sexta-feira, 21 de agosto de 2020

A mozeta e o mantelete

Para acessar a postagem introdutória desta série, na qual explicamos os conceitos de vestes corais e vestes talares, clique aqui.

A mozeta ou murça

A mozeta ou murça é uma pequena capa, até a altura dos cotovelos, fechada na frente com botões, usada sobre os ombros por alguns clérigos.

Dom Ângelo De Donatis (antes de ser criado Cardeal) com a mozeta episcopal

Sua origem, assim como a romeira (que se difere desta por ser aberta), provém de capas de viagem usadas por peregrinos para proteger-se do frio.

A partir desta origem, a mozeta possuía antes um pequeno capuz, que acabou sendo suprimido com o tempo. Este permanece por tradição apenas na mozeta do Papa e de alguns Cabidos de cônegos.

Seu uso faz parte das vestes corais de alguns membros da hierarquia:

Presbíteros: Não usam a mozeta, exceto os reitores de Basílicas que, por privilégio concedido pela Santa Sé, endossam como veste coral o hábito talar com sobrepeliz e a mozeta negra com botões e detalhes em cor violeta [1];

Cônegos: A mozeta é a veste característica dos cônegos. O Cerimonial prevê como veste coral a mozeta negra com detalhes violeta para os cônegos catedráticos (ou cônegos maiores), isto é, aqueles que efetivamente fazem parte do Cabido, e mozeta inteiramente negra para cônegos honorário (ou cônegos menores), que recebem o título apenas por distinção.

Cônegos da Diocese de Bruges (Bélgica)

Porém, as vestes dos cônegos são determinadas pelos Estatutos de cada Cabido. Assim, podemos encontrar mozetas em outras cores, ou mesmo outras vestes em seu lugar. Em alguns lugares encontramos também uma cruz ou medalha pendente de um cordão ou fita sobre a mozeta, conforme os costumes de cada Cabido.
  
Bispos: Como veste coral, os Bispos revestem sobre a talar violácea com roquete a mozeta também violácea, com botões e detalhes vermelhos. Sobre a mozeta, como vimos anteriormente, o Bispo endossa a cruz peitoral pendente de cordão verde e ouro.

Cardeais: O mesmo que os Bispos, exceto que a mozeta é inteiramente vermelha e o cordão para a cruz peitoral é vermelho e ouro.

Cardeal De Donatis com a mozeta cardinalícia

Papa: O Papa possui tradicionalmente três mozetas, embora o Papa Francisco tenha optado por não endossar nenhuma.

A mozeta de inverno é de um vermelho bem escuro e feita de lã guarnecida com peles, enquanto que a mozeta de verão é de um vermelho mais vivo e feita de seda, mais leve. A terceira mozeta é a pascal, de lã branca guarnecida com peles, que tradicionalmente o Papa usava apenas na Oitava Pascal (o Papa Bento XVI a usava durante todo o Tempo Pascal).

Sobre a mozeta o Papa leva sempre a cruz peitoral pendente de um cordão dourado.

Bento XVI com a mozeta de inverno
Bento XVI com a mozeta de verão
Bento XVI com a mozeta pascal

O mantelete

O mantelete é um manto amplo, até a altura dos joelhos, aberto na frente e com abertura aos lados por onde passam os braços. É de cor violeta com detalhes em vermelho.

Antes do Concílio Vaticano II, os Bispos usavam a mozeta dentro de sua Diocese e o mantelete fora dela. Porém, tal prática foi abolida.

Dom Karol Wojtyla (depois Papa João Paulo II) com o mantelete

Seu uso, porém, foi conservado pelos Protonotários Apostólicos numerários e pelos Superiores de Dicastérios da Cúria Romana que não são Bispos como parte de sua veste coral, endossado sobre o hábito talar violeta com roquete.

Por exemplo, Monsenhor Guido Marini, sendo Superior do Ofício das Celebrações litúrgicas do Sumo Pontífice, endossou o mantelete em algumas ocasiões, como durante a Sé Vacante de 2013 ou durante os ritos da Recognitio e da Muratura das Portas Santas durante o Jubileu Extraordinário da Misericórdia.

Mons. Guido Marini com o mantelete no Conclave de 2013

Extraordinariamente, o uso do mantelete conserva-se por tradição em alguns Cabidos de cônegos. Inclusive podem ser encontrados manteletes em outras cores, como pretos, por exemplo.


Fonte:
CERIMONIAL DOS BISPOS, Cerimonial da Igreja. Tradução portuguesa da edição típica. Apêndice I: Vestes prelatícias. São Paulo: Paulus, 1988, pp. 311-313.

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