terça-feira, 30 de agosto de 2016

50 anos de Episcopado de Dom Pedro Fedalto

No último dia 27 de agosto Dom Pedro Antonio Marchetti Fedalto, Arcebispo Emérito de Curitiba, celebrou a Santa Missa na Catedral Basílica Nossa Senhora da Luz em ação de graças pelos 50 anos de Ordenação Episcopal.

Dom Pedro Fedalto foi ordenado Bispo no dia 28 de agosto de 1966 na Catedral Nossa Senhora da Luz em Curitiba. O ordenante principal foi o então Núncio Apostólico no Brasil, D. Sebastião Baggio. Os co-ordenantes foram Dom Manuel da Silveira d'Elboux, então Arcebispo de Curitiba, e Dom Jerônimo Mazzarotto, Bispo Auxiliar de Curitiba.

Procissão de entrada

Incensação

Ritos iniciais

Ordenação Presbiteral na Arquidiocese de Curitiba (3)

No último dia 26 de agosto Dom José Antonio Peruzzo, Arcebispo Metropolitano de Curitiba, celebrou a Santa Missa para a Ordenação Presbiteral do Diácono Tiago Felipe Polonha na Paróquia Nossa Senhora do Amparo (município de Rio Branco do Sul (PR).

Paróquia Nossa Senhora do Amparo
Diácono Tiago com seus familiares
Homilia
Promessa de obediência
Ladainha

sábado, 27 de agosto de 2016

Homilia: XXII Domingo do Tempo Comum - Ano C

 São Doroteu de Gaza
Conferência 2
Colocar-se abaixo de todos

Existem duas classes de humildade, assim como existem duas classes de orgulho: a primeira classe de orgulho consiste em desprezar ao seu irmão, não o levando em consideração, como se não fosse nada, e em crer-se superior a ele. Se não tratamos imediatamente de vigiar-nos com rigor, cairemos pouco a pouco na segunda espécie que consiste em exaltar-se diante do próprio Deus e atribuir suas boas obras a si mesmo e não a Deus. Devemos lutar contra a primeira classe de orgulho, para não cair lentamente no orgulho total.
Existe também um orgulho mundano e um orgulho monástico. O mundano consiste em crer-se mais do que seu irmão por ser mais rico, mais belo, melhor vestido ou mais nobre do que ele. Quando percebemos que nos gloriamos nestas coisas, ou que nosso monastério seja maior ou mais rico ou mais numeroso, saibamos que ainda estamos no orgulho mundano. O mesmo acontece quando nos vangloriamos de qualidades naturais, por exemplo: ter uma bela voz ou salmodiar bem, ou ser hábil ou de trabalhar e servir corretamente. Estes motivos são mais elevados que os primeiros. Embora ainda se trate do orgulho mundano.
O orgulho monástico consiste em gloriar-se de suas vigílias, de seus jejuns, de sua piedade, de suas observações, de seu zelo, assim como em humilhar-se por vaidade. Tudo isso é orgulho monástico. Se não podemos evitar de orgulhar-nos, convém que este orgulho recaia sobre coisas monásticas e não mundanas. Explicamos, então, qual é a primeira espécie de orgulho e qual a segunda; também temos definido o orgulho mundano e o orgulho monástico. Mostremos agora quais são as espécies de humildade.
A primeira consiste em considerar ao seu irmão como mais inteligente que a si mesmo e superior em tudo; a saber, como dizia um santo: “Colocar-se abaixo de todos”.
A segunda espécie de humildade consiste em atribuir a Deus as boas obras. Essa é a perfeita humildade dos santos. Ela nasce naturalmente na alma como consequência da prática dos mandamentos. De fato olhemos, irmãos, as árvores carregadas de frutos: são os frutos que fazem curvar e baixar os galhos. Ao contrário, o galho que não tem frutos se ergue no espaço e cresce direito. Inclusive há certas árvores cujos galhos não dão frutos enquanto se mantêm erguidos para o céu, porém, se lhes coloca uma pedra para orientá-los para baixo, então dão fruto. O mesmo acontece com a alma: quando se humilha dá fruto, e quanto mais produz, mais se humilha. Porque quanto mais se aproxima de Deus, mais pecador se vê.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 707-708. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Jerônimo para este domingo clicando aqui.

Angelus do Papa: XXI Domingo do Tempo Comum

Papa Francisco
Angelus
Praça São Pedro
Domingo, 21 de agosto de 2016

Bom dia, estimados irmãos e irmãs!
A página evangélica de hoje exorta-nos a meditar sobre o tema da salvação. O evangelista Lucas narra que Jesus está em viagem rumo a Jerusalém, e durante o percurso aproxima-se uma pessoa que lhe faz a seguinte pergunta: «Senhor, são poucos os homens que se salvam?» (Lc 13, 23). Jesus não dá uma resposta direta, mas desvia o debate para outro plano, com uma linguagem sugestiva, que no início os discípulos talvez não tenham entendido: «Procurai entrar pela porta estreita; porque, digo-vos, muitos procurarão entrar e não conseguirão» (v. 24). Mediante a imagem da porta, Ele quer levar os seus ouvintes a entender que não se trata de uma questão de número - quantos se salvarão - não importa saber quantos, mas é importante que todos saibam qual é o caminho que leva à salvação.
Este percurso prevê que atravessemos uma porta. Mas onde está a porta? Como é a porta? Quem é a porta? O próprio Jesus é a porta, como Ele mesmo diz no Evangelho de João: «Eu sou a porta» (Jo 10, 9). Ele guia-nos para a comunhão com o Pai, onde encontramos amor, compreensão e amparo. Mas podemos interrogar-nos por que motivo esta porta é estreita? Por que diz Ele que ela é estreita? Trata-se de uma porta estreita, não porque é opressiva, mas porque exige que limitemos e contenhamos o nosso orgulho e o nosso medo, para nos abrirmos a Ele com coração humilde e confiante, reconhecendo-nos pecadores, necessitados do seu perdão. Por isso é estreita: para conter o nosso orgulho, que nos incha. A porta da misericórdia de Deus é estreita, mas permanece sempre escancarada para todos! Deus não tem preferências, mas acolhe sempre todos, sem distinções. Uma porta estreita para restringir o nosso orgulho e o nosso medo, uma porta aberta de par em par, porque Deus nos recebe sem distinções. E a salvação que Ele nos concede é um fluxo incessante de misericórdia, que derruba qualquer barreira e abre surpreendentes perspetivas de luz e de paz. Porta estreita, mas sempre escancarada: não vos esqueçais disto!
Hoje Jesus dirige-nos, mais uma vez, um convite urgente a ir ao seu encontro, a passar pela porta da vida plena, reconciliada e feliz. Ele espera cada um de nós, independentemente de qualquer pecado que tenhamos cometido, para nos abraçar e para nos conceder o seu perdão. Só Ele pode transformar o nosso coração, somente Ele pode dar sentido pleno à nossa existência, oferecendo-nos a verdadeira alegria. Entrando pela porta de Jesus, pela porta da fé e do Evangelho, podemos sair das atitudes mundanas, dos maus hábitos, dos egoísmos e dos fechamentos. Quando existe o contato com o amor e a misericórdia de Deus, verifica-se a mudança autêntica. E a nossa vida é iluminada pela luz do Espírito Santo: uma luz inextinguível!
Gostaria de vos fazer uma proposta. Pensemos agora, em silêncio por um instante, naquilo que temos dentro de nós e que nos impede de atravessar a porta: o meu orgulho, a minha soberba, os meus pecados. E depois pensemos na outra porta, naquela porta aberta de par em par, da misericórdia de Deus, que do outro lado nos espera para nos conceder o perdão.
O Senhor oferece-nos muitas ocasiões para nos salvar e nos fazer passar pela porta da salvação. Esta porta é uma ocasião que não deve ser desperdiçada: não podemos proferir discursos académicos sobre a salvação, como aquela pessoa que se dirigiu a Jesus, mas devemos aproveitar as ocasiões de salvação. Porque num determinado momento «o Senhor entrará e fechará a porta» (v. 25), como nos recordou o Evangelho. Mas se Deus é bom e nos ama, por que razão numa certa altura fechará a porta? Porque a nossa vida não é um videojogo, nem uma telenovela; a nossa vida é séria, e o objetivo a alcançar é importante: a salvação eterna.
À Virgem Maria, Porta do Céu, peçamos que nos ajude a aproveitar as ocasiões que o Senhor nos oferece para passar pela porta da fé e assim entrar num caminho largo: é a vereda da salvação, capaz de acolher todos aqueles que se deixam envolver pelo amor. É o amor que nos salva, o amor que já na terra constitui a fonte de bem-aventuranças de quantos, na mansidão, na paciência e na justiça, se esquecem de si mesmos e se oferecem aos outros, especialmente aos mais frágeis.


Fonte: Santa Sé

Catequese do Papa: A multiplicação dos pães

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 17 de agosto de 2016
Jubileu (26): A multiplicação dos pães

Bom dia, caros irmãos e irmãs!
Hoje queremos meditar sobre o milagre da multiplicação dos pães. No início da narração feita por Mateus (cf. 14,13-21), Jesus acaba de receber a notícia da morte de João Batista, e de barca atravessa o lago, «para se retirar num lugar deserto» (v. 13). No entanto as pessoas compreendem e precedem-no a pé, de tal modo que, «quando desembarcou, vendo [Jesus] uma grande multidão, encheu-se de compaixão por ela e curou os seus doentes» (v. 14). Jesus era assim: tinha sempre compaixão, pensava sempre nos outros. Impressiona a determinação do povo, que tem medo de ser deixado sozinho, como que abandonado. Depois da morte de João Batista, profeta carismático, confia-se a Jesus, de quem o próprio João tinha dito: «Aquele que virá depois de mim é mais poderoso do que Eu» (Mt 3,11). Assim a multidão segue-o por toda a parte para o ouvir e para lhe levar os enfermos. E ao ver isto, Jesus comove-se. Jesus não é insensível, não tem um coração arrefecido. Jesus é capaz de se comover. Por um lado, Ele sente-se ligado àquela multidão e não quer que ela vá embora; por outro, tem necessidade de momentos de solidão e de oração, com o Pai. Muitas vezes passa a noite em oração com o seu Pai.
Por conseguinte, também naquele dia o Mestre dedicou-se à multidão. A sua compaixão não é um sentimento indefinido; ao contrário, mostra toda a força da sua vontade de estar próximo de nós e de nos salvar. Jesus ama-nos em grande medida e quer permanecer perto de nós.
Ao cair da noite, Jesus preocupa-se em dar de comer a todas aquelas pessoas, cansadas e famintas, e cuida de quantos o seguem. E quer que os seus discípulos se tornem partícipes disto. Com efeito, diz-lhes: «Dai-lhes vós mesmos de comer» (v. 16). E demonstrou-lhes que os poucos pães e peixes que tinham, com a força da fé e da oração, podiam ser compartilhados com toda aquela multidão. Jesus realiza um milagre, o milagre da fé e da oração, suscitado pela compaixão e pelo amor. Assim, Jesus «partiu os pães e deu-os aos seus discípulos, que os distribuíram ao povo» (v. 19). O Senhor vai ao encontro das necessidades dos homens, mas deseja tornar cada um de nós concretamente partícipe da sua compaixão.
Agora, meditemos sobre o gesto de bênção de Jesus: Ele «tomou os cinco pães e os dois peixes e, elevando os olhos ao céu, abençoou-os. Em seguida, partiu os pães e deu-os...» (v. 19). Como se vê, trata-se dos mesmos sinais que Jesus fez durante a última Ceia; e são também os mesmos gestos que cada sacerdote cumpre quando celebra a Sagrada Eucaristia. A comunidade cristã nasce e renasce continuamente desta comunhão eucarística. Por isso, viver a comunhão com Cristo é totalmente oposto ao permanecer passivo e alheio à vida de todos os dias mas, ao contrário, insere-nos cada vez mais no relacionamento com os homens e as mulheres do nosso tempo, para lhes oferecer o sinal concreto da misericórdia e da atenção de Cristo. Enquanto nos alimenta de Cristo, a Eucaristia que celebramos também nos transforma gradualmente em corpo de Cristo e alimento espiritual para os irmãos. Jesus quer alcançar cada um, para levar a todos o amor de Deus. Por isso, faz de cada crente um servidor da misericórdia. Jesus viu a multidão, encheu-se de compaixão por ela e multiplicou os pães; e assim faz a mesma coisa com a Eucaristia. Quanto a nós, crentes, que recebemos este pão eucarístico somos levados por Jesus a oferecer este serviço ao próximo, com a sua própria compaixão. Este é o percurso.
A narração da multiplicação dos pães e dos peixes conclui-se com a constatação de que todos ficaram saciados e com a recolha dos pedaços que sobejaram (cf. v. 20). Quando Jesus, com a sua compaixão e o seu amor nos concede uma graça, perdoa os pecados, abraça-nos e ama-nos, não faz as coisas pela metade, mas completamente. Como aconteceu aqui: todos ficaram saciados. Jesus enche o nosso coração e a nossa vida com o seu amor, o seu perdão, a sua compaixão. Portanto, Jesus permitiu que os seus discípulos cumprissem a sua ordem. Deste modo, eles descobrem o caminho que devem percorrer: dar de comer ao povo e mantê-lo unido; ou seja, permanecer ao serviço da vida e da comunhão. Portanto invoquemos o Senhor, para que torne a sua Igreja sempre capaz deste serviço santo e para que cada um de nós possa ser instrumento de comunhão na própria família, no trabalho, na paróquia e nos grupos de pertença, um sinal visível da misericórdia de Deus que não quer deixar ninguém na solidão e na necessidade, a fim de que desçam a comunhão e a paz entre os homens, e a comunhão dos homens com Deus, porque esta comunhão é vida para todos.


Fonte: Santa Sé

Ângelus: Solenidade da Assunção de Maria 2016

Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria
Papa Francisco
Ângelus
Segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Bom dia, prezados irmãos e irmãs! Feliz festa de Nossa Senhora da Assunção!
A página evangélica da hodierna festa da Assunção de Maria ao Céu descreve o encontro entre Maria e a prima Isabel (Lc 1,39-56), ressaltando que «Maria se pôs a caminho dirigindo-se às pressas para uma região de montanha, a uma cidade de Judá» (v. 39). Naqueles dias, Maria corria rumo a uma pequena aldeia nos arredores de Jerusalém para se encontrar com Isabel. Hoje, ao contrário, contemplamo-la no seu caminho rumo à Jerusalém celeste, para se encontrar finalmente com a face do Pai e para rever o rosto do seu Filho Jesus. Muitas vezes na sua vida terrena Ela tinha percorrido regiões de montanha, até à derradeira e dolorosa etapa do Calvário, associada ao mistério da paixão de Cristo. Hoje a vemos chegar à montanha de Deus, «revestida de sol, com a lua aos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas» (Ap 12,1) - como reza o Livro do Apocalipse - e a vemos ultrapassar o limiar da Pátria celestial.

Ela foi a primeira que acreditou no Filho de Deus, a primeira que subiu ao Céu em alma e corpo. A primeira que recebeu e levou ao colo Jesus, quando Ele era ainda um Menino, a primeira que foi acolhida pelos seus braços para ser introduzida no Reino eterno do Pai. Precisamente porque acolheu e viveu o Evangelho, Maria, uma jovem humilde e simples de um povoado perdido na periferia do império romano, é recebida por Deus para permanecer por toda a eternidade ao lado do trono do Filho. É assim que o Senhor derruba os poderosos dos tronos e eleva os humildes (Lc 1,52).

A Assunção de Maria é um grande mistério que diz respeito a cada um de nós, ao nosso futuro. Com efeito, Maria precede-nos na vereda pela qual se encaminham aqueles que, mediante o Batismo, vincularam a sua vida a Jesus, assim como Maria uniu a Ele a própria vida. A festa de hoje leva-nos a fitar o firmamento, prenuncia «os novos céus e a nova terra», com a vitória de Cristo ressuscitado sobre a morte e a derrota definitiva do maligno. Por conseguinte, a exultação da Menina humilde da Galileia, expressa no cântico do Magnificat, torna-se o canto da humanidade inteira, que se compraz ao ver o Senhor debruçar-se sobre todos os homens e todas as mulheres, criaturas humildes, para as receber junto de si no céu.

O Senhor inclina-se sobre os humildes para os erguer, como proclama o cântico do Magnificat. Este canto de Maria leva-nos também a pensar nas numerosas situações dolorosas da atualidade, em particular nas mulheres esmagadas pelo peso da vida e pelo drama da violência, nas mulheres escravas da prepotência dos poderosos, nas meninas forçadas a trabalhos desumanos, nas mulheres obrigadas a render-se no corpo e no espírito à ganância dos homens. Possa chegar quanto antes para elas o início de uma vida de paz, de justiça e de amor, à espera do dia em que finalmente se sentirão arrebatadas por mãos que não as humilham, mas com ternura as erguem e as conduzem pelo caminho da vida, até ao Céu. Maria, uma Menina, uma Mulher que sofreu muito na sua vida, faz-nos pensar nestas mulheres que hoje sofrem tanto. Peçamos ao Senhor que Ele mesmo as conduza pela mão e que as acompanhe pela senda da vida, libertando-as destas escravidões.

E agora dirijamo-nos com confiança a Maria, dócil Rainha do Céu, pedindo-lhe: «Concede-nos dias de paz, vigia sobre o nosso caminho, faz com que vejamos o teu Filho repleto da alegria do Céu» (Hino das II Vésperas).


Fonte: Santa Sé.

Angelus do Papa: XX Domingo do Tempo Comum

Papa Francisco
Angelus
Praça São Pedro
Domingo, 14 de agosto de 2016

Bom dia, amados irmãos e irmãs!
O Evangelho deste domingo (cf. Lc 12, 49-53) faz parte dos ensinamentos de Jesus, dirigidos aos discípulos ao longo da sua subida rumo a Jerusalém, onde o espera a morte na cruz. Para indicar a finalidade da sua missão, Ele serve-se de três imagens: ofogo, o batismo e a divisão. Hoje desejo falar da primeira imagem: o fogo.
Jesus exprime-a com as seguintes palavras: «Eu vim lançar fogo sobre a terra; e que quero Eu, senão que ele já se tenha ateado?» (v. 49). O fogo de que Jesus fala é a chama do Espírito Santo, presença viva e concreta em nós, a partir do dia do nosso Batismo. Ele - o fogo - é uma força criadora que purifica e renova, queima toda a miséria humana, todo o egoísmo e todo o pecado, transforma-nos a partir de dentro, regenera-nos e torna-nos capazes de amar. Jesus deseja que o Espírito Santo se propague como fogo no nosso coração, porque só começando a partir do coração o incêndio do amor divino poderá difundir-se e fazer progredir o Reino de Deus. Não começa na cabeça, mas no coração. E por isso, Jesus quer que o fogo entre no nosso coração. Se nos abrirmos completamente à ação deste fogo, que é o Espírito Santo, Ele infundir-nos-á a audácia e o fervor para anunciar a todos Jesus e a sua consoladora mensagem de misericórdia e de salvação, navegando em alto mar, sem receio.
No cumprimento da sua missão no mundo, a Igreja - ou seja, todos nós que somos a Igreja - tem necessidade da ajuda do Espírito Santo para não se deter pelo medo nem pelo cálculo, para não se acostumar a caminhar dentro de limites seguros. Estas duas atitudes levam a Igreja a ser uma Igreja funcional, que nunca corre riscos. Ao contrário, a intrepidez apostólica que o Espírito Santo acende em nós como um fogo ajuda-nos a superar os muros e as barreiras, torna-nos criativos e estimula-nos a pôr-nos em movimento para percorrer inclusive caminhos inexplorados ou desalentadores, oferecendo esperança a quantos encontramos. Mediante este fogo do Espírito Santo somos chamados a tornar-nos cada vez mais comunidades de pessoas orientadas e transformadas, cheias de compreensão, pessoas com um coração dilatado e com um semblante jubiloso. Hoje mais do que nunca há necessidade de sacerdotes, de consagrados e de fiéis leigos com o olhar atento do apóstolo, para se comover e para se deter diante das dificuldades e das pobrezas materiais e espirituais, caracterizando assim o caminho da evangelização e da missão com o ritmo purificador da proximidade. É exatamente o fogo do Espírito Santo que nos leva a tornarmo-nos próximos dos outros: das pessoas que sofrem, dos necessitados, de tantas misérias humanas, de tantos problemas, dos refugiados, dos deserdados, daqueles que sofrem. Aquele fogo que deriva do coração. O fogo!
Neste momento, penso também com admiração sobretudo nos numerosos sacerdotes, religiosos e fiéis leigos que, no mundo inteiro, se dedicam ao anúncio do Evangelho com grande amor e fidelidade, não raro até à custa da própria vida. O seu testemunho exemplar recorda-nos que a Igreja não tem necessidade de burocratas, nem de funcionários diligentes, mas de missionários apaixonados, devorados pelo ardor de anunciar a todos a palavra consoladora de Jesus e a sua graça. Este é o fogo do Espírito Santo. Se a Igreja não receber este fogo, ou se não o deixar entrar em si, tornar-se-á uma Igreja arrefecida, ou apenas tíbia, incapaz de dar vida porque feita de cristãos frios e mornos. Hoje, far-nos-á bem pensar cinco minutos e perguntar-nos: «Mas como está o meu coração? É frio, é tíbio? É capaz de receber este fogo?». Pensemos cinco minutos nisto. Fará bem a todos nós.
E peçamos à Virgem Maria que ore connosco e interceda por nós junto do Pai celestial, a fim de que Ele infunda em todos os fiéis o Espírito Santo, o fogo divino que aquece o coração e nos ajuda a ser solidários com as alegrias e os sofrimentos dos nossos irmãos. Que nos ajude no nosso caminho o exemplo de são Maximiliano Kolbe, mártir da caridade, cuja festa se celebra hoje: ele nos ensine a viver o fogo do amor a Deus e ao próximo.


Fonte: Santa Sé

sábado, 20 de agosto de 2016

Homilia: Solenidade da Assunção de Nossa Senhora

São João Damasceno
Homilia III sobre a Dormição da Santíssima Mãe de Deus
Aproxima-te, ó Mãe, de teu Filho

Aproxima-te, ó Mãe, de teu Filho, aproxima-te e participa do poder régio daquele que, nascido de ti, contigo viveu na pobreza! Ascende, ó Soberana, ascende! Já não vale a ordem dada a Moisés: “Sobe e morre...” (Dn 31, 48) Morre, sim, mas eleva-te pela própria morte!
Entrega tua alma às mãos de teu Filho e devolve à terra o que é da terra, pois mesmo isso será carregado por ti.
Erguei vossos olhos, Povo de Deus, alçai vosso olhar! Eis em Sião a arca do Senhor Deus dos exércitos, à qual vieram pessoalmente prestar assistência os apóstolos, tributando seu derradeiro culto ao corpo que foi princípio de vida e receptáculo de Deus. Imaterialmente e invisivelmente os anjos o cercam com respeito, como servidores da Mãe de seu Senhor. O próprio Senhor lá está, onipresente, ele que tudo enche e abraça, que na verdade não está em lugar algum porque nele tudo está como na causa que tudo criou e tudo encerra.
Eis a Virgem, filha de Adão e Mãe de Deus: por causa de Adão entrega seu corpo à terra, mas por causa de seu Filho eleva a alma aos tabernáculos celestes! Santificada seja a Cidade santa, que acolhe mais essa bênção eterna! Que os anjos precedam a passagem da divina morada e preparem seu túmulo, que o fulgor do Espírito a decore! Preparai aromas para embalsamar o corpo imaculado e repleto de delicioso perfume! Desça uma onda pura a fim de haurir a bênção da fonte imaculada da bênção! Alegre-se a terra de receber o corpo e exulte o espaço pela ascensão do espírito! Soprem as brisas, suaves como o orvalho e cheias de graça! Que toda a criação celebre a subida da Mãe de Deus: os grupos de jovens em sua alegria, a boca dos oradores em seus panegíricos, o coração dos sábios em suas dissertações sobre essa maravilha, os velhos de veneráveis cãs em suas contemplações. Que todas as criaturas se associem nessa homenagem, que ainda assim não seria suficiente. Todos, pois, deixemos em espírito este mundo com aquela que dele parte. Sim, todos, pelo fervor do coração, desçamos com a que desce à sepultura e ali nos coloquemos. Cantemos hinos sacros e nossas melodias se inspirem nas palavras: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo!” Permanece na alegria, tu que foste predestinada a ser Mãe de Deus. Permanece na alegria, tu que foste eleita antes dos séculos por um desígnio de Deus, germe divino da terra, habitação do fogo celeste, obra-prima do Espírito Santo, fonte de água viva, paraíso da árvore da vida, ramo vivo que portas o divino fruto, donde fluem o néctar e a ambrosia, rio de aromas do Espírito, terra produtora da divina espiga, rosa resplandecente da virgindade, donde emana o perfume da graça, lírio da veste real, ovelha que geras o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, instrumento de nossa salvação, superior às potências angélicas, serva e Mãe!
Vinde, enfileiremo-nos em torno ao túmulo imaculado para dali sorvermos a divina graça! Vinde, abracemos em espírito o corpo virginal. Entremos no sepulcro e morramos nele, rejeitando as paixões da carne, vivendo uma vida sem concupiscência e sem mácula. Escutemos os hinos divinos, cantados imaterialmente pelos anjos. Entremos para adorar, aprendamos a conhecer o mistério inaudito: como esse corpo foi elevado às alturas, arrebatado ao céu, como a Virgem foi posta junto de seu Filho acima dos coros angélicos, de sorte que nada se interpusesse entre Mãe e Filho.


Fonte: GOMES, Cirilo Folch. Antologia dos Santos Padres. São Paulo: Paulinas, 1979, p. 446-447.

sábado, 13 de agosto de 2016

Homilia: XX Domingo do Tempo Comum - Ano C

Santo Ambrósio
Tratado sobre o Evangelho de São Lucas
O próprio Senhor é esse fogo

Eu vim para pôs fogo na terra, e que devo querer senão que se acenda? Devo receber um batismo, e como me angustio até que isso se cumpra! Nos parágrafos anteriores ele nos expressou seu desejo de ver-nos vigilantes, esperando a qualquer momento a vinda do Senhor da salvação, com medo de que por relaxamento ou negligência, diferindo do trabalho do dia a dia, esse tal, alcançado pela própria morte ou pelo dia do juízo futuro, perca a recompensa de seu esforço.
Ainda que a apresentação geral do preceito vá dirigida a todos, porém, o sentido da comparação seguinte parece estar dirigida aos dispensadores, a saber, os Bispos, pelo qual devem saber que, ao fim da vida, se farão credores de um grande castigo se, preocupados pelos prazeres do século, governam com negligência a casa do Senhor e o povo a eles confiado.
Porém, como o proveito daqueles que são colhidos do erro por temor da punição é mínimo, e escasso também o acúmulo de seus méritos – porque é certamente de muito maior valor a caridade e o amor –, o Senhor aguça o nosso interesse para merecer a sua graça e nos inflama no desejo de possuir a Deus, dizendo-nos: Eu vim para pôr fogo na terra; mas não um fogo que destrói os bens, mas esse que faz germinar a boa vontade e enriquece os vasos de ouro da casa de Deus, destruindo o feno e a palha; esse fogo divino que queima os desejos terrenos, elaborados pelos prazeres mundanos, os quais devem perecer como obra da carne; esse fogo, enfim, o que ardia com força dentro dos ossos dos profetas, como diz esse grande santo que foi Jeremias: O que arde dentro de meus ossos é como um fogo abrasador.
De fato, o fogo do que está escrito: Arderá um fogo diante dele, é o fogo do Senhor. E ainda o próprio Senhor é esse fogo, como ele mesmo disse: Eu sou o fogo que queima e não se consome. Porque o fogo do Senhor é uma luz eterna, e é com este fogo que se acendem essas lâmpadas das quais disse mais acima: Estejam vossos rins cingidos e vossas lâmpadas acesas. E posto que o dia desta vida seja como uma noite, é necessária uma lâmpada. Também Emaús e Cléofas foram testemunhas deste fogo que o Senhor lhes tinha infundido, quando disseram: Não ardiam os nossos corações no caminho enquanto ele nos explicava as Escrituras?
Realmente, eles aprenderam com clareza qual é a ação própria deste fogo, que ilumina o mais íntimo do coração. Por isso, talvez, o Senhor virá ao fim com o sinal de fogo, com objetivo de destruir todos os vícios no momento da ressurreição, encher os desejos de cada qual com sua presença e lançar luz sobre os méritos e sobre os mistérios.
Tanta é a condescendência do Senhor, que testifica ter em seu coração um grande desejo de infundir-nos a devoção, de consumar em nós a perfeição e levar ao fim, em nosso favor, sua paixão. Este Senhor, que nada tinha que devesse estar sujeito á dor, quis angustiar-se por nossos sofrimentos, e no momento da morte se deixou levar por uma tristeza, que não era causada pelo medo a sua própria morte, mas motivada pelo atraso de nossa redenção; e por isso está escrito: E estou angustiado até que se cumpra! O qual nos explica claramente que ele, que se angustia até que se cumpra seu desejo, está seguro de que o realizará.
Mas também disse em outro lugar: Minha alma está triste até a morte. O Senhor não está triste pela morte, mas até a morte, porque o que lhe angustia não é o temor a ela, mas o sentimento de sua condição corporal. Porém, ele que se fez carne, teve também tudo o que era próprio da carne, como o ter fome, sede, angústias, tristeza, ainda que a divindade não conheça alteração por essas impressões. Ao mesmo tempo nos ensinou que, na luta contra a dor, a morte corporal é uma libertação do sofrimento e não uma consequência da dor.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 697-698. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Catequese do Papa: A ressurreição do filho da viúva

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 10 de agosto de 2016
Jubileu (25): A ressurreição do filho da viúva

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O trecho do Evangelho de Lucas que acabamos de ouvir (7,11-17) apresenta-nos um milagre de Jesus deveras grandioso: a ressurreição de um jovem. No entanto, o núcleo desta narração não é o milagre mas a ternura de Jesus para com a mãe deste jovem. Aqui a misericórdia assume o nome de grande compaixão por uma mulher que tinha perdido o marido e que agora leva ao cemitério o seu único filho. Esta grande dor da mãe comove Jesus e provoca o milagre da ressurreição.
Ao introduzir este episódio, o Evangelista hesita sobre muitos pormenores. Na porta da cidade de Naim - uma aldeia - encontram-se dois grupos numerosos que provêm de direções opostas e que nada têm em comum. Jesus, seguido pelos discípulos e por uma multidão prepara-se para entrar no povoado, enquanto sai o triste cortejo que acompanha o defunto, com a mãe viúva e muitas pessoas. Junto da porta os dois grupos cruzam-se cada um indo pela própria estrada, mas é então que são Lucas comenta o sentimento de Jesus: «Vendo-a, o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: Não chores! E aproximando-se, tocou no esquife, e os que o levavam pararam» (vv. 13-14). Grande compaixão guia as ações de Jesus: é Ele que para o cortejo ao tocar o esquife e, movido por profunda misericórdia por esta mãe, decide enfrentar a morte, por assim dizer, cara a cara. E enfrentá-la-á definitivamente, face a face, na Cruz.
Durante este Jubileu, seria bom que, ao atravessar a Porta Santa, a Porta da Misericórdia, os peregrinos se recordassem deste episódio do Evangelho, ocorrido na porta de Naim. Quando Jesus vê esta mãe em lágrimas, ela entrou no seu coração! Cada um chega à Porta Santa trazendo a própria vida, com as suas alegrias e sofrimentos, os projetos e as falências, as dúvidas e os temores, para a apresentar à misericórdia do Senhor. Estamos certos de que, junto da Porta Santa, o Senhor se faz próximo para encontrar cada um de nós, para trazer e oferecer a sua poderosa palavra consoladora: «Não chores!» (v. 13). Esta é a Porta do encontro entre a dor da humanidade e a compaixão de Deus. Atravessando o limiar realizamos a nossa peregrinação dentro da misericórdia de Deus que, como ao jovem morto, repete a todos: «Ordeno-te, levanta-te!» (v. 14). A cada um de nós diz: «Levanta-te». Deus quer-nos em pé. Criou-nos para estar em pé: por isso, a compaixão de Jesus leva àquele gesto da cura, a sarar-nos, do qual a palavra-chave é: «Levanta-te! Põe-te em pé, como Deus te criou!». Em pé. «Mas, padre, caímos tantas vezes» - «Em frente, levanta-te!». Esta é a palavra de Jesus, sempre. Ao atravessar a Porta Santa, procuremos ouvir no nosso coração esta palavra: «Levanta-te!». A palavra poderosa de Jesus pode fazer com que nos levantemos e provocar também em nós a passagem da morte para a vida. A sua palavra faz-nos reviver, doa esperança, encoraja os corações cansados, abre para uma visão de mundo e de vida que vai além do sofrimento e da morte. Na Porta Santa está gravado para cada um o inesgotável tesouro da misericórdia de Deus!
Ao ouvir a palavra de Jesus, «sentou-se o que estivera morto e começou a falar, e Jesus entregou-o à sua mãe» (v. 15). Esta frase é muito bonita: indica a ternura de Jesus: «Entregou-o à sua mãe». A mãe reencontra o filho. Recebendo-o das mãos de Jesus ela torna-se mãe pela segunda vez, mas o filho que agora lhe foi restituído não recebeu a vida dela. Mãe e filho recebem assim a respetiva identidade graças à palavra poderosa de Jesus e ao seu gesto amoroso. Deste modo, especialmente no Jubileu, a mãe Igreja recebe os seus filhos reconhecendo neles a vida doada pela graça de Deus. É em virtude desta graça, a graça do Batismo, que a Igreja se torna mãe e que cada um de nós se tornar seu filho.
Diante do jovem ressuscitado e restituído à mãe, «apoderou-se de todos o temor, e glorificavam a Deus, dizendo: um grande profeta surgiu entre nós: Deus dirigiu o olhar para o seu povo». Por conseguinte, quanto Jesus fez não é uma ação de salvação destinada à viúva e ao seu filho, nem um gesto de bondade limitado àquela cidadezinha. No socorro misericordioso de Jesus, Deus vai ao encontro do seu povo, n’Ele aparece e continuará a aparecer à humanidade toda a graça de Deus. Celebrando este Jubileu, que desejei que fosse vivido em todas as Igrejas particulares, isto é em todas as Igrejas do mundo, e não só em Roma, é como se toda a Igreja espalhada pelo mundo se unisse no único canto de louvor ao Senhor. Também hoje a Igreja reconhece que recebe a visita de Deus. Por isso, encaminhando-se rumo à Porta da Misericórdia, cada um sabe que se encaminha para a porta do coração misericordioso de Jesus: de facto é Ele a verdadeira Porta que leva à salvação e nos restitui a uma vida nova. A misericórdia, quer em Jesus quer em nós, é um caminho que começa do coração para chegar às mãos. O que isto significa? Jesus olha para ti, cura-te com a sua misericórdia, dizendo-te: «Levanta-te!» e o teu coração renova-se. O que significa realizar um caminho a partir do coração até às mãos? Quer dizer que com o coração novo, sarado por Jesus, posso realizar as obras de misericórdia através das mãos, procurando ajudar, curar muitos necessitados. A misericórdia é um caminho que tem início no coração e chega às mãos, isto é, às obras de misericórdia.
Disse que a misericórdia é um caminho que vai do coração às mãos. No coração recebemos a misericórdia de Jesus que nos doa o perdão de tudo, porque Deus perdoa tudo e levanta-nos, dá-nos a vida nova e contagia-nos com a sua compaixão. Do coração perdoado e com a compaixão de Jesus, começa o caminho rumo às mãos, isto é, para as obras de misericórdia. Dizia-me um bispo outro dia que na sua catedral e noutras igrejas fez portas de misericórdia de entrada e de saída. Perguntei o porquê e a resposta foi: «Porque uma porta é para entrar, pedir perdão e obter a misericórdia de Jesus; a outra é a porta da misericórdia em saída, para levar a misericórdia aos outros, com as nossas obras de misericórdia». Como é inteligente este bispo! Também nós façamos o mesmo com o caminho que vai do coração às mãos: entremos na igreja pela porta da misericórdia, a fim de receber o perdão de Jesus, que nos diz «Levanta-te! Vai, vai!»; e com este «vai!» - em pé - saiamos pela porta de saída. É a Igreja em saída: o caminho da misericórdia que vai do coração às mãos. Percorrei este caminho!


Fonte: Santa Sé

Angelus do Papa: XIX Domingo do Tempo Comum

Papa Francisco
Anegelus
Praça São Pedro
Domingo, 7 de agosto de 2016

Bom dia, estimados irmãos e irmãs!
Na página do Evangelho de hoje (cf. Lc 12, 32-48), Jesus fala aos seus discípulos sobre a atitude que devem assumir em vista do encontro final com Ele, explicando que a expetativa de tal encontro deve impelir a uma vida rica de obras boas. Entre outras coisas, diz: «Vendei o que possuís e dai-o de esmola; fazei para vós bolsas que não se gastam, um tesouro inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega e a traça não o destrói» (v. 33). Trata-se de um convite a dar valor à esmola como obra de misericórdia, a não colocar a confiança nos bens efémeros e a utilizar as coisas sem apego nem egoísmo, mas segundo a lógica de Deus, a lógica da atenção ao próximo, a lógica do amor. Nós podemos viver muito apegados ao dinheiro e possuir grandes bens, mas no final não os poderemos levar connosco. Recordai-vos que «o sudário não tem bolsos».
O ensinamento de Jesus continua com três breves parábolas sobre o tema da vigilância. Isto é importante: a vigilância, estar atento, ser vigilante na vida. A primeira é a parábola dos servos que de noite aguardam a volta do seu senhor. «Bem-aventurados os servos aos quais o senhor encontrar vigiando, quando vier!» (v. 37): é a bem-aventurança de esperar o Senhor com fé, permanecendo pronto, em atitude de serviço. Ele faz-se presente cada dia, bate à porta do nosso coração. E bem-aventurado será aquele que lhe abrir a porta, porque receberá uma grande recompensa: com efeito, o próprio Senhor será o Servo dos seus servos - é uma bonita recompensa! - e no grandioso banquete do seu Reino Ele mesmo passará a servi-los. Mediante esta parábola, ambientada de noite, Jesus apresenta a vida como uma vigília de espera ativa, um prelúdio ao dia resplandecente da eternidade. Para podermos aceder a ela é preciso que estejamos prontos, acordados e comprometidos no serviço ao próximo, na consoladora perspetiva de que no «além” já não seremos nós que serviremos a Deus, mas será Ele mesmo que nos acolherá à sua mesa. Pensando bem, isto já acontece hoje, cada vez que encontramos o Senhor na oração, ou então quando servimos os pobres, mas sobretudo na Eucaristia, onde Ele prepara um banquete para nos alimentar com a sua Palavra e com o seu Corpo.
A segunda parábola tem como imagem a vinda imprevisível do ladrão. Isto exige a vigilância; com efeito, Jesus exorta: «Estai, pois, preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do Homem» (v. 40). O discípulo é aquele que espera o Senhor e o seu Reino. O Evangelho esclarece esta perspetiva com a terceira parábola: o administrador de uma casa, depois da partida do patrão. No primeiro caso, o administrador cumpre fielmente os seus deveres e recebe a recompensa. No segundo caso, o administrador abusa da sua autoridade e bate nos seus servos; por isso, quando o patrão voltar repentinamente, será punido. Esta cena descreve uma situação frequente inclusive nos dias de hoje: muitas injustiças, violências e maldades quotidianas brotam da ideia de nos comportarmos como senhores da vida dos outros. Nós temos um único Senhor, que não gosta de ser chamado «patrão», mas sim «Pai». Todos nós somos servos, pecadores e filhos: Ele é o único Pai.
Hoje Jesus recorda-nos que a expetativa da bem-aventurança eterna não nos dispensa do compromisso de tornar o mundo mais justo e mais habitável. Aliás, é exatamente esta nossa esperança de possuir o Reino na eternidade que nos impele a agir para melhorar as condições da vida terrena, de maneira especial dos irmãos mais frágeis. A Virgem Maria nos ajude a ser pessoas e comunidades não niveladas no presente ou, pior, nostálgicas do passado, mas orientadas para o futuro de Deus, para o encontro com Ele, nossa vida e nossa esperança.


Fonte: Santa Sé

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Fotos da visita do Papa à Porciúncula de Assis

No último dia 04 de agosto o Papa Francisco visitou a Porciúncula, a pequena igreja restaurada por São Francisco, que atualmente encontra-se dentro da Basílica de Santa Maria dos Anjos em Assis.

O Santo Padre, após rezar dentro da Porciúncula, fez uma meditação sobre o perdão e em seguida confessou algumas pessoas.

Chegada do Santo Padre
Oração na Porciúncula

Sinal da cruz
Meditação do Santo Padre

Meditação do Papa na Porciúncula de Assis

Visita à Basílica de Santa Maria dos Anjos
por ocasião dos 800 anos da Festa do Perdão de Assis
Meditação do Santo Padre
Basílica de Santa Maria dos Anjos - Assis
Quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Gostava hoje de começar, queridos irmãos e irmãs, por lembrar as palavras que, segundo uma antiga tradição, São Francisco pronunciou aqui mesmo, perante todo o povo e os bispos: «Quero mandar-vos todos para o paraíso». Que poderia o Pobrezinho de Assis pedir de mais belo do que o dom da salvação, da vida eterna com Deus e da alegria sem fim, que Jesus nos conquistou com a sua morte e ressurreição?
Aliás, que é o paraíso senão o mistério de amor que nos liga para sempre a Deus numa contemplação sem fim? Desde sempre a Igreja professa esta fé ao afirmar que acredita na comunhão dos santos. Na vivência da fé, nunca estamos sozinhos; fazem-nos companhia os Santos e os Beatos – também os nossos entes queridos – que viveram com simplicidade e alegria a fé e a testemunharam na sua vida. Há um vínculo invisível – mas não por isso menos real – que, em virtude do único Batismo recebido, faz de nós «um só corpo» animados por «um só Espírito» (cf. Ef 4, 4). São Francisco, ao pedir ao Papa Honório III o dom da indulgência para quantos viessem à Porciúncula, talvez tivesse em mente estas palavras de Jesus aos seus discípulos: «Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, como teria dito Eu que vos vou preparar um lugar? E quando Eu tiver ido e vos tiver preparado lugar, virei novamente e hei-de levar-vos para junto de mim, a fim de que, onde Eu estou, vós estejais também» (Jo 14, 2-3).
A via mestra a seguir para alcançar o tal lugar no Paraíso é, sem dúvida, a estrada do perdão. É difícil perdoar… Quanto nos custa perdoar aos outros! Pensemos um pouco nisto. E aqui, na Porciúncula, tudo fala de perdão. Que grande prenda nos deu o Senhor ao ensinar-nos a perdoar – ou, pelo menos, a ter o desejo de perdoar –, para tocar quase sensivelmente a misericórdia do Pai! Ouvimos a parábola com que Jesus nos ensina a perdoar (cf. Mt 18, 21-35). Porque deveremos perdoar a uma pessoa que nos fez mal? Porque antes fomos perdoados nós mesmos… e infinitamente mais. Não há ninguém aqui, entre nós, que não tenha sido perdoado. Cada um pense… pensemos em silêncio quantas coisas más fizemos e como o Senhor nos perdoou. É isto mesmo que nos diz a parábola: tal como Deus nos perdoa a nós, assim também devemos perdoar a quem nos faz mal. É a carícia do perdão, o coração que perdoa. O coração que perdoa acaricia. Como estamos longe daquele gesto: «Hás de pagar-mas!». O perdão é outra coisa! Precisamente como dizemos na oração que Jesus nos ensinou, o Pai Nosso: «Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido» (Mt 6, 12). As ofensas são os nossos pecados diante de Deus, e, àqueles que nos ofenderam, também nós devemos perdoar.
Cada um de nós poderia ser aquele servo da parábola que tem uma dívida para pagar, mas tão grande, tão grande que nunca conseguiria satisfazê-la. Também nós, quando nos ajoelhamos aos pés do sacerdote no confessionário, estamos simplesmente a repetir o mesmo gesto daquele servo. Dizemos: «Senhor, tem paciência comigo!» Já alguma vez pensastes na paciência de Deus? Tem tanta paciência. Na realidade, sabemos bem que estamos cheios de defeitos e muitas vezes recaímos nos mesmos pecados. E todavia Deus não se cansa de nos oferecer o seu perdão, sempre que Lho pedimos. É um perdão completo, total, dando-nos a certeza de que, não obstante podermos voltar a cair nos mesmos pecados, Ele tem piedade de nós e não cessa jamais de nos amar. Como o senhor da parábola, Deus compadece-Se, isto é, experimenta um sentimento de piedade combinada com ternura: é uma expressão para indicar a sua misericórdia para connosco. Com efeito, o nosso Pai sempre Se compadece, quando estamos arrependidos e manda-nos voltar para casa de coração tranquilo e sereno dizendo que todas as coisas nos foram remidas e nos perdoou tudo. O perdão de Deus não tem limites; ultrapassa toda a nossa imaginação e alcança toda e qualquer pessoa que, no íntimo do coração, reconheça ter errado e queira voltar para Ele. Deus vê o coração que pede para ser perdoado.
O problema surge, infelizmente, quando nos encontramos com um irmão que nos fez um pequeno agravo. A reação que ouvimos na parábola é muito expressiva: «Segurando-o, apertou-lhe o pescoço e sufocava-o, dizendo: “Paga o que me deves!”» (Mt 18, 28). Nesta cena, temos todo o drama das nossas relações humanas: quando estamos em dívida com os outros, pretendemos misericórdia; mas, quando são os outros em dívida connosco, invocamos justiça. E todos fazemos assim, todos. Esta não é a reação do discípulo de Cristo, nem pode ser este o estilo de vida dos cristãos. Jesus ensina-nos a perdoar, e a fazê-lo sem limites: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete» (v. 22). Em resumo, aquilo que nos propõe é o amor do Pai, não a nossa pretensão de justiça. Na verdade, deter-se nesta, não nos faria reconhecer como discípulos de Cristo, que obtiveram misericórdia ao pé da Cruz apenas em virtude do amor do Filho de Deus. Não esqueçamos, pois, as palavras severas com que termina a parábola: «Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração» (v. 35).
Queridos irmãos e irmãs, o perdão, de que São Francisco se fez «canal» aqui na Porciúncula, continua ainda a «gerar paraíso» depois de oito séculos. Neste Ano Santo da Misericórdia, torna-se ainda mais evidente como a estrada do perdão pode, verdadeiramente, renovar a Igreja e o mundo. Oferecer o testemunho da misericórdia, no mundo atual, é uma tarefa a que nenhum de nós pode subtrair-se. Repito: oferecer o testemunho da misericórdia, no mundo atual, é uma tarefa a que nenhum de nós pode subtrair-se. O mundo tem necessidade de perdão; demasiadas pessoas vivem fechadas no rancor e incubam ódio, porque incapazes de perdão, arruinando a vida própria e a dos outros, em vez de encontrar a alegria da serenidade e da paz. Peçamos a São Francisco que interceda por nós, para que nunca renunciemos a ser sinais humildes de perdão e instrumentos de misericórdia.
Podemos rezar sobre isto. Cada qual como o sentir. Convido os frades, os bispos a irem para os confessionários – eu também vou – para estar à disposição do perdão. Far-nos-á bem recebê-lo hoje, aqui, todos juntos. Que o Senhor nos dê a graça de dizer aquela palavra que o Pai não nos deixa acabar… aquela que disse o filho pródigo «Pai, pequei contra…» e [o Pai] tapou-lhe a boca, abraçou-o. Nós começamos a falar, e Ele tapar-nos-á a boca e nos revestirá… «Mas, padre, tenho medo de fazer o mesmo amanhã!» E volta… O Pai olha sempre a estrada, olha à espera que volte o filho pródigo. E todos nós o somos. Que o Senhor nos dê esta graça.


Fonte: Santa Sé

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Homilia: XIX Domingo do Tempo Comum - Ano C

Santo Ambrósio
Comentário sobre o Salmo 118
Que a Palavra de Deus seja lâmpada para os meus passos

Seja a fé precursora de teu caminho, seja a Escritura divina o teu caminho. Boa é a celestial guia da Palavra. Acende a tua candeia nesta lâmpada, para que refulja teu olho interior, que é a lâmpada de teu corpo. Tu tens abundância de lâmpadas: acende-as todas, porque te foi dito: tenham a cintura cingida e as lâmpadas acesas.
Onde a obscuridade é muito densa, se necessitam muitas lâmpadas, para que em meio de tão profundas trevas brilhe a luz de nossos méritos. Estas são as lâmpadas que a lei dispôs que ardessem continuamente na tenda do encontro. Na realidade, a tenda de encontro é este nosso corpo, no qual veio Cristo através de um templo maior e mais perfeito, como está escrito, para entrar no santuário por seu próprio sangue e purificar nossa consciência da mancha e das obras mortas; deste modo, em nossos corpos, que mediante o testemunho e qualidade de seus atos manifestam o oculto e secreto de nossos pensamentos, brilhará, quais outras lâmpadas, a clara luz de nossas virtudes. Estas são as lâmpadas acesas, que dia e noite brilham no templo de Deus. Se conservas em teu corpo o templo de Deus, se teus membros são membros de Cristo, luzirão tuas virtudes, que ninguém conseguirá apagar, a menos que teu próprio pecado as apague. Resplandeça a solenidade de nossas festas com esta luz de espírito puro e afetos sinceros.
Portanto, brilhe sempre a tua lâmpada. Cristo repreende inclusive aos que, servindo-se da lâmpada, nem sempre a utilizam, dizendo: Tende a cintura cingida e as lâmpadas acesas. Não nos alegremos eventualmente da luz. Alegra-se eventualmente aquele que na Igreja escutou a Palavra e se regozija; porém, ao sair dela, esquece-se do que ouviu e não se preocupa mais. Este é o que perambula por sua casa sem lâmpada; e, em consequência, caminha em trevas, aquele que se ocupa de atividades próprias das trevas, vestido das vestes do diabo e não de Cristo. Isto acontece cada vez que não reluz a lâmpada da Palavra. Portanto, não descuidemos jamais da Palavra de Deus, que é para nós origem de toda virtude e certa potenciação de todas as nossas obras.
Se os membros de nosso corpo não podem agir corretamente sem luz - pois sem luz os pés vacilam e as mãos erram –, com quanta maior razão não irão referir-se à luz da Palavra os passos de nossa alma e as operações de nosso espírito? Pois também existem algumas mãos da alma, que tocam acertadamente – assim como Tomé tocou os sinais da Ressurreição do Senhor –, se nos ilumina a luz da Palavra presente. Que esta lâmpada permaneça acesa em toda palavra e em toda obra. Que todos os nossos passos, externos e internos, movam-se para a luz desta lâmpada.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 692-693. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Columbano para este domingo clicando aqui.

Catequese do Papa: A viagem à Polônia

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 3 de agosto de 2016
Viagem à Polônia

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de refletir brevemente sobre a Viagem Apostólica que realizei recentemente à Polônia.
A ocasião da visita foi a Jornada Mundial da Juventude, 25 anos depois daquela histórica celebrada em Częstochowa após a queda da «cortina de ferro». Nestes 25 anos a Polônia mudou, a Europa mudou e também o mundo mudou, e esta JMJ tornou-se um sinal profético para a Polônia, a Europa e o mundo. A nova geração de jovens, herdeiros e continuadores da peregrinação iniciada por são João Paulo II, ofereceram a resposta ao desafio de hoje, deram um sinal de esperança e este sinal chama-se fraternidade. Porque, precisamente neste mundo de guerra, são necessários fraternidade, proximidade, diálogo e amizade. E este é o sinal da esperança: quando existe fraternidade.
Iniciemos precisamente dos jovens, que foram o primeiro motivo desta Viagem. Mais uma vez responderam ao chamado: provenientes de todo o mundo - alguns deles ainda estão aqui! [indicou os peregrinos na Sala] - uma festa de cor, de rostos diversos, de línguas, de histórias diferentes. Não sei como fazeis: falais línguas diferentes mas conseguis compreender-vos! E porquê? Porque sentem a mesma vontade de caminhar juntos, de construir pontes de fraternidade. Trouxeram inclusive as suas feridas, com as suas dúvidas, mas sobretudo com a alegria de se encontrar; e mais uma vez formaram um mosaico de fraternidade. Podemos falar de um mosaico de fraternidade. Uma imagem emblemática das Jornadas mundiais da juventude é a extensão multicor de bandeiras que tremulam: com efeito, na JMJ, as bandeiras das nações ficam ainda mais bonitas, por assim dizer «purificam-se», e até as bandeiras de nações em conflito entre si tremulam uma ao lado da outra. Isto é lindo! Também aqui há bandeiras... mostrai-as!
Deste modo, no seu grande encontro jubilar, os jovens do mundo acolheram a mensagem da Misericórdia para a levar a toda parte em obras espirituais e corporais. Agradeço a todos os jovens que foram a Cracóvia! Agradeço também aos que se uniram a nós de todas as partes da Terra! Porque em muitos países se realizaram pequenas JMJ em ligação com Cracóvia. O dom que recebestes se torne resposta diária à chamada do Senhor. Dirijo uma recordação cheia de afeto a Susanna, a jovem romana que faleceu imediatamente depois de ter participado na JMJ, em Viena. O Senhor, que certamente a recebeu no Céu, conforte os seus familiares e amigos.
Nesta Viagem visitei o Santuário de Częstochowa. Diante da imagem de Nossa Senhora, recebi o dom do olhar da Mãe, que de maneira particular é Mãe do povo polaco, daquela nobre nação que tanto sofreu e, com a força da fé e da sua mão materna, sempre se levantou. Acabei de cumprimentar alguns polacos aqui. Sois muito bons! Lá, sob aquele olhar, compreende-se o sentido espiritual do caminho deste povo, cuja história está ligada de modo inseparável à Cruz de Cristo. Lá sente-se a fé do santo povo fiel de Deus, que conserva a esperança através das provações; e preserva também aquela sabedoria que é equilíbrio entre tradição e inovação, entre memória e futuro. E hoje a Polônia recorda a toda a Europa que não pode existir um futuro para o continente sem os seus valores fundantes, os quais por sua vez põem no centro a visão cristã do homem. Entre tais valores está a misericórdia, da qual foram apóstolos especiais dois grandes filhos da terra polaca: santa Faustina Kowalska e são João Paulo II.
Por fim, esta viagem teve o horizonte do mundo, um mundo chamado a responder ao desafio de uma guerra «aos pedaços» que o está a ameaçar. O grande silêncio da visita a Auschwitz-Birkenau foi mais eloquente do que qualquer palavra. Naquele silêncio ouvi, senti a presença de todas as almas que por lá passaram; senti a compaixão, a misericórdia de Deus, que algumas almas santas souberam levar até àquele abismo. Naquele grande silêncio rezei por todas as vítimas da violência e da guerra. Naquele lugar compreendi mais do que nunca o valor da memória, não só como lembrança de eventos passados, mas como advertência e responsabilidade para o hoje e o amanhã, a fim de que a semente do ódio e da violência não brote nos sulcos da história. E nesta memória das guerras e das muitas feridas, de tantos sofrimentos vividos, há muitos homens e mulheres de hoje que sofrem as guerras, tantos nossos irmãos e irmãs. Observando tal crueldade no campo de concentração, pensei nas crueldades de hoje, que são semelhantes: não tão concentradas como ali, mas em todo o mundo; este mundo que está doente de crueldade, de sofrimento, de guerra, de ódio, de tristeza. É por isso que sempre vos peço a oração: que o Senhor nos dê a paz!
Por tudo isto, agradeço ao Senhor e à Virgem Maria. Exprimo novamente a minha gratidão ao Presidente da Polônia e às demais Autoridades, ao Cardeal Arcebispo de Cracóvia e a todo o Episcopado polaco, a todos os que, de mil modos, tornaram possível este evento que ofereceu um sinal de fraternidade e paz à Polônia, à Europa e ao mundo. Gostaria de agradecer também aos jovens voluntários, que durante mais de um ano trabalharam a fim de preparar este evento; e também aos que trabalham nos meios de comunicação: obrigado por terdes feito com que esta Jornada fosse vista em todo o mundo. E não me posso esquecer da Anna Maria Jacobini, uma jornalista italiana que perdeu a vida lá. De repente. Rezemos por ela, que faleceu quando desempenhava o seu serviço. Obrigado!


Fonte: Santa Sé