São Beda o Venerável
Do Comentário sobre o Evangelho de São
Marcos
No
nome de Cristo
João diz a Jesus: Mestre, vimos um homem que
expulsava demônios em teu nome, e não o permitimos porque não é dos nossos.
João que amava com extraordinário fervor ao Senhor, e por isso era digno de ser
amado por Ele, pensava que devia ser privado do benefício aquele que não tinha
o ofício. Porém, o Senhor lhe ensinou que ninguém deve ser afastado do bem que
em parte possui, mas deve ser convidado para aquilo que ainda não possui. E
prossegue dizendo:
“Não o proibais. Ninguém que realize
milagres em meu nome falará mal de mim. Quem
não é contra nós, está a nosso favor”. O mesmo afirma o sábio Apóstolo: Contanto
que Cristo seja anunciado, como pretexto ou como fidelidade, disso me alegro e
me alegrarei. Porém, ainda que se alegre por aqueles que anunciam a Cristo de
forma não sincera, e se inclusive algumas vezes fazem milagres pela salvação de
outros, aconselhando que não sejam impedidos, contudo, não podem ser
justificados por tais milagres.
Ainda mais,
naquele dia dirão: Senhor, Senhor, acaso
não profetizamos em teu nome, e não expulsamos demônios em teu nome, e não
realizamos milagres em teu nome?, e receberão esta resposta: Não vos conheço, apartai-vos de mim, vós que
operais a iniquidade! Portanto, a respeito dos hereges e maus católicos
devemos solenemente rejeitar não aquelas crenças e aqueles sacramentos que têm
em comum conosco, não contra nós, mas as divisões que se opõem à paz e à
verdade, pelas quais estão contra nós e não se mantêm em unidade com o Senhor.
Quem vos der a
beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua
recompensa. Lemos no Profeta Davi que muitos, como desculpa de seus pecados,
pretendem que são justos os estímulos que os movem a pecar; de modo que,
enquanto pecam voluntariamente, iludem-se de atuar por necessidade. O Senhor,
que perscruta os corações e os rins, pode ver os pensamentos de cada um.
Ele disse: Quem recebe a um destes pequeninos em meu
nome, recebe a mim. Alguém poderia polemizar dizendo: “A pobreza me impede,
minha miséria me impossibilita de recebê-lo”. Porém, o Senhor anula esta
desculpa com um suavíssimo mandamento, para induzir-nos a oferecer de todo o
coração ao menos um copo de água, mesmo que seja fria, como disse Mateus. E diz
um copo de água fria, não quente, a fim de que não se busque uma desculpa
alegando miséria ou falta de lenha para esquentar a água.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 474-475. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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