Teodoreto de Ciro
Tratado sobre a Encarnação do Senhor
Eu
curarei os seus desvios
Jesus chega
espontaneamente à Paixão que d’Ele estava escrita e que mais de uma vez havia
anunciado aos seus discípulos, censurando a Pedro em certa ocasião por ter
aceito de má vontade este anúncio da Paixão, e demonstrando finalmente que
através dela seria salvo o mundo. Por isso, Ele mesmo apresentou-se aos que
vinham prender-lhe, dizendo: Eu sou a quem buscais. E quando o acusavam não
respondeu, e, tendo a oportunidade de esconder-se, não o quis fazer; por mais
que em várias outras ocasiões em que o buscavam para prendê-lo, desapareceu.
Ademais, chorou
sobre Jerusalém, que com sua incredulidade preparava sua própria calamidade e
predisse sua ruína definitiva e a destruição do templo. Também sofreu com
paciência que alguns homens duplamente desprezíveis lhe batessem na cabeça. Foi
esbofeteado, cuspido, injuriado, atormentado, flagelado e, finalmente, levado
para a crucificação, deixando que o crucificassem entres dois ladrões, sendo
desta forma contado entre os homicidas e malfeitores, degustando também o
vinagre e o fel da vinha perversa, coroado de espinhos em vez de palmas e
ramos, vestido de púrpura por deboche e golpeado com uma vara, atravessado por
uma lança no lado e, finalmente, sepultado.
Com todos estes
sofrimentos buscava a nossa salvação. Porque todos aqueles que se fizeram
escravos do pecado deviam sofrer o castigo de suas obras; porém Ele, isento de
todo pecado, Ele, que caminhou até o fim pelo caminho da justiça perfeita,
sofreu o suplício dos pecadores, apagando na cruz o decreto da antiga maldição.
Cristo - diz São Paulo - nos resgatou da
maldição da lei, tornando-se um maldito por nós, porque diz a Escritura: Maldito todo aquele que pende de uma árvore.
E com a coroa de espinhos pôs fim ao castigo de Adão, ao qual foi dito após o
pecado: Maldito o solo por tua culpa:
brotarão para ti abrolhos e espinhos.
Com o fel,
carregou sobre si a amargura e os desgostos desta vida mortal e passível; com o
vinagre, assumiu a natureza deteriorada do homem e a reintegrou ao seu estado
primitivo. A púrpura foi sinal de sua realeza; a vara, indício da debilidade e
fragilidade do poder do diabo; as bofetadas que recebeu anunciavam nossa
liberdade, ao tolerar as injúrias, os castigos e golpes que nós tínhamos
merecido.
Seu lado foi
aberto, como o de Adão, porém não saiu dele uma mulher que com seu erro gerou a
morte, mas uma fonte de vida que vivifica o mundo com uma dupla torrente: um
deles nos renova no batistério e nos veste a túnica da imortalidade; o outro
alimenta na sagrada mesa aos que nasceram de novo pelo Batismo, como o leite
amamenta aos recém-nascidos.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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