário da Misericórdia, cuja Bula de proclamação promulguei ontem à tarde, aqui na Basílica de São Pedro. A Bula começa com as palavras «Misericordiae vultus»: o Rosto da Misericórdia é Jesus Cristo. Mantenhamos o nosso olhar voltado para Ele, que sempre nos procura, espera e perdoa; Ele é deveras misericordioso e não se assusta com as nossas misérias. Nas suas chagas, Ele cura-nos e perdoa todos os nossos pecados. Que a Virgem Mãe nos ajude a ser misericordiosos com o próximo, como Jesus é com cada um de nós.


Fonte: Santa Sé.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Fotos da Missa do Papa com os armênios

No último dia 12 de abril, II Domingo da Páscoa, o Papa Francisco celebrou na Basílica Vaticana a Santa Missa com os fieis armênios, durante a qual concedeu o título de Doutor da Igreja a São Gregório de Narek.

Estiveram presentes os Patriarcas da Igreja Apostólica Armênia, Sua Santidade Karekin II e Sua Santidade Aram I, o Patriarca Católico dos Armênios, Nerses Bedros XIX Tarmouni, além de fieis armênios católicos e ortodoxos.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Guillermo Javier Karcher. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Procissão de entrada: os Patriarcas Armênios junto ao Papa

Saudação do Papa aos armênios
Rito da Proclamação do novo Doutor da Igreja

Homilia do Papa: Missa com os Armênios

Papa Francisco
Santa Missa para os fiéis de Rito Armênio
Basílica de São Pedro
II Domingo da Páscoa (Ano B), 12 de abril de 2015

Saudação do Santo Padre no início da Missa
Queridos irmãos e irmãs armênios,
Amados irmãos e irmãs!
Em várias ocasiões, defini este tempo como um tempo de guerra, uma terceira guerra mundial combatida «em pedaços», assistindo nós diariamente a crimes hediondos, a massacres sangrentos e à loucura da destruição. Ainda hoje, infelizmente, ouvimos o grito, abafado e transcurado, de muitos dos nossos irmãos e irmãs inermes que, por causa da sua fé em Cristo ou da sua pertença étnica, são pública e atrozmente assassinados - decapitados, crucificados, queimados vivos - ou então forçados a abandonar a sua terra.
Também hoje estamos a viver uma espécie de genocídio, causado pela indiferença geral e coletiva, pelo silêncio cúmplice de Caim, que exclama: «A mim, que me importa? (...) Sou, porventura, guarda do meu irmão?» (Gn 4,9; Homilia em Redipuglia, 13 de setembro de 2014).
No século passado, a nossa humanidade viveu três grandes e inauditas tragédias: a primeira, que geralmente é considerada como «o primeiro genocídio do século XX» (João Paulo II e Karekin II, Declaração Conjunta, Etchmiadzin, 27 de setembro de 2001), atingiu o vosso povo armênio - a primeira nação cristã - juntamente com os sírios católicos e ortodoxos, os assírios, os caldeus e os gregos. Foram mortos Bispos, sacerdotes, religiosos, mulheres, homens, idosos e até crianças e doentes indefesos. As outras duas são as perpetradas pelo nazismo e pelo stalinismo. E, mais recentemente, houve outros extermínios de massa, como os do Camboja, Ruanda, Burundi, Bósnia. E todavia parece que a humanidade não consegue parar de derramar sangue inocente. Parece que o entusiasmo surgido no final da II Guerra Mundial esteja desaparecendo e dissolvendo-se. Parece que a família humana se recusa a aprender com os seus próprios erros causados pela lei do terror; e, assim, ainda hoje há quem procure eliminar os seus semelhantes, com a ajuda de alguns e o silêncio cúmplice de outros que permanecem espectadores. Ainda não aprendemos que «a guerra é uma loucura, um inútil massacre» (cf. Homilia em Redipuglia, 13 de setembro de 2014).
Hoje, queridos fiéis armênios, recordamos - com o coração transpassado pela dor mas repleto da esperança no Senhor Ressuscitado - o centenário daquele trágico acontecimento, daquele enorme e louco extermínio que cruelmente sofreram os vossos antepassados. Recordá-los é necessário, antes forçoso, porque, quando não subsiste a memória, quer dizer que o mal ainda mantém aberta a ferida; esconder ou negar o mal é como deixar que uma ferida continue a sangrar sem a tratar!
Com afeto, vos saúdo e agradeço o vosso testemunho.
Saúdo e agradeço a presença do Senhor Serž Sargsyan, Presidente da República da Armênia.
Saúdo cordialmente também os meus irmãos Patriarcas e Bispos: Sua Santidade Karekin II, Patriarca Supremo e Catholicos de Todos os Armênios; Sua Santidade Aram I, Catholicos da Grande Casa da Cilícia; Sua Beatitude Nerses Bedros XIX, Patriarca da Cilícia dos Arménios Católicos; os dois Catholicossatos da Igreja Apostólica Armênia e o Patriarcado da Igreja Armeno-Católica.
Com a firme certeza de que o mal nunca provém de Deus, infinitamente Bom, e radicados na fé, professamos que a crueldade não pode jamais ser atribuída à ação de Deus e, mais, não deve de forma alguma encontrar no seu Santo Nome qualquer justificação. Vivamos, juntos, esta Celebração, fixando o nosso olhar em Jesus Cristo Ressuscitado, Vencedor da morte e do mal!

Homilia do Papa Francisco
São João, presente no Cenáculo com os outros discípulos ao anoitecer do primeiro dia da semana, refere que Jesus veio, pôs-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco!». E «mostrou-lhes as mãos e o peito» (20, 19-20), mostrou-lhes as suas chagas. Reconheceram, assim, que não se tratava de uma visão, mas era mesmo Ele, o Senhor, e encheram-se de alegria.
Oito dias depois, Jesus veio de novo ao Cenáculo e mostrou as chagas a Tomé a fim de que as tocasse como ele pretendia para poder acreditar e tornar-se, também ele, uma testemunha da Ressurreição.
Hoje, neste Domingo que São João Paulo II quis intitular à Misericórdia Divina, o Senhor mostra-nos também a nós, através do Evangelho, as suas chagas. São chagas de misericórdia. É verdade! As chagas de Jesus são chagas de misericórdia. «Fomos curados pelas suas chagas» (Is 53,5).
Jesus convida-nos a contemplar estas chagas, convida-nos a tocá-las - como fez com Tomé - a fim de curar a nossa incredulidade. Convida-nos sobretudo a entrar no mistério destas chagas, que é o mistério do seu amor misericordioso.
Através delas, como por uma brecha luminosa, podemos ver todo o mistério de Cristo e de Deus: a sua Paixão, a sua vida terrena - cheia de compaixão pelos pequeninos e os doentes -, a sua Encarnação no ventre de Maria. E podemos remontar a toda a história da salvação: as profecias - especialmente as do Servo de Yahweh -, os Salmos, a Lei e a aliança, até à libertação do Egito, à primeira Páscoa e ao sangue dos cordeiros imolados; e remontar ainda aos Patriarcas, até Abraão e, mais além na noite dos tempos, até a Abel e ao seu sangue que clama da terra. Tudo isto podemos ver através das chagas de Jesus Crucificado e Ressuscitado e, como Maria no Magnificat, podemos reconhecer que «a sua misericórdia se estende de geração em geração» (Lc 1,50).
Às vezes, perante os acontecimentos trágicos da história humana, ficamos como que esmagados e perguntamo-nos: «Por quê?». A maldade humana pode abrir no mundo como que fossos, grandes vazios: vazios de amor, vazios de bondade, vazios de vida. E surge-nos então a pergunta: Como podemos preencher estes fossos? A nós, é impossível; só Deus pode preencher estes vazios que o mal abre nos nossos corações e na nossa história. É Jesus, feito homem e morto na cruz, que preenche o abismo do pecado com o abismo da sua misericórdia.
Em um dos seus comentários ao Cântico dos Cânticos, São Bernardo detém-se precisamente sobre o mistério das chagas do Senhor, usando expressões fortes, corajosas, que nos faz bem retomar hoje. Diz ele que, «através das feridas do corpo, manifesta-se a recôndita caridade do coração [de Cristo], torna-se evidente o grande mistério do amor, mostram-se as entranhas de misericórdia do nosso Deus» (Disc. 61, 3-5: Opera omnia 2, 150-151).
Temos aqui, irmãos e irmãs, o caminho que Deus nos abriu, para sairmos, finalmente, da escravidão do mal e da morte e entrarmos na terra da vida e da paz. Este Caminho é Ele - Jesus, Crucificado e Ressuscitado - e são-no, de modo particular, as suas chagas cheias de misericórdia.
Os Santos ensinam-nos que se muda o mundo a partir da conversão do próprio coração, e isto acontece graças à misericórdia de Deus. Por isso, quer perante os meus pecados, quer diante das grandes tragédias do mundo, «a consciência sentir-se-á turvada, mas não será abalada, porque me lembrarei das feridas do Senhor. De facto, “foi transpassado por causa dos nossos crimes” (Is 53,5). Que haverá de tão mortal que não possa ser dissolvido pela morte de Cristo?» (ibid.).
Com o olhar voltado para as chagas de Jesus Ressuscitado, podemos cantar com a Igreja: «O seu amor dura para sempre» (Sl 117,2); a sua misericórdia é eterna. E, com estas palavras gravadas no coração, caminhemos pelas estradas da história, com a mão na mão de nosso Senhor e Salvador, nossa vida e nossa esperança.


Fonte: Santa Sé.

Sábado Santo na Igreja Ortodoxa Russa

No último dia 11 de abril o Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa presidiu na Catedral Patriarcal de Cristo Salvador em Moscou as Vésperas e a Divina Liturgia do Sábado Santo, segundo o calendário juliano.

Vésperas:






Divina Liturgia:


quarta-feira, 15 de abril de 2015

Fotos das Vésperas do Domingo da Misericórdia no Vaticano

No último sábado, dia 11 de abril, após presidir à cerimônia de entrega da Bula do Jubileu Extraordinário da Misericórdia no átrio da Basílica de São Pedro, o Papa Francisco adentrou na Basílica para celebrar as I Vésperas do II Domingo da Páscoa, o Domingo da Misericórdia.

O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Procissão de entrada
Incensação do círio pascal
Salmodia


Homilia do Papa nas Vésperas do Domingo da Misericórdia

CELEBRAÇÃO DAS PRIMEIRAS VÉSPERAS DO II DOMINGO DE PÁSCOA 
OU DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica de São Pedro
Sábado, 11 de Abril de 2015

Ressoa ainda, em todos nós, a saudação de Jesus Ressuscitado aos seus discípulos na noite de Páscoa: «A paz esteja convosco!» (Jo 20, 19). A paz, sobretudo nas últimas semanas, permanece como desejo de muitas populações que sofrem violências inauditas de discriminação e morte, só porque possuem o nome de cristãos. A nossa oração faz-se ainda mais intensa, tornando-se um grito de socorro ao Pai, rico em misericórdia, para que sustente a fé de tantos irmãos e irmãs que estão na tribulação, ao mesmo tempo que Lhe pedimos para converter os nossos corações para passarmos da indiferença à compaixão.
São Paulo recordou-nos que fomos salvos no mistério da morte e ressurreição do Senhor Jesus. Ele é o Reconciliador, que está vivo no meio de nós, para nos oferecer o caminho da reconciliação com Deus e entre os irmãos. O Apóstolo recorda que, apesar das dificuldades e sofrimentos da vida, cresce a esperança na salvação que o amor de Cristo semeou nos nossos corações. A misericórdia de Deus foi derramada em nós, tornando-nos justos, dando-nos a paz.
Presente no coração de muitos está esta pergunta: Por que motivo um Jubileu da Misericórdia, hoje? Simplesmente porque a Igreja é chamada, neste tempo de grandes mudanças epocais, a oferecer mais vigorosamente os sinais da presença e proximidade de Deus. Este não é o tempo para nos deixarmos distrair, mas para o contrário: permanecermos vigilantes e despertarmos em nós a capacidade de fixar o essencial. É o tempo para a Igreja reencontrar o sentido da missão que o Senhor lhe confiou no dia de Páscoa: ser sinal e instrumento da misericórdia do Pai (cf. Jo 20, 21-23). Por isso o Ano Santo deverá manter vivo o desejo de individuar os inúmeros sinais da ternura que Deus oferece ao mundo inteiro, e sobretudo a quantos estão na tribulação, vivem sozinhos e abandonados, e também sem esperança de ser perdoados e sentir-se amados pelo Pai. Um Ano Santo para sentirmos intensamente em nós a alegria de ter sido reencontrados por Jesus, que veio, como Bom Pastor, à nossa procura, porque nos tínhamos extraviado. Um Jubileu para nos darmos conta do calor do seu amor, quando nos carrega aos seus ombros e nos traz de volta à casa do Pai. Um Ano em que sejamos tocados pelo Senhor Jesus e transformados pela sua misericórdia para nos tornarmos, também nós, testemunhas de misericórdia. Eis o motivo do Jubileu: porque este é o tempo da misericórdia. É o tempo favorável para tratar as feridas, para não nos cansarmos de ir ao encontro de quantos estão à espera de ver e tocar sensivelmente os sinais da proximidade de Deus, para oferecer a todos, a todos, o caminho do perdão e da reconciliação.
A Mãe da Misericórdia Divina abra os nossos olhos, para compreendermos o compromisso a que somos chamados, e nos obtenha a graça de vivermos, com um testemunho fiel e fecundo, este Jubileu da Misericórdia.


Fonte: Santa Sé

Fotos da entrega da Bula de Proclamação do Jubileu da Misericórdia

No último sábado, dia 11 de abril, o Papa Francisco presidiu no átrio da Basílica de São Pedro, diante da Porta Santa, à cerimônia de entrega da Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, Misericordiae vultus.

O Papa entregou a Bula aos Arciprestes das Basílicas Papais, a alguns representantes da Igreja no mundo e a alguns Protonotários Apostólicos (monsenhores responsáveis pelos documentos papais). Em seguida, Monsenhor Leonardo Sapienza, Protonotário Apostólico, leu um resumo da Bula junto à Porta Santa.

Após esta cerimônia o Santo Padre entrou na Basílica de São Pedro para celebrar as I Vésperas do II Domingo da Páscoa, o Domingo da Misericórdia.

Os cerimoniários assistentes foram os Monsenhores Guido Marini e Vincenzo Peroni. O livreto da celebração pode ser visto aqui (p. 5-7).

O Papa reza diante da Porta Santa 


Entrega da Bula (Cardeal Comastri, Arcipreste de São Pedro)
Cardeal Vallini, Arcipreste da Basílica do Latrão