quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Homilia: Solenidade da Santa Mãe de Deus

Santo Efrém
Hino “Mãe Admirável”

A Virgem me convida a cantar o mistério que eu contemplo com admiração. Filho de Deus, dai-me teu dom admirável, faz que vibre minha lira, e que consiga detalhar a imagem admiravelmente bela da Mãe muito amada.
A Virgem Maria dá ao mundo seu Filho permanecendo Virgem, amamenta ao que alimenta às nações, e em seu casto seio sustenta aquele que mantém o universo. Ela é Virgem e é Mãe: acaso não é?
Santa de corpo, completamente bela de alma, pura de espírito, sincera de entendimento, perfeita de sentimentos, casta, fiel, pura de coração, leal e portadora de todas as virtudes.
Que em Maria se alegre toda a linhagem das virgens, pois uma dentre elas deu à luz ao que sustenta toda a criação, ao que libertou ao gênero humano que gemia sob a escravidão.
Que em Maria se alegre o antigo Adão, ferido pela serpente. Maria dá a Adão uma descendência que lhe permite esmagar a serpente maldita, e lhe cura de sua chaga mortal.
Que os sacerdotes se alegrem na Virgem bendita. Ela deu ao mundo o Sacerdote Eterno que é ao mesmo tempo Vítima. Ele pôs fim aos primitivos sacrifícios, tornando-se a Vítima que pacifica ao Pai.
Que em Maria se alegrem todos os profetas. Nela se cumpriram suas visões, se realizaram suas profecias, se confirmaram seus oráculos.
Que em Maria rejubilem todos os patriarcas. Assim como ela recebeu a bênção que lhes foi prometida, assim também ela os torna perfeitos em seu Filho. Por ele os profetas, justos e sacerdotes se encontram purificados.
Em lugar do fruto amargo colhido por Eva da árvore mortal, Maria deu aos homens um fruto pleno de doçura. E eis que o mundo inteiro se deleita pelo fruto de Maria.
A árvore da vida, oculta no meio do paraíso brotou em Maria, e estendeu sua sombra sobre o universo, e derramou os seus frutos, tanto sobre os povos mais longínquos como sobre os mais próximos.
Maria teceu um vestido de glória, e o deu a nosso primeiro pai. Ele havia ocultado sua nudez entre as árvores, mas agora é ungido de pudor, de virtude e de beleza. Ao que sua esposa havia derrubado, sua Filha lhe ergue; sustentado por ela, levanta-se como um herói.
Eva e a serpente haviam preparado uma cilada, e Adão nela havia caído; Maria e seu Filho régio se inclinaram e lhe ergueram do abismo.
A videira virginal deu um cacho, cujo suave jugo devolve a alegria aos aflitos. Eva e Adão em sua angústia degustaram o vinho da vida, e encontraram completo consolo.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 549-550. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Cirilo de Alexandria para esta solenidade clicando aqui.

Angelus do Papa na Festa da Sagrada Família

Festa da Sagrada Família de Nazaré
Papa Francisco
Angelus
Praça São Pedro
Domingo, 27 de Dezembro de 2015

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Estes jovens cantam muito bem. Parabéns!
No clima de alegria que é próprio do Natal, celebramos neste domingo a festa da Sagrada Família. Lembro-me do grande encontro de Filadélfia, no passado mês de Setembro; das numerosas famílias encontradas durante as viagens apostólicas; e daquelas do mundo inteiro. Gostaria de as saudar com afecto e gratidão, especialmente neste nosso tempo, no qual a família está sujeita a incompreensões e dificuldades de vários tipos que a enfraquecem.
O Evangelho de hoje convida as famílias a descobrir a luz de esperança que provém da casa de Nazaré, na qual se desenvolveu com alegria a infância de Jesus, o qual - diz são Lucas - «crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens» (2, 52). O núcleo familiar de Jesus, Maria e José é para cada crente, especialmente para as famílias, uma autêntica escola do Evangelho. Aqui admiramos o cumprimento do desígnio divino de tornar a família uma especial comunidade de vida e de amor. Aqui aprendemos que cada núcleo familiar cristão é chamado a ser «igreja doméstica», para fazer resplandecer as virtudes evangélicas e tornar-se fermento de bem na sociedade. Os traços típicos da Sagrada Família são: recolhimento e oração, compreensão mútua e respeito, espírito de sacrifício, trabalho e solidariedade.
Do exemplo e do testemunho da Sagrada Família, cada família pode obter indicações preciosas para o estilo e as escolhas de vida, e pode haurir força e sabedoria para o caminho de cada dia. Nossa Senhora e são José ensinam a acolher os filhos como dons de Deus, a gerá-los e educá-los cooperando de forma maravilhosa na obra do Criador e doando ao mundo, em cada criança, um novo sorriso. É na família unida que os filhos levam a sua existência ao amadurecimento, vivendo a experiência significativa e eficaz do amor gratuito, da ternura, do respeito recíproco, da compreensão mútua, do perdão e da alegria.
Gostaria de meditar sobretudo acerca da alegria. A verdadeira alegria que se experimenta na família não é algo casual nem fortuito. É uma alegria fruto da harmonia profunda entre as pessoas, que faz apreciar a beleza de estar juntos, de nos apoiarmos reciprocamente no caminho da vida. Mas na base da alegria há sempre a esperança de Deus, o seu amor acolhedor, misericordioso e paciente para com todos. Se não abrirmos a porta da família à presença de Deus e ao seu amor, a família perde a harmonia, prevalecem os individualismos e apaga-se a alegria. Ao contrário, a família que vive a alegria, a alegria da vida, a alegria da fé, comunicando-a espontaneamente, é sal da terra e luz do mundo, é fermento para toda a sociedade.
Jesus, Maria e José abençoem e protejam todas as famílias do mundo, para que nelas reinem a serenidade e a alegria, a justiça e a paz, que Cristo nascendo trouxe como dom à humanidade.


Fonte: Santa Sé

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Fotos da Missa do Jubileu das Famílias

No último dia 27 de dezembro o Papa Francisco celebrou na Basílica de São Pedro a Santa Missa da Festa da Sagrada Família, por ocasião do Jubileu das Famílias no Ano da Misericórdia.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Marco Agostini. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Veneração da imagem do Menino Jesus

Incensação


Homilia do Papa no Jubileu das Famílias

Santa Missa para as Famílias
Homilia do Papa Francisco
Basílica Vaticana
Domingo, 27 de Dezembro de 2015
Sagrada Família de Jesus, Maria e José

As leituras bíblicas, que acabámos de ouvir, apresentam-nos a imagem de duas famílias que realizam a sua peregrinação à casa de Deus. Elcana e Ana levam o filho Samuel ao templo de Silo e consagram-no ao Senhor (cf. 1 Sm 1, 20-22.24-28). E da mesma forma José e Maria, juntamente com Jesus, vão como peregrinos a Jerusalém pela festa da Páscoa (cf. Lc 2, 41-52).
Muitas vezes os nossos olhos deparam com os peregrinos que vão a santuários e lugares queridos da devoção popular. Mesmo nestes dias, há muitos que se puseram a caminho para penetrar na Porta Santa aberta em todas as catedrais do mundo e também em muitos santuários. Mas o facto mais interessante posto em evidência pela Palavra de Deus é a peregrinação ser feita pela família inteira: pai, mãe e filhos vão, todos juntos, à casa do Senhor a fim de santificar a festa pela oração. É uma lição importante oferecida também às nossas famílias. Mais, podemos dizer que a vida da família é um conjunto de pequenas e grandes peregrinações.
Por exemplo, como nos faz bem pensar que Maria e José ensinaram Jesus a rezar as orações! E isto é uma peregrinação, a peregrinação da educação para a oração. E também nos faz bem saber que, durante o dia, rezavam juntos; depois, ao sábado, iam juntos à sinagoga ouvir as Sagradas Escrituras da Lei e dos Profetas e louvar o Senhor com todo o povo! E que certamente rezaram, durante a peregrinação para Jerusalém, cantando estas palavras do Salmo: «Que alegria, quando me disseram: “Vamos para a casa do Senhor!” Os nossos passos detêm-se às tuas portas, ó Jerusalém» (122/121, 1-2)!
Como é importante, para as nossas famílias, caminhar juntos e ter a mesma meta em vista! Sabemos que temos um percurso comum a realizar; uma estrada, onde encontramos dificuldades, mas também momentos de alegria e consolação. Nesta peregrinação da vida, partilhamos também os momentos da oração. Que poderá haver de mais belo, para um pai e uma mãe, do que abençoar os seus filhos ao início do dia e na sua conclusão? Fazer na sua fronte o sinal da cruz, como no dia do Baptismo? Não será esta, porventura, a oração mais simples que os pais fazem pelos seus filhos? Abençoá-los, isto é, confiá-los ao Senhor, como fizeram Elcana e Ana, José e Maria, para que seja Ele a sua protecção e amparo nos vários momentos do dia? Como é importante, para a família, encontrar-se também para um breve momento de oração antes de tomar as refeições juntos, a fim de agradecer ao Senhor por estes dons e aprender a partilhar o que se recebeu com quem está mais necessitado. Trata-se sempre de pequenos gestos, mas expressam o grande papel formativo que a família possui na peregrinação de todos os dias.
No final daquela peregrinação, Jesus voltou para Nazaré e era submisso a seus pais (cf. Lc 2, 51). Também esta imagem contém um ensinamento estupendo para as nossas famílias; é que a peregrinação não termina quando se alcança a meta do santuário, mas quando se volta para casa e se retoma a vida de todos os dias, fazendo valer os frutos espirituais da experiência vivida. Sabemos o que Jesus então fizera: em vez de voltar para casa com os seus, ficou em Jerusalém no Templo, causando uma grande aflição a Maria e a José que não O encontravam. Provavelmente, por esta sua «escapadela», também Jesus teve que pedir desculpa a seus pais (o Evangelho não diz, mas acho que podemos supô-lo). Aliás, na pergunta de Maria, subjaz de certo modo uma repreensão, ressaltando a preocupação e angústia dela e de José. No regresso a casa, com certeza Jesus uniu-se estreitamente a eles, para lhes demonstrar toda a sua afeição e obediência. Fazem parte da peregrinação da família também estes momentos que, com o Senhor, se transformam em oportunidades de crescimento, em ocasiões de pedir e receber o perdão, de demonstrar amor e obediência.
No Ano da Misericórdia, possa cada família cristã tornar-se um lugar privilegiado desta peregrinação em que se experimenta a alegria do perdão. O perdão é a essência do amor, que sabe compreender o erro e pôr-lhe remédio. Ai de nós se Deus não nos perdoasse! É no seio da família que as pessoas são educadas para o perdão, porque se tem a certeza de ser compreendidas e amparadas, não obstante os erros que se possam cometer.
Não percamos a confiança na família! É bom abrir sempre o coração uns aos outros, sem nada esconder. Onde há amor, também há compreensão e perdão. A vós todas, queridas famílias, confio esta peregrinação doméstica de todos os dias, esta missão tão importante de que, hoje, o mundo e a Igreja têm mais necessidade do que nunca.


Fonte: Santa Sé

Ângelus: Festa de Santo Estêvão (2015)

Festa de Santo Estêvão, Protomártir
Papa Francisco
Ângelus
Sábado, 26 de dezembro de 2015

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje celebramos a Festa de Santo Estêvão. A recordação do primeiro mártir segue-se imediatamente à solenidade do Natal. Ontem pudemos contemplar o amor misericordioso de Deus, que se fez carne por nós; hoje vemos a resposta coerente do discípulo de Jesus, que dá a própria vida. Ontem nasceu na terra o Salvador; hoje nasce no céu a sua testemunha fiel. Tanto ontem como hoje, manifestam-se as trevas da rejeição da vida, mas resplandece ainda mais vigorosamente a luz do amor, que vence o ódio e inaugura um mundo novo.

A hodierna narração dos Atos dos Apóstolos contém um aspecto particular, que aproxima Santo Estêvão ao Senhor. Trata-se do seu perdão antes de morrer lapidado. Pregado na Cruz, Jesus tinha dito: «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem» (Lc 23,34); de maneira semelhante, Estêvão «posto de joelhos, exclamou em alta voz: “Senhor, não tenhais em conta este seu pecado”» (At 7,60). Por conseguinte, Estêvão é mártir, que significa testemunha, porque faz como Jesus; com efeito, é uma verdadeira testemunha que se comporta como Ele: quem reza, quem ama, quem doa, mas acima de tudo quem perdoa, porque o perdão, como evoca a própria palavra, é a expressão mais elevada do dom.

Mas - poderíamos nos perguntar - para que serve perdoar? É somente uma boa ação, ou produz algum resultado? Encontramos uma resposta precisamente no martírio de Estêvão. Entre aqueles para os quais ele implorou o perdão havia um jovem chamado Saulo, que perseguia a Igreja e procurava destruí-la (At 8,3). Pouco tempo depois, Saulo tornou-se Paulo, o grande santo, o apóstolo dos gentios. Tinha recebido o perdão de Estêvão. Podemos afirmar que Paulo nasce da graça de Deus e do perdão de Estêvão.

Também nós nascemos do perdão de Deus. Não apenas no Batismo, mas cada vez que somos perdoados o nosso coração volta a nascer, é regenerado. Cada passo em frente na vida de fé traz gravado no início o sinal da misericórdia divina. Porque só quando somos amados podemos, também nós, amar. Recordemo-lo, porque isto nos fará bem: se quisermos progredir na fé, antes de tudo é necessário receber o perdão de Deus; encontrar o Pai, que está pronto para perdoar tudo e sempre, e que precisamente perdoando purifica o coração e reaviva o amor. Nunca podemos cansar-nos de pedir o perdão divino, porque somente quando somos perdoados, quando nos sentimos perdoados, aprendemos a perdoar.

No entanto, perdoar não é algo fácil, é sempre muito difícil! Como podemos imitar Jesus? Por onde devemos começar, para perdoar as pequenas ou grandes injustiças que padecemos todos os dias? Antes de tudo pela oração, como fez Estêvão. Começa-se pelo próprio coração: é mediante a oração que conseguimos enfrentar o ressentimento que sentimos, confiando à misericórdia de Deus aquele que nos fez algum mal: «Senhor, peço-vos por ele, peço-vos por ela!». Sucessivamente, descobrimos que esta luta interior para perdoar purifica do mal e que a oração e o amor nos libertam das correntes interiores do rancor. É muito feio viver no rancor! Todos os dias nós temos a ocasião para nos formar no perdão, para viver este gesto tão excelso que aproxima o homem a Deus. À maneira do nosso Pai celestial, também nós nos tornamos misericordiosos, porque através do perdão vencemos o mal com o bem, transformamos o ódio em amor e tornamos o mundo mais puro.

A Virgem Maria, a quem confiamos aqueles - e, infelizmente, são deveras numerosos - que, como santo Estêvão, padecem perseguições em nome da fé, os nossos inúmeros mártires de hoje, oriente a nossa oração para receber e conceder o perdão. Receber e conceder o perdão!


Fonte: Santa Sé.

sábado, 26 de dezembro de 2015

Homilia: Festa da Sagrada Família - Ano C

Orígenes
Sermão XVIII sobre o Evangelho de Lucas
Angustiados buscamos a Jesus

Quando Jesus completou doze anos, ele permaneceu em Jerusalém. Seus pais, que não o sabiam, o buscam solicitamente e não o encontram. O buscam entre os parentes, na caravana, e entre os conhecidos: e entre eles não o localizam. Jesus é, pois, buscado por seus pais: pelo pai que o tinha alimentado e acompanhado ao descer para o Egito. E, entretanto, não o encontram com a mesma rapidez com que o buscam. Não se encontra a Jesus entre os parentes e os consanguíneos; não o encontram entre os que corporalmente lhe estão unidos. Meu Jesus não pode ser achado em uma grande caravana. Aprende onde o encontram aqueles que o buscam, para que também tu buscando-o possas encontra-lo como José e Maria. Ao ir à sua busca, diz, o encontraram no templo; e não simplesmente no templo, mas no meio dos doutores, escutando-os e fazendo-lhes perguntas. Tu também, busca a Jesus no templo, busca-o na Igreja, busca-o junto aos mestres que existem no templo e não saem dele. Se desta forma o buscas, o encontrarás.
Por outro lado, se alguém se considera mestre e não possui a Jesus, este é um mestre somente de nome e, em consequência, Jesus não poderá ser encontrado em sua companhia. Jesus é a Palavra e a Sabedoria de Deus. Encontram-lhe sentado no meio dos doutores, e não apenas sentado, mas fazendo-lhes perguntas e escutando-os.
Também na atualidade Jesus está presente, nos interroga e nos escuta quando falamos. Todos, diz, ficavam assombrados. De que se assombram? Não de suas perguntas, por serem admiráveis, mas de suas respostas. Formulava perguntas aos mestres e, como às vezes eram incapazes de responder-lhe, ele mesmo dava a resposta às questões disputadas. E para que a resposta não seja um simples expediente para preencher a sua vez na conversação, mas que esteja imbuída de doutrina escriturística, deixa-te conduzir pela lei divina. Moisés falava, e Deus lhe respondia com o trovão. Aquela resposta versava sobre os assuntos que Moisés ignorava, e acerca dos quais o Senhor lhe instruía. Algumas vezes é Jesus quem pergunta, outras, é ele que responde. E, como dissemos mais acima, embora suas perguntas eram admiráveis, muito mais admiráveis, contudo, eram as suas respostas. Portanto, para que também nós possamos escutá-lo, e ele possa apresentar-nos problemas, roguemos a ele e o busquemos em meio de fadigas e dores, e então poderemos encontrar ao que buscamos. Não é em vão que está escrito: Teu pai e eu te buscávamos angustiados. Convém que aquele que busca a Jesus não o busque com negligência, dissoluta ou eventualmente, como fazem muitos que, por isso, não conseguem encontra-lo. Digamos, pelo contrário: “Angustiados te buscamos!”, e uma vez pronunciado, ele mesmo responderá à nossa alma que o busca laboriosamente e em meio à angústia, dizendo: Não sabias que devo estar na casa de meu Pai?


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 546-547. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Gregório de Nissa para esta festa clicando aqui.

Fotos da Bênção Urbi et Orbi de Natal

No último dia 25 de dezembro o Papa Francisco dirigiu-se ao balcão central da Basílica de São Pedro, de onde concedeu a tradicional Bênção Urbi et Orbi (à cidade e ao mundo) por ocasião da Solenidade do Natal do Senhor.

O Santo Padre foi assistido pelos Cardeais Diáconos Franc Rodé (Prefeito Emérito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada) e Beniamino Stella (Prefeito da Congregação para o Clero). Os cerimoniários foram os Monsenhores Guido Marini e Ján Dubina (que pela primeira vez assiste diretamente ao Santo Padre).

Entrada do Santo Padre


Execução do hino do Vaticano

Discurso do Papa na Bênção Urbi et Orbi de Natal

MENSAGEM URBI ET ORBI DO PAPA FRANCISCO
NATAL 2015
Sexta-feira, 25 de Dezembro de 2015

Queridos irmãos e irmãs, feliz Natal!
Cristo nasceu para nós, exultemos no dia da nossa salvação!
Abramos os nossos corações para receber a graça deste dia, que é Ele próprio: Jesus é o «dia» luminoso que surgiu no horizonte da humanidade. Dia de misericórdia, em que Deus Pai revelou à humanidade a sua imensa ternura. Dia de luz que dissipa as trevas do medo e da angústia. Dia de paz, em que se torna possível encontrar-se, dialogar, e sobretudo reconciliar-se. Dia de alegria: uma «grande alegria» para os pequenos e os humildes, e para todo o povo (cf. Lc 2, 10).
Neste dia, nasceu da Virgem Maria Jesus, o Salvador. O presépio mostra-nos o «sinal» que Deus nos deu: «um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura» (Lc 2, 12). Como fizeram os pastores de Belém, vamos também nós ver este sinal, este acontecimento que, em cada ano, se renova na Igreja. O Natal é um acontecimento que se renova em cada família, em cada paróquia, em cada comunidade que acolhe o amor de Deus encarnado em Jesus Cristo. Como Maria, a Igreja mostra a todos o «sinal» de Deus: o Menino que Ela trouxe no seu ventre e deu à luz, mas que é Filho do Altíssimo, porque «é obra do Espírito Santo» (Mt 1, 20). Ele é o Salvador, porque é o Cordeiro de Deus que toma sobre Si o pecado do mundo (cf. Jo 1, 29). Juntamente com os pastores, prostremo-nos diante do Cordeiro, adoremos a Bondade de Deus feita carne e deixemos que lágrimas de arrependimento inundem os nossos olhos e lavem o nosso coração. Disto todos temos necessidade.
Ele, só Ele, nos pode salvar. Só a Misericórdia de Deus pode libertar a humanidade de tantas formas de mal – por vezes monstruosas – que o egoísmo gera nela. A graça de Deus pode converter os corações e suscitar vias de saída em situações humanamente irresolúveis.
Onde nasce Deus, nasce a esperança: Ele traz a esperança. Onde nasce Deus, nasce a paz. E, onde nasce a paz, já não há lugar para o ódio e a guerra. E no entanto, precisamente lá onde veio ao mundo o Filho de Deus feito carne, continuam tensões e violências, e a paz continua um dom que deve ser invocado e construído. Oxalá israelitas e palestinenses retomem um diálogo directo e cheguem a um acordo que permita a ambos os povos conviverem em harmonia, superando um conflito que há muito os mantém contrapostos, com graves repercussões na região inteira.
Ao Senhor, pedimos que o entendimento alcançado nas Nações Unidas consiga quanto antes silenciar o fragor das armas na Síria e pôr remédio à gravíssima situação humanitária da população exausta. É igualmente urgente que o acordo sobre a Líbia encontre o apoio de todos, para se superarem as graves divisões e violências que afligem o país. Que a atenção da Comunidade Internacional se concentre unanimemente em fazer cessar as atrocidades que, tanto nos referidos países, como no Iraque, Líbia, Iémen e na África subsaariana, ainda ceifam inúmeras vítimas, causam imensos sofrimentos e não poupam sequer o património histórico e cultural de povos inteiros. Penso ainda em quantos foram atingidos por hediondos actos terroristas, em particular pelos massacres recentes ocorridos nos céus do Egipto, em Beirute, Paris, Bamaco e Túnis.
Aos nossos irmãos, perseguidos em muitas partes do mundo por causa da sua fé, o Menino Jesus dê consolação e força. São os nossos mártires de hoje.
Paz e concórdia, pedimos para as queridas populações da República Democrática do Congo, do Burundi e do Sudão do Sul, a fim de se reforçar, através do diálogo, o compromisso comum em prol da edificação de sociedades civis animadas por sincero espírito de reconciliação e compreensão mútua.
Que o Natal traga verdadeira paz também à Ucrânia, proporcione alívio a quem sofre as consequências do conflito e inspire a vontade de cumprir os acordos assumidos para se restabelecer a concórdia no país inteiro.
Que a alegria deste dia ilumine os esforços do povo colombiano, para que, animado pela esperança, continue empenhado na busca da desejada paz.
Onde nasce Deus, nasce a esperança; e, onde nasce a esperança, as pessoas reencontram a dignidade. E, todavia, ainda hoje há multidões de homens e mulheres que estão privados da sua dignidade humana e, como o Menino Jesus, sofrem o frio, a pobreza e a rejeição dos homens. Chegue hoje a nossa solidariedade aos mais inermes, sobretudo às crianças-soldado, às mulheres que sofrem violência, às vítimas do tráfico de seres humanos e do narcotráfico.
Não falte o nosso conforto às pessoas que fogem da miséria ou da guerra, viajando em condições tantas vezes desumanas e, não raro, arriscando a vida. Sejam recompensados com abundantes bênçãos quantos, indivíduos e Estados, generosamente se esforçam por socorrer e acolher os numerosos migrantes e refugiados, ajudando-os a construir um futuro digno para si e seus entes queridos e a integrar-se nas sociedades que os recebem.
Neste dia de festa, o Senhor dê esperança àqueles que não têm trabalho – e são tantos! – e sustente o compromisso de quantos possuem responsabilidades públicas em campo político e económico a fim de darem o seu melhor na busca do bem comum e na protecção da dignidade de cada vida humana.
Onde nasce Deus, floresce a misericórdia. Esta é o presente mais precioso que Deus nos dá, especialmente neste ano jubilar em que somos chamados a descobrir a ternura que o nosso Pai celeste tem por cada um de nós. O Senhor conceda, particularmente aos encarcerados, experimentar o seu amor misericordioso que cura as feridas e vence o mal.
E assim hoje, juntos, exultemos no dia da nossa salvação. Ao contemplar o presépio, fixemos o olhar nos braços abertos de Jesus, que nos mostram o abraço misericordioso de Deus, enquanto ouvimos as primeiras expressões do Menino que nos sussurra: «Por amor dos meus irmãos e amigos, proclamarei: “A paz esteja contigo”»! (Sal 122/121, 8).

Terminada a Mensagem Urbi et Orbi, o Santo Padre desejou Boas-Festas Natalícias:
A vós, queridos irmãos e irmãs, congregados dos quatro cantos do mundo nesta Praça [de São Pedro] e a quantos estais unidos connosco nos vários países através do rádio, da televisão e doutros meios de comunicação, dirijo os meus votos mais cordiais.
É o Natal do Ano Santo da Misericórdia. Por isso desejo, a todos, que possais acolher na própria vida a misericórdia de Deus, que Jesus Cristo nos deu, para sermos misericordiosos com os nossos irmãos. Assim faremos crescer a paz. Feliz Natal!



Fonte: Santa Sé

Fotos da Missa da Noite de Natal no Vaticano

No último dia 24 de dezembro o Papa Francisco celebrou a Santa Missa da Noite na Solenidade do Natal do Senhor,na Basílica de São Pedro.

A Missa foi precedida do canto da Kalenda e da veneração da imagem do Menino Jesus diante do altar. Ao final da celebração, o Papa levou esta mesma imagem ao presépio da Basílica.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Vincenzo Peroni. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Procissão de entrada
Desvelamento da imagem do Menino Jesus

Veneração da imagem

Homilia do Papa: Missa da Noite de Natal 2015

Santa Missa da Noite de Natal
Homilia do Papa Francisco
Basílica Vaticana
Quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Nesta noite, resplandece «uma grande luz» (Is 9,1); sobre todos nós, brilha a luz do nascimento de Jesus. Como são verdadeiras e atuais as palavras que ouvimos do profeta Isaías: «Multiplicaste a alegria, aumentaste o júbilo» (v. 2)! O nosso coração já estava cheio de alegria vislumbrando este momento; mas, agora, aquele sentimento multiplica-se e superabunda, porque a promessa se cumpriu: finalmente realizou-se. Júbilo e alegria garantem-nos que a mensagem contida no mistério desta noite provém verdadeiramente de Deus. Não há lugar para a dúvida; deixemo-la aos céticos, que, por interrogarem apenas a razão, nunca encontram a verdade. Não há espaço para a indiferença, que domina no coração de quem é incapaz de amar, porque tem medo de perder alguma coisa. Fica afugentada toda a tristeza, porque o Menino Jesus é o verdadeiro consolador do coração.
Hoje, o Filho de Deus nasceu: tudo muda. O Salvador do mundo vem para Se tornar participante da nossa natureza humana: já não estamos sós e abandonados. A Virgem oferece-nos o seu Filho como princípio de vida nova. A verdadeira luz vem iluminar a nossa existência, muitas vezes encerrada na sombra do pecado. Hoje descobrimos de novo quem somos! Nesta noite, torna-se claro o caminho que devemos percorrer para alcançar a meta. Agora deve cessar todo o medo e pavor, porque a luz nos indica a estrada para Belém. Não podemos permanecer inertes. Não nos é permitido ficar parados. Temos de ir ver o nosso Salvador, deitado em uma manjedoura. Eis o motivo do júbilo e da alegria: este Menino «nasceu para nós», foi «dado a nós», como anuncia Isaías (v. 5). A um povo que, há dois mil anos, percorre todas as estradas do mundo para tornar cada ser humano participante desta alegria, é confiada a missão de dar a conhecer o «Príncipe da paz» e tornar-se um instrumento eficaz d’Ele no meio das nações.
Por isso, quando ouvirmos falar do nascimento de Cristo, permaneçamos em silêncio e deixemos que seja aquele Menino a falar; gravemos no nosso coração as suas palavras, sem afastar o olhar do seu rosto. Se O tomarmos nos nossos braços e nos deixarmos abraçar por Ele, nos dará a paz do coração que jamais terá fim. Este Menino ensina-nos aquilo que é verdadeiramente essencial na nossa vida. Nasce na pobreza do mundo, porque, para Ele e sua família, não há lugar na hospedaria. Encontra abrigo e proteção em um estábulo e é deitado em uma manjedoura para animais. E todavia, a partir deste nada, surge a luz da glória de Deus. A partir daqui, para os homens de coração simples, começa o caminho da verdadeira libertação e do resgate perene. Deste Menino, que, no seu rosto, traz gravados os traços da bondade, da misericórdia e do amor de Deus Pai, brota - em todos nós, seus discípulos, como ensina o Apóstolo Paulo - a vontade de «renúncia à impiedade» e à riqueza do mundo, para vivermos «com sobriedade, justiça e piedade» (Tt 2,12).
Em uma sociedade frequentemente embriagada de consumo e prazer, de abundância e luxo, de aparência e narcisismo, Ele chama-nos a um comportamento sóbrio, isto é, simples, equilibrado, linear, capaz de individuar e viver o essencial. Em um mundo que demasiadas vezes é duro com o pecador e brando com o pecado, há necessidade de cultivar um forte sentido da justiça, de buscar e pôr em prática a vontade de Deus. No seio de uma cultura da indiferença, que não raramente acaba por ser cruel, o nosso estilo de vida seja, pelo contrário, cheio de piedade, empatia, compaixão, misericórdia, extraídas diariamente do poço de oração.
Como os pastores de Belém, possam também os nossos olhos encher-se de espanto e maravilha, contemplando no Menino Jesus o Filho de Deus. E, diante d’Ele, brote dos nossos corações a invocação: «Mostra-nos, Senhor, a tua misericórdia, concede-nos a tua salvação» (Sl 84,8).


Fonte: Santa Sé.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Homilia: Natal do Senhor - Missa do Dia

Santo Agostinho
Tratado sobre o Evangelho de São João
Para que nasçam os homens de Deus foi preciso que primeiro nascesse Deus dos homens

Estes não nasceram nem da vontade da carne nem da vontade do homem, mas de Deus. Mas para que nasçam os homens de Deus foi preciso que primeiro nascesse Deus dos homens. Cristo é Deus, e ele nasceu dos homens. Somente procurou mãe na terra, quem já tinha Pai nos céus. Aquele mesmo que nasceu de Deus, é nosso Criador, é também nosso reparador, nascido de uma mulher. Não te estranhe, ó homem, ser filho de Deus pela graça: não te estranhe o teu nascimento de Deus à semelhança de seu Verbo. É o mesmo Verbo quem consentiu nascer primeiro do homem coma finalidade de assegurar-te mais sobre o teu divino nascimento.
Agora sim, podes perguntar-te a ti mesmo por que razão Deus quis nascer do homem. É que foi tanto o que me amou que, para fazer-me imortal, quis nascer ele mesmo por mim de uma vida mortal. O evangelista depois disse: Eles nasceram de Deus, como previa nossa admiração, nosso assombro e estremecimento em presença de graça tão singular, até o ponto de parecer-nos incrível que os homens nasçam de Deus; e com a finalidade de dar-nos, a partir desta verdade garantias de segurança, prosseguiu: E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós. Porque estranhar-se que o homem nasça de Deus? Vede que é o mesmo Deus quem nasce dos homens: E o Verbo se fez carne e habitou entre nós.
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e seu nascimento é o colírio que limpa os olhos de nosso coração, e desta forma já podem ver sua grandeza através de suas humilhações. O Verbo feito carne, que viveu entre nós, é quem curou os nossos olhos. E o que diz o evangelista na continuação? E vimos sua glória. Ninguém pode ver sua glória se não for curado pelas humilhações de sua carne. E por que não podemos vê-la. Atenção, meus irmãos, e compreendereis o que quero dizer. A poeira e a terra que caíram nos olhos do homem foram o que lhes lesionou e obstaculizou a contemplação da luz. A estes olhos se lhes dá, depois, uma unção com o pó da terra para que curem, porque também foi a terra a causa de suas feridas. Os colírios e os remédios não são mais do que terra. O pó fez perder a vista e o pó a devolverá. A carne foi a causa de tua cegueira, e a carne será o que a fará desaparecer. O consentimento nos afetos carnais fez que a alma fosse carne, e disso veio a cegueira do coração.
O Verbo se fez carne: eis aqui o médico que te preparou o colírio. O Verbo veio desta maneira para extinguir por sua carne os vícios da carne, e destruir com sua morte o império da morte. Por isso, graças ao produzido em ti pelo Verbo feito carne, tu podes dizer: Contemplamos a sua glória. Que glória é esta? É a glória de ser filho do homem? Ora, isto é mais humilhação do que glória. Até onde alcança a vista do homem curado pela carne? Temos visto, diz, a sua glória, glória do Filho único do ai, cheio de graça e verdade... Por agora o que foi dito basta. Transformai-vos em Cristo, e que se fortaleça a vossa fé, e permanecei sempre em vigilância e no exercício das boas obras. Não vos separeis nunca do lenho, que é o único meio de passar o mar.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 544-546. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Cirilo de Alexandria para esta celebração clicando aqui.

Homilia: Natal do Senhor - Missa da Noite

São Leão Magno
Sermão II no Natal
Foi gerado com novidade no nascimento

Diletíssimos, exultemos no Senhor e com alegria espiritual regozijemo-nos, porque despontou para nós o dia que significa a nova redenção, a antiga reparação, a felicidade eterna. O mistério da nossa salvação prometido desde o início do mundo, realizado no tempo previsto para durar eternamente, renova-se para nós no cíclico período anual. Neste dia é justo que nós, elevando ao alto o coração, adoremos o divino mistério, de maneira que seja celebrado pela Igreja com grande júbilo o que se realiza pela grande generosidade de Deus.
Deus onipotente e clementíssimo, sua natureza é pura bondade, sua vontade é puro poder, e sua obra é pura misericórdia. Quando a malícia do diabo com o veneno de seu ódio nos sujeitou à morte, logo nos indicou no início do mundo o remédio que a sua misericórdia colocaria a nossa disposição para erguer o gênero humano. Ele preanunciou à serpente a futura descendência da mulher, que através de sua própria virtude esmagaria a sua cabeça, sempre orgulhosa e pronta para ferir. E de tal forma preanunciou Cristo, Deus e homem verdadeiro, que iria vir na carne e que, nascendo da Virgem com um nascimento virginal, iria condenar aquele que violou a integridade do gênero humano...
Foi gerado com novidade no nascimento, porque nasce da Virgem sem intervenção de varão, e sem violar a integridade da mãe. A quem deve ser o salvador do homem, era conveniente tal nascimento, porque tendo em si a natureza humana, convinha não conhecer a contaminação da carne humana. O próprio Deus, de fato, é autor do nascimento corpóreo de Deus, e o arcanjo assegurou à Santa Virgem Maria: O Espírito Santo virá sobre ti, e a potência do Altíssimo te cobrirá com sua sombra; por isso o santo menino que nascer será chamado Filho de Deus. Disto concluímos que sua origem é diversa da nossa, mas a sua natureza é igual à nossa.
O fato de que a Virgem tinha concebido, que a Virgem havia dado à luz e depois ainda permaneceu Virgem, certamente é estranho à comum experiência humana, pois que é baseado no poder divino. Neste caso, de fato, não é necessário considerar a condição da mulher que dá à luz, mas a vontade daquele que nasce, o qual nasceu do homem da maneira que podia e queria. Se observares a realidade da natureza, constata-se a substância humana; mas se examinar a causa da origem, vai reconhecer a potência divina. Na verdade, Jesus Cristo, nosso Senhor, veio para abolir o contágio do pecado, não para tolerá-lo; e veio para curar todas as doenças de corrupção, e todas as feridas da alma imaculada. Portanto, era oportuno que nascesse de maneira nova aquele que trouxe ao homem uma nova graça de imaculada integridade. Era necessário que a integridade da qual nascera conservasse a originária virgindade da mãe, e que a sombra do poder do Espírito Santo mantivesse o pudor e a santidade no sagrado recinto.
Jesus, de fato, tinha estabelecido de elevar a criatura que tinha caído, de fortalecer a criatura pisoteada, e doar e aprimorar a virtude da castidade para que pudesse vencer a concupiscência da carne. Deus quis de tal maneira que a virgindade, necessariamente violada na geração de outro homem, fosse imitada no outro com o renascimento espiritual.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 540-541. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de Santo Agostinho para esta celebração clicando aqui.

Perguntas e respostas sobre o Natal - Dom Henrique Soares da Costa

Dom Henrique Soares da Costa, Bispo de Palmares (PE) publicou via Facebook uma série de perguntas e respostas sobre o Natal: 

I. Que significa celebrar o Natal?
Significa celebrar NA LITURGIA, memorial do culto cristão, instituído por Jesus nosso Senhor, o mistério e a graça da Sua piedosa Vinda, da Sua graciosa Manifestação na nossa natureza humana e no nosso mundo, cumprindo as promessas feitas por Deus a Israel.

II. Que é esse MEMORIAL instituído pelo Senhor?
No Israel da Antiga Aliança, toda a obra salvífica do Senhor era celebrada anualmente nas festas instituídas pelo Senhor Deus: a Páscoa, Pentecostes, as Tendas, o Kippur, a Dedicação do Templo...
Tudo isto preparava para o Cristo nosso Senhor.
Ele veio, realizou a salvação e na noite em que foi entregue instituiu o Sacramento do Seu Corpo e do Seu Sangue, Memorial sagrado de tudo quanto Ele fez por nós, cumprindo tudo quanto Deus havia prometido.
Assim, no Sacramento da Ceia, no santo Sacrifício Eucarístico, toda a salvação torna-se presente: a criação do mundo, a história santa do antigo Israel, os atos e gestos salvíficos do Senhor, as graças dadas aos cristãos, a vida da Igreja e até mesmo a Sua Vinda no final dos tempos.
NA LTURGIA, pela força potente do Santo Espírito do Cristo imolado e ressuscitado, tudo, tudo absolutamente, em Cristo Senhor, torna-se contemporaneamente, simultaneamente presente, de modo que, para um cristão, celebrar os santos mistérios litúrgicos é entrar realmente e verdadeiramente em contato com o Mistério da nossa salvação e com cada um dos mistérios especificamente.
NA LITURGIA, toda a obra da salvação é-nos dada realmente: "Fazei isto em memória ( = memorial, zikaron, isto é, celebração ritual, eficaz e presentificante ) de Mim!"

III. O Natal é, então, celebração do quê?
É real e verdadeira celebração da Manifestação, da Vinda do Senhor na nossa carne mortal.
Celebrar a Eucaristia no Natal é tornar realmente presente sobre o Altar como oferta ao Pai no Espírito Santo o Cordeiro imolado e ressuscitado no Qual tudo, absolutamente tudo da nossa salvação se encontra presente!
Cristo é tudo, resume tudo, sintetiza tudo, atrai tudo, realiza tudo! Nele, eucarístico, está a criação do mundo,
Nele, toda a história de Israel,
Nele o Natal,
Nele a Páscoa,
Nele a vida da Igreja,
Nele a Glória dos santos,
Nele o Dia Final, na consumação de tudo!
Cada mistério da nossa fé que celebramos na Liturgia coloca-nos realmente, verdadeiramente em contato com a graça que nos veio daquele mistério.
Quem celebra as Eucaristias do tempo sagrado do Natal entra em contato real com a graça da Vinda do Salvador!
Este é um luxo, uma graça, uma elegância de Deus que somente recebe quem participa da Liturgia e só na Liturgia é dado!

IV. O Natal é aniversário de Jesus?
De modo algum!
Jamais a Igreja pensou numa coisa dessas!
Na Liturgia não se diz: Jesus nasceu há 2000 anos! Diz-se: "Hoje nasceu para vós um Salvador: Cristo, o Senhor!"
A Liturgia, na potência do Espírito, coloca-nos no HOJE de Deus, coloca-nos em contato direto com a graça salvífica do acontecimento que, ocorrido uma vez por todas no passado, torna-se eternamente presente na Glória do Céu, em Cristo, único e eterno sacerdote, que na Tenda eterna do Céu ministra a Liturgia eterna que torna-se presente sobre o Altar da Igreja!
No Natal nunca, de modo algum, por motivo algum, deve-se cantar "Parabéns" para Jesus! Seria algo totalmente contrário ao significado do Natal cristão!

V. Cristo nasceu no dia 25 de dezembro?
Não, com certeza. E os cristãos sempre souberam disso!
Desde o início, esta festa é celebrada em datas diferentes pela Igreja no Oriente e no Ocidente: no Oriente, a 6 de janeiro; no Ocidente, a 25 de dezembro.
Eis os motivos do 25 de dezembro:
Segundo antigas tradições, o mundo teria sido criado no dia 25 de março. Neste dia também se celebrava a Festa da Anunciação de Gabriel à Virgem Maria, início da recriação de todas as coisas em Cristo: Ele, vindo ao nosso mundo no seio da Virgem, recriou o mundo envelhecido e caduco pelo pecado. Assim, o 25 de dezembro ocorre nove meses após a celebração da concepção.
Mas, há outro motivo. Depois de o cristianismo já ter se espalhado no Império Romano e os imperadores terem aceitado a fé cristã, surgiu um que apostatou da fé e quis restaurar o paganismo em Roma: Juliano, o Apóstata! Ele fez o possível para restaurar a festa do deus Sol Vencedor em Roma, que ocorria no dia 25 de dezembro, solstício do inverno. Exatamente a época em que o sol começa a ficar mais forte e fazer os dias começarem a ficar mais longo, vencendo o frio e as trevas do inverno. Esta seria a vitória do deus sol sobre as trevas!
Os cristão reagiram fortemente, celebrando aí não o deus sol, mas o verdadeiro Sol da justiça, Luz do Alto que nos veio visitar, vencendo as trevas da idolatria, do pecado e da morte! O verdadeiro Sol Invicto é o Cristo nosso Deus, que vindo à nossa terra, tudo iluminou com a Sua piedosa Manifestação.
Assim, a data do Natal estabeleceu-se de vez no século IV para toda a Igreja do Oriente e do Ocidente. No dia 6 de janeiro, a Igreja passou a celebrar a Epifania do Senhor. Mas, isto é outra história...

VI. Seria realmente errado ver o Natal como aniversário de Jesus?
Totalmente.
1. Comemora-se o aniversário contando os dias de acontecimentos ou pessoas neste tempo. Jesus é o Senhor, entrou na Eternidade, é Senhor do tempo; não mais está preso ao nosso tempo, mas preenche todos os tempos: "A Ele o tempo e a eternidade˜!" - diz a Igreja na Vigília Pascal.
2. Comemora-se o aniversário de alguém para festejar sua entrada nesta vida. Jesus entrou nesta vida, neste mundo, por humilhação, por esvaziamento de Si mesmo: sendo rico fez-se pobre, sendo Deus fez-Se homem, sendo Senhor fez-Se servo para nos salvar. Na verdade o nascimento de Jesus segundo a carne é um gesto de humildade e humilhação por amor!
3. O nascimento definitivo para um cristão é o nascimento para a Glória: dos santos, celebra-se não o dia do nascimento para este mundo, mas o Die Natalis para o Céu, o dia da morte para este mundo.
4. E o mais importante: NENHUMA celebração da Liturgia é de aniversário; nunca é uma recordação do passado que ficou lá trás, mas é um torna-se realmente presente de um fato ou evento salvífico que se torna atual e atuante na vida dos que celebram os santos mistérios na Liturgia. É uma pena que a deficiência de catequese tenha feito os cristãos perderem isto, que no início da Igreja era claro para todos os filhos da Igreja!

VII. O que é essencial para um cristão celebrar o Natal?
O que é essencial para qualquer festa cristã: participar da santa Liturgia eucarística.
É na Eucaristia que todo o mistério da nossa fé, o mistério da nossa salvação, da criação à Parusia do Senhor, faz-se presente: "Eis o Mistério da fé!" Isto é: ali, no Cordeiro imolado e ressuscitado, tudo faz-se contemporâneo na potência do Espírito!
Na Eucaristia tudo é celebrado na vida cristã e na vida do cristão! Sem a participação na Eucaristia é impossível ser cristão plenamente!

VIII. A Liturgia para o Natal fala das "festas que se aproximam". Do que se trata?
O Natal litúrgico (e este é o que importa) não é um dia, mas um tempo: o tempo no qual a Igreja celebra a Manifestação, a Vinda, o Aparecimento do Salvador na nossa carne mortal.
Este tempo é celebrado com cinco festas:
1. A Natividade
2. A Sagrada Família 
3. Santa Maria Mãe de Deus 
4. A Epifania
5. O Batismo do Senhor
Todas estas festas, cada uma com um aspecto próprio, celebram um só Mistério: o Verbo Eterno, Filho Eterno do Eterno Pai, fez-Se verdadeiramente homem de Maria a Virgem para que, assumindo o humano salvasse a humanidade e assumindo toda a criação, salvação todo o universo!
Há ainda mais uma festa que não pertence ao Tempo do Natal, mas está ligada ao ciclo do Natal: A Apresentação do Senhor, no dia 2 de fevereiro. É uma festa importantíssima do ponto de vista teológico! Infelizmente, a nossa catequese litúrgica é muito fraca e essa festa fica na penumbra...


quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

O canto da Kalenda na Noite de Natal

Dentre os livros litúrgicos, talvez o menos conhecido no Brasil seja o Martirológio Romano (publicado pela Congregação para o Culto Divino em 2001 e revisado em 2004), uma vez que ainda não foi traduzido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O Martirológio propõe para cada dia do ano o “elogio” dos santos comemorados na ocasião, bem como “elogios” para as celebrações do Senhor e da Virgem Maria. Geralmente o “elogio” contém o nome do santo, além da data e local da sua morte.

Os santos, com efeito, são celebrados no dia de sua morte, chamado dies natalis, dia do seu nascimento para o céu. O próprio nome do livro, Martirológio, remete-nos aos mártires, santos e santas que foram mortos dando testemunho da sua fé.

Canto da Kalenda na Basílica de São Pedro no Vaticano
(24 de deze
mbro de 2011)

Tradicionalmente os “elogios” são lidos na véspera, para que a comunidade possa se preparar para as celebrações do dia seguinte, durante a recitação da Liturgia das Horas ou em um momento de oração pessoal ou comunitária (não, porém, na Missa).

O “elogio” mais solene presente no Martirológio é aquele da Solenidade do Natal do Senhor, proferido no dia 24 de dezembro antes da Missa da Noite. Esse texto é conhecido como “Anúncio do Natal” ou “Kalenda”.

O que significa Kalenda?

A palavra “kalenda” está relacionada ao início do texto desse “Anúncio do Natal” em seu idioma original, isto é, em latim: “Octavo kalendas ianuarii”.

No Martyrologium Romanum, a leitura dos “elogios” de cada dia é precedida pela indicação do dia segundo dois calendários: o romano e o judaico.

No calendário romano, baseado no ciclo solar, com doze meses de 30 ou 31 dias (28 ou 29 no caso de fevereiro), o primeiro dia de cada mês é chamado de “kalendas” do mês (donde vem a própria palavra “calendário”).

Assim, os últimos dias do mês anterior eram contados de maneira regressiva em relação às kalendas. Portanto, 25 de dezembro corresponde ao oitavo dia antes das kalendas de janeiro.

Cristo representado como Emmanuel (Deus-conosco)

Note-se aqui o profundo simbolismo do número “oito”: se o número “sete” é associado à criação no Gênesis (cf. Gn 1,1–2,4a), o “oito” indica que com o nascimento de Cristo começa uma “nova criação”.

Com efeito, no oitavo dia após o seu nascimento, Jesus é circuncidado (Lc 1,21), unindo-se ao povo da primeira aliança e derramando pela primeira vez o seu sangue, prefigurando já seu sacrifício para a nossa salvação. Celebramos esse mistério no primeiro dia do ano civil, juntamente com a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus.

Amanhã Eu virei: Uma reflexão sobre as Antífonas do Ó

Já publicamos em nosso blog uma postagem apresentando as Antífonas do Ó, rezadas pela Igreja de 17 a 23 de dezembro como preparação próxima para o Natal do Senhor.

Aqui publicamos uma reflexão sobre cada uma das sete antífonas feita por Dom Henrique Soares da Costa (†2020), Bispo de Palmares (PE), destacando sobretudo seus fundamentos bíblicos:

Dom Henrique preside a Missa do Domingo Gaudete (III do Advento)

Ó Sabedoria! (17/12)
Ó Sabedoria, que saístes da boca do Altíssimo, atingindo de uma a outra extremidade e tudo dispondo com força e suavidade; vinde ensinar-nos o caminho da prudência!

São Paulo afirma que Jesus é a Sabedoria de Deus (cf. 1Cor 1,24) e o próprio Jesus chegou a Se apresentar como a Sabedoria que é reconhecida pelos Seus filhos (cf. Lc 7,35). De fato, toda esta antífona, de profunda teologia, parte desta certeza.
Depois, desenvolve o tema inspirando-se nos livros sapienciais, que nos apresentam a Sabedoria criadora.
Para os cristãos, Jesus é esta Sabedoria, através da qual desde o princípio tudo foi criado e tudo é conduzido. Eis alguns textos da Escritura que serviram de inspiração para a nossa antífona. São textos referentes à Sabedoria que, para nós, cristãos, é o Cristo Jesus:
“O Senhor me formou, primícias de Sua obra, de Seus feitos mais antigos. Desde a eternidade fui estabelecida, desde o princípio, antes da origem da terra. Quando os abismos não existiam, eu fui gerada, quando não existiam os mananciais de água. Antes que as montanhas fossem implantadas, antes das colinas, eu fui gerada; Ele ainda não havia feito a terra e a erva, nem os primeiros elementos do mundo. Quando firmava os céus, lá eu estava, quando traçava a abóbada sobre a face do abismo... Eu estava junto com Ele como o mestre-de-obras, eu era o Seu encanto todos os dias, todo o tempo brincava em Sua presença: brincava na superfície da terra, e me alegrava com os homens” (Pr 8,22-31).
“A Sabedoria faz seu próprio elogio: ‘Saí da boca do Altíssimo e como neblina cobria a terra. Só eu rodeei a abóbada celeste, eu percorri a profundeza dos abismos’” (Eclo 24,1-5).
“Os ingênuos venham aqui; quero falar aos sem juízo: Vinde comer do meu pão e beber do vinho que misturei. Deixai a ingenuidade e vivereis, segui o caminho da inteligência” (Pr 9,4-6).
Pois bem, eis a surpresa! Eis o inesperado: esta Sabedoria infinita, inesgotável e eterna nasceria de Maria Virgem como uma criancinha que sequer pode falar!
É por Ela que a Igreja hoje suplica humildemente. Quem se abre para acolhê-La descobre o sentido da vida e vive uma existência na verdadeira prudência, sabendo chamar o certo de certo e o errado de errado, porque adquire a capacidade de ver e avaliar tudo com os olhos da Sabedoria de Deus, o Cristo Jesus!


Ó Senhor-Adonai! (18/12)
Ó Adonai, Guia da Casa de Israel, que aparecestes a Moisés na chama de fogo, no meio da sarça ardente e lhe destes a Lei no Sinai; vinde resgatar-nos pelo poder do Vosso braço!