terça-feira, 31 de maio de 2022

Homilia: Festa da Visitação de Maria

Das Homilias de São Beda, o Venerável, Presbítero
Maria engrandece o Senhor que age nela

Minha alma engrandece o Senhor e exulta meu espírito em Deus, meu Salvador (Lc 1,46). Com estas palavras, Maria reconhece, em primeiro lugar, os dons que lhe foram especialmente concedidos; em seguida, enumera os benefícios universais com que Deus favorece continuamente o gênero humano.

Engrandece o Senhor a alma daquele que consagra todos os sentimentos da sua vida interior ao louvor e ao serviço de Deus; e, pela observância dos mandamentos, revela pensar sempre no poder da majestade divina. Exulta em Deus, seu Salvador, o espírito daquele que se alegra apenas na lembrança de seu Criador, de quem espera a salvação eterna.

Embora estas palavras se apliquem a todas as almas santas, adquirem contudo a mais plena ressonância ao serem proferidas pela santa Mãe de Deus. Ela, por singular privilégio, amava com perfeito amor espiritual aquele cuja concepção corporal em seu seio era a causa de sua alegria.

Com toda razão pôde ela exultar em Jesus, seu Salvador, com júbilo singular, mais do que todos os outros santos, porque sabia que o autor da salvação eterna havia de nascer de sua carne por um nascimento temporal; e sendo uma só e mesma pessoa, havia de ser ao mesmo tempo seu Filho e seu Senhor.

O Poderoso fez em mim maravilhas, e santo é o seu nome! (Lc 1,49). Maria nada atribui a seus méritos, mas reconhece toda a sua grandeza como dom daquele que, sendo por essência poderoso e grande, costuma transformar os seus fiéis, pequenos e fracos, em fortes e grandes.

Logo acrescentou: E santo é o seu nome! Exorta assim os que a ouviam, ou melhor, ensinava a todos os que viessem a conhecer suas palavras, que pela fé em Deus e pela invocação do seu nome também eles poderiam participar da santidade divina e da verdadeira salvação. É o que diz o Profeta: Então, todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo (Jl 3,5). É precisamente este o nome a que Maria se refere ao dizer: Exulta meu espírito em Deus, meu Salvador.

Por isso, se introduziu na Liturgia da santa Igreja o costume belo e salutar, de cantarem todos, diariamente, este hino na salmodia vespertina. Assim, que o espírito dos fiéis, recordando frequentemente o mistério da encarnação do Senhor, se entregue com generosidade ao serviço divino e, lembrando-se constantemente dos exemplos da Mãe de Deus, se confirme na verdadeira santidade. E pareceu muito oportuno que isto se fizesse na hora das Vésperas, para que nossa mente fatigada e distraída ao longo do dia por pensamentos diversos, encontre o recolhimento e a paz de espírito ao aproximar-se o tempo do repouso.

São Beda, o Venerável

Responsório (Lc 1,45-46; Sl 65,16)

És feliz porque creste, Maria, pois em ti, a palavra de Deus vai cumprir-se conforme Ele disse. Maria, então, exclamou:
R. A minh’alma engrandece o Senhor. Aleluia.

Todos vós que a Deus temeis, vinde escutar: Vou contar-vos todo o bem, que Ele me fez!
R. A minh’alma engrandece o Senhor. Aleluia.

Oração
Ó Deus todo-poderoso, que inspirastes à Virgem Maria sua visita a Isabel, levando no seio o vosso Filho, fazei-nos dóceis ao Espírito Santo, para cantar com ela o vosso louvor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: Ofício das Leituras da Festa da Visitação de Nossa Senhora, no dia 31 de maio (Liturgia das Horas, vol. II, pp. 1601-1602; vol. III, pp. 1321-1323).

Regina Coeli do Papa: Ascensão do Senhor - Ano C

Papa Francisco
Regina Coeli
Domingo, 29 de maio de 2022

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje na Itália e em muitos países celebra-se a Ascensão do Senhor, ou seja, o seu regresso ao Pai. Na Liturgia, o Evangelho segundo Lucas narra a última aparição do Senhor Ressuscitado aos discípulos (cf. Lc 24,46-53). A vida terrena de Jesus culmina precisamente com a Ascensão, que também professamos no Credo: «e subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai». O que significa este evento? Como devemos entendê-lo? Para responder a esta pergunta, detenhamo-nos em duas ações que Jesus realiza antes subir ao céu: primeiro anuncia o dom do Espírito e depois abençoa os discípulos. Anuncia o dom do Espírito e abençoa.

Em primeiro lugar, Jesus diz aos seus amigos: «Eu mandarei sobre vós o Prometido do meu Pai» (v. 49). Ele fala do Espírito Santo, o Consolador, Aquele que os acompanhará, guiará, apoiará na missão, defenderá nas batalhas espirituais. Então compreendemos algo importante: Jesus não está abandonando os discípulos. Ele sobe ao céu, mas não nos deixa sozinhos. Aliás, precisamente ao ascender para o Pai Ele garante a efusão do Espírito Santo, do seu Espírito. Em outra ocasião, Ele disse: «convém a vós que eu vá! Porque, se eu não for, o Paráclito não virá a vós» (Jo 16,7), ou seja, o Espírito. Também nisto se pode ver o amor de Jesus: a sua é uma presença que não quer limitar a nossa liberdade. Pelo contrário, dá-nos espaço, porque o verdadeiro amor gera sempre uma proximidade que não esmaga, não é possessivo, é próximo, mas não possessivo; pelo contrário, o verdadeiro amor torna-nos protagonistas. E assim Cristo assegura: “Volto para o Pai, e vós sereis revestidos do poder do alto: enviarei sobre vós o meu próprio Espírito, e pelo seu poder continuareis a minha obra no mundo” (cf. Lc 24,49). Assim, subindo ao céu, Jesus, em vez de permanecer perto de alguns com o seu corpo, faz-se próximo de todos com o seu Espírito. O Espírito Santo torna Jesus presente em nós, além das barreiras do tempo e do espaço, para fazer-nos suas testemunhas no mundo.

Imediatamente depois - é a segunda ação - Cristo levanta as mãos e abençoa os Apóstolos (v. 50). É um gesto sacerdotal. Deus, desde a época de Aarão, tinha confiado aos sacerdotes a tarefa de abençoar o povo (cf. Nm 6,24-26). O Evangelho quer dizer-nos que Jesus é o grande sacerdote da nossa vida. Jesus volta para o Pai a fim de interceder por nós, de lhe apresentar a nossa humanidade. Assim, diante dos olhos do Pai, há e sempre haverá, com a humanidade de Jesus, as nossas vidas, as nossas esperanças, as nossas feridas. Assim, enquanto Ele faz o seu “êxodo” para o Céu, Cristo “abre o caminho” para nós, vai preparar-nos um lugar e, desde então, intercede por nós, para que sejamos sempre acompanhados e abençoados pelo Pai.

Irmãos e irmãs, pensemos hoje no dom do Espírito que recebemos de Jesus para sermos testemunhas do Evangelho. Perguntemo-nos se realmente o somos; e também se somos capazes de amar os outros, deixando-os livres e abrindo-lhes espaço. E depois: sabemos ser intercessores pelos outros, ou seja, sabemos rezar por eles e abençoar a sua vida? Ou servimos os outros para os próprios interesses? Aprendamos isto: oração de intercessão, interceder pelas esperanças e sofrimentos do mundo, intercedendo pela paz. E abençoemos com o olhar e com as palavras aqueles que encontramos todos os dias!
Agora oremos a Nossa Senhora, a bendita entre as mulheres que, cheia do Espírito Santo, reza e intercede sempre por nós.

Ascensão do Senhor
(Igreja de São João Batista - Cashel, Irlanda)

Após a oração do Regina Coeli o Papa anunciou um Consistório para a criação de 21 novos Cardeais, a ser celebrado no próximo dia 27 de agosto.

Fonte: Santa Sé.

segunda-feira, 30 de maio de 2022

História da Festa da Visitação de Maria

“Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1,45).

Ao longo de toda a Sagrada Escritura encontramos diversas bem-aventuranças, tanto no Antigo Testamento (particularmente nos Salmos) quanto no Novo Testamento, desde os Evangelhos até o Apocalipse.

A primeira bem-aventurança do Novo Testamento é aquela proferida pela anciã Isabel à jovem “dona-de-casa” de Nazaré. É o que celebramos no dia 31 de maioFesta da Visitação da Bem-aventurada Virgem Maria (Visitatio Beatae Mariae Virginis), mais conhecida no Brasil como Visitação de Nossa Senhora:

“Festa do Magnificat, a Visitação prolonga e irradia a alegria messiânica da salvação. Maria, arca da nova aliança, é ‘teófora’ (portadora de Deus), saudada por Isabel como Mãe do Senhor. A Visitação é o encontro entre a jovem mãe, Maria, a serva do Senhor, e a anciã Isabel, símbolo de Israel que espera. A solicitude carinhosa de Maria com o seu caminhar apressado (Lc 1,39) exprime, também, juntamente com o gesto de caridade, o anúncio de que os tempos se cumpriram. João, que estreme no seio materno, inicia desde já sua missão de Precursor” [1].

Visitação de Maria a Isabel
(Giotto - Basílica Inferior de Assis)

1. As origens da Festa da Visitação

Embora seja contada entre as “festas marianas”, a Visitação está relacionada diretamente ao Ciclo da Encarnação-Manifestação do Senhor, como parte dos acontecimentos que preparam imediatamente o seu Nascimento segundo a carne, encontrando seu “lugar litúrgico” por excelência, portanto, no Tempo do Advento (cf. Elenco das Leituras da Missa, n. 93).

O relato da Visitação (Lc 1,39-56), com efeito, era lido tradicionalmente na sexta-feira da III semana do Advento, a sexta-feira das Têmporas de inverno (no hemisfério norte), assim como o relato da Anunciação do Senhor (cf. Lc 1,26-38) era lido na quarta-feira dessa semana.

Atualmente, o relato da Visitação - às vezes unido ao cântico da Virgem Maria, o Magnificat (vv. 46-55) - é proclamado diversas vezes nesse tempo: no IV Domingo do Advento do ano C; nos dias 21 e 22 de dezembro; no 3º formulário de Missa votiva de Nossa Senhora no Advento.

Contudo, o mistério da Visitação começa a ganhar destaque apenas a partir do século XIII, como parte da devoção às “alegrias de Maria” promovida pelos franciscanos. Sua comemoração teria sido inserida no Breviário Franciscano em 1263 pelo então superior da Ordem, São Boaventura (†1274).

Nesse período, no contexto das Cruzadas, seria edificada uma igreja na localidade de Ain Karem (ou Ein Kerem), próxima a Jerusalém, identificada como a “região montanhosa” onde habitavam Zacarias e Isabel (Lc 1,39). Essa igreja, porém, logo foi destruída pelos muçulmanos (o atual Santuário da Visitação remonta a 1955).

O Arcebispo de Praga, no então Reino da Boêmia (atual República Tcheca), Johann von Jenstein (†1400; em tcheco, Jan z Jenštejna) teria instituído a Festa da Visitação em sua diocese em 1386, a ser celebrada no dia 28 de abril, cerca de um mês após a Solenidade da Anunciação.

Johan von Jenstein, Arcebispo de Praga:
Grande promotor da Festa da Visitação

A Johann von Jenstein, com efeito, atribuem-se ao menos três hinos para a Festa da Visitação, posteriormente entoados como sequências antes do Evangelho da Missa: Ave Verbi Dei parens, Decet huius cunctis horis e Illibata mente sana.

A festa rapidamente difundiu-se por outras dioceses - Ratisbona (Regensburg), Paris, Reims, Genebra - sendo celebrada em diferentes datas, a maioria entre o final de junho e o início de julho (associada, como veremos, à Natividade de São João Batista).

Papa Francisco criará 21 novos Cardeais

Após a oração do Regina Coeli do domingo, 29 de maio de 2022, o Papa Francisco anunciou que celebrará um Consistório para a criação de novos Cardeais no próximo dia 27 de agosto.

Este será o oitavo Consistório do pontificado do Papa Francisco, no qual serão criados 21 novos Cardeais, sendo 16 eleitores em um eventual Conclave e 05 não-eleitores (Cardeais com mais de 80 anos).

Cardeais eleitores:

1. Dom Arthur Roche
Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos
Nascimento: 06 de março de 1950 (72 anos) - Inglaterra

2. Dom Lazarus You Heung-sik
Prefeito da Congregação para o Clero
Nascimento: 17 de novembro de 1951 (70 anos) - Coreia do Sul

3. Dom Fernando Vérgez Alzaga
Presidente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano
Nascimento: 01 de março de 1945 (77 anos) - Espanha

4. Dom Jean-Marc Aveline
Arcebispo de Marselha (França)
Nascimento: 26 de dezembro de 1958 (63 anos) - Argélia

5. Dom Peter Ebere Okpaleke
Bispo de Ekwulobia (Nigéria)
Nascimento: 01 de março de 1963 (59 anos) - Nigéria

domingo, 29 de maio de 2022

Ordenações Presbiterais em Cracóvia

Na Arquidiocese de Cracóvia (Polônia), enquanto o dia 08 de maio, Festa de Santo Estanislau, é dedicado às Ordenações Diaconais, o último sábado desse mês costuma ser dedicado às Ordenações Presbiterais.

Assim, na manhã do dia 28 de maio de 2022 o Arcebispo de Cracóvia, Dom Marek Jędraszewski, celebrou a Santa Missa na Catedral dos Santos Venceslau e Estanislau, a Catedral de Wawel, para a Ordenação sacerdotal de oito novos presbíteros:

Acolhida do Arcebispo
Procissão de entrada



Homilia: Ascensão do Senhor

Santo Agostinho, Bispo
Sermo de Ascensione Domini
Ninguém subiu ao céu a não ser Aquele que de lá desceu

Hoje nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao céu; suba também com Ele o nosso coração. Ouçamos as palavras do Apóstolo: Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres (Cl 3,1-2). E assim como Ele subiu sem se afastar de nós, também nós subimos com Ele, embora não se tenha ainda realizado em nosso corpo o que nos está prometido.
Cristo já foi elevado ao mais alto dos céus; contudo, continua sofrendo na terra através das tribulações que nós experimentamos como seus membros. Deu testemunho desta verdade quando se fez ouvir lá do céu: Saulo, Saulo, por que me persegues (At 9,4). E ainda: Eu estava com fome e me destes de comer (Mt 25,35).
Por que razão nós também não trabalhamos aqui na terra de tal modo que, pela fé, esperança e caridade que nos unem a nosso Salvador, já descansemos com Ele no céu? Cristo está no céu, mas também está conosco; e nós, permanecendo na terra, estamos também com Ele. Por sua divindade, por seu poder e por seu amor Ele está conosco; nós, embora não possamos realizar isso pela divindade, como Ele, ao menos podemos realizar pelo amor que temos para com Ele.
O Senhor Jesus Cristo não deixou o céu quando de lá desceu até nós; também não se afastou de nós quando subiu novamente ao céu. Ele mesmo afirma que se encontrava no céu quando vivia na terra, ao dizer: Ninguém subiu ao céu, a não ser Aquele que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu (cf. Jo 3,13).
Isto foi dito para significar a unidade que existe entre Ele, nossa Cabeça, e nós, seu Corpo. E ninguém senão Ele podia realizar esta unidade que nos identifica com Ele mesmo, pois se tornou Filho do homem por nossa causa, e nós por meio d’Ele nos tornamos filhos de Deus.
Neste sentido diz o Apóstolo: Como o corpo é um só, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com Cristo (1Cor 12,12). Ele não diz: “assim é Cristo”, mas: assim também acontece com Cristo. Portanto, Cristo é um só, formado por muitos membros.
Desceu do céu por sua misericórdia e ninguém mais subiu senão Ele; mas n’Ele, pela graça, também nós subimos. Portanto, ninguém mais desceu senão Cristo e ninguém mais subiu além de Cristo.
Isto não quer dizer que a dignidade da Cabeça se confunde com a do Corpo, mas que a unidade do Corpo não se separa da Cabeça.

Santo Agostinho, Bispo e Doutor da Igreja

Responsório (cf. At 1,3.9.4)

Depois de ter padecido, Jesus lhes apareceu, durante quarenta dias, falando-lhes sobre o Reino.
R. E Ele foi elevado ao céu, à vista dos seus amigos e uma nuvem o encobriu dos olhos dos seus. Aleluia.

E, comendo com eles, determinou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas sim que esperassem a promessa do Pai.
R. E Ele foi elevado ao céu, à vista dos seus amigos e uma nuvem o encobriu dos olhos dos seus. Aleluia.

Oração

Ó Deus todo-poderoso, a Ascensão do vosso Filho já é nossa vitória. Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças, pois, membros de seu corpo, somos chamados na esperança a participar da sua glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: Liturgia das Horas, vol. II, pp. 828-830.

sábado, 28 de maio de 2022

Faleceu o Cardeal Angelo Sodano

Faleceu no dia 27 de maio de 2022, aos 94 anos, o Cardeal Angelo Sodano, Decano Emérito do Colégio Cardinalício.


Angelo Sodano nasceu em Isola d'Asti (Itália) a 23 de novembro de 1927. Foi ordenado sacerdote no dia 23 de setembro de 1950, incardinado na Diocese de Asti.

Após a ordenação ingressou no serviço diplomático da Santa Sé, tendo trabalhado em algumas Nunciaturas Apostólicas e na Secretaria de Estado.

Em 30 de novembro de 1977 foi nomeado pelo Papa Paulo VI como Núncio Apostólico no Chile e Arcebispo Titular de Nova di Cesare, recebendo a Ordenação Episcopal no dia 15 de janeiro de 1978.

Dez anos depois, no dia 23 de maio de 1988, retornou à Santa Sé após sua nomeação como Secretário da Seção para as Relações com os Estados.

João Paulo II o nomeou Secretário de Estado da Santa Sé no dia 01 de dezembro de 1990, criando-o Cardeal no Consistório de 28 de junho de 1991 com o Título Presbiteral de Santa Maria Nova.


No dia 10 de janeiro de 1994 foi promovido a Cardeal Bispo da Igreja Suburbicária de Albano. No dia 30 de novembro de 2002, por sua vez, foi eleito Vice-Decano do Colégio Cardinalício.

Com a eleição do Cardeal Joseph Ratzinger como Papa Bento XVI, o sucedeu como Decano do Colégio dos Cardeais, conservando o título de Cardeal-Bispo de Albano e recebendo o título próprio do Decano: Cardeal-Bispo de Óstia.

No dia 15 de setembro de 2006 o Papa aceitou sua renúncia ao ofício de Secretário de Estado por limite de idade.

Durante o Conclave de 2013, após a renúncia de Bento XVI, como Decano do Colégio Cardinalício, presidiu a Missa pro eligendo Pontifice (Pela eleição do Papa), não porém o Conclave, uma vez que já havia completado 80 anos.

Após a eleição do Papa Francisco, coube ao Cardeal Sodano impor-lhe o anel do pescador na Missa de início do Ministério Petrino. O mesmo Francisco celebrou a Missa por ocasião dos 90 anos do Cardeal Sodano em 2017.

No dia 21 de dezembro de 2019, por sua vez, após completar 92 anos, o Papa aceitou sua renúncia ao ofício de Decano do Colégio dos Cardeais e Cardeal-Bispo de Óstia, permanecendo como Cardeal-Bispo de Albano e Decano Emérito.



Com sua morte o Colégio Cardinalício passa a contar com 208 membros, sendo 117 eleitores em um eventual Conclave e 91 não eleitores (Cardeais com mais de 80 anos).

Com informações do site da Santa Sé.

Sequência de Pentecostes: Sancti Spiritus adsit nobis gratia

“Enviai o vosso Espírito e tudo será criado, e renovareis a face da terra” (Sl 103,30).

Os católicos de Rito Romano estão familiarizados com a sequência Veni, Sancte Spíritus (“Espírito de Deus, enviai dos céus”), entoada no Domingo de Pentecostes.

Essa, com efeito, é uma das poucas sequências que “sobreviveram” à reforma litúrgica do Concílio de Trento. Anteriormente, entre os séculos X e XVI, praticamente todas as solenidades e festas do Ano Litúrgico possuíam uma ou mais sequências, composições poéticas que sintetizavam o mistério celebrado [1].

Além de Veni, Sancte Spíritus, composição do século XIII atribuída a Stephen Langton (†1228), Arcebispo de Canterbury (Inglaterra), a Solenidade de Pentecostes era enriquecida com a sequência Sancti Spiritus adsit nobis gratia (em uma tradução livre, “Que o Espírito Santo derrame sobre nós a sua graça”).

Para saber mais sobre o Pentecostes, confira nossa postagem sobre a história desta Solenidade.

Vitral do Espírito Santo
(Catedral de Santa Maria, Glasgow)

Esta sequência remonta ao início do século X, sendo talvez a mais famosa dentre as atribuídas a Notker Balbulus (†912), monge beneditino da Abadia de Sankt Gallen (Suíça).

Notker “o Gago”, venerado como Beato pelos beneditinos, compilou 38 composições em seu Liber Sequentiarum, das quais já falamos aqui no blog sobre três:
- Sancti Baptistae, Christi praeconis (Natividade de São João Batista);
- Petre, summe Christi pastor (Solenidade de São Pedro e São Paulo);
- Summi triumphum Regis (Solenidade da Ascensão do Senhor).

Entre os séculos XIII e XVI as duas sequências - Veni, Sancte Spíritus e  Sancti Spiritus adsit nobis - eram entoadas intercaladamente no Domingo de Pentecostes e durante a sua Oitava, até que o Concílio de Trento fixou a primeira como a única sequência para essa Solenidade [2].

Não obstante, a fim de dar a conhecer cada vez mais o riquíssimo patrimônio litúrgico da Igreja, apresentamos a seguir a sequência Sancti Spiritus adsit nobis gratia em seu texto original (em latim) e em uma tradução nossa bastante livre (mais uma “adaptação” que uma “tradução”), além de um breve comentário sobre o texto.

Esta sequência se aproxima muito à composição de Notker para a Ascensão (Summi triumphum Regis): não há rimas e a divisão em estrofes não é bem clara: em algumas fontes ela aparece simplesmente estruturada em 24 versos. Propomos aqui uma divisão em 11 estrofes, a primeira e a última com três versos e as demais com dois versos.

Notker representado em um manuscrito do século XI
(Note-se o início da sequência Sanctis Spiritus adsit no livro)

Sequentia: Sancti Spiritus adsit nobis gratia

1. Sancti Spiritus adsit nobis gratia (Aleluia),
Quae corda nostra sibi faciat habitaculum,
Expulsis inde cunctis vitiis spiritalibus.

2. Spiritus alme, illustrator hominum,
Horridas nostrae mentis purga tenebras.

sexta-feira, 27 de maio de 2022

Solenidade da Ascensão do Senhor em Jerusalém

No dia 26 de maio de 2022, 40 dias após a Páscoa, a Igreja celebrou a Solenidade da Ascensão do Senhor (que no Brasil é transferida para o próximo domingo).

Em Jerusalém, a oração das I Vésperas na tarde do dia 25 e a Missa na manhã do dia 26 foram presididas, como de costume, pelo Vigário da Custódia da Terra Santa, Padre Dobromir Jasztal.

As celebrações tiveram lugar no Imbomón, a pequena Capela ou Edícula da Ascensão no Monte das Oliveiras. Para saber mais, confira nossa postagem sobre a história da Solenidade da Ascensão.

25 de maio: I Vésperas

Início da oração das Vésperas
Salmodia
Incensação da "Pedra da Ascensão"
Procissão ao redor da Edícula

26 de maio: Santa Missa

quinta-feira, 26 de maio de 2022

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio: Introdução 4

A segunda parte das Catequeses introdutórias do Papa São João Paulo II sobre o Creio é dedicada à fé, subdividida em duas seções: origem da fé e transmissão da fé.

Para acessar a postagem que serve de introdução geral às Catequeses, clique aqui.

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
INTRODUÇÃO GERAL

O QUE É A FÉ? (nn. 7-20)

I. Origem da fé: Resposta à iniciativa de Deus (nn. 7-12)

7. O que quer dizer crer?
João Paulo II - 13 de março de 1985

1. O primeiro e fundamental ponto de referência da presente Catequese são as profissões da fé cristã universalmente conhecidas, que se chamam também “Símbolos da fé”. A palavra grega “symbolon” (σύμβολον) significava a metade de um objeto partido (por exemplo, um selo) que era apresentada como  sinal de reconhecimento. As partes quebradas eram colocadas juntas para verificar a identidade do portador. Daí provêm os ulteriores significados de “símbolo”: a prova da identidade, as cartas credenciais e mesmo um tratado ou contrato cuja prova era o “symbolon”. A passagem desse significado ao de coleção ou sumário das coisas referidas e documentadas era bastante natural. Em nosso caso, os “Símbolos” significam a coletânea das principais verdades de fé, isto é, daquilo em que a Igreja crê. A catequese sistemática contém as instruções sobre aquilo em que a Igreja crê, isto é, sobre os conteúdos da fé cristã. Daí também o fato de que os “Símbolos da fé” são o primeiro e fundamental ponto de referência para a catequese.

Os doze Apóstolos, aos quais se relacionam os doze artigos do Creio

Para acessar nossa postagem sobre a relação entre os Apóstolos e os artigos do Creio, clique aqui.

2. Entre os vários “Símbolos da fé” antigos, o que possui mais autoridade é o “Símbolo Apostólico”, de origem antiquíssima e comumente recitado nas “orações do cristão”. Ele contém as principais verdades da fé transmitidas pelos Apóstolos de Jesus Cristo. Outro Símbolo antigo e famoso é o “Niceno-Constantinopolitano”: ele contém as mesmas verdades da fé apostólica explicadas com autoridade nos dois primeiros Concílios Ecumênicos da Igreja universal: Niceia (325) e Constantinopla (381). O uso dos “Símbolos da fé” proclamados como fruto dos Concílios da Igreja se renovou também em nosso século: de fato, depois do Concílio Vaticano II, o Papa Paulo VI pronunciou a “profissão de fé” conhecida como o Credo do Povo de Deus (1968), que contém o conjunto das verdades da fé da Igreja, com particular consideração aos conteúdos aos quais o último Concilio deu expressão, ou aqueles pontos em torno aos quais surgiram dúvidas nos últimos anos.
Os Símbolos da fé são o principal ponto de referência para a presente Catequese. Eles, porém, nos remetem ao conjunto do “depósito da Palavra de Deus”, constituído pela Sagrada Escritura e pela Tradição Apostólica, das quais são apenas uma síntese concisa. Através das profissões de fé nos propomos, portanto, remontarmos também nós a esse imutável “depósito”, guiados pela interpretação que a Igreja, assistida pelo Espírito Santo, lhe deu ao longo dos séculos.

quarta-feira, 25 de maio de 2022

Leitura litúrgica do Livro do Êxodo (3)

“Ao Senhor quero cantar, pois fez brilhar a sua glória” (Ex 15,1).

Já dedicamos duas postagens da nossa série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura ao estudo da presença do Livro do Êxodo (Ex) nas celebrações do Rito Romano.

Para acessar a 1ª parte da pesquisa, clique aqui; para acessar a 2ª parte, clique aqui.

Após analisar sua leitura sob o critério da composição harmônica, consideraremos agora sua leitura semicontínua, além de contemplar o “cântico do mar”, entoado tanto na Missa como na Liturgia das Horas.

3. Leitura litúrgica do Êxodo: Leitura semicontínua

De acordo com o n. 66 do Elenco das Leituras da Missa, a leitura semicontínua consiste na proclamação dos principais textos de um livro na sequência, oferecendo aos fiéis um contato mais amplo com a Palavra de Deus [1].

Moisés recebe os Dez Mandamentos
(Santuário Nacional de Aparecida)

a) Celebração Eucarística

Os livros do Antigo Testamento são lidos de maneira semicontínua nos dias de semana do Tempo Comum, várias semanas cada um, conforme sua extensão, intercalados pelos escritos do Novo Testamento [2].

O Livro do Êxodo é lido por cerca de três semanas, da XV à XVII semanas do Tempo Comum no ano ímpar, antecedido por Gênesis 12–50 e sucedido pelos demais livros do Pentateuco.

As perícopes escolhidas do nosso livro aqui são:

XV semana do Tempo Comum (ano ímpar):
Segunda-feira: Ex 1,8-14.22;
Terça-feira: Ex 2,1-15a;
Quarta-feira: Ex 3,1-6.9-12;
Quinta-feira: Ex 3,13-20;
Sexta-feira: Ex 11,10–12,14;
Sábado: Ex 12,37-42 [3].

terça-feira, 24 de maio de 2022

Sequência da Ascensão: Summi triumphum Regis

“Contemplamos, ó Senhor, vosso cortejo que desfila: é a entrada do meu Deus, do meu Rei, no santuário!” (Sl 67,25).

Como vimos em postagens anteriores aqui em nosso blog, entre os séculos X e XVI todas as principais celebrações do Ano Litúrgico possuíam uma ou mais sequências, composições poéticas entoadas antes do Evangelho da Missa que sintetizavam o mistério celebrado [1].

Nesta postagem, gostaríamos de destacar uma das sequências da Ascensão do Senhor (In Ascensione Domini), Solenidade celebrada 40 dias após a Páscoa, na quinta-feira da VI semana (ou transferida para o domingo seguinte, como é o caso no Brasil).

Para saber mais, confira nossa postagem sobre a história da Solenidade da Ascensão.

Ascensão do Senhor ao céu, circundado por anjos

A composição que propomos intitula-se Summi triumphum Regis (Ao triunfo do Rei supremo), atribuída a Notker Balbulus (†912), isto é, Notker “o Gago”, monge beneditino da Abadia de São Galo (Sankt Gallen), na Suíça, o qual teria sido beatificado em 1512.

Aqui em nosso blog já destacamos duas sequências compiladas por Notker entre o final do século IX e o início do século X: Sancti Baptistae, Christi praeconis (Natividade de São João Batista) e Petre, summe Christi pastor (São Pedro e São Paulo).

A seguir apresentamos a sequência Summi triumphum Regis, a 13ª das 38 sequências compiladas no Liber Sequentiarum de Notker, em seu texto original (em latim), seguida de uma tradução nossa bastante livre e algumas notas destacando alguns aspectos do texto.

Mais do que poesia, a composição aproxima-se mais da prosa: não há rimas e a divisão em estrofes não é bem clara. Propomos aqui uma divisão em oito estrofes, a primeira e a última com três versos e as demais com dois versos.

Sequentia: Summi triumphum Regis

Summi triumphum Regis prosequamur laude,
Qui caeli, qui terrae regit sceptra, inferni iure domito,
Qui sese pro nobis redimendis permagnum dedit pretium.

Huic nomen exstat conveniens Idithum,
Nam transilivit omnes strenue Montes colliculosque Bethel.

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Regina Coeli do Papa: VI Domingo da Páscoa - Ano C

Papa Francisco
Regina Coeli
Domingo, 22 de maio de 2022

Estimados irmãos e irmãs, bom domingo!
No Evangelho da Liturgia de hoje, despedindo-se dos seus discípulos na Última Ceia, Jesus diz, quase como uma espécie de testamento: «Deixo-vos a paz». E imediatamente acrescenta: «Dou-vos a minha paz» (Jo 14,27). Reflitamos sobre estas breves frases.

Antes de tudo, deixo-vos a paz. Jesus despede-se com palavras que exprimem afeto e serenidade, mas fá-lo num momento em que nada é sereno. Judas sai para traí-lo, Pedro está prestes a negá-lo, e quase todos prontos para abandoná-lo: o Senhor sabe disso, mas não repreende, não usa palavras severas, não faz discursos ásperos. Em vez de mostrar agitação, permanece gentil até ao fim. Um provérbio diz que se morre como se viveu. As últimas horas de Jesus são na realidade como a essência de toda a sua vida. Ele sente medo e dor, mas não dá espaço a ressentimentos ou protestos. Não se deixa amargurar, não desabafa, não é impaciente. Ele está em paz, uma paz que vem do seu coração manso, habitado pela confiança. E disto flui a paz que Jesus nos deixa. Pois não se pode deixar a paz aos outros se não a tivermos em nós mesmos. Não podemos dar a paz se não estivermos em paz.
Deixo-vos a paz: Jesus mostra que a mansidão é possível. Ele encarnou-a precisamente no momento mais difícil; e quer que nos comportemos assim também, que sejamos herdeiros da sua paz. Ele quer que sejamos mansos, abertos, dispostos a ouvir, capazes de desativar as controvérsias e de tecer concórdia. Isto é testemunhar Jesus e vale mais do que mil palavras e muitos sermões. O testemunho da paz. Perguntemo-nos se, nos lugares onde vivemos, nós, discípulos de Jesus, nos comportamos assim: aliviamos as tensões, extinguimos os conflitos? Estamos também em atrito com alguém, sempre prontos a reagir, a explodir, ou sabemos como responder com a não-violência, sabemos como responder com palavras e gestos de paz? Como devo reagir? Que todos se perguntem isto.

Claro que esta mansidão não é fácil: como é difícil, a todos os níveis, interromper os conflitos! Aqui a segunda frase de Jesus vem em nosso auxílio: dou-vos a minha paz. Jesus sabe que sozinhos não somos capazes de preservar a paz, que precisamos de ajuda, um dom. A paz, que é o nosso compromisso, é, antes de mais, um dom de Deus. Com efeito Jesus diz: «Dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá» (v. 27). Que paz é esta que o mundo não conhece e que o Senhor nos dá? Esta paz é o Espírito Santo, o mesmo Espírito de Jesus. É a presença de Deus em nós, é a “força de paz” de Deus. É Ele, o Espírito Santo, que desarma o coração e o enche de serenidade. É Ele, o Espírito Santo, que desfaz a rigidez e extingue as tentações de atacar os outros. É Ele, o Espírito Santo, que nos lembra que há irmãos e irmãs ao nosso lado, não obstáculos e adversários. É Ele, o Espírito Santo, que nos dá a força para perdoar, para recomeçar, para iniciar de novo, porque com as nossas forças não podemos. E é com Ele, com o Espírito Santo, que nos tornamos homens e mulheres de paz.
Prezados irmãos e irmãs, nenhum pecado, nenhum fracasso, nenhum rancor deve desencorajar-nos de pedir insistentemente o dom do Espírito Santo que nos dá a paz. Quanto mais sentimos que o nosso coração está agitado, quanto mais sentimos nervosismo, impaciência, raiva dentro de nós, tanto mais devemos pedir ao Senhor o Espírito da paz. Aprendamos a dizer todos os dias: “Senhor, dá-me a tua paz, dá-me o Espírito Santo”. É uma bela oração. Recitemo-la juntos? “Senhor, dá-me a tua paz, dá-me o Espírito Santo”. Não ouvi bem, outra vez: “Senhor, dá-me a tua paz, dá-me o Espírito Santo”. E peçamo-lo também por aqueles que vivem ao nosso lado, por quantos encontramos todos os dias, e pelos responsáveis das nações.
Que Nossa Senhora nos ajude a receber o Espírito Santo para sermos construtores de paz.

O discurso de despedida de Jesus (Walter Rane):
"Eu vos deixo a paz. Eu vos dou a minha paz"

Fonte: Santa Sé.

domingo, 22 de maio de 2022

A celebração do Domingo de Pentecostes

“Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face renovai!” (cf. Sl 103,30).

A Solenidade de Pentecostes, celebrada no 50º dia após a Páscoa, conta com dois formulários para a Celebração Eucarística: a Missa da Vigília, celebrada na tarde do sábado, antes ou depois das I Vésperas (isto é, antes ou após o pôr-do-sol); e a Missa do Dia, celebrada ao longo de todo o domingo.

Para acessar nossa postagem sobre a história da Solenidade de Pentecostes, clique aqui.

Após apresentarmos a Missa da Vigília na postagem anterior, aqui nos deteremos na celebração da Missa do Dia da Solenidade de Pentecostes.

Assim como o Domingo de Páscoa, a Missa do Dia de Pentecostes não possui grandes particularidades litúrgicas, sendo celebrada com o rito da “Missa estacional”, isto é, a Missa solene, como de costume (cf. Cerimonial dos Bispos, nn. 119-170). Não obstante, destacamos a seguir alguns elementos.

Vitral do Espírito Santo
(Igreja de Cristo Rei - Ann Arbor, Michigan)

O que se deve preparar:
- Todo o necessário para a celebração da Missa
- Paramentos vermelhos para o sacerdote, como para a Missa (túnica, estola e casula)
- Círio pascal, junto ao ambão
- Turíbulo e naveta com incenso
- Cruz processional
- Dois a seis castiçais com velas
- Missal Romano
- Livro dos Evangelhos
- Caldeirinha de água benta e aspersório (se for realizada a aspersão).

Sobre o uso do candelabro de sete velas ou menorá:

No Rito Romano, só se dispõem sete velas sobre o altar ou junto dele quando quem preside a Missa é o Bispo Diocesano. Nas demais celebrações o altar é ornado com duas, quatro ou seis velas (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano, 3ª edição, n. 117).

O ambão, por sua vez, é ornado por duas velas apenas durante a proclamação do Evangelho, geralmente sustentadas pelos acólitos, destacando a centralidade do Evangelho dentro da Palavra de Deus (cf. Elenco das Leituras da Missa, nn. 13.17).

O candelabro com sete velas ou lamparinas, chamado “menorá” ou menorah (Ex 25,31-40; 37,17-24), simboliza na tradição judaica a sarça ardente onde o Senhor revelou-se a Moisés, enquanto suas sete chamas foram interpretadas em alusão aos “dias da criação”. Permanecia sempre aceso na Tenda da Reunião e no Templo de Jerusalém (Lv 24,1-4) como símbolo perpétuo da aliança (algo semelhante à lâmpada sempre acesa junto ao sacrário ou tabernáculo nas igrejas cristãs).

Embora a partir da Idade Média esse candelabro possa ser encontrado em algumas igrejas cristãs, no Rito Romano este sempre se situava fora do presbitério, em uma capela lateral. Assim, a “menorá” deve ser colocada sempre fora do presbitério, e acesa preferencialmente fora da Liturgia, por exemplo, em manifestações da piedade popular.

a) Ritos iniciais

A celebração inicia-se com a procissão de entrada, como de costume, acompanhada do canto de entrada, que pode ser inspirado em uma das antífonas propostas pelo Missal (p. 318): “O Espírito do Senhor encheu o universo...” (Sb 1,7) ou “O amor de Deus foi derramado...” (Rm 5,5).

O Papa Francisco asperge os fiéis
(Missa do Dia de Pentecostes 2019)

Convém substituir o Ato Penitencial pelo rito da bênção e aspersão da água, indicado para todos os domingos, sobretudo no Tempo Pascal (cf. IGMR, n. 51). Além do mais, a água é um dos símbolos do Espírito Santo.

sábado, 21 de maio de 2022

A celebração da Vigília de Pentecostes

“O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo seu Espírito que habita em nós. Aleluia!” (Rm 5,5).

A Solenidade de Pentecostes, no 50º dia após a Páscoa, conta-se entre as mais importantes celebrações do Ano Litúrgico.

Para acessar nossa postagem sobre a história da Solenidade de Pentecostes, clique aqui.

Essa Solenidade conta com dois formulários de Missa: a Missa da Vigília, a ser celebrada na tarde do sábado, antes ou depois das I Vésperas (isto é, antes ou após o pôr-do-sol), e a Missa do Dia, a ser celebrada ao longo de todo o domingo. Nesta postagem nos deteremos no rito da Vigília de Pentecostes.

“De modo semelhante à Vigília Pascal, introduziu-se em diversas igrejas o costume de começar várias solenidades com uma vigília. Entre elas se destacam a vigília do Natal do Senhor e do Pentecostes. Essa prática deverá ser mantida e incentivada, segundo os costumes próprios de cada Igreja” (Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas, n. 71).

Altar do Espírito Santo
(Igreja de São Domingos, Londres)

1. A Missa da Vigília de Pentecostes

Das oito Solenidades que possuem uma Missa da Vigília, seis celebram-se com o rito da “Missa estacional”, isto é, com o rito da Missa solene, como de costume, sem nenhuma particularidade litúrgica [1]. A Vigília Pascal, por sua vez, possui toda a Liturgia própria, ao passo que a Vigília de Pentecostes adota uma “posição intermediária”, com duas formas à escolha:

- “forma breve”: celebra-se a “Missa estacional”, como de costume. Lê-se uma das quatro leituras do Antigo Testamento à escolha (Gn 11,1-19 ou Ex 19,3-8a.16-20b ou Ez 37,1-14 ou Jl 3,1-5), seguida do Sl 103 e das leituras do Novo Testamento (Rm 8,22-27 e Jo 7,37-39).

- “forma prolongada”: os ritos iniciais e a Liturgia da Palavra seguem uma estrutura própria, que descreveremos a seguir.

Vigília de Pentecostes: Forma prolongada

O que se deve preparar:
- Todo o necessário para a celebração da Missa
- Paramentos vermelhos para o sacerdote, como para a Missa (túnica, estola e casula)
- Círio pascal, junto ao ambão
- Turíbulo e naveta com incenso
- Cruz processional
- Dois a seis castiçais com velas
- Missal Romano
- Livro dos Evangelhos
- Caldeirinha de água benta e aspersório (se for realizada a aspersão).

Sobre o uso do candelabro de sete velas ou menorá:

No Rito Romano, só se dispõem sete velas sobre o altar ou junto dele quando quem preside a Missa é o Bispo Diocesano. Nas demais celebrações o altar é ornado com duas, quatro ou seis velas (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano [IGMR], 3ª edição, n. 117).

O ambão, por sua vez, é ornado por duas velas apenas durante a proclamação do Evangelho, geralmente sustentadas pelos acólitos, destacando a centralidade do Evangelho dentro da Palavra de Deus (cf. Elenco das Leituras da Missa, nn. 13.17).

Candelabro com sete lamparinas (menorá)

O candelabro com sete velas ou lamparinas, chamado “menorá” ou menorah (Ex 25,31-40; 37,17-24), simboliza na tradição judaica a sarça ardente onde o Senhor revelou-se a Moisés, enquanto suas sete chamas foram interpretadas em alusão aos “dias da criação”. Permanecia sempre aceso na Tenda da Reunião e no Templo de Jerusalém (Lv 24,1-4) como símbolo perpétuo da aliança (algo semelhante à lâmpada sempre acesa junto ao sacrário ou tabernáculo nas igrejas cristãs).

sexta-feira, 20 de maio de 2022

A novena de Pentecostes

“Todos eles perseveravam unânimes na oração” (At 1,14).

Dentre as práticas de piedade popular, uma das mais difundidas entre os fiéis é a novena, um período de nove dias de preparação para uma festa ou solenidade.

As novenas mais importantes, que a Igreja recomenda e às quais concede indulgências, são a novena da Imaculada Conceição de Maria, a novena de Natal e a novena de Pentecostes [1]. Sobre essa última refletiremos nesta postagem.

O simbolismo da novena

A prática devocional da novena, como seu nome indica, está ligada ao simbolismo do número “nove”. Na tradição cristã esse número é associado:
- à Santíssima Trindade (3x3);
- à morte de Cristo na “hora nona” (cf. Mt 27,45-50 e paralelos);
- à ascensão da alma ao céu, como na Divina Comédia de Dante Alighieri (†1321), que descreve o paraíso em nove círculos ou esferas;
- e, sobretudo no caso da novena de Natal, aos nove meses da gestação humana [2].

Efusão do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos em oração
(Francesco Morone - Basilica di Sant'Anastasia, Verona)

A piedade popular foi buscar o fundamento bíblico para essa devoção no Novo Testamento: de acordo com a obra lucana, em sua Ascensão, no 40º dia após a Páscoa, Jesus exorta aos Apóstolos: “Permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto” (Lc 24,49).

Para acessar nossa postagem sobre a história da Solenidade da Ascensão, clique aqui.

Assim, eles “perseveraram na oração em comum” (cf. At 1,14) pelos seguintes nove dias, reunidos no Cenáculo, até receberem a efusão do Espírito Santo no 10º dia após a Ascensão, o 50º após a Páscoa (cf. At 2,1-4).

Para acessar nossa postagem sobre a história da Solenidade de Pentecostes, clique aqui.

O Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia, promulgado no final do ano de 2001 pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, indica que a prática da novena tem suas origens na Idade Média:

“Ao longo de toda a Idade Média nascem progressivamente e se desenvolvem muitas expressões de piedade popular, e diversas delas chegaram até nossa época: (...) são estabelecidos núcleos de ‘tempos sagrados’ com fundo popular, que se colocam à margem do ritmo do Ano Litúrgico: tríduos, setenários, oitavários, novenas...” (n. 32).

Apesar de suas raízes bíblicas, a novena de Pentecostes só popularizou-se em tempos mais recentes. Segundo Rupert Berger, em seu Dicionário de Liturgia Pastoral, a origem dessa prática devocional remonta ao século XVII [3].

Santo Afonso Maria de Ligório (†1787), em sua obra “Via della salute” (Caminho da salvação), uma coletânea de meditações e orações, é um dos primeiros autores a destacar a “novena ao Espírito Santo”, indicando que, dentre todas as novenas, essa é a principal, porque “foi celebrada pelos Apóstolos e por Maria no Cenáculo”.

No final do século XIX, o Papa Leão XIII (†1903) recomendou em dois documentos a oração da novena ao Espírito Santo antes da Solenidade de Pentecostes: no Breve Provida matris, de 05 de maio de 1895, e na Encíclica Divinum illud munus, de 09 de maio de 1897.

Papa Leão XIII, promotor da novena de Pentecostes

São João XXIII (†1963), por sua vez, na Exortação Apostólica Novem per dies, de 20 de maio de 1963, promulgada poucos dias antes de sua morte, exortava à oração da novena de Pentecostes daquele ano na intenção do Concílio Vaticano II (1962-1965).

O Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia, por fim, destaca a importância da novena de Pentecostes como “reflexão orante sobre esse evento salvífico” (n. 155).

Como celebrar a novena de Pentecostes

A estrutura da novena

A novena de Pentecostes celebra-se da sexta-feira da VI semana da Páscoa até o sábado da VII semana ou, sobretudo nas regiões onde a Ascensão é transferida para o domingo (como no Brasil), da quinta-feira da VI semana à sexta-feira da VII semana (deixando o sábado “livre” para a celebração solene da Vigília de Pentecostes). Tratam-se, portanto, de datas móveis, uma vez que derivam da Páscoa, calculada a partir do ciclo lunar.

quinta-feira, 19 de maio de 2022

Celebrações em honra de São João Paulo II em Cracóvia

No dia 18 de maio de 2022 completaram-se os 102 anos do nascimento do Papa São João Paulo II (†2005). Na Arquidiocese de Cracóvia (Polônia) esse dia foi marcado por duas importantes celebrações:

Na Catedral dos Santos Estanislau e Venceslau, a Catedral de Wawel, em Cracóvia, foram celebradas as Vésperas da quarta-feira da V semana da Páscoa, presididas por Dom Piero Marini, Presidente Emérito do Pontifício Comitê para os Congressos Eucarísticos Internacionais.

Após a celebração, Dom Piero Marini recebeu o título de Doutor honoris causa pela Pontifícia Universidade João Paulo II de Cracóvia, por sua contribuição no estudo da Liturgia e a serviço do Papa polonês, do qual foi Mestre das Celebrações Litúrgicas de 1987 até a sua morte.

Estiveram presentes na celebração o Arcebispo de Cracóvia, Dom Marek Jędraszewski; o Arcebispo Emérito, Cardeal Stanisław Dziwisz (outro grande colaborador de São João Paulo II, tendo sido seu Secretário pessoal); o Cardeal Konrad Krajewski, Elemosinário Pontifício (que foi um dos Cerimoniários Auxiliares de Dom Piero Marini); Dom Arthur Roche e Dom Aurelio García Macías, respectivamente Prefeito e Subsecretário da Congregação para o Culto Divino.

Procissão de entrada

Oração das Vésperas
Dom Marek Jędraszewski, Arcebispo de Cracóvia
Cardeais Dziwisz e Krajewski