terça-feira, 28 de novembro de 2017

Dies irae: Uma meditação sobre o fim dos tempos

O Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, da Arquidiocese de Cuiabá (MT), publicou no dia 02 de dezembro de 2013 uma vídeo-aula comentando o Dies irae (Dia de ira), antiga sequência das Missas dos defuntos, atualmente proposto como hino facultativo da Liturgia das Horas para a última semana do Ano Litúrgico.

Para acessar nossa postagem sobre o Dies irae, clique aqui.

Juízo final (Hans Memling)

O comentário recorda a interpretação do hino feita por Wolfgang Amadeus Mozart (†1791) em sua famosa Missa de Réquiem (no vídeo da aula é possível ouvir o trecho intercalando os comentários).

A aula infelizmente não encontra-se mais disponível no Youtube, mas pode ser acessada no site do Padre Paulo Ricardo. A seguir publicamos seu texto, presente no mesmo site (em negrito encontra-se o texto do hino em latim com sua tradução).

Dies irae: Uma meditação sobre o fim dos tempos

A expressão Dies irae (“dia da ira”) é extraída da Bíblia: “Esse dia será um dia da ira, dia de angústia e de aflição, dia de ruína e de devastação; dia de trevas e escuridão, dia de nuvens e de névoas espessas, dia de trombeta e de alarme, contra as cidades fortes e as torres elevadas” (Sf 1,15-16).

A “ira” de Deus consiste em uma expressão do seu amor, em uma forma de recordar aos homens que suas ações têm consequências. Faz parte da pedagogia de Deus corrigir o homem, enquanto se encontra neste mundo, a fim de que se salve. Infelizmente, tem quem teime em encaixar a ira divina apenas no Antigo Testamento, acabando por cair no erro do heresiarca Marcião, cuja doutrina gnóstica distinguia o “deus” da lei judaica do “deus” do Novo Testamento. Ora, é evidente que, para os cristãos, que “veneram o Antigo Testamento como verdadeira Palavra de Deus” (Catecismo da Igreja Católica, n. 123), não há diferença alguma entre o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó e o Deus que se revelou em Jesus Cristo. “Por isso a sã doutrina cristã sempre recusou qualquer forma emergente de marcionismo, que tende de diversos modos a contrapor entre si o Antigo e o Novo Testamento” (Papa Bento XVI, Exortação Apostólica Verbum Domini, n. 40).

Dies irae

Canta o hino:
Dies irae, dies illa / solvet saeclum in favílla, / teste David cum Sibýlla”;
Dia da ira, dia aquele / O mundo se dissolve em cinza, / Como foi atestado por Davi e pela Sibila”.
“Como foi atestado por Davi”, quer dizer, como foi confirmado pelo próprio Antigo Testamento; “e pela Sibila”, isto é, até mesmo as religiões pagãs reconheceram a existência deste “dia final”. Ninguém ignora a existência do fim dos tempos.

Quantus tremor est futúrus, / quando iudex est ventúrus / cuncta stricte discussúrus!
Quanto tremor acontecerá, / Quando o juiz vier / Para tudo julgar estritamente!”.
Narra o Evangelho que “os homens desmaiarão de medo e ansiedade, pelo que vai acontecer no universo” (Lc 21,26). Nestes primeiros versos, o Dies irae canta justamente este aspecto terrível do Juízo: o tremor das criaturas diante d'Aquele que é o Rei de todo o universo.

Tuba mirum

Na peça de Mozart, neste momento, o barítono (aquele com a voz mais grave) imita o som da trombeta, da qual fala São Paulo a Tessalônica: “Quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o mesmo Senhor descerá do céu...” (1Ts 4,16):
Tuba mirum spargens sonum / per sepúlcra regiónum, / coget omnes ante thronum”;
A trombeta espalhando o som admirável / Pela região dos sepulcros, / Leva todos diante do trono”.

Segue-se, então, a ressurreição dos mortos (ibid.):
Mors stupébit et natúra, / cum resúrget creatúra / iudicánti responsúra”;
A morte e a natureza se espantarão, / Quando a criatura ressurgir / Respondendo ao que irá julgar”.
Aqui, Tomás de Celano utiliza-se de uma prosopopeia: ele dá características humanas à morte e à natureza, que “se espantarão” diante da ressurreição dos mortos, diante da glorificação daquela matéria sobre a qual dominava a concupiscência. Iudicánti responsúra: os mortos se levantarão à simples voz do Juiz, para respondê-Lo prontamente.

Fotos da Vigília pela Paz no Vaticano

No último dia 23 de novembro o Papa Francisco presidiu no Altar da Cátedra da Basílica Vaticana uma Vigília de oração pela Paz na República Democrática do Congo e Sudão do Sul.

A vigília teve a forma de uma Celebração da Palavra, iniciando com a invocação ao Espírito Santo, seguida de leituras intercaladas com cantos e orações, o discurso do Santo Padre, um abraço da paz entre os presentes e concluindo com a Oração do Senhor e a bênção.

Entronização da imagem de Santa Josefina Bakhita
Entrada do Santo Padre
Sinal da cruz
Liturgia da Palavra

Discurso do Papa na Vigília pela Paz

Vigília de Oração pela Paz na República Democrática do Congo e no Sudão do Sul
Alocução do Papa Francisco
Altar da Cátedra na Basílica Vaticana
Quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Nesta tarde, com a oração, queremos lançar sementes de paz na terra do Sudão do Sul e da República Democrática do Congo, e em todas as terras feridas pela guerra. Quanto ao Sudão do Sul, eu já tinha decidido fazer-lhe uma visita, mas não foi possível. Sabemos, porém, que a oração é mais importante, porque é mais forte: a oração atua com a força de Deus, para Quem nada é impossível.
Por isso, de coração, agradeço a quantos planearam esta vigília e se comprometeram na sua realização.
«Cristo Ressuscitado nos convida, aleluia»: estas palavras do cântico em língua swahili acompanharam a procissão de entrada, com algumas imagens dos dois países pelos quais estamos a rezar de forma particular. Nós, cristãos, acreditamos e sabemos que a paz é possível, porque Cristo ressuscitou. Ele concede-nos o Espírito Santo, que invocamos.
Como pouco antes nos lembrou São Paulo, Jesus Cristo «é a nossa paz» (Ef 2,14). Na cruz, carregou sobre Si todo o mal do mundo, incluindo os pecados que geram e fomentam as guerras: o orgulho, a avareza, a ganância do poder, a mentira... Jesus venceu tudo isto com a sua ressurreição. Quando aparece no meio dos seus amigos, diz: «A paz esteja convosco!» (Jo 20,19.21.26). E repete-o aqui, também a nós, nesta tarde: «A paz esteja convosco!»
Senhor, sem Vós seria vã a nossa oração, e ilusório o nosso anseio de paz. Mas, Vós estais vivo e atuais por nós e conosco… Vós, nossa paz!
Que o Senhor Ressuscitado derrube os muros da inimizade que hoje dividem os irmãos, especialmente no Sudão do Sul e na República Democrática do Congo.
Socorra as mulheres vítimas de violência, nas zonas de guerra e em todas as partes do mundo.
Salve as crianças que sofrem por causa de conflitos, a que são alheias mas que roubam a sua infância e, às vezes, a própria vida. Que grande hipocrisia é negar os massacres de mulheres e crianças! Nisto se mostra o rosto mais horrível da guerra.
O Senhor ajude todos os pequeninos e os pobres do mundo a continuarem a crer e esperar o Reino de Deus, que está perto, está no meio de nós e é «justiça, paz e alegria no Espírito Santo» (Rm 14,17). Sustente todas as pessoas que se esforçam, dia após dia, por combater o mal com o bem, mediante gestos e palavras de fraternidade, respeito, encontro, solidariedade.
O Senhor revigore, nos governantes e em todos os líderes, um espírito nobre, reto, firme e corajoso na busca da paz, através do diálogo e da negociação.
O Senhor nos conceda, a todos, ser artífices de paz onde nos encontramos, na família, na escola, no trabalho, na comunidade, em todos os ambientes; «lavando os pés» uns aos outros, à imagem do nosso Mestre e Senhor. A Ele a glória e o louvor, hoje e pelos séculos. Amém.


Fonte: Santa Sé

Confira também as fotos e vídeo da celebração.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

III Catequese do Papa sobre a Missa: A Missa é memorial do Mistério Pascal

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 22 de novembro de 2017
A Missa (3): A Missa é memorial do Mistério Pascal

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Prosseguindo as Catequeses sobre a Missa, podemos questionar-nos: o que é essencialmente a Missa? A Missa é o memorial do Mistério Pascal de Cristo. Ela torna-nos partícipes da sua vitória sobre o pecado e a morte, e confere pleno significado à nossa vida.
Por esta razão, a fim de compreender o valor da Missa devemos então entender em primeiro lugar o significado bíblico do “memorial”. Ele «não é somente a lembrança dos acontecimentos do passado, mas... tornam-se de certo modo presentes e atuais. É assim que Israel entende a sua libertação do Egito: sempre que se celebrar a Páscoa, os acontecimentos do Êxodo tornam-se presentes à memória dos crentes, para que conformem com eles a sua vida» (Catecismo da Igreja Católica, 1363). Jesus Cristo, com a sua paixão, morte, ressurreição e ascensão ao céu levou a cumprimento a Páscoa. E a Missa é o memorial da sua Páscoa, do seu “êxodo”, que cumpriu por nós, para nos fazer sair da escravidão e nos introduzir na terra prometida da vida eterna. Não é somente uma lembrança, não, é mais do que isso: significa evocar o que aconteceu há vinte séculos.
A Eucaristia leva-nos sempre ao ápice da ação de salvação de Deus: o Senhor Jesus, tornando-se pão partido para nós, derrama sobre nós toda a sua misericórdia e o seu amor, como fez na cruz, de modo a renovar o nosso coração, a nossa existência e a nossa forma de nos relacionarmos com Ele e com os irmãos. O Concílio Vaticano II afirma: «Sempre que no altar se celebra o sacrifício da cruz, na qual Cristo, nossa Páscoa, foi imolado, realiza-se também a obra da nossa redenção» (Const. Dogm. Lumen gentium, 3).
Cada celebração da Eucaristia é um raio daquele sol sem ocaso que é Jesus ressuscitado. Participar na Missa, em particular aos domingos, significa entrar na vitória do Ressuscitado, ser iluminados pela sua luz, abrasados pelo seu calor. Através da celebração eucarística o Espírito Santo torna-nos partícipes da vida divina que é capaz de transfigurar todo o nosso ser mortal. E na sua passagem da morte para a vida, do tempo para a eternidade, o Senhor Jesus arrasta também a nós com Ele para fazer a Páscoa. Na Missa faz-se a Pascoa. Nós, na Missa, estamos com Jesus, morto e ressuscitado e Ele arrasta-nos em frente, para a vida eterna. Na Missa unimo-nos a Ele. Aliás, Cristo vive em nós e nós vivemos n’Ele: «Estou crucificado com Cristo - diz Paulo -, já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim» (Gl 2,19-20). Paulo pensava desta forma.
Com efeito, o seu sangue liberta-nos da morte e do medo da morte. Liberta-nos não só do domínio da morte física, mas da morte espiritual que é o mal, o pecado, que se apodera de nós todas as vezes que somos vítimas do pecado nosso e alheio. E então a nossa vida é contaminada, perde beleza, perde significado, desfloresce.
Ao contrário, Cristo restitui-nos a vida; Cristo é a plenitude da vida, e quando enfrentou a morte aniquilou-a para sempre: «ressuscitando dos mortos, venceu a morte e renovou vida», confessa a Igreja celebrando a Eucaristia (Oração Eucarística IV). A Páscoa de Cristo é a vitória definitiva sobre a morte, porque Ele transformou a sua morte em ato supremo de amor. Morreu por amor! E na Eucaristia, Ele quer comunicar-nos este seu amor pascal, vitorioso. Se o recebermos com fé, também nós podemos amar verdadeiramente a Deus e ao próximo, podemos amar como Ele nos amou, oferecendo a vida.
Se o amor de Cristo estiver em mim, posso doar-me plenamente ao outro, na certeza interior que mesmo se o outro me ferir eu não morrerei; caso contrário, teria que me defender. Os mártires ofereceram a própria vida devido a esta certeza da vitória de Cristo sobre a morte. Só se experimentarmos este poder de Cristo, o poder do seu amor, seremos realmente livres de nos doarmos sem medo. É este o significado da Missa: entrar nesta paixão, morte, ressurreição, ascensão de Jesus; quando vamos à Missa é como se fôssemos ao calvário, a mesma coisa. Mas pensai: no momento da Missa vamos ao calvário - usemos a imaginação - e sabemos que aquele homem ali é Jesus. Mas, será que nos permitiríamos conversar, tirar fotografias, dar um pouco de espetáculo? Não! Porque é Jesus! Certamente estaríamos em silêncio, no pranto e também na alegria de sermos salvos. Quando entramos na Igreja para celebrar a Missa pensemos nisto: entro no calvário, onde Jesus oferece a sua vida por mim. E assim desaparece o espetáculo, desaparecem as tagarelices, os comentários e estas coisas que nos afastam de algo tão bonito que é a Missa, o triunfo de Jesus.
Penso que agora é mais claro que a Páscoa se torna presente e ativa todas as vezes que celebramos a Missa, ou seja, o sentido do memorial. A participação na Eucaristia faz-nos entrar no Mistério Pascal de Cristo, concedendo-nos a oportunidade de passar com Ele da morte para a vida, ou seja, no Calvário. A Missa significa repercorrer o Calvário, não é um espetáculo.


Fonte: Santa Sé

Festa de Nossa Senhora da Saúde em Veneza

O Patriarca de Veneza, Dom Francesco Moraglia, celebrou no último dia 21 de novembro a Solenidade de Nossa Senhora da Saúde no Santuário a ela dedicado em Veneza.

Na véspera, dia 20, o Patriarca participou de procissão luminosa saindo da Catedral de São Marcos até o Santuário de Nossa Senhora da Saúde.

Dia 20: Procissão luminosa

Saída da procissão da Catedral de São Marcos

Chegada no Santuário 

Altar do Santuário

Exéquias do Cardeal Lanza di Montezemolo

No último dia 21 de novembro o Papa Francisco presidiu no Altar da Cátedra da Basílica Vaticana o rito da Última Encomendação do Cardeal Andrea Cordero Lanza di Montezemolo, Arcipreste Emérito da Basílica de São Paulo fora-dos-muros, falecido no domingo, 19 de novembro, aos 92 anos.

O rito foi precedido da Santa Missa, presidida pelo Cardeal Giovanni Battista Re, Vice-decano do Colégio dos Cardeais.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Diego Giovanni Ravelli.



Oração
Aspersão do corpo
 

sábado, 25 de novembro de 2017

Homilia: Solenidade de Cristo Rei - Ano A

São Cirilo de Alexandria
Comentário sobre o Evangelho de São João
Quando Cristo aparecer, então também vós aparecereis juntamente com Ele na glória

Depois de sua ressurreição dentre os mortos, de volta ao seu primitivo estado de nossa natureza, libertado o homem da corrupção, na qualidade de primícias e em seu primeiro templo, ascendeu Jesus a Deus Pai, que está nos céus. Mas transcorrido um breve espaço de tempo descerá novamente - conforme cremos -, e voltará outra vez a nós na glória de seu Pai, acompanhado de seus santos anjos, para convocar a todos, bons e maus, ao tremendo tribunal.
De fato, todas as criaturas comparecerão ao juízo, e retribuindo o que é justo de acordo com o mérito da vida, dirá àqueles que estarão colocados à sua esquerda, isto é, a quantos no passado se guiaram por pensamentos mundanos: Apartai-vos de mim, malditos; ide para o fogo eterno preparado para o diabo e os seus anjos. Mas, aos da sua direita, a saber, aos santos e aos bons, lhes dirá: Vinde, benditos de meu Pai, herdai o reino preparado para vós desde a criação do mundo.
Portanto, conviverão e co-reinarão com Cristo, e desfrutarão com enorme prazer dos bens celestiais, feitos semelhantes a ele na ressurreição, libertados dos laços da antiga corrupção, cercados de copiosa e inefável vida para viver eternamente com o Senhor que vive para sempre. E que hão de viver continuamente com Cristo aqueles que tiverem vivido uma vida boa e virtuosa, contemplando a sua divina e inefável beleza, o declarava Paulo quando dizia: Pois o próprio Senhor, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão em primeiro lugar. Depois nós, os que ainda estivermos vivos, seremos arrebatados com eles na nuvem, ao encontro do Senhor no ar. E assim estaremos sempre com o Senhor.
E dirigindo-se àqueles que se empenharam em mortificar as concupiscências mundanas, diz novamente: Porque morrestes, e vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, nossa vida, aparecer, então também vós aparecereis juntamente com ele na glória. Portanto, para resumir em poucas palavras a força e o significado deste texto, direi que aqueles que amam os males do mundo cairão no inferno e serão precipitados longe da presença de Cristo; porém, os amantes da virtude e quantos houverem conservado íntegro o penhor do Espírito conviverão com ele, viverão em sua companhia e contemplarão sua divina beleza. Será – diz – o Senhor tua luz perpétua, e teu Deus será o teu fulgor.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 255-256. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de Santo Efrém para esta Solenidade clicando aqui.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Ângelus do Papa: XXXIII Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 19 de novembro de 2017

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Neste penúltimo domingo do Ano Litúrgico, o Evangelho apresenta-nos a parábola dos talentos (Mt 25,14-30). Um homem, tendo que viajar, antes de partir confia aos seus servos alguns bens, que naquele tempo eram moedas de grande valor: a um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, segundo as suas capacidades. O servo que recebeu cinco talentos era empreendedor e fê-los frutificar, ganhando outros cinco. Do mesmo modo se comporta o servo que recebeu dois, obtendo outros dois. Ao contrário, o servo que recebeu um, escava um buraco na terra e esconde a moeda do seu senhor.

É precisamente este servo que, quando o dono regressa, lhe explica o motivo do seu gesto, dizendo: «Senhor, sei que és um homem duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. Por isso, tive medo e fui esconder o teu talento na terra» (vv. 24-25). Este servo não tem uma relação de confiança com o seu patrão, mas medo, e isso paralisa-o. O temor imobiliza sempre e, muitas vezes, leva a tomar decisões erradas. O medo dissuade de tomar iniciativa, induz a refugiar-se em soluções seguras e garantidas, e assim se acaba por não realizar nada de bom. Para ir em frente e crescer no caminho da vida, não se deve ter medo, é necessário ter confiança.

Esta parábola faz-nos compreender quanto é importante ter uma ideia verdadeira de Deus. Não devemos pensar que Ele é um senhor inclemente, duro e severo que quer castigar-nos. Se dentro de nós houver esta imagem errada de Deus, então a nossa vida não poderá ser fecunda, porque viveremos com o medo e isso não nos levará a nada construtivo, aliás, o medo paralisa-nos, autodestrói-nos. Somos chamados a refletir para descobrir qual é realmente a nossa ideia de Deus. Já no Antigo Testamento Ele se revelou como «Deus compassivo e misericordioso, lento para a cólera, rico em bondade e em fidelidade» (Ex 34,6). E Jesus sempre nos mostrou que Deus não é um patrão severo e intolerante, mas um pai cheio de amor, de ternura, um pai repleto de bondade. Portanto, podemos e devemos ter uma confiança imensa n’Ele.

Jesus mostra-nos a generosidade e a solicitude do Pai de várias formas: com a sua palavra, com os seus gestos, com o seu acolhimento de todos, especialmente dos pecadores, dos pequeninos e dos pobres - como nos recorda hoje o 1º Dia Mundial dos Pobres -; mas inclusive com as suas admoestações, que revelam o seu interesse a fim de que não desperdicemos inutilmente a nossa vida. Com efeito, é sinal que Deus tem grande estima por nós: esta consciência ajuda-nos a ser pessoas responsáveis em cada nossa ação. Por conseguinte, a parábola dos talentos convida-nos a uma responsabilidade pessoal e a uma fidelidade que se torna inclusive capacidade de se pôr constantemente a caminho percorrendo estradas novas, sem “enterrar os talentos”, ou seja, os dons que Deus nos confiou, e dos quais nos pedirá contas.

A Virgem Santa interceda por nós, a fim de que permaneçamos fiéis à vontade de Deus fazendo frutificar os talentos que nos doou. Assim seremos úteis aos outros e, no último dia, seremos acolhidos pelo Senhor, que nos convidará a participar na sua alegria.


Fonte: Santa Sé.

Fotos da Missa do Papa no XXXIII Domingo do Tempo Comum

No último dia 19 de novembro o Papa Francisco celebrou na Basílica de São Pedro a Santa Missa do XXXIII Domingo do Tempo Comum por ocasião do I Dia Mundial dos Pobres.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Diego Giovanni Ravelli. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Procissão de entrada

Incensação

Ritos iniciais

Homilia do Papa: XXXIII Domingo do Tempo Comum - Ano A

Santa Missa no Dia Mundial dos Pobres
Homilia do Papa Francisco
Basílica Vaticana
Domingo, 19 de novembro de 2017

Temos a alegria de repartir o pão da Palavra e, em breve, de repartir e receber o Pão eucarístico, alimentos para o caminho da vida. Deles precisamos todos nós, ninguém excluso, porque todos somos mendigos do essencial, do amor de Deus, que nos dá o sentido da vida e uma vida sem fim. Por isso, também hoje, estendemos a mão para Ele a fim de receber os seus dons.

E, precisamente de dons, nos fala a parábola do Evangelho. Diz-nos que somos destinatários dos talentos de Deus, «cada qual conforme a sua capacidade» (Mt 25,15). Antes de mais nada, reconheçamos isto: temos talentos, somos «talentosos» aos olhos de Deus. Por isso ninguém pode considerar-se inútil, ninguém pode dizer-se tão pobre que não possua algo para dar aos outros. Somos eleitos e abençoados por Deus, que deseja cumular-nos dos seus dons, mais do que um pai e uma mãe o desejam fazer aos seus filhos. E Deus, aos olhos de Quem nenhum filho pode ser descartado, confia uma missão a cada um.

De fato, como Pai amoroso e exigente que é, responsabiliza-nos. Vemos, na parábola, que a cada servo são dados talentos para os multiplicar. Mas enquanto os dois primeiros realizam a missão, o terceiro servo não faz render os talentos; restitui apenas o que recebera: «Com medo - diz ele -, fui esconder o teu talento na terra. Aqui está o que te pertence» (v. 25). Como resposta, este servo recebe palavras duras: «mau e preguiçoso» (v. 26). Nele, que desagradou ao Senhor? Diria, numa palavra (talvez caída um pouco em desuso mas muito atual), a omissão. O seu mal foi o de não fazer o bem. Muitas vezes também nos parece não ter feito nada de mal e com isso nos contentamos, presumindo que somos bons e justos. Assim, porém, corremos o risco de nos comportar como o servo mau: também ele não fez nada de mal, não estragou o talento, antes guardou-o bem na terra. Mas, não fazer nada de mal, não basta. Porque Deus não é um controlador à procura de bilhetes não timbrados; é um Pai à procura de filhos, a quem confiar os seus bens e os seus projetos (v. 14). E é triste, quando o Pai do amor não recebe uma generosa resposta de amor dos filhos, que se limitam a respeitar as regras, a cumprir os mandamentos, como jornaleiros na casa do Pai (cf. Lc 15,17).

O servo mau, uma vez recebido o talento do Senhor que gosta de partilhar e multiplicar os dons, guardou-o zelosamente, contentou-se com salvaguardá-lo; ora não é fiel a Deus quem se preocupa apenas de conservar, de manter os tesouros do passado, mas, como diz a parábola, aquele que junta novos talentos é que é verdadeiramente «fiel» (Mt 25,21.23), porque tem a mesma mentalidade de Deus e não fica imóvel: arrisca por amor, joga a vida pelos outros, não aceita deixar tudo como está. Descuida só uma coisa: o próprio interesse. Esta é a única omissão justa.

E a omissão é também o grande pecado contra os pobres. Aqui assume um nome preciso: indiferença. Esta é dizer: «Não me diz respeito, não é problema meu, é culpa da sociedade». É passar ao largo quando o irmão está em necessidade, é mudar de canal, logo que um problema sério nos indispõe, é também indignar-se com o mal mas sem fazer nada. Deus, porém, não nos perguntará se sentimos justa indignação, mas se fizemos o bem

Como podemos então, concretamente, agradar a Deus? Quando se quer agradar a uma pessoa querida, por exemplo dando-lhe uma prenda, é preciso primeiro conhecer os seus gostos, para evitar que a prenda seja mais do agrado de quem a dá do que da pessoa que a recebe. Quando queremos oferecer algo ao Senhor, os seus gostos encontramo-los no Evangelho. Logo a seguir ao texto que ouvimos hoje, Ele diz: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25,40). Estes irmãos mais pequeninos, seus prediletos, são o faminto e o doente, o forasteiro e o recluso, o pobre e o abandonado, o doente sem ajuda e o necessitado descartado. Nos seus rostos, podemos imaginar impresso o rosto d’Ele; nos seus lábios, mesmo se fechados pela dor, as palavras d’Ele: «Isto é o meu corpo» (Mt 26,26). No pobre, Jesus bate à porta do nosso coração e, sedento, pede-nos amor. Quando vencemos a indiferença e, em nome de Jesus, nos gastamos pelos seus irmãos mais pequeninos, somos seus amigos bons e fiéis, com quem Ele gosta de Se demorar. Deus tem em grande apreço, Ele aprecia o comportamento que ouvimos na primeira Leitura: o da «mulher forte» que «estende os braços ao infeliz, e abre a mão ao indigente» (Pr 31,10.20). Esta é a verdadeira fortaleza: não punhos cerrados e braços cruzados, mas mãos operosas e estendidas aos pobres, à carne ferida do Senhor.

Lá, nos pobres, manifesta-se a presença de Jesus, que, sendo rico, Se fez pobre (cf. 2Cor 8,9). Por isso neles, na sua fragilidade, há uma «força salvífica». E, se aos olhos do mundo têm pouco valor, são eles que nos abrem o caminho para o Céu, são o nosso «passaporte para o paraíso». Para nós, é um dever evangélico cuidar deles, que são a nossa verdadeira riqueza; e fazê-lo não só dando pão, mas também repartindo com eles o pão da Palavra, do qual são os destinatários mais naturais. Amar o pobre significa lutar contra todas as pobrezas, espirituais e materiais.

E isto far-nos-á bem: abeirar-nos de quem é mais pobre do que nós, tocará a nossa vida. Lembrar-nos-á aquilo que conta verdadeiramente: amar a Deus e ao próximo. Só isto dura para sempre, tudo o resto passa; por isso, o que investimos em amor permanece, o resto desaparece. Hoje podemos perguntar-nos: «Para mim, o que conta na vida? Onde invisto?» Na riqueza que passa, da qual o mundo nunca se sacia, ou na riqueza de Deus, que dá a vida eterna? Diante de nós, está esta escolha: viver para ter na terra ou dar para ganhar o Céu. Com efeito, para o Céu, não vale o que se tem, mas o que se dá, e «quem amontoa para si não é rico em relação a Deus» (cf. Lc 12,21). Então não busquemos o supérfluo para nós, mas o bem para os outros, e nada de precioso nos faltará. O Senhor, que tem compaixão das nossas pobrezas e nos reveste dos seus talentos, nos conceda a sabedoria de procurar o que conta e a coragem de amar, não com palavras, mas com obras.


Fonte: Santa Sé.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Encíclica Mediator Dei sobre a Sagrada Liturgia

No último dia 20 de novembro celebramos os 70 anos da publicação da Encíclica Mediator Dei sobre a Sagrada Liturgia do Venerável Papa Pio XII. Este documento é um marco do Movimento Litúrgico e deu um grande impulso para a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II.

Recomendamos a todos os estudiosos da Liturgia a leitura deste documento, que publicamos na íntegra:

Papa Pio XII
Carta Encíclica Mediator Dei
Sobre a Sagrada Liturgia

Introdução
1. "O mediador entre Deus e os homens" (1), o grande pontífice que penetrou os céus, Jesus, Filho de Deus (2), assumindo a obra de misericórdia com a qual enriqueceu o gênero humano de benefícios sobrenaturais, visou sem dúvida a restabelecer entre os homens e o Criador aquela ordem que o pecado tinha perturbado e a reconduzir ao Pai celeste, primeiro princípio e último fim, a mísera estirpe de Adão, infeccionada pelo pecado original. E por isso, durante a sua permanência na terra, não só anunciou o início da redenção e declarou inaugurado o reino de Deus, mas ainda cuidou de promover a salvação das almas pelo contínuo exercício da pregação e do sacrifício, até que, na cruz, se ofereceu a Deus qual vítima imaculada para "purificar a nossa consciência das obras mortas, para servir a Deus vivo" (3). Assim, todos os homens, felizmente chamados do caminho que os arrastava à ruína e à perdição, foram ordenados de novo a Deus, a fim de que, com sua pessoal colaboração na obra da própria santificação, fruto do sangue imaculado do Cordeiro, dessem a Deus a glória que lhe é devida.
2. O Divino Redentor quis, ainda, que a vida sacerdotal por ele iniciada em seu corpo mortal com as suas preces e o seu sacrifício, não cessasse no correr dos séculos no seu corpo místico, que é a Igreja; e por isso instituiu um sacerdócio visível para oferecer em toda parte a oblação pura (4), a fim de que todos os homens, do oriente ao ocidente, libertos do pecado, por dever de consciência servissem espontânea e voluntariamente a Deus.
3. A Igreja, pois, fiel ao mandato recebido do seu Fundador, continua o ofício sacerdotal de Jesus Cristo, sobretudo com a sagrada liturgia. E o faz em primeiro lugar no altar, onde o sacrifício da cruz é perpetuamente representado (5) e renovado, com a só diferença no modo de oferecer; em seguida, com os sacramentos, que são instrumentos particulares por meio dos quais os homens participam da vida sobrenatural; enfim, com o tributo cotidiano de louvores oferecido a Deus ótimo e máximo (6). "Que jubiloso espetáculo – diz o nosso predecessor de feliz memória Pio XI – oferece ao céu e à terra a Igreja que reza, enquanto continuamente dia e noite, se cantam na terra os salmos escritos por inspiração divina: nenhuma hora do dia transcorre sem a consagração de uma liturgia própria; cada etapa da vida tem seu lugar na ação de graças, nos louvores, preces e aspirações desta comum oração do corpo místico de Cristo, que é a Igreja" (7).
4. Certamente conheceis, veneráveis irmãos, que, no fim do século passado e nos princípios do presente, houve singular fervor de estudos litúrgicos; já por louvável iniciativa de alguns particulares, já sobretudo pela zelosa e assídua diligência de vários mosteiros da ínclita ordem beneditina; assim que não somente em muitas regiões da Europa, mas ainda nas terras de além-mar, se desenvolveu a esse respeito uma louvável e útil emulação, cujas benéficas consequências foram visíveis, quer no campo das disciplinas sagradas, onde os ritos litúrgicos da Igreja oriental e ocidental foram mais ampla e profundamente estudados e conhecidos, quer na vida espiritual e íntima de muitos cristãos. As augustas cerimônias do sacrifício do altar foram mais conhecidas, compreendidas e estimadas; a participação aos sacramentos maior e mais frequente; as orações litúrgicas mais suavemente saboreadas e o culto eucarístico tido, como verdadeiramente o é, por centro e fonte da verdadeira piedade cristã. Além disso, pôs-se em mais clara evidência o fato de que todos os fiéis constituem um só e compacto corpo de que é Cristo a cabeça, com o consequente dever para o povo cristão de participar, segundo a própria condição, dos ritos litúrgicos.
5. Sem dúvida, sabeis muito bem que esta Sé Apostólica sempre zelou para que o povo a ela confiado fosse educado num verdadeiro e ativo sentido litúrgico e que, com zelo não menor se tem preocupado em que os sagrados ritos brilhem até externamente por uma adequada dignidade. Nessa mesma ordem de ideias, falando, segundo o costume, aos pregadores quaresmais desta nossa excelsa cidade, em 1943, nós os havíamos calorosamente exortado a advertir os seus ouvintes que participassem, com maior empenho, do sacrifício eucarístico; e recentemente fizemos traduzir de novo em latim, do texto original, o livro dos Salmos para que as preces litúrgicas, de que são eles a parte maior na Igreja católica, fossem mais exatamente entendidas e a sua verdade e suavidade mais facilmente percebidas (8).
6. Todavia, enquanto pelos salutares frutos que dele derivam, o apostolado litúrgico nos é de não pequeno conforto, o nosso dever nos impõe seguir com atenção esta "renovação" na maneira pela qual é concebida por alguns, e cuidar diligentemente para que as iniciativas não se tornem excessivas nem insuficientes.
7. Ora, se de uma parte verificamos com pesar que em algumas regiões o sentido, o conhecimento e o estudo da liturgia são às vezes escassos ou quase nulos; de outra, notamos, com muita apreensão, que há algumas pessoas muito ávidas de novidades e que se afastam do caminho da sã doutrina e da prudência. Na intenção e desejo de um renovamento litúrgico, esses inserem muitas vezes princípios que, em teoria ou na prática, comprometem esta santíssima causa, e frequentemente até a contaminam de erros que atingem a fé católica e a doutrina ascética.
8. A pureza da fé e da moral deve ser a norma característica desta sagrada disciplina, que deve necessariamente conformar-se ao sapientíssimo ensinamento da Igreja. É, portanto, nosso dever louvar e aprovar tudo o que é bem feito, conter ou reprovar tudo o que se desvia do verdadeiro e justo caminho.
9. Não acreditem, pois, os inertes e os tíbios ter a nossa aprovação porque repreendemos os que erram e contemos os audazes; nem os imprudentes se tenham por louvados quando corrigimos os negligentes e os preguiçosos. Ainda que nesta nossa encíclica tratemos sobretudo da liturgia latina, não é que tenhamos em menor estima as venerandas liturgias da Igreja oriental, cujos ritos, transmitidos por nobres e antigos documentos, nos são igualmente caríssimos; mas visamos antes às condições particulares da Igreja ocidental, que são tais que reclamam a intervenção da nossa autoridade.
10. Ouçam, pois, os cristãos todos, com docilidade, a voz do Pai comum, o qual deseja ardentemente que todos, unidos a ele intimamente, se aproximem do altar de Deus, professando a mesma fé, obedecendo à mesma lei, participando do mesmo sacrifício com uma só inteligência e uma só vontade. O respeito devido a Deus o reclama; as necessidades dos tempos presentes o exigem. Após uma longa e cruel guerra que dividiu os povos com rivalidades e morticínios, os homens de boa vontade se esforçam do melhor modo possível, em reconduzir todos à concórdia. Acreditamos, todavia, que nenhum projeto e nenhuma iniciativa seja, neste caso, tão eficaz quanto um fervoroso espírito religioso e zelo ardente, do qual é necessário estejam animados e guiados todos os cristãos, a fim de que, aceitando de coração aberto as mesmas verdades e obedecendo docilmente aos legítimos pastores, no exercício do culto devido a Deus, constituam uma comunidade fraterna, porquanto, "ainda que muitos, somos um só corpo, participando todos do único pão (9).

Primeira Parte: Natureza, Origem, Progresso da Liturgia 

I. A liturgia é culto público
11. O dever fundamental do homem é certamente este de orientar a si mesmo e a própria vida para Deus. "A ele, com efeito, devemos principalmente unir-nos como indefectível princípio, ao qual deve ainda constantemente aplicar-se a nossa escolha como ao último fim, que perdemos pecando, mesmo por negligência, e que devemos reconquistar pela fé, crendo nele" (10). Ora, o homem se volta ordinariamente para Deus quando lhe reconhece a suprema majestade e o supremo magistério, quando aceita com submissão as verdades divinamente reveladas, quando lhe observa religiosamente as leis, quando faz convergir para ele toda a sua atividade, quando – para dizer resumidamente – presta, mediante a virtude da religião, o devido culto ao único e verdadeiro Deus.
12. Esse é um dever que obriga antes de tudo os homens individualmente, mas é ainda um dever coletivo de toda a comunidade humana ordenada com recíprocos vínculos sociais, porque também ela depende da suma autoridade de Deus.
13. Note-se ainda que esse é um dever particular dos homens, porquanto Deus os elevou à ordem sobrenatural. Assim, se consideramos Deus como autor da antiga Lei, vemo-lo proclamar preceitos rituais e determinar acuradamente as normas que o povo deve observar ao render-lhe o legítimo culto. Estabeleceu, para isso, vários sacrifícios e designou várias cerimônias com que deviam realizar-se e determinou claramente o que se referia à arca da aliança, ao templo e aos dias festivos; designou a tribo sacerdotal e o sumo sacerdote, indicou e descreveu as vestes para uso dos sagrados ministros e tudo o mais que tinha relação com o culto divino (11).
14. Esse culto, aliás, não era mais do que a sombra (12) daquele que o sumo sacerdote do Novo Testamento havia de render ao Pai celeste.
15. De fato, apenas "o Verbo se fez carne" (13), manifesta-se ao mundo no seu ofício sacerdotal, fazendo ao Pai Eterno um ato de submissão que durará por todo o tempo de sua vida: "entrando no mundo, diz... eis que venho... para fazer, ó Deus, a tua vontade..." (14), um ato que será consumado de modo admirável no sacrifício cruento da cruz: "Pelo poder desta vontade fomos santificados por meio da oblação do corpo de Jesus Cristo feita uma só vez para sempre" (15). Toda a sua atividade entre os homens não tem outro escopo. Menino, é apresentado no templo ao Senhor; adolescente, ali volta ainda; em seguida ali vai frequentemente para instruir o povo e para rezar. Antes de iniciar o ministério público jejua durante quarenta dias, e com seu conselho e o seu exemplo exorta todos a rezarem de dia e de noite. Como mestre de verdade, "ilumina todo homem" (16) para que os mortais reconheçam convenientemente o Deus imortal, e não "se afastem para sua perdição, mas guardem a fé para salvar a sua alma" (17). Como Pastor, depois, ele governa o seu rebanho, conduzindo-o às pastagens da vida, e dá uma lei a observar, para que ninguém se afaste dele e da reta via que traçou, mas todos vivam santamente sob o seu influxo e a sua ação. Na última ceia, com rito e aparato solene, celebra a nova páscoa e provê a sua continuação mediante a divina instituição da eucaristia; no dia seguinte, elevado entre o céu e a terra, oferece o sacrifício salutar de sua vida; de seu peito rasgado faz, de certo modo, jorrar os sacramentos que distribuem às almas os tesouros da redenção. Fazendo isso, tem por único fim a glória do Pai e a crescente santificação do homem.
16. Entrando, depois, na sede da beatitude celeste, quer que o culto por ele instituído e prestado durante a sua vida terrena continue ininterrupto. Já que não deixou órfão o gênero humano, mas o assiste sempre com o seu contínuo e valioso patrocínio, fazendo-se nosso advogado no céu junto do Pai (18), assim o ajuda mediante a sua Igreja, na qual está indefectivelmente presente no correr dos séculos, Igreja que constituiu coluna da verdade (19) e dispensadora de graça, e que, com o sacrifício da cruz, fundou, consagrou e conformou eternamente (20).
17. A Igreja, portanto, tem em comum com o Verbo encarnado o escopo, o empenho e a função de ensinar a todos a verdade, reger e governar os homens, oferecer a Deus o sacrifício, aceitável e grato, e assim restabelecer entre o Criador e as criaturas aquela união e harmonia que o apóstolo das gentes claramente indica por estas palavras: "Não sois mais hóspedes ou adventícios, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus, educados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, com o próprio Jesus Cristo por pedra angular, sobre a qual todo o edifício bem ordenado se levanta para ser um templo santo no Senhor, e sobre ele vós sois também juntamente edificados em morada de Deus, pelo Espírito" (21). Por isso a sociedade fundada pelo divino Redentor não tem outro fim, seja com a sua doutrina e o seu governo, seja com o sacrifício e os sacramentos por ele instituídos, seja enfim com o ministério que lhe contou, com as suas orações e o seu sangue, senão crescer e dilatar-se sempre mais – o que se dá quando Cristo é edificado e dilatado nas almas dos mortais, e quando, vice-versa, as almas dos mortais são educadas e dilatadas em Cristo; de maneira que, neste exílio terreno prospere o templo no qual a divina majestade recebe o culto grato e legítimo. Em toda ação litúrgica, junto com a Igreja está presente o seu divino Fundador: Cristo está presente no augusto sacrifício do altar, quer na pessoa do seu ministro, quer por excelência, sob as espécies eucarísticas; está presente nos sacramentos com a virtude que neles transfunde, para que sejam instrumentos eficazes de santidade; está presente, enfim, nos louvores e súplicas dirigidas a Deus, como vem escrito: "Onde estão duas ou três pessoas reunidas em meu nome aí estou no meio delas" (22). A sagrada liturgia é, portanto, o culto público que o nosso Redentor rende ao Pai como cabeça da Igreja, e é o culto que a sociedade dos fiéis rende à sua cabeça, e, por meio dela, ao Eterno Pai. É, em uma palavra, o culto integral do corpo místico de Jesus Cristo, ou seja, da cabeça e de seus membros.
18. A ação litúrgica inicia-se com a fundação da própria Igreja. Os primeiros cristãos, com efeito, "eram assíduos aos ensinamentos dos apóstolos, e à comum fração do pão e à oração" (23). Em toda a parte onde os pastores possam reunir um núcleo de fiéis, erigem um altar sobre o qual oferecem o sacrifício, e em torno dele vêm dispostos outros ritos adaptados à santificação dos homens e à glorificação de Deus. Entre esse ritos estão, em primeiro lugar, os sacramentos, isto é, as sete principais fontes de salvação; depois, está a celebração do louvor divino, com o qual os féis reunidos obedecem à exortação do Apóstolo: "Instruindo-vos e exortando-vos uns aos outros com toda a sabedoria, cantando a Deus em vosso coração, inspirados pela graça, salmos, hinos e cânticos espirituais" (24); depois, ainda, a leitura da Lei, dos Profetas, do Evangelho e das epístolas apostólicas; e, enfim, a prática com a qual o presidente da assembleia recorda e comenta utilmente os preceitos do divino Mestre, os acontecimentos principais de sua vida, e admoesta todos os presentes com exortações oportunas e exemplos.
19. O culto se organiza e se desenvolve segundo as circunstâncias e as necessidades dos cristãos, se enriquece de novos ritos, cerimônias e fórmulas, sempre com o mesmo intento: "a fim de que sejamos estimulados por aqueles sinais... conheçamos o progresso realizado e nos sintamos solicitados a desenvolvê-lo com maior vigor; o efeito, de fato, é mais digno, se mais ardente é o afeto que o precede" (25). Assim a alma se eleva a Deus mais e melhor; assim o sacerdócio de Jesus Cristo está sempre em ato na sucessão dos tempos, não sendo a liturgia outra coisa que o exercício desse sacerdócio. Como a sua cabeça divina, assim a Igreja assiste continuamente os seus filhos, ajuda-os e exorta-os à santidade, para que, ornados com essa dignidade sobrenatural, possam um dia voltar ao Pai que está nos céus. Ela restaura para a vida celeste os nascidos à vida terrena, dá-lhes a ajuda do Espírito Santo na luta contra o inimigo implacável; chama os cristãos em torno dos altares e, com insistentes convites, exorta-os a celebrar e tomar parte no sacrifício eucarístico, e nutre-os com o pão dos anjos, para que sejam sempre mais firmes; purifica e consola aqueles que o pecado feriu e maculou; consagra com legítimo rito aqueles que, por vocação divina, são chamados ao ministério sacerdotal; revigora com graças e dons divinos o casto conúbio daqueles que são destinados a fundar e constituir a família cristã; depois de ter confortado e restaurado com o viático eucarístico e a sagrada unção as últimas horas da vida terrena, acompanha ao túmulo com suma piedade os despojos dos seus filhos, dispondo-os religiosamente, protegendo-os ao abrigo da cruz, para que possam um dia ressurgir triunfando da morte; abençoa com particular solenidade quantos dedicam a sua vida ao serviço divino na consecução da perfeição religiosa; estende a sua mão caridosa às almas que, nas chamas da purificação, imploram preces e sufrágios, para conduzi-las finalmente à eterna beatitude.

Missa na Assembleia do Conselho para a Cultura

No último dia 16 de novembro o Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Cardeal Gianfranco Ravasi, celebrou a Santa Missa na Cripta da Basílica de São Pedro, junto ao túmulo do Apóstolo, por ocasião do início da Assembleia Plenária do Dicastério.

Ritos iniciais

Liturgia da Palavra
Cardeal ouve o Evangelho
Homilia

O valor da Assembleia Litúrgica

Nas três primeiras quartas-feiras de novembro, o Programa Brasileiro da Rádio Vaticano apresentou uma reflexão sobre o valor da assembleia litúrgica, o primeiro dos dez aspectos da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II que foram apresentados em outubro.
Eis o texto completo das três reflexões:

(01 de novembro)

No programa passado, o Padre Gerson Schmidt, que tem nos acompanhado neste percurso sobre os documentos conciliares, nos apresentou 10 aspectos da renovação litúrgica propostos pela Constituição Sacrosanctum Concilium. Na edição de hoje deste nosso espaço, o sacerdote nos traz uma breve reflexão sobre o primeiro ponto: “O valor da Assembleia Litúrgica”:
“Na reforma litúrgica do Concilio Vaticano II, percebemos 10 aspectos de renovação, a partir da constituição Sacrosanctum Concilium, que aqui enumeramos na oportunidade anterior. Hoje falamos do primeiro aspecto: o valor da assembleia litúrgica. Fazemos nos valer aqui também da reforma litúrgica do Missal Romano e também do Catecismo da Igreja Católica, ambos renovados e atualizados depois do Concilio, já com as devidas inovações e orientações dos padres conciliares.
O Catecismo da Igreja Católica, aplicando na prática a renovação litúrgica, foi publicado no Pontificado de João Paulo II. Era um desejo dos padres conciliares compor um compêndio que elencasse toda a doutrina católica. No número 1136 do Catecismo, fala da celebração Litúrgica: quem celebra, como se celebra e tantos outros aspectos. Sobre o ponto destacado da assembleia litúrgica, o catecismo diz assim:
CIC 1140 - É toda a comunidade, o corpo de Cristo unido à sua Cabeça, que celebra. “As ações litúrgicas não são ações privadas, mas celebrações da Igreja, que é o 'sacramento da unidade', isto é, o povo santo, unido e ordenado sob a direção dos Bispos. Por isso, estas celebrações pertencem a todo o corpo da Igreja, influem sobre ele e o manifestam; mas atingem a cada um de seus membros de modo diferente, conforme a diversidade de ordens, ofícios e da participação atual efetiva”. É por isso que “todas as vezes que os ritos, de acordo com sua própria natureza, admitem uma celebração comunitária, com assistência e participação ativa dos fiéis, seja inculcado que na medida do possível, ela deve ser preferida à celebração individual ou quase privada”.
Toda Liturgia, por mais privada que seja, em qualquer eremitério ou nas pequenas comunidades longínquas, sempre terá um aspecto comunitário e universal. É toda a Igreja que celebra o mistério pascal. A celebração individual, mesmo sem assembleia, é permitida aos sacerdotes, pela necessidade de celebrar todos os dias, pelo direito Canônico. Mas deve-se preferir a celebração com a assembleia, nessa nova visão conciliar. Todos somos celebrantes. O padre é tão somente o celebrante principal”.

(08 de novembro)

 Na reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, é possível distinguir claramente 10 aspectos de renovação a partir da Constituição Sacrosanctum Concilium. Neste espaço Memória Histórica, vamos abordar um a um destes aspectos. Na edição de hoje, damos continuidade ao tema iniciado no programa passado, “O valor da Assembleia Litúrgica”. Padre Gerson Schmidt:
“No programa anterior falamos do valor da assembleia Litúrgica, como um dos 10 aspectos da renovação da liturgia proposta pela Sacrosanctum Concilium. Hoje continuamos a aprofundar esse primeiro aspecto do valor da assembléia litúrgica. Apontamos o número 1140 – do Catecismo da Igreja Católica, onde diz que “É toda a comunidade, o corpo de Cristo unido à sua Cabeça, que celebra.
“As ações litúrgicas não são ações privadas, mas celebrações da Igreja, que é o 'sacramento da unidade', isto é, o povo santo, unido e ordenado sob a direção dos Bispos. Por isso, estas celebrações pertencem a todo o corpo da Igreja, influem sobre ele e o manifestam” (CIC, 1140). Não podemos, portanto, privatizar a liturgia, mas olhar a Eucaristia dentro da visão de que a assembleia litúrgica é um corpo orante, onde todos os membros celebram e atuam a seu modo. Tudo parte da visão das imagens da Lumen Gentium de que a Igreja é o Corpo Místico de Cristo ou Povo de Deus que caminha.
Não vamos a missa para simplesmente cumprir individualmente um preceito dominical, mas nos encontrar e celebrar com a comunidade a que pertencemos como membros participativos de uma Igreja (Ecclesia – assembleia dos convocados pela Palavra).
No número 1141, do Catecismo da Igreja Católica continua a expressar a importância da Assembleia Litúrgica, dizendo assim: “A assembleia que celebra é a comunidade dos batizados, os quais, “pela regeneração e unção do Espírito Santo, são consagrados para serem casa espiritual e sacerdócio santo e para poderem oferecer um sacrifício espiritual toda atividade humana do cristão”.
Este “sacerdócio comum” é o de Cristo, único sacerdote, participado por todos os seus membros: A mãe Igreja deseja ardentemente que todos os fiéis sejam levados àquela plena, consciente e ativa participação nas celebrações litúrgicas que a própria natureza da liturgia exige e à qual, por força do batismo, o povo cristão, “geração escolhida, sacerdócio régio, gente santa, povo de conquista” (1Pd 2,9), tem direito e obrigação”. Dessa participação ativa da assembleia litúrgica, como direito e obrigação, falaremos ainda mais adiante.
As diretrizes mais importantes que a Sacrosanctum Concilium dá para a reforma da liturgia estão em relação com as deficiências mais notáveis existentes na vida litúrgica dos cristãos: a desconexão com a Palavra de Deus e a perda do sentido comunitário. Por culpa destes fatores, a religiosidade de muitos católicos tinha perdido contato com a fonte genuína, que é sempre a Palavra de Deus como expressão de sua vontade e de seu desígnio de salvação, e se havia refugiado num individualismo egocêntrico e de horizontes muito limitados.
A Igreja deseja agora reformar a liturgia nesta dupla direção: abrir com maior abundância os tesouros da Palavra de Deus e destacar com mais intensidade e eficácia o aspecto comunitário das ações litúrgicas, buscando resgatar a todo o custo a participação plena, ativa e fecunda dos fiéis nas celebrações [1].
As estruturas das novas construções dos templos, a partir do Concilio, já contemplam uma visão mais comunitária, com o estilo das construções em forma mais oval e arredondada, permitindo a todos visualizarem e participarem melhor do Mistério Pascal celebrado. Seria um contrassenso fazer hoje as igrejas-templos como antigamente, de forma mais vertical e clerical. Há uma nova mentalidade, fruto da eclesiologia de comunhão e participação".

(15 de novembro)

“O Concílio desloca o centro. De uma liturgia centralizada na pessoa do ‘sacerdote celebrante’ para a assembleia do ‘povo sacerdotal’”. Este foi um dos aspectos levantados pelo Padre Gerson Schmidt no programa passado, ao comentar o tema “Assembleia Litúrgica na Sacrosanctum Concilium”.
Neste nossos espaço, temos refletido sobre 10 aspectos da renovação litúrgica trazida com o Concílio Vaticano II. Na edição de hoje, o sacerdote incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre nos fala sobre o tema “Povo sacerdotal que celebra [2]”:
“A compreensão da Sacrosanctum Concilium não é de um povo qualquer que está na missa ou na liturgia apático, sem sentido, aéreo ou apenas como um mero espectador, que não entende nada do que está ali acontecendo. A visão da SC é de um povo sacerdotal, um povo que celebra em comunidade aquilo que de mais genuíno tem para celebrar: o mistério pascal em suas vidas.
O Concílio resgata a liturgia como ação do povo sacerdotal, numa feliz referência a Primeira Carta de São Pedro, que diz: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pd 2,9). Assim, o povo é convocado e congregado para a escuta da Palavra e a renovação da aliança com o Senhor, tão desejado por Deus ao Povo Eleito (cf. Dt 4,10; 10,4.9; Ex 19-24).
A resposta ao convite de Deus, que se traduz em adesão e participação, constitui a assembleia do povo sacerdotal. Jesus Cristo, o sumo sacerdote, reúne seu povo, a quem, pelo batismo, torna apto para participar de seu sacerdócio. “Fez do novo povo um reino de sacerdotes para Deus, seu Pai”, conforme o livro do Apocalipse (cf. Ap 1,6; 5,9-10).
O Concílio desloca o centro celebrativo – não é o sacerdote o foco. Há uma descentralização eclesial, outrora acentuando demasiadamente o sacerdote que ofertava o sacrifício.  De uma liturgia centralizada na pessoa do “sacerdote celebrante” (que na liturgia não é único que celebra) se volta agora a ação litúrgica para a assembleia do “povo sacerdotal”. Como diz a Sacrosanctum Concilium, número 33: “As orações dirigidas a Deus pelo sacerdote que preside à comunidade na pessoa de Cristo são rezadas em nome de todo o povo santo e de todos os que estão presentes” (SC 33). Já não se fala do “sacerdote que celebra” e dos fiéis que assistem. Não se usa mais o verbo assistir à Missa.
O verbo pós-conciliar é “participar”, “celebrar”. Todos os membros da assembleia devem estar envolvidos na ação celebrativa e pela ação celebrativa. “Para isso, a Igreja procura, solícita e cuidadosa, que os cristãos não assistam a este mistério de fé como estranhos ou espectadores mudos” (SC 48), como se estivessem num espetáculo ou num teatro, fora da ação celebrativa. Em vista da ação eminentemente eclesial, o Concílio declara: “É desejo ardente da mãe Igreja que todos os fiéis cheguem àquela plena, consciente e ativa participação na celebração litúrgica que a própria natureza da liturgia exige e à qual o povo cristão, ‘raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido’ (1Pd 2,9), tem direito e obrigação, por força do batismo” (SC 14).
A liturgia, por um lado, é “obra de Cristo e da Igreja, seu corpo” (SC 7). Por outro lado, também é ação do “povo santo reunido e ordenado sob a direção dos bispos” (SC 26), portanto, orientado por um magistério eclesial que garanta a genuinidade e sacralidade do mistério eucarístico. Portanto, não está centrada a liturgia no sacerdote, mas na assembleia litúrgica, no povo, como sujeito da celebração".

[1] Cf. Pe. Antonio Élcio de Souza / Pe. José Humberto Motta. O contexto litúrgico da Igreja antes do Concílio Vaticano II. Faculdade Católica de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Ribeirão Preto.
[2] Reflexões inspiradas em Frei Faustino Paludo, OFMCap, publicado na Revista Vida Pastoral em Maio-Junho de 2003 (24-27), intitulado “O povo celebrante: sujeito da celebração”.


O próximo tema a ser refletido é o uso da língua vernácula.