segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Ângelus: XXIII Domingo do Tempo Comum - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 05 de setembro de 2021

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho da Liturgia de hoje apresenta Jesus que cura “um homem surdo, que falava com dificuldade” (Mc 7,32). O que impressiona na narração é o modo como o Senhor realiza este sinal prodigioso. E o faz desta forma: chama à parte o surdo, põe os dedos nos ouvidos e com a saliva toca-lhe a língua, depois olha para o céu, suspira e diz: “Effatà”, ou seja, «Abre-te!» (cf. Mc 7,33-34). Em outras curas de doenças igualmente graves, tais como a paralisia ou a lepra, Jesus não realiza tantos gestos. Por que faz tudo isto agora, apesar de só lhe ter sido pedido que pusesse a mão sobre a pessoa doente (cf. v. 32)? Por que faz estes gestos? Talvez porque a condição daquela pessoa tem um valor simbólico particular. Ser surdo é uma doença, mas também um símbolo. E este símbolo - tem algo a dizer a todos nós. Do que se trata? Trata-se da surdez. Aquele homem tinha dificuldade para falar porque não podia ouvir. Com efeito, Jesus para curar a causa da sua doença, coloca primeiro os dedos nos ouvidos; depois na boca, mas primeiro nos ouvidos.

Todos nós temos ouvidos, mas muitas vezes não conseguimos ouvir. Por quê? Irmãos e irmãs, existe de fato uma surdez interior, e hoje podemos pedir a Jesus para lhe tocar e curar. E essa surdez interior é pior do que a física, pois é a surdez do coração. Na nossa pressa, com mil coisas para dizer e fazer, não encontramos tempo para parar e ouvir aqueles que falam conosco. Corremos o risco de nos tornarmos impermeáveis a tudo e a não dar lugar àqueles que precisam ser ouvidos: penso nas crianças, nos jovens, nos idosos, muitos que não precisam tanto de palavras e sermões, mas de ser ouvidos. Perguntemo-nos: como vai a minha escuta? Será que me sensibilizo com a vida das pessoas, que sei como ter tempo para ouvir os que me rodeiam? Isto é para todos nós, mas de uma forma especial para os padres, os sacerdotes. O sacerdote deve ouvir as pessoas, não ter pressa, ouvir... e ver como pode ajudar, mas depois de ter ouvido. E todos nós: primeiro ouvir, depois responder. Pensemos na vida em família: quantas vezes falamos sem ouvir primeiro, repetindo as próprias ladainhas, sempre as mesmas! Incapazes de ouvir, dizemos as mesmas coisas vezes sem conta, ou não deixamos que a outra pessoa acabe de falar, de se expressar, e a interrompemos. O renascimento de um diálogo muitas vezes não vem das palavras, mas do silêncio, sem insistências, do recomeçar pacientemente a ouvir a outra pessoa, de ouvir as suas lutas, o que tem dentro. A cura do coração começa com a escuta. Ouvir. E isto cura o coração. “Mas padre, há pessoas chatas que dizem sempre as mesmas coisas...”. Escuta-as. E depois, quando acabarem de falar, diz a tua palavra, mas ouve tudo.

E o mesmo é válido com o Senhor. Fazemos bem em inundá-lo com pedidos, mas faríamos bem antes de tudo em ouvi-lo. Jesus pede isso. No Evangelho, quando lhe perguntam qual é o primeiro mandamento, ele responde: «Ouve, Israel». Depois acrescenta o primeiro mandamento: «Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração (...) e o teu próximo como a ti mesmo» (Mc 12,28-31). Mas antes de tudo diz: «Ouve, Israel». Ouve. Será que nos lembramos de ouvir o Senhor? Somos cristãos, mas talvez, entre os milhares de palavras que ouvimos todos os dias, não encontremos alguns segundos para deixar ressoar em nós algumas palavras do Evangelho. Jesus é a Palavra: se não pararmos para ouvi-lo, ele passa além. Se não pararmos para ouvir Jesus, ele passa adiante. Santo Agostinho dizia: «Tenho medo do Senhor quando passa». E o medo era de deixá-lo passar sem ouvi-lo. Mas se dedicarmos tempo ao Evangelho, encontraremos um segredo para a nossa saúde espiritual. Eis o remédio: todos os dias um pouco de silêncio e de escuta, menos palavras inúteis e mais Palavra de Deus. Sempre com o Evangelho no bolso, que ajuda muito. Hoje, como no dia do nosso Batismo, ouçamos as palavras de Jesus dirigidas a nós: “Effatà”, “abre-te!”. Abri os ouvidos. Jesus, desejo abrir-me à tua Palavra; Jesus, abre-me à tua escuta; Jesus, cura o meu coração do fechamento, cura o meu coração da pressa, cura o meu coração da impaciência.

Que a Virgem Maria, aberta à escuta da Palavra, que se fez carne nela, nos ajude todos os dias a escutar o seu Filho no Evangelho e os nossos irmãos e irmãs com coração dócil, com coração paciente e com coração atento.


Fonte: Santa Sé.

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