sábado, 31 de março de 2018

Homilia: Vigília Pascal

Santo Agostinho
Sermão 221
Passamos em vigília a noite em que o Senhor ressuscitou

Nenhum cristão duvida de que Cristo o Senhor ressuscitou dentre os mortos ao terceiro dia. O santo Evangelho atesta que o acontecimento teve lugar esta noite. Não há dúvida de que começam a contar-se os dias desde a noite precedente, ainda que não se ajuste à ordem de dias mencionados no Gênesis, apesar de que também ali as trevas precederam ao dia, pois as trevas cobriam o abismo quando Deus disse: Haja luz, e a luz foi feita. Porém, como aquelas trevas ainda não eram a noite, também não havia dias.

Realmente, Deus separou a luz das trevas, e primeiramente chamou dia à luz, e noite às trevas, e foi mencionado como um só dia o espaço desde que se fez a luz até a manhã seguinte. Está claro que aqueles dias começaram com a luz e, passada a noite, cada um durava até a manhã seguinte. Entretanto, depois que o homem criado pela luz da justiça caiu nas trevas do pecado, das quais o libertou a graça de Cristo, aconteceu que contamos os dias a partir das noites, porque nosso esforço não se dirige a passar da luz para as trevas, mas das trevas para a luz, coisa que esperamos conseguir com o auxílio do Senhor.

Assim diz também o Apóstolo: A noite passou, o dia se aproxima; depojemo-nos das obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. Portanto, o dia da Paixão do Senhor, dia em que foi crucificado, seguia a própria noite já passada, e por isso encerrou e concluiu na preparação da Páscoa, que os judeus chamam também “ceia pura”, e a observância do sábado começava ao início desta noite. Em consequência, o sábado que começou com sua própria noite concluiu na tarde da noite seguinte, que já é o começo do dia do Senhor, porque o Senhor o tornou sagrado com a glória de sua ressurreição.

Assim, nesta solenidade celebramos agora a memória daquela noite que dava começo ao dia do Senhor, e passamos em vigília a noite em que o Senhor ressuscitou. A vida da qual falava um pouco antes, na qual não haverá nem morte nem sono, ele a iniciou para nós em sua carne, que ressuscitou dentre os mortos de tal forma que já não morre nem a morte tem domínio sobre ela.

Aqueles que o amavam chegaram ao sepulcro para buscar seu corpo já de manhã, e não o encontraram, mas receberam um aviso da parte dos anjos, de que já tinha ressuscitado. Torna-se claro, portanto, que tinha ressuscitado naquela mesma noite, cujo término foi aquele amanhecer. Em consequência, o Ressuscitado, a quem cantamos nesta vigília um pouco mais longa, nos concederá o reinar com ele na vida sem fim. E se por casualidade ainda se encontrava seu corpo no sepulcro e ainda não tinha ressuscitado nestas horas que passamos em vigilância, nem por isso nos comportamos sem coerência ao proceder assim, pois quem morreu para que nós tivéssemos vida, dormiu para que nós estivéssemos em vigília. Amém.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 336-337. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de São Cirilo de Jerusalém para esta celebração, clique aqui.

sexta-feira, 30 de março de 2018

Homilia: Celebração da Paixão do Senhor

São Cirilo de Alexandria
Comentário sobre o Evangelho de São João
Cristo entregou a sua alma nas mãos do Pai, abrindo-nos a novas luminosas esperanças

Jesus, quando tomou o vinagre, disse: “Está consumado”. E inclinando a cabeça, entregou o espírito. Disse com razão: “Está consumado”. Já tem ressoado a hora de levar a mensagem de salvação aos espíritos que se encontram nos abismos. Ele veio realmente para estabelecer sua soberania sobre os vivos e os mortos. Por nós suportou a mesma morte na carne assunta, totalmente igual a nossa, ele que por natureza, Deus como é, é a própria vida. Tudo isto ele quis expressamente para destronar aos poderes abismais, e preparar deste modo o retorno da natureza humana à vida verdadeira, ele, primícias dos mortos e primogênito de toda criatura.

Inclinando a cabeça: é o gesto característico de quem acaba de morrer, quando, ao faltar o espírito que mantém unido a todo o corpo, os músculos e os nervos se relaxam. Por isso, a expressão do evangelista não é totalmente apropriada, apesar de introduzir imediatamente outra frase comumente utilizada, também ela, para indicar que alguém morrer: entregou o espírito.

Parece como se, impulsionado por uma particular inspiração, o evangelista não tenha dito simplesmente morreu, mas entregou o espírito. Ou seja, entregou seu espírito nas mãos do Pai, conforme o que ele mesmo tinha dito, embora através da profética voz do salmista: Pai, em tuas mãos encomendo o meu espírito. Entretanto, a força e o sentido destas palavras constituíam para nós o começo e o fundamento de uma ditosa esperança.

Devemos realmente crer que as almas dos santos, ao sair do corpo, não somente se confiam às mãos do Pai amadíssimo, Deus de bondade e de misericórdia, mas na maioria dos casos se apressam ao encontro do Pai comum e de nosso Salvador Jesus Cristo, que nos desatou o caminho. Nem é correto pensar - como fazem os pagãos - que estas almas estejam esvoaçando em torno aos seus túmulos, à espera dos sacrifícios oferecidos pelos mortos, ou que sejam precipitadas, como as almas dos pecadores, no lugar de imenso suplício, isto é, no inferno.

Cristo entregou sua alma nas mãos do Pai, para que nela e por ela nós alcancemos o começo da luminosa esperança, sentindo e crendo firmemente que, depois de ter suportado a morte na carne, estaremos nas mãos de Deus, em um estado de vida infinitamente melhor que aquele que tínhamos enquanto vivíamos na carne. Por isso, o Doutor dos Gentios escreve que é muito melhor partir deste corpo para estar com Cristo.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 331-332. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de São Romanos, o Melode para esta celebração, clique aqui.

quinta-feira, 29 de março de 2018

Homilia: Missa da Ceia do Senhor

Santo Agostinho
Sermão 228
Desde o nascer até o pôr do sol se oferece a Deus o sacrifício puro

O dever de pregar-vos um sermão, e a solicitude graças à qual vos iluminamos para que Cristo se forme em vós, obriga-me a advertir a vossa infância: a vós os que, renascidos agora da água e do Espírito, contemplais com nova luz o alimento e a bebida postos sobre esta mesa do Senhor, e os recebeis com novo fervor, que significa este sacramento tão grande e divino, este remédio tão célebre e tão nobre, este sacrifício tão puro e tão acessível. Sacrifício que agora não se imola já em uma só cidade, a Jerusalém terrena, nem naquela tenda construída por Moisés, nem no templo construído por Salomão: tudo isso são coisas que foram sombra do futuro; mas agora desde o nascer até o pôr do sol, como foi predito pelos profetas.

Nele se oferece a Deus uma vítima de louvor apropriada à graça do Novo Testamento. Já não se buscam vítimas cruentas nos rebanhos de ovelhas, já não se apresentam ante o altar de Deus nem cordeiros nem cabritos, pois o sacrifício de nosso tempo é o corpo e o sangue do próprio sacerdote. Os salmos o haviam predito muito tempo atrás: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec. No Gênesis lemos, e assim o cremos, que Melquisedec, sacerdote do Deus sublime, ofereceu pão e vinho quando bendisse a Abraão, nosso pai.

Assim, Cristo nosso Senhor, que em sua paixão ofereceu por nós o que tinha assumido de nós em seu nascimento, constituído príncipe dos sacerdotes para sempre, ordenou que se oferecesse o sacrifício que estais vendo, o de seu corpo e sangue. Na verdade, de seu corpo, ferido pela lança, brotou sangue e água, mediante o qual apagou os pecados do mundo. Recordando esta graça, ao tornar realidade a libertação de vossos pecados, visto que é Deus quem a realiza em vós, acercai-vos com temor e tremor ao participar deste altar.

Reconhecei no pão aquele que suspendeu do madeiro, e no cálice aquilo que manou de seu lado. Em sua multíplice variedade, aqueles antigos sacrifícios do povo de Deus figuravam este único sacrifício futuro. Cristo mesmo é, ao mesmo tempo, cordeiro de inocência e singeleza de sua alma, e cabrito por sua carne, semelhante à carne de pecado. Tudo o que de antemão foi anunciado, em muitas e variadas formas nos sacrifícios do Antigo Testamento se referem a este único sacrifício que revelou o Novo Testamento.

Recebei, pois, e comei o corpo de Cristo, já transformados vós mesmos em membros de Cristo, no corpo de Cristo; recebei e bebei o sangue de Cristo. Não vos desvinculeis, comei o vínculo que vos une; não vos estimeis pouco, bebei vosso preço. Da maneira que se transforma em vós qualquer coisa que comeis ou bebeis, transformai-vos também vós no corpo de Cristo, vivendo em atitude obediente e piedosa.

Quando se aproximava já o momento de sua paixão e estava celebrando a páscoa com seus discípulos, ele abençoou o pão que tinha em suas mãos e disse: Isto é meu corpo, que será entregue por vós. Igualmente, lhes deu o cálice abençoado, dizendo: Esta é a nova aliança em meu sangue, que será derramado por muitos para o perdão dos pecados. Estas coisas podeis lê-las no Evangelho ou as escutais, porém ignoráveis que esta Eucaristia era o Filho; agora, por outro lado, aspergido vosso coração com a consciência limpa e lavado vosso corpo com a água pura, acercai-vos a ele, e sereis iluminados e vossas faces não se envergonharão.

Se recebeis santamente este sacramento que pertence ao Novo Testamento e vos dá motivo para esperar a herança eterna; se guardais o mandamento novo de amar-vos uns aos outros, tereis vida em vós, pois recebereis aquela carne da qual a própria Vida disse: O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo; e, Quem come minha carne e bebe meu sangue terá a vida eterna.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 329-330. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de Santo Efrém para esta celebração, clique aqui.

quarta-feira, 28 de março de 2018

Victimae paschali laudes: A sequência da Páscoa

A Páscoa, maior de todas as solenidades, é enriquecida com uma sequência: a Victimae paschali laudes. Este texto é entoado após a 2ª leitura, obrigatoriamente no Domingo de Páscoa e de maneira facultativa durante a Oitava Pascal (até o II Domingo da Páscoa, inclusive).

Sua origem remonta provavelmente ao século XI, sendo atribuída ao presbítero Wippo de Borgonha, capelão do imperador Conrado III do Sacro Império Romano. Porém, não há consenso quanto à sua autoria: outros atribuem-na ao abade Notker Balbulus (autor de várias sequências no século X) ou a Adão de São Vítor (grande poeta do século XII).

De toda forma, esta sequência foi provavelmente composta para práticas de piedade popular na manhã do Domingo de Páscoa, devido à sua melodia simples e caráter didático: a estrutura do hino prevê, após uma introdução (estrofes 1-3), um diálogo entre os Apóstolos e Maria Madalena (estrofes 4-6), seguido de uma solene conclusão entoada por ambos (estrofe 7).

É possível que este hino acompanhava alguma representação do encontro de Maria Madalena com os Apóstolos, porém longo começou a fazer parte da Liturgia. A reforma litúrgica do Concílio de Trento a inseriu no Missal, permanecendo até hoje.


Confira a seguir o texto original da sequência (em latim) e sua tradução oficial para o português do Brasil, conforme consta no Lecionário Dominical:

Sequentia: Victimae paschali laudes

1. Victimae paschali laudes
Immolent christiani.

2. Agnus redemit oves:
Christus innocens Patri
Reconciliavit peccatores.

O Ofício das Trevas

“Na Sexta-feira da Paixão do Senhor e no Sábado Santo, antes das Laudes, na medida do possível, faça-se uma celebração pública do Ofício das Leituras juntamente com o povo” (Introdução Geral da Liturgia das Horas, n. 210)

“Este oficio, outrora chamado das trevas, conserve o devido lugar na devoção dos fiéis, para contemplar em piedosa meditação a Paixão, Morte e Sepultura do Senhor, à espera do anúncio da sua Ressurreição” (Carta Circular Paschalis Sollemnitatis, n. 40).

O Ofício das Trevas, ou Tenebrae, consiste na oração do Ofício das Leituras e das Laudes da Quinta, Sexta e Sábado da Semana Santa (especialmente os dois últimos). Nesta celebração, segundo a tradição, a igreja permanece às escuras, iluminada apenas por velas, e diante do altar é colocado um candelabro de quinze velas, que vão sendo apagadas após os salmos.


As velas simbolizam o abandono experimentado por Jesus durante a Paixão: dez velas recordam os Apóstolos, que fugiram após a prisão do Mestre; quatro velas recordam o Apóstolo João e as mulheres junto à cruz que, embora tenham permanecido fiéis, também experimentaram a escuridão da Morte do Senhor; e a última vela recorda o próprio Cristo [1].

Esta vela, a de Cristo, tradicionalmente não é apagada ao final da celebração, mas conduzida para a parte de trás do altar ou para a sacristia, simbolizando o mistério do sepultamento do Senhor e da sua descida à “mansão dos mortos” (Hades ou Sheol). Enquanto a vela é transladada podem ser tocadas as matracas, recordando o terremoto que acompanhou a Morte do Senhor.

Convém conservar ou resgatar essa celebração em nossas comunidades, como recomendam os documentos que citamos no início da postagem (Introdução Geral da Liturgia das Horas, n. 210; Carta Circular Paschalis Sollemnitatis, n. 40), de preferência em sua forma litúrgica, isto é, com os textos e nos tempos próprios. Por exemplo, o Ofício das Trevas da Sexta-feira Santa é celebrado na madrugada (ou no início da manhã) deste dia, com os textos do Ofício das Leituras e das Laudes do dia.

Recomendamos vivamente celebrar as Trevas em seu horário adequado, isto é, de madrugada ou no início da manhã, pois assim a celebração conclui-se com uma nota de esperança: o nascer do sol. A morte não tem a última palavra: Cristo ressuscitará!


Não convém, porém, celebrar o Ofício das Trevas da Sexta-feira Santa na Capela da Reposição, onde conserva-se o Santíssimo Sacramento no sacrário. Seria mais indicado celebrá-la em outro local, pois trata-se de um ofício fortemente penitencial.

Se não for possível celebrar as Trevas de maneira litúrgica, pode-se preparar uma celebração adaptada (para-liturgia), inspirada no Ofício das Trevas, em outro dia da Semana Santa. Neste caso, pode-se celebrar inclusive à noite, para favorecer a participação dos fiéis. Também podem-se escolher, dentre os textos da Liturgia das Horas, os mais adequados para a ocasião. Por exemplo, uma celebração inspirada nas Trevas na noite da Quarta-feira da Semana Santa pode ser celebrada com os textos da Sexta-feira.

Abaixo segue um esquema do Ofício das Trevas litúrgico, com os acréscimos da tradição:

- Procissão de entrada (sem cruz, sem velas, em silêncio / não se usa incenso);
- Versículo introdutório (Abri meus lábios, ó Senhor...);
- Salmo invitatório (após o salmo, apagam-se duas velas);
- Hino do Ofício das Leituras (ou hino das Laudes);
- Salmodia do Ofício das Leituras (após cada salmo, apagam-se duas velas);
- Leituras do Ofício;
- Hino das Laudes (se foi rezado no início, é omitido aqui);
- Salmodia de Laudes (após cada salmo, apagam-se duas velas);
- Leitura breve e responsório;
- Cântico evangélico (Benedictus);
- Oração do dia;
- Bênção;
- Procissão com a última vela até atrás do altar ou até a sacristia, ao som das matracas;
- Procissão de saída (em silêncio).


O sacerdote que preside o Ofício pode usar a veste coral (batina com sobrepeliz) ou túnica com a estola na cor do dia: roxo na Quinta, vermelho na Sexta e roxo no Sábado [2]. Se as Trevas são celebradas como para-liturgia em outro dia da Semana Santa, usa-se a cor da Quaresma: roxo. O uso do pluvial é facultativo.

Conservemos este piedoso costume em nossas comunidades, a fim de que possamos entrar plenamente nos mistérios destes dias santos em honra do Senhor Crucificado, Sepultado e Ressuscitado. Que, atravessando com Cristo o mar da morte, possamos receber a luz da Ressurreição, que dissipa as trevas do nosso coração.

Notas
[1] Esta vela pode ser inclusive diferente das demais, seja pelo tamanho ou material. Por exemplo, de cera branca, enquanto as demais são de cera crua ou amarela.
[2] Não há atualmente uma cor litúrgica prevista oficialmente para o Sábado Santo. Inspiramo-nos aqui na Liturgia anterior à reforma do Concílio Vaticano II, na qual era previsto o roxo para este dia. Contudo, seria possível estudar o uso da cor preta neste dia, como alusão ao mistério do sepultamento de Cristo.


Sábado do Akathistos em Moscou

O sábado que antecede o V Domingo da Quaresma na tradição bizantina é conhecido como "Sábado do Akathistos", pois neste dia costuma-se rezar este ofício em honra da Mãe de Deus.

O Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa presidiu, portanto, o Akathistos no último dia 23 de março, véspera do sábado, na Catedral da Epifania em Moscou.

Veneração do ícone
Procissão de entrada



terça-feira, 27 de março de 2018

Via Sacra na Arquidiocese de Milão

Na Arquidiocese de Milão, como em muitas comunidades de todo o mundo, as sextas-feiras da Quaresma foram dedicadas à oração da Via Sacra, meditando o mistério da Paixão do Senhor.

O Arcebispo de Milão, Dom Mario Enrico Delpini, apesar do frio do final do inverno europeu, presidiu este piedoso exercício nas diversas regiões da cidade durante este tempo quaresmal.

Eis algumas fotos:



 



Memória de Nossa Senhora das Dores em Jerusalém

Além do dia 15 de setembro, a igreja de Jerusalém recorda Nossa Senhora das Dores também na última sexta-feira da Quaresma.

Portanto, no último dia 23 de março o Vice-Custódio da Terra Santa, Padre Dobromir Jasztal, celebrou a Santa Missa votiva de Nossa Senhora das Dores na Basílica do Santo Sepulcro, no pequeno altar dedicado a Nossa Senhora junto ao Calvário.

Altar de Nossa Senhora das Dores no Calvário
Ritos iniciais 
Liturgia da Palavra 
Imposição do incenso para o Evangelho
Bênção ao Diácono

Raniero Cantalamessa: V Pregação de Quaresma 2018

Padre Raniero Cantalamessa, OFMCap
V pregação de Quaresma
23 de março de 2018

A pureza cristã

Em nosso comentário à parênese da Carta aos Romanos, chegamos ao ponto em que se diz: “A noite vai adiantada, e o dia vem chegando. Despojemo-nos das obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz. Comportemo-nos honestamente, como em pleno dia: nada de orgias, nada de bebedeira; nada de desonestidades nem dissoluções; nada de contendas, nada de ciúmes. Ao contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não façais caso da carne nem lhe satisfaçais aos apetites” (Rm 13,12-14).
Santo Agostinho, nas Confissões, nos diz o lugar que esta passagem teve em sua conversão. Ele já havia alcançado uma quase completa adesão à fé; as suas objeções haviam sido aniquiladas uma após a outra e a voz de Deus se tornara cada vez mais urgente. Mas havia uma coisa que o detinha: o medo de não ser capaz de viver casto. Ele vivia, como sabemos, com uma mulher sem ser casado.
Estava no jardim da casa que o abrigava, nas garras dessa luta interior e com lágrimas nos olhos, quando, de uma casa próxima, ouviu uma voz, como um menino ou menina, que repetia: “Tolle, lege! / Pegue, leia; pegue, leia!”. Ele interpretou estas palavras como um convite de Deus e, tendo ao alcance das mãos o livro das Epístolas de São Paulo, abriu-o ao acaso, determinado a considerar como vontade de Deus a primeira frase em que seu olhar se fixasse.
A palavra em que seu olhar caiu foi, de fato, aquela da Carta aos Romanos que acabamos de mencionar. Uma luz de segurança brilhou dentro dele (lux securitatis), o que fez desaparecer toda a escuridão da incerteza. Ele sabia agora que, com a ajuda de Deus, poderia ser casto [1].
As coisas que o Apóstolo, naquela passagem, chama “obras das trevas” são as mesmas que em outros lugares define “desejos, ou obras, da carne” (cf. Rm 8,13; Gl 5,19) e as coisas que chama "armas da luz" são as mesmas que em outros lugares chama de "obras do Espírito", ou "frutos do Espírito" (cf. Gl 5,22). Entre essas obras da carne é enfatizada, com dois termos (koite e aselgeia), a devassidão sexual, à qual se opõe a arma da luz que é a pureza.
O Apóstolo não se ocupa, no presente contexto, em falar desse aspecto da vida cristã; mas da lista dos vícios, colocada no início da Carta (cf. Rm 1,26ss), sabemos quão importante era isso para os seus olhos. São Paulo estabelece uma ligação muito estreita entre pureza e santidade e entre pureza e Espírito Santo:
"Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que eviteis a impureza; que cada um de vós saiba possuir o seu corpo santa e honestamente, sem se deixar levar pelas paixões desregradas, como os pagãos que não conhecem a Deus; e que ninguém, nesta matéria, oprima nem defraude a seu irmão, porque o Senhor faz justiça de todas estas coisas, como já antes vo-lo temos dito e asseverado. Pois Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade. Por conseguinte, desprezar estes preceitos é desprezar não a um homem, mas a Deus, que nos deu o seu Espírito Santo." (1Ts 4,3-8)
Por isso, procuremos reunir esta última "exortação" da palavra de Deus, aprofundando o fruto do Espírito que é a pureza.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Entronização do Bispo Melquita de Jerusalém

No último dia 22 de março tomou posse como novo Vigário Patriarcal da Igreja Greco-Melquita em Jerusalém o Bispo Yasser Hanna Ayyash, que substitui Dom Joseph Jules Zerey, o qual renunciou por limite de idade.

O novo Bispo foi recebido às portas da cidade pelas lideranças das igrejas cristãs e realizou sua entronização na Catedral Melquita da Anunciação, na qual presidiu a celebração da Divina Liturgia.

Dom Ayash é recebido pelo Núncio Apostólico 
Procissão até a Catedral Greco-Melquita
Jovens levam o ícone da Anunciação, titular da Catedral
Dom Ayyash recebe o báculo na porta da Catedral
Procissão de entrada

Missa na igreja da Condenação em Jerusalém

Completando a série de peregrinações aos lugares da Paixão do Senhor durante as quartas-feiras da Quaresma, a igreja de Jerusalém reuniu-se no último dia 21 de março para celebrar a Santa Missa na igreja da Condenação de Jesus (Lithostrotos), junto ao Santuário da Flagelação.


Imposição do incenso
Liturgia da Palavra
Evangelho
Homilia 
Apresentação das oferendas

XIV Catequese do Papa sobre a Missa: Comunhão

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 21 de março de 2018
A Missa (14): Comunhão

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje é o primeiro dia de primavera: boa primavera! Mas o que acontece na primavera? Florescem as plantas, florescem as árvores. Far-vos-ei algumas perguntas. Uma árvore ou uma planta doentes, florescem bem, se estão doentes? Não! Uma árvore, uma planta que não for regada pela chuva ou artificialmente, pode florescer bem? Não! E uma árvore ou uma planta das quais foram tiradas as raízes, ou que não as têm, podem florescer? Não! Mas pode-se florescer sem raízes? Não! E esta é uma mensagem: a vida cristã deve ser uma vida que precisa de florescer em obras de caridade, em gestos de bem. Mas se tu não tens raízes, não poderás florescer; e quem é a raiz? Jesus! Se ali, nas raízes, não estiveres com Jesus, não florescerás! Se não regares a tua vida com a oração e os sacramentos, terás flores cristãs? Não! Porque a oração e os sacramentos irrigam as raízes e a nossa vida floresce. Faço-vos votos a fim de que esta primavera seja para vós uma primavera florida, como será a Páscoa florescida. Florida de boas obras, de virtudes, de gestos de bem para os outros. Recordai isto, é um pequeno verso muito bonito da minha Pátria: “O que a árvore tem de florescido vem daquilo que tem de enterrado”. Nunca cortemos as raízes com Jesus.
E agora continuemos com a catequese sobre a Santa Missa. A celebração da Missa, da qual percorremos os vários momentos, visa a Comunhão, ou seja, a nossa união com Jesus. A comunhão sacramental: não a comunhão espiritual, que podes fazer em casa, dizendo: “Jesus, gostaria de te receber espiritualmente”. Não, a comunhão sacramental, com o corpo e o sangue de Cristo. Celebramos a Eucaristia para nos alimentarmos de Cristo, que se oferece a nós quer na Palavra quer no Sacramento do altar, para nos conformar-nos com Ele. É o próprio Senhor quem o diz: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e Eu nele» (Jo 6,56). Com efeito, o gesto de Jesus que deu aos discípulos o seu Corpo e Sangue na última Ceia, continua ainda hoje através do ministério do sacerdote e do diácono, ministros ordinários da distribuição do Pão da vida e do Cálice da salvação aos irmãos.
Na Missa, depois de ter partido o Pão consagrado, ou seja, o corpo de Jesus, o sacerdote mostra-o aos fiéis, convidando-os a participar no banquete eucarístico. Conhecemos as palavras que ressoam do santo altar: «Felizes os convidados para a Ceia do Senhor: eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo». Inspirado num trecho do Apocalipse - «Felizes os convidados para a ceia das núpcias do Cordeiro» (Ap 19,9): diz “núpcias” porque Jesus é o Esposo da Igreja - este convite chama-nos a experimentar a íntima união com Cristo, fonte de alegria e de santidade. É um convite que rejubila e, ao mesmo tempo, impele a um exame de consciência, iluminado pela fé. Com efeito, se por um lado vemos a distância que nos separa da santidade de Cristo, por outro acreditamos que o seu Sangue é «derramado para a remissão dos pecados». Todos nós fomos perdoados no batismo, e todos nós somos perdoados ou seremos perdoados cada vez que nos aproximarmos do sacramento da penitência. E não nos esqueçamos: Jesus perdoa sempre. Jesus não se cansa de perdoar. Somos nós que nos cansamos de pedir perdão. Precisamente pensando no valor salvífico deste Sangue, Santo Ambrósio exclama: «Eu, que peco sempre, devo ter sempre à disposição o remédio» (De sacramentis, 4,28: PL 16,446a). Nesta fé, também nós dirijamos o olhar para o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo, e invoquemo-lo: «Ó Senhor, não sou digno de participar na vossa mesa: mas dizei uma só palavra e eu serei salvo». Dizemos isto em cada Missa.
Somos nós que nos movemos em procissão para receber a Comunhão, caminhamos rumo ao altar em procissão para receber a Comunhão, mas na realidade é Cristo que vem ao nosso encontro para nos assimilar a si. Há um encontro com Jesus! Nutrir-se da Eucaristia significa deixar-se transformar naquilo que recebemos. Santo Agostinho ajuda-nos a compreender isto, quando narra acerca da luz recebida ao ouvir Cristo dizer: «Eu sou o alimento dos grandes. Cresce, e comer-me-ás. E não serás tu que me transformarás em ti, como o alimento da tua carne, mas tu serás transformado em mim» (Confissões, VII, 10, 16: PL 32,742). Cada vez que recebemos a Comunhão, assemelhamo-nos mais a Jesus, transformamo-nos mais em Jesus. Do mesmo modo que o pão e o vinho são transformados no Corpo e Sangue do Senhor, assim quantos os recebem com fé são transformados em Eucaristia viva. Ao sacerdote que, distribuindo a Eucaristia, te diz: «O Corpo de Cristo», tu respondes: «Amém», ou seja, reconheces a graça e o compromisso que comporta tornar-se Corpo de Cristo. Pois quando recebes a Eucaristia, tornas-te corpo de Cristo. Isto é bonito, é muito bonito. Enquanto nos une a Cristo, arrancando-nos dos nossos egoísmos, a Comunhão abre-nos e une-nos a todos aqueles que são um só nele. Eis o prodígio da Comunhão: tornamo-nos aquilo que recebemos!
A Igreja deseja profundamente que também os fiéis recebam o Corpo do Senhor com hóstias consagradas na própria Missa; e o sinal do banquete eucarístico exprime-se com maior plenitude se a sagrada Comunhão for feita sob as duas espécies, não obstante saibamos que a doutrina católica ensina que sob uma só espécie recebemos Cristo inteiro (cf. Introdução Geral do Missal Romano, 85; 281-282). Segundo a praxe eclesial, o fiel aproxima-se normalmente da Eucaristia em forma processional, como dissemos, e comunga de pé, com devoção, ou então de joelhos, como estabelece a Conferência episcopal, recebendo o sacramento na boca ou, onde for permitido, nas mãos, como preferir (cf. IGMR, 160-161). Após a Comunhão, o silêncio, a oração silenciosa, ajuda-nos a conservar no coração o dom recebido. Prolongar um pouco aquele momento de silêncio, falando com Jesus no coração, ajuda-nos muito, assim como cantar um salmo ou um hino de louvor (cf. IGMR, 88), que nos ajude a estar com o Senhor.
A Liturgia eucarística é concluída pela oração depois da Comunhão. Nela, em nome de todos, o sacerdote dirige-se a Deus para lhe dar graças por nos ter tornado seus comensais e pede que aquilo que recebemos transforme a nossa vida. A Eucaristia revigora-nos a fim de darmos frutos de boas obras para viver como cristãos. É significativa a oração de hoje, na qual pedimos ao Senhor que «a participação nos seu sacramento seja para nós remédio de salvação, nos cure do mal e nos confirme na sua amizade» (Missal Romano, Quarta-Feira da 5ª Semana de Quaresma). Aproximemo-nos da Eucaristia: receber Jesus que nos transforma nele torna-nos mais fortes. O Senhor é tão bom e tão grande!


Fonte: Santa Sé

sábado, 24 de março de 2018

Homilia: Domingo de Ramos - Ano B

Santo Ambrósio
Comentário sobre o Salmo 118
Carreguemos a cruz do Senhor para que, crucificando a nossa carne, destrua o pecado

Quem ama os preceitos do Senhor, sujeita com cravos a própria carne, sabendo que, quando seu homem velho esteja com Cristo crucificado na cruz, destruirá a luxúria da carne. Sujeita-a, pois, com cravos e terás destruído os incentivos ao pecado. Existe um cravo espiritual capaz de sujeitar essa tua carne ao patíbulo da cruz do Senhor. Que o temor do Senhor e de seus juízos crucifique esta carne, reduzindo-a à servidão. Porque se esta carne rejeita os cravos do temor do Senhor, indiscutivelmente terá de ouvir: Meu sopro não durará para sempre no homem, visto que é carne. Portanto, a menos que esta carne seja cravada à cruz, e se lhe sujeite com os cravos do temor de nosso Deus, o sopro de Deus não perdurará no homem.

Está cravado com estes cravos quem morre com Cristo para ressuscitar com ele; está cravado com estes cravos quem merece escutar, dito por Jesus: Grava-me como um selo em teu braço, como um selo em teu coração, porque é forte o amor como a morte, é cruel a paixão como o abismo. Grava, portanto, em teu peito e em teu coração este selo do crucificado, grava-o em teu braço, para que tuas obras estejam mortas ao pecado.

Não te escandalize a dureza dos cravos, pois é a dureza da caridade; nem te assuste o poderoso rigor dos cravos, porque também o amor é forte como a morte. Na realidade, o amor dá morte à culpa e a todo pecado; o amor mata como uma apunhalada fatal. Finalmente, quando amamos os preceitos do Senhor, morremos às ações vergonhosas e ao pecado.

A caridade é Deus, a caridade é a Palavra de Deus, uma palavra viva e eficaz, mais cortante que uma espada de fio duplo, penetrante até o ponto onde se dividem alma e espírito, juntas e medula. Que nossa alma e nossa carne estejam sujeitas com estes cravos do amor, para que também ela possa dizer: Estou enferma de amor. Pois também o amor tem seus próprios cravos, como tem sua espada com a qual fere a alma. Bem-aventurado o que merece ser ferido por semelhante espada!

Ofereçamo-nos para receber estas feridas, feridas pelas quais, se alguém morre, não saberá o que é a morte. Tal é, de fato, a morte dos que seguiam ao Senhor, e dos quais se disse: Alguns dos que aqui estão presentes, não morrerão sem antes terem visto ao Filho do Homem com majestade. Com razão Pedro não temia esta morte, não a temia aquele que se dizia disposto a morrer por Cristo, antes de abandoná-lo ou negá-lo. Carreguemos, portanto, com a cruz do Senhor para que, crucificando nossa carne, destrua o pecado. É o temor que crucifica a carne: Aquele que não carrega a cruz e me segue, não é digno de mim. Digno é aquele que está possuído pelo amor de Cristo, até o ponto de crucificar o pecado da carne. A este temor segue-se a caridade que, sepultada com Cristo, não se separa de Cristo, morre com Cristo, é enterrada com Cristo, ressuscita com Cristo.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 324-325. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de São Cirilo de Alexandria para este domingo, clique aqui.

Mensagem do Papa: Jornada da Juventude 2018

Papa Francisco
Mensagem para a XXXIII Jornada Mundial da Juventude
Domingo de Ramos, 25 de março de 2018
«Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus» (Lc 1,30)

Queridos jovens!
A Jornada Mundial da Juventude de 2018 constitui um passo mais na preparação da jornada internacional, que se realizará no Panamá em janeiro de 2019. Esta nova etapa da nossa peregrinação tem lugar no ano em que está convocada a Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre o tema: Os jovens, a fé e o discernimento vocacional. É uma feliz coincidência. A atenção, a oração e a reflexão da Igreja concentrar-se-ão sobre vós, jovens, no desejo de perceber e, sobretudo, «acolher» o dom precioso que vós sois para Deus, para a Igreja e para o mundo.
Como já sabeis, para nos acompanhar ao longo deste itinerário, escolhemos o exemplo e a intercessão de Maria, a jovem de Nazaré, que Deus escolheu como Mãe do seu Filho. Ela caminha conosco rumo ao Sínodo e à JMJ do Panamá. No ano passado, guiaram-nos as palavras do seu cântico de louvor – «O Todo-poderoso fez em Mim maravilhas» (Lc 1,49) –, ensinando-nos a conservar na memória o passado; este ano, procuramos escutar, juntamente com Ela, a voz de Deus que infunde coragem e dá a graça necessária para responder à sua chamada: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus» (Lc 1,30). São as palavras que o mensageiro de Deus, o arcanjo Gabriel, dirigiu a Maria, jovem simples duma pequena povoação da Galileia.

1. Não temas!
Compreensivelmente, a inesperada aparição do anjo e a sua saudação misteriosa («Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo»: Lc 1,28) provocaram uma forte turbação em Maria, surpreendida por esta primeira revelação da sua identidade e da sua vocação, que Lhe eram ainda desconhecidas. Maria, como outras personagens da Sagrada Escritura, treme perante o mistério da chamada de Deus, que, dum momento para o outro, a confronta com a imensidão do desígnio divino e Lhe faz sentir toda a sua pequenez de humilde criatura. O anjo, lendo no fundo do coração d’Ela, diz-Lhe: «Não temas»! Deus lê também no nosso íntimo. Conhece bem os desafios que devemos enfrentar na vida, sobretudo quando nos deparamos com as opções fundamentais de que depende o que seremos e faremos neste mundo. É a «perplexidade» que sentimos face às decisões sobre o nosso futuro, o nosso estado de vida, a nossa vocação. Em tais momentos, ficamos turbados e somos assaltados por tantos medos.
E vós, jovens, quais são os medos que tendes? Que é que vos preocupa mais profundamente? Um medo «de fundo», que existe em muitos de vós, é o de não ser amados, bem-queridos, de não ser aceites por aquilo que sois. Hoje, há muitos jovens que, na tentativa de se adequar a padrões frequentemente artificiais e inatingíveis, têm a sensação de dever ser diferentes daquilo que são na realidade. Fazem contínuos «foto-retoques» das imagens próprias, escondendo-se por trás de máscaras e identidades falsas, até chegarem quase a tornar-se eles mesmos um «fake», um falso. Muitos têm a obsessão de receber o maior número possível de apreciações «gosto». E daqui, desta sensação de desajustamento, surgem muitos medos e incertezas. Outros temem não conseguir encontrar uma segurança afetiva e ficar sozinhos. Em muitos, à vista da precariedade do trabalho, entra o medo de não conseguirem encontrar uma conveniente afirmação profissional, de não verem realizados os seus sonhos. Trata-se de medos atualmente muito presentes em inúmeros jovens, tanto crentes como não-crentes. E mesmo aqueles que acolheram o dom da fé e procuram seriamente a sua vocação, por certo não estão isentos de medos. Alguns pensam: talvez Deus me peça ou virá a pedir demais; talvez, ao percorrer a estrada que Ele me aponta, não seja verdadeiramente feliz, ou não esteja à altura do que me pede. Outros interrogam-se: Se seguir o caminho que Deus me indica, quem me garante que conseguirei percorrê-lo até ao fim? Desanimarei? Perderei o entusiasmo? Serei capaz de perseverar a vida inteira?
Nos momentos em que se aglomeram no nosso coração dúvidas e medos, torna-se necessário o discernimento. Este permite-nos pôr ordem na confusão dos nossos pensamentos e sentimentos, para agir de maneira justa e prudente. Neste processo, o primeiro passo para superar os medos é identificá-los claramente, para não acabar desperdiçando tempo e energias a braços com fantasmas sem rosto nem consistência. Por isso, convido-vos, todos, a olhar dentro de vós próprios e a «dar um nome» aos vossos medos. Perguntai-vos: Hoje, na situação concreta que estou a viver, o que é que me angustia, o que é que mais temo? O que é que me bloqueia e impede de avançar? Porque é que não tenho a coragem de abraçar as decisões importantes que deveria tomar? Não tenhais medo de olhar, honestamente, para os vossos medos, reconhecê-los pelo que são e enfrentá-los. A Bíblia não nega o sentimento humano do medo, nem os inúmeros motivos que o podem provocar. Abraão teve medo (cf. Gn 12,10-11), Jacob teve medo (cf. Gn 31,31; 32,8), e de igual modo também Moisés (cf. Ex 2,14; 17,4), Pedro (cf. Mt 26,69-75) e os Apóstolos (cf. Mc 4,38-40; Mt 26,56). O próprio Jesus, embora a um nível incomparável, sentiu medo e angústia (cf. Mt 26,37; Lc 22,44).
«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» (Mc 4,40). Esta advertência de Jesus aos discípulos faz-nos compreender como muitas vezes o obstáculo à fé não é a incredulidade, mas o medo. Neste sentido, o trabalho de discernimento, depois de ter identificado os nossos medos, deve ajudar-nos a superá-los, abrindo-nos à vida e enfrentando serenamente os desafios que ela nos apresenta. De modo particular para nós, cristãos, o medo nunca deve ter a última palavra, mas ser ocasião para realizar um ato de fé em Deus... e também na vida. Isto significa acreditar na bondade fundamental da existência que Deus nos deu, confiar que Ele conduz a um fim bom mesmo através de circunstâncias e vicissitudes muitas vezes misteriosas para nós. Se, em vez disso, alimentarmos os medos, tenderemos a fechar-nos em nós próprios, a barricar-nos para nos defendermos de tudo e de todos, ficando como que paralisados. É preciso reagir! Nunca fechar-se! Na Sagrada Escritura, encontramos 365 vezes a expressão «não temer», nas suas múltiplas variações, como se dissesse que o Senhor nos quer livres do medo todos os dias do ano.
O discernimento torna-se indispensável quando se trata da busca da própria vocação. Pois esta, na maioria das vezes, não aparece logo clara ou completamente evidente, mas vai-se identificando pouco a pouco. O discernimento, que se deve fazer neste caso, não há de ser entendido como um esforço individual de introspeção, cujo objetivo seria conhecer melhor os nossos mecanismos interiores para nos fortalecermos e alcançarmos um certo equilíbrio; porque, então, a pessoa pode tornar-se mais forte, mas permanece em todo o caso fechada no horizonte limitado das suas possibilidades e pontos de vista. Ao contrário, a vocação é uma chamada do Alto e, neste caso, o discernimento consiste sobretudo em abrir-se ao Outro que chama. Portanto, é necessário o silêncio da oração para escutar a voz de Deus que ressoa na consciência. Ele bate à porta dos nossos corações, como fez com Maria, desejoso de estreitar amizade conosco através da oração, falar-nos através da Sagrada Escritura, oferecer-nos a sua misericórdia no sacramento da Reconciliação, tornar-Se um só conosco na Comunhão Eucarística.
Mas é importante também o confronto e o diálogo com os outros, nossos irmãos e irmãs na fé, que têm mais experiência e nos ajudam a ver melhor e a escolher entre as várias opções. O jovem Samuel, quando ouve a voz do Senhor, não a reconhece imediatamente e três vezes foi ter com Eli, o sacerdote idoso, que acaba por lhe sugerir a resposta certa a dar à chamada do Senhor: «Se fores chamado outra vez, responde: “Fala, Senhor; o teu servo escuta”» (1Sm 3,9). Nas vossas dúvidas, sabei que podeis contar com a Igreja. Sei que há bons sacerdotes, consagrados e consagrados, fiéis-leigos – muitos deles também jovens –, que vos podem acompanhar como irmãos e irmãs mais velhos na fé; animados pelo Espírito Santo, serão capazes de vos ajudar a decifrar as vossas dúvidas e a ler o desígnio da vossa vocação pessoal. O «outro» é não apenas o guia espiritual, mas também quem nos ajuda a abrir-nos a todas as riquezas infinitas da existência que Deus nos deu. É necessário abrir espaços nas nossas cidades e comunidades para crescer, sonhar, perscrutar novos horizontes! Nunca percais o prazer de gozar do encontro, da amizade, o prazer de sonhar juntos, de caminhar com os outros. Os cristãos autênticos não têm medo de se abrir aos outros, de compartilhar os seus espaços vitais transformando-os em espaços de fraternidade. Não deixeis, queridos jovens, que os fulgores da juventude se apaguem na escuridão duma sala fechada, onde a única janela para olhar o mundo seja a do computador e do smartphone. Abri de par em par as portas da vossa vida! Os vossos espaços e tempos sejam habitados por pessoas concretas, relações profundas, que vos deem a possibilidade de compartilhar experiências autênticas e reais no vosso dia-a-dia.

sexta-feira, 23 de março de 2018

Solenidade de São José em Cracóvia

O Arcebispo de Cracóvia, Dom Marek Jędraszewski, celebrou a Santa Missa da Solenidade de São José, Esposo da Virgem Maria e padroeiro da cidade, no último dia 19 de março na Basílica de Santa Maria em Cracóvia.

Entronização das bandeiras (antes da Missa)
Procissão de entrada

Incensação
Ritos iniciais

Fotos das Ordenações Episcopais no Vaticano

No último dia 19 de março, Solenidade de São José, Esposo da Virgem Maria, o Papa Francisco celebrou a Santa Missa na Basílica de São Pedro, durante a qual ordenou Bispos três novos Núncios Apostólicos:

Dom Waldemar Stanisław Sommertag, nomeado Núncio na Nicarágua;
Dom Alfred Xuereb, nomeado Núncio na Coreia do Sul e Mongólia
Dom José Avelino Bettencourt, nomeado Núncio na Armênia e Geórgia

Os Bispos co-sagrantes foram os Cardeais Pietro Parolin (Secretário de Estado) e Fernando Filoni (Congregação para a Evangelização dos Povos)

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Vincenzo Peroni. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Para ler a homilia do Papa, clique aqui.

Procissão de entrada
Incensação
Ritos iniciais
Os três candidatos
Liturgia da Palavra