terça-feira, 30 de junho de 2020

Jesus Cristo na Liturgia: Encontro de Pastoral Litúrgica 1997

Dando sequência à nossa série de postagens sobre os Encontros Nacionais de Pastoral Litúrgica (ENPL), promovidos anualmente pelo Secretariado Nacional de Liturgia de Portugal, gostaríamos de recordar neste mês o 23º ENPL, que aconteceu de 28 de julho a 01 de agosto de 1997, com o tema “Jesus Cristo na Liturgia”.

Este tema estava em sintonia com o primeiro ano do triênio de preparação próxima ao Grande Jubileu do ano 2000, sendo cada ano dedicado a uma das Pessoas da Santíssima Trindade: Jesus Cristo em 1997, o Espírito Santo em 1998 e Deus Pai em 1999.

Segue o áudio de seis conferências proferidas durante este encontro:

1ª Conferência: O Jubileu do Ano 2000
Pe. Dr. Joaquim Carreira das Neves
Nesta primeira conferência o palestrante reflete sobre o jubileu bíblico (Antigo Testamento) e sobre o “ano da graça do Senhor” proclamado por Cristo (Novo Testamento).

Dra. Maria Manuela Dias de Carvalho
Ao refletir sobre Cristo como único Salvador do mundo, a palestrantes faz uma síntese da cristologia no “ano de Jesus Cristo” em preparação ao Jubileu do ano 2000.

Pe. Dr. Luís Manuel Pereira da Silva
Depois das duas palestras introdutórias, aqui se entra no tema da presença de Cristo na Liturgia, entendida como atualização do seu Mistério Pascal.

D. Manuel Pelino Domingues
Partindo da história da Iniciação Cristã, o palestrante reflete sobre a centralidade da fé em Cristo e da pertença à Igreja nos sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia.

Pe. Dr. Manuel Joaquim F. da Costa
Nesta conferência o palestrante apresenta o mistério de Cristo celebrado no Ano Litúrgico, tanto pelo Lecionário (leituras) quanto pelo Missal (orações).

Côn. José Ferreira
Por fim, nesta última conferência se considera a dimensão trinitária e doxológica da Liturgia: oração por Cristo, no Espírito Santo, ao Pai.


Fonte: Secretariado Nacional de Liturgia

Ordenações Presbiterais em Lisboa: Fotos

O Patriarca de Lisboa, Cardeal Manuel José Macário do Nascimento Clemente, celebrou a Santa Missa da Vigília na Solenidade de São Pedro e São Paulo, Apóstolos, no último domingo, 28 de junho, no Mosteiro de Santa Maria de Belém, o Mosteiro dos Jerônimos, durante a qual conferiu a Ordenação Presbiteral a cinco diáconos do Patriarcado.

Procissão de entrada


Incensação
Ritos iniciais

Ordenações Presbiterais em Lisboa: Homilia

Homilia na Missa de Ordenações Sacerdotais
Um diálogo para toda a vida

Estimados irmãos e muito especialmente vós, caríssimos ordinandos:
Estarmos aqui hoje, vigília de São Pedro e São Paulo com os atuais condicionamentos e em ordenações sacerdotais, traz-nos necessariamente ao essencial.
Aí nos fixamos, sem rodeio nem demora: - Por que a Igreja e por que os padres? Para responder desde já: - Porque sim Cristo, porque sim o Evangelho e porque sim a tradição viva e católica em que nos incluímos.
Porque sim Cristo, como resposta de Deus ao mundo. O mundo, tudo aquilo que existe à nossa medida, permitindo-nos viver e conviver. O espaço-tempo de cada um e de cada coisa, tão inevitáveis como relativos. Como crentes, sabemos que é a criação divina, a respeitar e compartilhar. Sabemos e correspondemos, quando tomamos conta dos outros e das coisas, na medida da responsabilidade e competência próprias. Sempre que não é assim - e às vezes muito pelo contrário -, o mundo passa de possibilidade a impossibilidade, face ao que a vida exige, concebida ou enfraquecida que esteja, para a subsistência capaz e saudável de multidões inteiras.
Assim somos nós, enquanto mundo, tão magníficos como contraditórios. Para tal não precisaríamos de quanto aqui nos traz. E o que aqui nos traz é Cristo, como resposta de Deus ao mundo. Resposta cabal ao que o mundo mais profundamente anseia e redenção absoluta de quanto o impede.
Impressiona positivamente verificar como os mais antigos textos cristãos expressam tal verdade. Assim Jesus, falando a Nicodemos: «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigênito, a fim de que todo o que crê nele não se perca, mas tenha a vida eterna» (Jo 3,16). Assim o autor da Carta aos Hebreus, quase resumindo a nossa teologia: «Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por meio de quem fez o mundo» (Hb 1,2).
O percurso terreno de Cristo foi muito limitado em espaço - tempo, num Israel exíguo e em pouco mais de três décadas. Mas tão totalizado, das tábuas do presépio às da oficina de Nazaré e finalmente às da cruz, que preenche agora o espaço e o tempo de cada um de nós, redimidos de quanto os arruinaria e com ele eternamente sublimados. Saiu do Pai e veio ao mundo, para voltar do mundo para o Pai e nos levar consigo (cfJo 16,28). Por isso estamos aqui, para “passar” com Cristo para o Pai, no plano final da sua Páscoa.

Para Paulo, foi completa a surpresa. Foi também total, pois lhe totalizou a vida. Naquela estrada de Damasco, em que o Ressuscitado o começou a ressuscitar a ele, Paulo encontrou-se a si próprio como significado e destino. Ouçamo-lo com atenção e pormenor: «… quando Aquele que me destinou desde o seio materno e me chamou pela sua graça Se dignou revelar em mim o seu Filho, para que eu O anunciasse aos gentios, decididamente não consultei a carne e o sangue…»
A “carne e o sangue” somos nós, como nos entendemos só por nós, e a nossa condição neste mundo. Podemos considerá-los bons, naturais e comuns. Assim gostamos dos nossos e somos capazes de gostar dos outros. O mundo está cheio de bons exemplos de solidariedade, que havemos de reconhecer e louvar, como o próprio Cristo o reconheceu e louvou, mesmo nos que não pertenciam ao seu grupo. 
Mas Cristo foi muito além desta ordem natural das coisas e do limite espontâneo dos afetos, preferindo os últimos e amando a todos por igual, de coração indiviso. É neste sentido que a opção preferencial pelos pobres ou o celibato por amor do Reino dos Céus assinalam o que vai além “da carne e do sangue”. Exigindo conversão permanente, são grande serviço da Igreja ao mundo, para que este não se encerre em si mesmo. Para que o mundo se converta na matéria do Reino e todo o bem se eternize, naquele amor que nunca acabará.
Deus revela Cristo a Paulo e a revelação torna-se missão, para chegar a muitos. Revelação que aconteceu exterior e interiormente, não apenas a Paulo mas em Paulo. Como Deus nos chega em Cristo, assim Cristo chega aos outros através de nós, quando somos realmente seus. 
Estou certo, caríssimos ordinandos, que estais aqui em consequência do muito que vos chegou e cativou de Cristo na vida e exemplo de discípulos autênticos. E assim há de ser através vós, agora, com a graça do sacramento apostólico. Com São Paulo, não vos ficareis pelo modo mundano de considerar as coisas. O horizonte que se abriu na estrada de Damasco, há de rasgar-se também nas que trilhareis agora. 
Assim realizareis uma vocação que é muito mais do que mera escolha profissional. Como ouvimos a Paulo: «… quando Aquele que me destinou desde o seio materno e me chamou pela sua graça…». Olhai o vosso percurso a esta luz e agradecei-o muito a Deus, como nós o agradecemos convosco.

O que seja a missão, em qualquer lugar e circunstância que a Igreja nos coloque, está claro e patente noutro trecho escutado. Pedro e João subiram ao templo e encontraram um coxo de nascença a pedir esmola. Pedro «olhou fixamente para ele e disse-lhe: “Não tenho ouro nem prata, mas dou-te o que tenho: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda”».
Olhar atentamente para o outro que nos requer, tolhido que seja de corpo ou de espírito, e fazê-lo levantar-se e andar em nome de Cristo, tem muitas concretizações hoje como então.
Era coxo de nascença aquele homem. E não faltam tolhimentos hoje em dia, impedindo de andar perfeitamente. Limitações físicas, nalguns casos, que pedem resposta clínica competente. Mas outras se acrescentam, de ordem educativa e cultural, quando alguma ideologia ou preconceito contrariam a formação e o crescimento num quadro geral de valores humanizantes. Valores como os que incluem o respeito pela vida, concebida ou fragilizada que esteja, a complementaridade essencial homem – mulher, a igual dignidade de todos, ou a abertura à religião transcendente. Omitir ou contrariar tais valores deforma e entorpece qualquer um e desde muito cedo infelizmente. Já o verificava o Papa Francisco no início do seu pontificado, ao escrever: «Com a negação de toda a transcendência, produziu-se uma crescente deformação ética, um enfraquecimento do sentido do pecado, e tudo isso provoca uma desorientação generalizada, especialmente na fase tão vulnerável às mudanças da adolescência e da juventude» (Evangelii Gaudium, 64).
Àquele homem que pedia esmola, os apóstolos responderam com a oferta do nome de Jesus. E olhando atentamente a evolução do pensamento e da prática nestes dois últimos milênios, não será difícil verificar como o seu nome, na força do que disse e do que fez, foi gerando o melhor da humanidade que nos chegou. 
Caros ordinandos: É desta tradição viva que sereis especiais transmissores, guardando o depósito que vos é confiado, como Paulo exortou o seu discípulo Timóteo (cf1Tm 6,20). Para que na vossa própria conduta e pregação, na resposta que dareis a tanto brado, ressalte sempre e em tudo o nome de Jesus, a verdade do Evangelho e o fulgor da caridade mais atenta.
Tal sucederá pela razão de aqui estardes: o amor verdadeiro, intenso e pleno a Cristo, que vos toca o coração, com a vontade de lhe corresponder em tudo. É esta a única razão do vosso ministério, que só assim vos é sacramentalmente concedido. Retomai diariamente o diálogo de há pouco: «Pedro respondeu-Lhe: Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta as minhas ovelhas”».
 Não precisareis doutro motivo para vos encher o coração e a vida. E, através de vós, a de muitos.

Santa Maria de Belém, 28 de junho de 2020.

+ Manuel, Cardeal-Patriarca


segunda-feira, 29 de junho de 2020

Ordenações Episcopais em Milão

No último domingo, 28 de junho, o Arcebispo de Milão, Dom Mario Enrico Delpini, celebrou a Santa Missa na Catedral de Santa Maria Nascente, o Duomo de Milão, para a Ordenação Episcopal dos dois novos Bispos Auxiliares, nomeados pelo Papa Francisco em 30 de abril: Mons. Giovanni Luca Raimondi e Mons. Giuseppe Natale Vegezzi.

Os co-ordenantes foram os dois Bispos Auxiliares Eméritos de Milão, Dom Erminio De Scalzi e Dom Luigi Stucchi.

O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Procissão de entrada
"Doze Kyries"

Mons. Giovanni Luca Raimondi
Mons. Giuseppe Natale Vegezzi

Ângelus do Papa: XIII Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 28 de junho de 2020 (*)

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
No Evangelho deste domingo (cfMt 10,37-42) ressoa fortemente o convite a viver plenamente e sem hesitação a nossa adesão ao Senhor. Jesus pede aos seus discípulos que levem a sério as exigências do Evangelho, mesmo quando isto requer sacrifício e esforço.
O primeiro pedido exigente que Ele faz àqueles que O seguem é que coloquem o amor a Ele acima dos afetos familiares. Ele diz: «Quem amar o pai ou a mãe, [...] o filho ou a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim» (v. 37). Jesus não pretende certamente subestimar o amor pelos pais e filhos, mas sabe que os laços de parentesco, se forem postos em primeiro lugar, podem desviar do verdadeiro bem. Vemo-lo: acontecem algumas corrupções nos governos precisamente porque o amor à parentela é maior do que o amor à pátria, e dão cargos aos parentes. O mesmo acontece com Jesus: não é bom quando o amor [aos familiares] é maior do que [o amor a] Ele. Todos nós poderíamos dar muitos exemplos a este respeito. Sem mencionar as situações em que os afetos familiares se misturam com escolhas opostas ao Evangelho. Quando, por outro lado, o amor aos pais e filhos é animado e purificado pelo amor ao Senhor, então se torna plenamente fecundo e produz frutos de bem na própria família e muito para além dela. Neste sentido Jesus diz esta frase. Recordemos também como Jesus admoesta os doutores da lei que fazem faltar o necessário aos pais com a pretensão de oferecê-lo ao altar, de o dar à Igreja (cfMc 7,8-13). Repreende-os! O verdadeiro amor a Jesus exige um amor autêntico aos pais e aos filhos, mas se procurarmos primeiro o interesse familiar isto leva sempre pelo caminho errado.
Então Jesus diz aos seus discípulos: «Quem não tomar a sua cruz para Me seguir, não é digno de mim» (v. 38). É uma questão de O seguir no caminho que Ele próprio percorreu, sem procurar atalhos. Não há amor verdadeiro sem cruz, ou seja, sem um preço a pagar pessoalmente. E dizem-no muitas mães, muitos pais, que tanto se sacrificam pelos filhos e suportam verdadeiras dificuldades e cruzes, porque amam. E carregada com Jesus, a cruz não é assustadora, porque Ele está sempre ao nosso lado para nos apoiar na hora da prova mais dura, para nos dar força e coragem. Também não é necessário preocupar-se por preservar a própria vida, com uma atitude temerosa e egoísta. Jesus admoesta: «Aquele que tenta conservar para si a vida, perdê-la-á, e quem tiver perdido a própria vida por Minha causa – isto é, por amor, por amor a Jesus, por amor ao próximo, pelo serviço aos outros - encontrá-la-á» (cf. v. 39). Este é o paradoxo do Evangelho. Mas temos, graças a Deus, também muitos exemplos como este!  Vemo-lo nestes dias. Quantas pessoas, quantas pessoas estão a carregar cruzes para ajudar os outros! Sacrificam-se para ajudar o próximo em necessidade nesta pandemia. Mas com Jesus é sempre possível. Encontramos a plenitude da vida e da alegria  através da doação de nós mesmos pelo Evangelho e pelos irmãos, com abertura, aceitação e benevolência.
Ao fazê-lo, podemos experimentar a generosidade e a gratidão de Deus. Jesus lembra-nos: «Quem vos recebe, a Mim recebe [...]. Quem der de beber a um destes pequeninos [...] não perderá a recompensa» (vv. 40.42). A generosa gratidão de Deus Pai tem em conta até o mais pequeno gesto de amor e serviço aos seus irmãos. Nestes dias ouvi um sacerdote dizer que estava comovido porque na paróquia uma criança se aproximou dele e disse-lhe: “Padre, estas são as minhas poupanças, são poucas, são para os teus pobres, para aqueles que hoje estão em necessidade por causa da pandemia”. É pouco mas é muito! É uma generosidade contagiosa, que ajuda cada um de nós a sentir gratidão para com aqueles que se preocupam com as nossas necessidades. Quando alguém nos oferece um serviço, não devemos pensar que tudo nos é devido. Não, muitos serviços fazem-se por gratuidade. Pensai no voluntariado, que é uma das maiores realidades que existem na sociedade italiana. Os voluntários... e quantos deles perderam a vida nesta pandemia! Faz-se por amor, simplesmente por serviço. A gratidão, o reconhecimento, é antes de mais um sinal de boas maneiras, mas é também um distintivo do cristão. É um sinal simples mas genuíno do reino de Deus, que é reino de amor gratuito e reconhecido.
Maria Santíssima, que amou Jesus mais do que a sua própria vida e o seguiu até à cruz, nos ajuda a colocar-nos sempre diante de Deus com coração disponível, deixando que a sua Palavra julgue o nossos comportamentos e as nossas escolhas.


Fonte: Santa Sé.

(*) Neste domingo, no Brasil, foi celebrada a Solenidade de São Pedro e São Paulo, Apóstolos, transferida do dia 29.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Natividade de São João Batista na Terra Santa

Nos dias 23 e 24 de junho a Custódia Franciscana da Terra Santa celebrou a Solenidade da Natividade de São João Batista com celebrações nos dois santuários dedicados ao Precursor na localidade de Ain Karen:

Na tarde do dia 23, o Vice-Custódio da Terra Santa, Padre Dobromir Jasztal, celebrou as I Vésperas da Solenidade no Santuário de São João Batista no Deserto:

Oração das Vésperas
Homilia do Padre Dobromir

Incensação do altar durante o Magnificat
Momento de oração na gruta onde, segundo a tradição, João Batista teria vivido

VIII Catequese do Papa sobre a oração

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 24 de junho de 2020
A oração (8): A oração de Davi

Caros irmãos e irmãs, bom dia!
Em nosso itinerário de catequese sobre a oração, hoje encontramos o rei Davi. Amado por Deus desde criança, ele é escolhido para uma missão única, que revestirá um papel central na história do povo de Deus e em nossa própria fé. Nos Evangelhos, Jesus é chamado várias vezes “filho de Davi”; de fato, como ele, nasceu em Belém. Da descendência de Davi, de acordo com as promessas, o Messias vem: um rei totalmente de acordo com o coração de Deus, em perfeita obediência ao Pai, cuja ação realiza fielmente seu plano de salvação (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2579).
A história de Davi começa nas colinas ao redor de Belém, onde pasta o rebanho de seu pai, Jesse. Ele ainda é um menino, o último de muitos irmãos. Tanto que, quando o profeta Samuel, por ordem de Deus, procura o novo rei, parece que seu pai se esqueceu daquele filho mais novo (cf. 1Sm 16,1-13). Ele trabalhava ao ar livre: pensamos nele como amigo do vento, dos sons da natureza, dos raios do sol. Ele tem apenas uma companhia para consolar sua alma: a cítara; e em longos dias na solidão, ele adora tocar e cantar para o seu Deus. Brincava também com um estilingue.
Davi, portanto, é antes de tudo um pastor: um homem que cuida de animais, que os defende ao aparecer o perigo, que lhes provê o sustento. Quando, a pedido de Deus, Davi terá que se preocupar com as pessoas, ele não fará ações muito diferentes dessas. É, portanto, que na Bíblia a imagem do pastor geralmente ocorre. Jesus também se define como “o bom pastor”, seu comportamento é diferente do mercenário; Ele oferece sua vida em favor das ovelhas, guia-as, conhece o nome de cada uma delas (cf. Jo 10,11-18).
Desde seu primeiro trabalho, Davi aprendeu muito. Assim, quando o profeta Natã o censura por seu pecado gravíssimo (cf. 2Sm 12,1-15), Davi imediatamente entenderá que ele foi um mau pastor, que havia saqueado outro homem da única ovelha que amava, que não era mais um humilde servo, mas um homem doente do poder, um caçador furtivo que mata e saqueia.
Uma segunda característica presente na vocação de Davi é sua alma de poeta. A partir dessa pequena observação, deduzimos que Davi não era um homem vulgar, como frequentemente pode acontecer com indivíduos forçados a viver por um longo tempo isolados da sociedade. Em vez disso, uma pessoa sensível que adora música e canto. A harpa sempre o acompanhará: às vezes para elevar um hino de alegria a Deus (cf. 2Sm 6,16), outras para expressar um lamento ou confessar o próprio pecado (cf. Sl 50,3).
O mundo que se apresenta aos seus olhos não é uma cena muda: seu olhar colhe, por trás do desenrolar das coisas, um mistério maior. A oração nasce daí: da convicção de que a vida não é algo que escorrega sobre nós, mas um mistério incrível, que causa em nós poesia, música, gratidão, louvor ou lamentação, súplica. Quando uma pessoa não tem essa dimensão poética, digamos, quando falta a poesia, sua alma manca. A tradição diz, portanto, que Davi seja o grande arquiteto da composição dos salmos. Eles costumam ter, no início, uma referência explícita ao rei de Israel e a alguns dos eventos mais ou menos nobres de sua vida.
Davi, portanto, tem um sonho: ser um bom pastor. Às vezes, ele conseguirá estar a altura desta tarefa, outras vezes menos; o que importa, no entanto, no contexto da história da salvação, é ser profecia de outro rei, do qual ele é apenas um anúncio e uma prefiguração. Vamos olhar para Davi, vamos pensar em Davi. Santo e pecador, perseguido e perseguidor, vítima e assassino, o que é uma contradição. Davi foi tudo isso. E nós também registramos em nossa vida traços opostos na trama da vida, todos os homens geralmente pecam por incoerência. Há apenas um fio vermelho na vida de Davi que dá unidade a tudo o que acontece: sua oração.
Essa é a voz que não se apaga nunca. Davi santo, reza; Davi pecador, reza; Davi perseguido, reza; David perseguidor, reza; Davi vítima, reza. Até Davi, como assassino, reza. Este é o fio vermelho de sua vida. Um homem de oração. Essa é a voz que nunca se apaga: que assume os tons de júbilo, ou os de lamento, é sempre a mesma oração, apenas a melodia muda. Ao fazer isso, Davi nos ensina a fazer entrar tudo em diálogo com Deus: alegria assim como a culpa, amor assim como o sofrimento, amizade assim como a doença. Tudo pode se tornar uma palavra dirigida ao “Tu” que sempre nos escuta.
Davi, que conhecia a solidão, na realidade, nunca estava sozinho! E, no fundo, este é o poder da oração, em todos aqueles que lhe dão espaço em suas vidas. A oração te dá nobreza, e Davi é nobre porque ora. Mas ele é um carrasco que reza, se arrepende e a nobreza retorna graças à oração. A oração nos dá nobreza: é capaz de garantir o relacionamento com Deus, que é o verdadeiro Companheiro do caminho do homem, em meio às muitas dificuldades da vida, boas ou más: mas sempre a oração. Obrigado Senhor. Eu tenho medo, Senhor. Ajude-me Senhor. Perdoe-me, Senhor. A confiança de Davi é tão grande que, quando ele foi perseguido e teve que fugir, ele não deixou ninguém defendê-lo: “Se meu Deus me humilha assim, ele sabe”, porque a nobreza da oração nos deixa nas mãos de Deus. Aquelas mãos chagadas de amor: as únicas mãos seguras que temos.



quinta-feira, 25 de junho de 2020

III Catequese do Papa João Paulo II sobre a Eucaristia

João Paulo II
Audiência Geral
Quarta-feira, 11 de outubro de 2000
A Eucaristia é sacrifício de louvor

Queridos irmãos e irmãs,
1. “Por Cristo, com Cristo e em Cristo, a Vós, Deus Pai onipotente, na unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda a glória”. Esta proclamação de louvor trinitário conclui em toda a Celebração Eucarística a oração do Cânon. Com efeito, a Eucaristia é o perfeito “sacrifício de louvor”, a glorificação mais excelsa que da terra sobe ao céu, “fonte e centro de toda a vida cristã, na qual (os filhos de Deus) oferecem (ao Pai) a vítima divina e a si mesmos juntamente com ela” (LG, 11). No Novo Testamento, a Carta aos Hebreus ensina-nos que a Liturgia cristã é oferecida por um “Sumo Sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e elevado acima dos Céus”, que se realizou de uma vez para sempre um único sacrifício, “oferecendo-Se a Si mesmo” (cf. Hb 7,26-27). “Por meio d'Ele - diz a Carta - oferecemos, sem cessar, a Deus um sacrifício de louvor” (13, 15). Queremos hoje evocar brevemente os dois temas do sacrifício e do louvor que se encontram na Eucaristia, sacrificium laudis.

2. Na Eucaristia atualiza-se, antes de mais, o sacrifício de Cristo. Jesus está realmente presente sob as espécies do pão e do vinho, como Ele mesmo nos assegura: “Isto é o Meu corpo... Este é o Meu sangue” (Mt 26,26.28). Mas o Cristo presente na Eucaristia é o Cristo já glorificado, que na Sexta-Feira Santa Se ofereceu a Si mesmo na cruz. É o que sublinham as palavras por Ele pronunciadas sobre o cálice do vinho: “Este é o Meu sangue, sangue da Aliança, que vai ser derramado por muitos” (Mt 26,28; cfMc 14,24; Lc 22,20). Se estas palavras forem examinadas à luz da sua filigrana bíblica, afloram duas referências significativas. A primeira é constituída pela locução “sangue derramado” que, como afirma a linguagem bíblica (cf. Gn 9,6), é sinônimo de morte violenta. A segunda consiste na explicação “por muitos”, referente aos destinatários deste sangue derramado. A alusão aqui nos remete para um texto fundamental com vista na releitura cristã das Escrituras, o quarto cântico de Isaías: com o seu sacrifício, “ao entregar a sua vida à morte”, o Servo do Senhor “tomava sobre si os pecados de muitos” (Is 53,12; cf. Hb 9,28; 1Pd 2,24).

3. A mesma dimensão sacrifical e redentora da Eucaristia é expressa na Última Ceia pelas palavras de Jesus sobre o pão, tal como são referidas pela tradição de Lucas e de Paulo: “Isto é o Meu corpo, que vai ser entregue por vós” (Lc 22,19; cf. 1Cor 11,24). Também neste caso se verifica uma chamada à doação sacrifical do Servo do Senhor, segundo a passagem de Isaías (53,12), já evocada: “Ele próprio entregou a sua vida à morte... tomou sobre si os pecados de muitos e intercedeu pelos culpados”. “A Eucaristia é, acima de tudo, um Sacrifício: sacrifício da Redenção e, ao mesmo tempo, da nova Aliança, como nós acreditamos e as Igrejas do Oriente professam claramente: o sacrifício hodierno afirmou, há alguns séculos a Igreja grega (no Sínodo Constantinopolitano de 1156-57, contra Sotérico) é como aquele que um dia ofereceu o Unigênito Verbo Encarnado [de Deus]; e é (hoje como então) por Ele oferecido, sendo o mesmo e único Sacrifício” (Carta Apostólica Dominicae cenae, 9).

4. A Eucaristia, como sacrifício da nova Aliança, põe-se como desenvolvimento e cumprimento da aliança celebrada no Sinai, quando Moisés derramou metade do sangue das vítimas sacrificais sobre o altar, símbolo de Deus, e metade sobre a assembleia dos filhos de Israel (cf. Ex 24,5-8). Este “sangue da aliança” unia intimamente Deus e o homem num vínculo de solidariedade. Com a Eucaristia a intimidade torna-se total, o abraço entre Deus e o homem atinge o seu ápice. É a realização completa daquela “nova aliança” que Jeremias tinha predito (cf. Jr 31,31-34): um pacto no espírito e no coração, que a Carta aos Hebreus exalta precisamente partindo do oráculo do profeta, unindo-o ao sacrifício único e definitivo de Cristo (cf. Hb 10,14-17).

5. A esta altura, podemos ilustrar a outra afirmação: a Eucaristia é um sacrifício de louvor. Essencialmente orientado para a comunhão plena entre Deus e o homem, “o sacrifício eucarístico é a fonte e o centro de todo o culto da Igreja e de toda a vida cristã. Neste sacrifício de ação de graças, de propiciação, impetração e louvor os fiéis participam com maior plenitude, quando não só oferecem ao Pai com todo o coração, em união com o sacerdote, a vítima sagrada e, nela, a si mesmos, mas recebem também a própria vítima no sacramento” (Sagrada Congregação para os Ritos, Eucharisticum mysterium, 3 e).
Como diz o próprio termo na sua gênesis grega, a Eucaristia é “agradecimento”; nela o Filho de Deus une a Si a humanidade remida num cântico de ação de graças e de louvor. Recordamos que a palavra hebraica  todah, traduzida como “louvor”, significa também “agradecimento”. O sacrifício de louvor era um sacrifício de ação de graças (cf. Sl 49,14.23). Na Última Ceia, para instituir a Eucaristia, Jesus deu graças a seu Pai (cfMt 26,26-27 e paralelos); esta é a origem do nome deste sacramento.

6. “No Sacrifício eucarístico, toda a Criação amada por Deus é apresentada ao Pai, através da Morte e Ressurreição de Cristo” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1359). Unindo-se ao sacrifício de Cristo, a Igreja na Eucaristia dá voz ao louvor da inteira criação. A isto deve corresponder o empenho de cada um dos fiéis em oferecer a sua existência, o seu “corpo” como diz Paulo em “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12,1), numa comunhão plena com Cristo crucificado e ressuscitado por todos, e o discípulo é chamado a doar-se inteiramente a Ele.
Esta íntima comunhão de amor é decantada pelo poeta francês Paul Claudel, que põe nos lábios de Cristo estas palavras: “Vem comigo, onde Eu Estou, em ti mesmo, /e dar-te-ei a chave da existência. / Lá onde Eu Estou, lá eternamente / está o segredo da tua origem... / (...) Onde estão as tuas mãos, que não estejam as minhas? / E os teus pés, que não estejam pregados na mesma cruz? / Morri e ressuscitei uma vez por todas! Estamos muito próximos um do outro / (...) Como fazer para te separar de Mim / sem que tu Me dilaceres o coração?” (La Messe là-bas).


Fonte: Santa Sé

Conclusão do Congresso Eucarístico no ano 2000

No dia 25 de junho do ano 2000 o Papa João Paulo II presidiu a Santa Missa votiva da Santíssima Eucaristia na Praça de São Pedro na conclusão do XLVII Congresso Eucarístico Internacional, celebrado em Roma no contexto do Grande Jubileu.

Confira nossa postagem sobre a história dos Congressos Eucarísticos Internacionais clicando aqui.
 
Statio Orbis
Encerramento do XLVII Congresso Eucarístico Internacional
Homilia do Papa João Paulo II
25 de junho de 2000

1. “Tomai, isto é o meu Corpo... isto é o meu Sangue (Mc 14,22-23).
Hoje, as palavras pronunciadas por Jesus durante a última Ceia ressoam na nossa assembleia, enquanto nos preparamos para concluir o Congresso Eucarístico Internacional. Elas ressoam com singular intensidade, como um renovado mandato:  “Tomai!”.
Cristo confia-nos o seu Corpo entregue e o seu Sangue derramado. Confia-o a nós como fez aos Apóstolos no Cenáculo, antes do supremo sacrifício no Gólgota. São palavras que Pedro e os outros comensais aceitaram com admiração e profunda emoção. Mas podiam eles compreender então até onde elas os teriam levado?
Nesse momento realizava-se a promessa que Jesus fizera na sinagoga de Cafarnaum: “Eu sou o pão da vida... E o pão que vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha vida” (Jo 6,48.51). A promessa realizava-se na imediata vigília da Paixão, em que Cristo se teria oferecido a si mesmo para a salvação da humanidade.


2. “Isto é o meu Sangue, o Sangue da aliança que é derramado em favor de muitos (Mc 14,24).
No Cenáculo, Jesus fala de aliança. É um termo que os Apóstolos não têm dificuldade em compreender, porque pertencem ao povo com quem Javé, como nos narra a 1ª leitura, estabelecera o antigo pacto durante o êxodo do Egito (cf. Ex 19–24). Estão perfeitamente presentes na sua memória o Monte Sinai e Moisés, que dessa montanha descera trazendo a Lei divina gravada em duas tábuas de pedra.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Leitura litúrgica do Livro dos Provérbios

O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pr 9,10)

No ano de 2019, dentro da nossa série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura, analisamos o Livro da Sabedoria, que integra o célebre grupo dos escritos sapienciais. Nesta postagem damos continuidade à nossa proposta com outra obra sapiencial: o Livro dos Provérbios (Pr).

1. Breve introdução ao Livro dos Provérbios

O Livro dos Provérbios é formado por nove coleções de sentenças:
a)  Pr 1–9: Conselhos do pai ao seu filho e discursos da sabedoria;
b) Pr 10,1–22,16: Provérbios de Salomão;
c) Pr 22,17–24,22: Palavras dos sábios;
d) Pr 24,23-34: Mais palavras dos sábios;
e) Pr 25–29: Provérbios de Salomão;
f) Pr 30,1-14: Palavras de Agur;
g) Pr 30,15-33: Provérbios numéricos;
h) Pr 31,1-9: Palavras de Lamuel;
i) Pr 31,10-31: Elogio da mulher sábia.

Salomão - Igreja Ortodoxa da Anunciação - Michigan (EUA)
(O pergaminho traz o texto de Pr 10,31; 9,1)

Embora o livro inicie atribuindo sua autoria a Salomão, esta é simbólica (pseudonímia), uma vez que o rei é considerado o modelo de homem sábio (o mesmo acontece nos livros de Cântico dos Cânticos, Eclesiastes e Sabedoria). As coleções de provérbios são frutos de séculos de tradição, inclusive com contribuições da sabedoria de outros povos do Oriente.

Os gêneros literários (paralelismos - sintéticos e antitéticos -, instruções, acrósticos, bem-aventuranças) e os temas empregados (sabedoria prática, ética, teologia) são também os mais diversos. Vale destacar os textos que apresentam a sabedoria personificada, os quais influenciaram diretamente a “cristologia da sabedoria” no Novo Testamento.

Para saber mais, confira a bibliografia indicada no final da postagem [1].

2. Leitura litúrgica do Livro dos Provérbios: Composição harmônica

Como nas postagens anteriores desta série, analisaremos a leitura litúrgica dos Provérbios a partir dos dois critérios propostos no n. 66 do Elenco das Leituras da Missa: a composição harmônica e a leitura semicontínua [2]. Começamos pela primeira, que consiste na escolha do texto por sua sintonia com o tempo ou a festa litúrgica.

a) Celebração Eucarística

Seguindo o ciclo do Ano Litúrgico, a primeira ocorrência de Pr é na Solenidade da Santíssima Trindade do ano C. Neste dia lemos o célebre texto de Pr 8,22-31, no qual a sabedoria é personificada e narra sua participação na obra da criação. Naturalmente aqui a sabedoria é identificada com a pessoa de Jesus Cristo.

Divina Liturgia no Seminário Teológico de Kiev

No último domingo, 21 de junho, o Arcebispo Maior da Igreja Greco-Católica Ucraniana, Dom Sviatoslav Shevchuk, celebrou a Divina Liturgia do II Domingo depois de Pentecostes (segundo o calendário juliano) na capela do Seminário Teológico de Kiev por ocasião do encerramento do ano letivo (no hemisfério norte o ano letivo conclui-se em junho e recomeça em setembro).

Destaque para os paramentos usados pelo Arcebispo com a célebre inscrição IC XC NI KA (Jesus Cristo vence).

Capela do Seminário, dedicada à Santíssima Trindade (*)
Incensação

Homilia
Ablução das mãos

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Ângelus do Papa: XII Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 21 de junho de 2020

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho deste domingo (cf. Mt 10,26-33) faz eco ao convite que Jesus dirige aos seus discípulos para que não tenham medo, sejam fortes e confiantes diante dos desafios da vida, alertando-os para as adversidades que os esperam. O trecho de hoje faz parte do discurso missionário com o qual o Mestre prepara os Apóstolos para a primeira experiência de proclamação do Reino de Deus. Jesus exorta-os insistentemente a “não terem medo”. O medo é um dos piores inimigos da nossa vida cristã. Jesus exorta: “não receeis”, “não tenhais medo”. E Jesus descreve três situações concretas que eles enfrentarão.
Antes de tudo, a primeira, a hostilidade daqueles que gostariam de silenciar a Palavra de Deus, edulcorando-a, diluindo-a ou reprimindo quantos  a anunciam. Neste caso, Jesus encoraja os Apóstolos a difundir a mensagem de salvação que Ele lhes confiou. Até àquele momento, Ele transmitiu-a com prudência, quase em segredo, no pequeno grupo dos discípulos. Mas eles deverão proclamar o seu Evangelho “à luz do dia”, ou seja, abertamente, e anunciá-lo “sobre os telhados” - assim diz Jesus - isto é, publicamente.
A segunda dificuldade que os missionários de Cristo irão encontrar é a ameaça física contra eles, isto é, a perseguição direta do seu povo, inclusive a morte. Esta profecia de Jesus verificou-se em todos os tempos: trata-se de uma realidade dolorosa, mas atesta a fidelidade das testemunhas. Quantos cristãos ainda hoje são perseguidos em todo o mundo! Sofrem pelo Evangelho com amor, são os mártires dos nossos dias. E podemos dizer com certeza que são mais do que os mártires dos primeiros tempos: muitos mártires unicamente pelo facto de serem cristãos. A estes discípulos de ontem e de hoje que sofrem a perseguição, Jesus recomenda: «Não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma» (v. 28). Não nos devemos deixar assustar por aqueles que procuram extinguir a força da evangelização através da arrogância e da violência. Na verdade, nada podem fazer contra a alma, ou seja, contra a comunhão com Deus: ninguém a pode tirar aos discípulos, pois é um dom de Deus. O único medo que o discípulo deve ter é o de perder esse dom divino, a proximidade, a amizade com Deus, renunciando a viver segundo o Evangelho e causando deste modo a sua morte moral, que é a consequência do pecado.
O terceiro tipo de prova que os Apóstolos terão de enfrentar, é indicada por Jesus no sentimento que alguns terão de que o próprio Deus os abandonou, permanecendo distante e silencioso. Também aqui nos exorta a não ter medo, porque, apesar de passarmos por estas e outras ciladas, a vida dos discípulos está firmemente nas mãos de Deus, que nos ama e nos guarda. São como as três tentações: edulcorar o Evangelho, diluí-lo; segunda, a perseguição; e terceira, o sentimento de que Deus nos deixou sozinhos. Jesus também sofreu esta provação no Jardim das Oliveiras e na Cruz: “Pai, por que me abandonaste”, diz Jesus. Por vezes sentimos esta aridez espiritual; não devemos ter medo dela. O Pai cuida de nós porque o nosso valor é grande aos Seus olhos. O importante é a franqueza, a coragem do testemunho, do testemunho de fé: “reconhecer Jesus diante dos homens” e ir em frente praticando o bem.
Maria Santíssima, modelo de confiança e abandono em Deus na hora da adversidade e do perigo, ajuda-nos a nunca ceder ao desânimo, e a confiar sempre n'Ele e na Sua graça, porque a graça de Deus é sempre mais poderosa do que o mal.


Fonte: Santa Sé

Memória do Imaculado Coração de Maria em Cracóvia

No último sábado, 20 de junho (neste ano, Memória do Imaculado Coração de Maria), o Arcebispo de Cracóvia, Dom Marek Jędraszewski, celebrou a Santa Missa no Santuário de São João Paulo II, durante a qual conferiu o mandato e abençoou 41 novos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão para sua Arquidiocese.

Destaque para os paramentos do Arcebispo e dos diáconos com detalhes em azul.

Procissão de entrada

Incensação

Ritos iniciais

sábado, 20 de junho de 2020

Papa Francisco acrescenta três invocações à Ladainha de Nossa Senhora

Na manhã deste sábado, 20 de junho (neste ano, Memória do Imaculado Coração de Maria) a Santa Sé divulgou uma Carta do Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, endereçada aos Presidentes das Conferências Episcopais, na qual ele comunica a decisão do Papa Francisco de inserir três invocações na Ladainha de Nossa Senhora.

Maria, Mãe de misericórdia

A Ladainha de Nossa Senhora também é chamada de “Ladainha Lauretana”, uma vez que foi bastante difundida através do Santuário de Loreto, na Itália, sobretudo em meados do século XVI. Sua origem, porém, é mais antiga.

A Ladainha é bastante associada à oração do rosário, embora, como afirma o Diretório sobre Piedade popular e Liturgia (n. 203), “é um ato cultual independente: pode ser um canto processional, fazer parte de uma celebração da Palavra de Deus ou outras estruturas cultuais” [1].

Embora não esteja diretamente associada a uma ação litúrgica, a Ladainha de Nossa Senhora é regulamentada pela Congregação para o Culto Divino, a fim de evitar que sejam introduzidas devoções “estranhas”, que possam gerar dúvidas entre os fiéis.

Foi através da Congregação que os Papas, sobretudo ao longo do último século, acrescentaram de maneira oficial algumas invocações à Ladainha. O último acréscimo foi feito por São João Paulo II com a invocação “Rainha da família”, inserida através da Carta do Prefeito da Congregação para o Culto Divino datada de 31 de dezembro de 1995 [2].

As três invocações inseridas pelo Papa Francisco são: “Mater misericordiae” (Mãe de misericórdia), “Mater spei” (Mãe da esperança) e “Solacium migrantium” (Conforto dos migrantes).

As duas primeiras já são bastante difundidas, tendo inclusive seus próprios formulários na Coletânea de Missas de Nossa Senhora: n. 39 (Santa Maria, Rainha e Mãe de misericórdia) e n. 37 (Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da santa esperança) [3], além de serem referenciadas na célebre antífona “Salve, mater misericordiae”:


Na sequência segue a Carta na íntegra, em tradução livre:

Carta aos Presidentes das Conferências Episcopais
sobre as invocações “Mater misericordiae”, “Mater spei” e “Solacium migrantium
a inserir na Ladainha Lauretana

Do Vaticano, 20 de junho de 2020,
Memória do Imaculado Coração da Bem-aventurada Virgem Maria.

Excelentíssimo,
Peregrina rumo a Santa Jerusalém do céu, para gozar da comunhão inseparável com Cristo, seu Esposo e Salvador, a Igreja caminha através dos caminhos da história confiando-se Àquela que acreditou na Palavra do Senhor. Conhecemos pelo Evangelho que os discípulos de Jesus de fato aprenderam, desde o início, a louvar a “bendita entre as mulheres” e a contar com sua materna intercessão. Inumeráveis são os títulos e as invocações que a piedade cristã, no decorrer dos séculos, reservou à Virgem Maria, via privilegiada e segura do encontro com Cristo. Também no tempo presente, atravessado por motivos de incerteza e de perda, o devoto recurso a ela, cheio de afeto e de confiança, é particularmente querido pelo povo de Deus.
Intérprete de tal sentimento, o Sumo Pontífice Francisco, acolhendo os desejos expresso, deseja dispor que no formulário da Ladainha da Bem-aventurada Virgem Maria, chamada “Lauretana”, sejam inseridas as invocações “Mater misericordiae” (Mãe de misericórdia), “Mater spei” (Mãe da esperança) e “Solacium migrantium” (Conforto dos migrantes).
A primeira invocação será colocada após “Mater Ecclesiae” (Mãe da Igreja), a segunda depois de “Mater divinae gratiae” (Mãe da divina graça), a terceira depois de “Refugium peccatorum” (Refúgio dos pecadores).
Enquanto me alegro de comunicar a Vossa Excelência tal disposição para conhecimento e aplicação, aproveito a ocasião para manifestar-lhe a minha estima.
Do devotíssimo no Senhor,

Cardeal Robert Sarah - Prefeito
Arthur Roche - Arcebispo Secretário

Maria, Mãe da esperança

Notas:
[1] SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia. São Paulo: Paulinas, 2003, p. 172.

[2] cf. Revista Notitiae, n. 357 (1994, n. 4), pp. 189-190.
Outras inserções feitas pelos Papas foram:
Rainha concebida sem pecado original” pelo Papa Pio IX por ocasião da proclamação do dogma da Imaculada Conceição em 1854;
Rainha do santíssimo Rosário” pelo Papa Leão XIII em 1883, associando a Ladainha à recitação do rosário, particularmente no mês de outubro;
Rainha da paz” pelo Papa Bento XV durante a Primeira Guerra Mundial;
Rainha assunta ao céu” pelo Papa Pio XII por ocasião da proclamação do dogma da Assunção em 1950;
Mãe da Igreja” pelo Papa Paulo VI por ocasião da conclusão do Concílio Vaticano II em 1965.

[3] cf. Missas de Nossa Senhora. Edições CNBB: Brasília, 2016, pp. 203-206; pp. 193-196. Confira todas das Missas da Coletânea de Nossa Senhora clicando aqui.

Homilia: XII Domingo do Tempo Comum - Ano A

Santo Atanásio de Alexandria
Tratado sobre a Encarnação do Verbo
O Salvador ressuscitou; Cristo vive; Cristo é a própria vida

Se mediante o sinal da cruz e a fé em Cristo calcamos a morte, terá que concluir, a juízo da verdade, que é Cristo e não outro quem conseguiu a palma e o triunfo sobre a morte, reduzindo-a quase à impotência. Se ainda acrescentamos que a morte - antes prepotente e, em consequência, terrível -, é desprezada por causa da vinda do Salvador, de sua morte corporal e de sua ressurreição, é lógico deduzir que a morte foi aniquilada e vencida por Cristo ao ser suspenso na cruz.
Quando, transcorrida a noite, o sol aparece e ilumina com seus raios a face da terra, a ninguém lhe ocorre duvidar de que é o sol que, espargindo sua luz por toda parte, afugenta as trevas inundando tudo com o seu esplendor. Assim também, quando a morte começou a ser desprezada e pisoteada após a vinda do Salvador em forma humana para salvar-nos e de sua morte na cruz, torna-se manifesto que foi o próprio Salvador quem, manifestando-se corporalmente, destruiu a morte e alcança cada dia em seus discípulos novos troféus sobre ela.
Se alguém vir a alguns homens, naturalmente pusilânimes, lançar-se com confiança à morte sem temer a corrupção do sepulcro nem evitar a descida aos infernos, mas provocá-la com alegre disposição de espírito; que não temem os tormentos, antes preferem, por amor a Cristo, a morte à presente vida; ainda mais: se alguém fosse testemunha de homens, mulheres e até de tenras crianças que, impulsionados por seu amor a Cristo, correm pressurosamente ao encontro da morte, quem seria tão tolo, tão incrédulo ou tão cego de entendimento que não compreendesse e reconhecesse que esse Cristo - a quem tais homens rendem um testemunho autêntico - é o que concede e outorga a cada um deles a vitória sobre a morte e destrói o seu poder em todos aqueles que creem nele e estão marcados com o sinal da cruz?
O que acabamos de dizer é um argumento não desprezível de que a morte foi aniquilada por Cristo e de que a cruz do Senhor foi suspensa como estandarte contra ela. Com respeito à qual Cristo, comum Salvador de todos e vida verdadeira, tenha realizado a imortal ressurreição do corpo, torna-se muito mais manifesto dos fatos que das palavras para aqueles que conservam são o olho da alma.
Assim, se a morte foi destruída e todos têm o poder de vencê-la mediante Cristo, com muito mais razão a venceu e a destruiu primeiramente Ele em seu próprio corpo. Portanto, tendo dado morte à morte, que alternativa restava a não ser ressuscitar o corpo e erigi-lo em troféu de sua vitória? E como poderia se comprovar que a morte foi destruída se não houvesse ressuscitado o corpo do Senhor? Se o que foi dito não fosse para alguém prova suficiente para demonstrar sua ressurreição, deposite sua fé em nossas palavras ao menos apoiado no que é comprovável com os olhos.
Pois se um morto não pode fazer absolutamente nada: sua memória permanece viva somente até o sepulcro, e em seguida se desvanece; e se somente os vivos podem agir e exercer certa influência sobre os homens: que o comprove quem queira e, feitas as oportunas verificações, julgue por si mesmo e confesse a verdade. Bem: se o Salvador realiza entre os homens tantas e tão magníficas coisas; se por toda parte convence silenciosamente a tantos gregos e bárbaros a que abracem a fé e obedeçam a sua doutrina, haverá alguém que duvide de que o Salvador ressuscitou, de que Cristo vive, ainda mais, de que é a própria vida?


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 160-162. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de Santo Ambrósio para este domingo clicando aqui.