sábado, 26 de novembro de 2016

Homilia: I Domingo do Advento - Ano A

Santo Efrém
Comentário sobre o Diatessaron
Vigiai: Cristo virá de novo

Para impedir qualquer pergunta de seus discípulos a respeito do seu advento, Cristo disse: Essa hora ninguém o sabe, nem os anjos, nem mesmo o Filho; e não vos cabe conhecer os dias e os tempos. Ele quis ocultar-nos isto para que permaneçamos vigilantes, e para que cada um de nós possa pensar que esse acontecimento sobrevirá durante a sua vida. Se o tempo de seu retorno tivesse sido revelado, sua vinda seria vã, e as nações e os séculos em que ela acontecerá já não mais a desejariam. Ele disse com muita clareza que virá, mas não precisou em que momento. Desta forma, todas as gerações e épocas da história o esperam ardentemente.
Mesmo que o Senhor tenha dado a conhecer os sinais de sua vinda, não fica claro quando acontecerá, pois estes sinais, submetidos a uma troca constante, tanto têm aparecido como já passaram, e, podemos dizer mais, eles ainda continuam. A última vinda do Senhor, de fato, será semelhante à primeira, pois, do mesmo modo que os justos e os profetas o desejavam, crendo que ele apareceria na sua época, assim cada um dos atuais fieis deseja recebe-lo na sua, porque Cristo não revelou o dia de sua aparição. E não o revelou para que ninguém pense que ele - que é soberano do decurso e do tempo - está submetido a algum imperativo ou a alguma hora. O que o próprio Senhor estabeleceu, como poderia lhe estar oculto, visto que pessoalmente detalhou os sinais de sua vinda? Estes sinais foram destacados para que, desde então, todos os povos e todas as épocas pensassem que o advento de Cristo se realizaria em sua própria época.
Velai, portanto, quando o corpo dorme, porque nesta ocasião é a natureza quem vos domina, e nossa atividade não se encontra dirigida pela vontade, mas pelos impulsos da natureza. E quando reina sobre a alma um pesado torpor, por exemplo, a pusilanimidade ou a melancolia, é o inimigo que domina a alma e a conduz contra sua aspiração natural. Apropria-se do corpo a força da natureza, e da alma o inimigo.
Por isso nosso Senhor falou da vigilância da alma e do corpo, para que o corpo não caia em um pesado torpor, nem a alma no entorpecimento e temor, como diz a Escritura: Despertai, como é justo; e também: Eu me levantei e esteou contigo; e ainda: Não vos acovardeis. Por tudo isso, nós, encarregados deste ministério, não nos acovardamos.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 23-24. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de Santo Hilário de Poitiers para este domingo clicando aqui.

Feliz Ano Novo (Litúrgico)!


“Através do ciclo anual, a Igreja comemora todo o mistério de Cristo, da Encarnação ao dia de Pentecostes e à espera da vinda do Senhor”
 (Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário, n. 17).

Na tarde de hoje, 26 de novembro, iniciamos o Tempo do Advento, em preparação à vinda do Senhor, e com ele um novo Ano Litúrgico.

Entramos com toda a Igreja de Rito Romano no ano A, durante o qual, na maioria dos domingos e festas, meditaremos o Evangelho de Mateus.


Ao longo deste ano, como fizemos durante o anterior, publicaremos a cada domingo e solenidade uma homilia de um Padre da Igreja, que nos ajudará a aprofundar a mensagem do Evangelho. Para ler estas homilias, clique aqui.

“Ao Cristo que era, que é e que há de vir,
Senhor do tempo e da história,
louvor e glória pelos séculos dos séculos.
Amém.”

Catequese do Papa: Aconselhar e ensinar

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 23 de novembro de 2016
Jubileu (37): Aconselhar e ensinar

Queridos irmãos e irmãs bom dia!
Acabado o jubileu, hoje voltamos à normalidade, mas permanecem ainda algumas reflexões sobre as obras de misericórdia, e assim continuemos a falar sobre isto.
A reflexão sobre as obras de misericórdia espiritual hoje diz respeito a duas ações fortemente interligadas entre elas: aconselhar os duvidosos e ensinar aos ignorantes, ou seja, a quantos não sabem. A palavra ignorante é demasiado forte, mas quer dizer aqueles que não sabem algo e aos quais se deve ensinar. São obras que se podem viver quer numa dimensão simples, familiar, ao alcance de todos, quer - especialmente a segunda, a de ensinar - num plano mais institucional, organizado. Pensemos, por exemplo, em quantas crianças sofrem ainda de analfabetismo. Não se pode compreender isto: num mundo onde o progresso técnico-científico chegou a um patamar tão alto, há crianças analfabetas! É uma injustiça. Quantas crianças sofrem por falta de instrução. É uma condição de grande injustiça que mina a própria dignidade da pessoa. Além disso, sem instrução tornam-se facilmente reféns da exploração e de várias formas de degradação social.
A Igreja, ao longo dos séculos, sentiu a exigência de se comprometer no âmbito da instrução porque a sua missão de evangelização comporta o empenho de restituir dignidade aos mais pobres. Desde o primeiro exemplo de uma «escola» fundada precisamente aqui em Roma por São Justino, no segundo século, para que os cristãos conhecessem melhor a Sagrada Escritura, até São José de Calasanz, que abriu as primeiras escolas populares gratuitas da Europa, temos uma longa lista de santos e santas que em várias épocas levaram instrução aos mais desfavorecidos, sabendo que através deste caminho teriam ultrapassado a miséria e a discriminação. Quantos cristãos, leigos, irmãos e irmãs consagrados, sacerdotes dedicaram a própria vida à instrução, à educação das crianças e dos jovens. Isto é grande: convido-vos a prestar-lhe uma homenagem com uma calorosa salvas de palma! [aplauso dos fiéis]. Estes pioneiros da instrução tinham compreendido profundamente a obra de misericórdia, tornando-a um estilo de vida capaz de transformar a própria sociedade. Através de um trabalho simples e com poucas estruturas souberam restituir dignidade a muitas pessoas! E a instrução que proporcionavam era muitas vezes orientada também para o trabalho. Mas pensemos em São João Bosco, que preparava os meninos de rua para o trabalho, com o oratório e também com as escolas, os ofícios. Foi assim que surgiram muitas e diversas escolas profissionais, que habilitavam para o trabalho e educavam nos valores humanos e cristãos. Portanto, a instrução é deveras uma forma peculiar de evangelização.
Quanto mais cresce a instrução, mais as pessoas adquirem certezas e consciências, das quais todos necessitamos na vida. Uma boa instrução ensina-nos o método crítico, que inclui também um certo tipo de dúvida, útil para colocar perguntas e verificar os resultados alcançados, em vista de um conhecimento maior. Mas a obra de misericórdia de aconselhar os duvidosos não diz respeito a este tipo de dúvida. Ao contrário, expressar a misericórdia para com os duvidosos equivale a aliviar aquela dor e aquele sofrimento que provém do medo e da angustia que são consequências da dúvida. Portanto, é um ato de verdadeiro amor com o qual se tenciona apoiar uma pessoa na debilidade provocada pela incerteza.
Penso que alguém poderia questionar-me: «Padre, mas eu tenho tantas dúvidas sobre a fé, o que devo fazer? O senhor nunca tem dúvidas?». Tenho muitas... Certamente nalguns momentos as dúvidas surgem para todos! As dúvidas mexem com a fé, no sentido positivo, são o sinal de que queremos conhecer melhor e mais profundamente a Deus, Jesus, e o mistério do seu amor por nós. «Mas, tenho esta dúvida: procuro, estudo, vejo e peço conselhos sobre como agir». Estas são dúvidas que fazem crescer! Por conseguinte, é bom que façamos algumas perguntas sobre a nossa fé, porque deste modo somos impelidos a aprofundá-la. Todavia, as dúvidas devem ser também ultrapassadas. Por isso é necessário ouvir a Palavra de Deus, e compreender o que nos ensina. Um caminho importante que pode ajudar muito neste sentido é a catequese, com a qual o anúncio da fé vem ao nosso encontro no concreto da vida pessoal e comunitária. E há, ao mesmo tempo, outro caminho igualmente importante, o de viver o mais possível a fé. Não façamos da fé uma teoria abstrata onde as dúvidas se multiplicam. Ao contrário, façamos da fé a nossa vida. Procuremos praticá-la no serviço aos irmãos, especialmente dos mais necessitados. E então muitas dúvidas esvaecem, porque sentimos a presença de Deus e a verdade do Evangelho no amor que, sem o nosso mérito, habita em nós e compartilhemos com os outros.
Como podemos observar, queridos irmãos e irmãs, também estas duas obras de misericórdia não estão distantes da nossa vida. Cada um de nós pode comprometer-se em vivê-las para pôr em prática a palavra do Senhor quando diz que o mistério do amor de Deus não foi revelado aos sábios e aos inteligentes, mas aos pequeninos (cf. Lc 10,21; Mt 11,25-26). Portanto, o ensinamento mais profundo que somos chamados a transmitir e a certeza mais verdadeira para sair da dúvida, é o amor de Deus com o qual fomos amados (cf. 1Jo 4,10). Um grande amor, gratuito e concedido para sempre. Deus nunca retrocede com o seu amor! Vai sempre em frente e espera; doa para sempre o seu amor, do qual devemos sentir grande responsabilidade, para sermos o seu testemunho oferecendo misericórdia aos nossos irmãos. Obrigado.


Fonte: Santa Sé

Posse dos Cardeais Cupich e Fernandez

No último dia 20 de novembro o Cardeal Blase Cupich, Arcebispo de Chicago, tomou posse do seu título cardinalício em Roma, a igreja de São Bartolomeu "all'Isola" durante as II Vésperas da Solenidade de Cristo Rei.

O cerimoniário foi Mons. Kevin Gillespie.

Igreja de São Bartolomeu "all'Isola"
Mons. Gillespie apresenta a bula de criação cardinalícia
Homilia
Cardeal Cupich saúda os fieis

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Divina Liturgia nos 70 anos do Patriarca Kirill

No último dia 20 de novembro o Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa comemorou seu aniversário de 70 anos. A Divina Liturgia foi celebrada na Catedral Patriarcal de Cristo Salvador em Moscou.

Estiveram presentes vários dos Primazes das Igrejas Ortodoxas: Theodoros de Alexandria, Theophilos de Jerusalém, Irinej da Sérvia, Ilia da Geórgia, Chrysostomos do Chipre, Anastasios da Albânia, Sawa da Polônia e Rastislav da República Tcheca e Eslováquia.

O Patriarca Theodoros de Alexandria, que possuía a precedência entre os presentes, presidiu os ritos iniciais da Divina Liturgia. O Patriarca Kirill presidiu à Liturgia Eucarística.


Litania da paz
Patriarca Theodoros abençoa os fieis

Incensação

Carta Apostólica Misericordia et misera do Papa Francisco

Carta Apostólica Misericordia et Misera
do Santo Padre Francisco
no termo do Jubileu Extraordinário da Misericórdia

Francisco, a quantos lerem esta Carta Apostólica misericórdia e paz!

Misericórdia e mísera (misericordia et misera) são as duas palavras que Santo Agostinho utiliza para descrever o encontro de Jesus com a adúltera (cf. Jo 8, 1-11). Não podia encontrar expressão mais bela e coerente do que esta, para fazer compreender o mistério do amor de Deus quando vem ao encontro do pecador: «Ficaram apenas eles dois: a mísera e a misericórdia».[1] Quanta piedade e justiça divina nesta narração! O seu ensinamento, ao mesmo tempo que ilumina a conclusão do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, indica o caminho que somos chamados a percorrer no futuro.
1. Esta página do Evangelho pode, com justa razão, ser considerada como ícone de tudo o que celebramos no Ano Santo, um tempo rico em misericórdia, a qual pede para continuar a ser celebrada e vivida nas nossas comunidades. Com efeito, a misericórdia não se pode reduzir a um parêntese na vida da Igreja, mas constitui a sua própria existência, que torna visível e palpável a verdade profunda do Evangelho. Tudo se revela na misericórdia; tudo se compendia no amor misericordioso do Pai.
Encontraram-se uma mulher e Jesus: ela, adúltera e – segundo a Lei – julgada passível de lapidação; Ele que, com a sua pregação e o dom total de Si mesmo que O levará até à cruz, reconduziu a lei mosaica ao seu intento originário genuíno. No centro, não temos a lei e a justiça legal, mas o amor de Deus, que sabe ler no coração de cada pessoa incluindo o seu desejo mais oculto e que deve ter a primazia sobre tudo. Entretanto, nesta narração evangélica, não se encontram o pecado e o juízo em abstrato, mas uma pecadora e o Salvador. Jesus fixou nos olhos aquela mulher e leu no seu coração: lá encontrou o desejo de ser compreendida, perdoada e libertada. A miséria do pecado foi revestida pela misericórdia do amor. Da parte de Jesus, nenhum juízo que não estivesse repassado de piedade e compaixão pela condição da pecadora. A quem pretendia julgá-la e condená-la à morte, Jesus responde com um longo silêncio, cujo intuito é deixar emergir a voz de Deus tanto na consciência da mulher como nas dos seus acusadores. Estes deixam cair as pedras das mãos e vão-se embora um a um (cf. Jo 8, 9). E, depois daquele silêncio, Jesus diz: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? (...) Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar» (8, 10.11). Desta forma, ajuda-a a olhar para o futuro com esperança, pronta a recomeçar a sua vida; a partir de agora, se quiser, poderá «proceder no amor» (Ef 5, 2). Depois que se revestiu da misericórdia, embora permaneça a condição de fraqueza por causa do pecado, tal condição é dominada pelo amor que consente de olhar mais além e viver de maneira diferente.
2. Aliás Jesus ensinara-o claramente quando, em casa dum fariseu que O convidara para almoçar, se aproximou d’Ele uma mulher conhecida por todos como pecadora (cf. Lc 7, 36-50). Esta ungira com perfume os pés de Jesus, banhara-os com as suas lágrimas e enxugara-os com os seus cabelos (cf. 7, 37-38). À reação escandalizada do fariseu, Jesus retorquiu: «São perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa, pouco ama» (7, 47).
perdão é o sinal mais visível do amor do Pai, que Jesus quis revelar em toda a sua vida. Não há página do Evangelho que possa ser subtraída a este imperativo do amor que chega até ao perdão. Até nos últimos momentos da sua existência terrena, ao ser pregado na cruz, Jesus tem palavras de perdão: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34).
Nada que um pecador arrependido coloque diante da misericórdia de Deus pode ficar sem o abraço do seu perdão. É por este motivo que nenhum de nós pode pôr condições à misericórdia; esta permanece sempre um ato de gratuidade do Pai celeste, um amor incondicional e não merecido. Por isso, não podemos correr o risco de nos opor à plena liberdade do amor com que Deus entra na vida de cada pessoa.
A misericórdia é esta ação concreta do amor que, perdoando, transforma e muda a vida. É assim que se manifesta o seu mistério divino. Deus é misericordioso (cf. Ex 34, 6), a sua misericórdia é eterna (cf. Sal 136/135), de geração em geração abraça cada pessoa que confia n’Ele e transforma-a, dando-lhe a sua própria vida.
3. Quanta alegria brotou no coração destas duas mulheres: a adúltera e a pecadora! O perdão fê-las sentirem-se, finalmente, livres e felizes como nunca antes. As lágrimas da vergonha e do sofrimento transformaram-se no sorriso de quem sabe que é amado. A misericórdia suscita alegria, porque o coração se abre à esperança duma vida nova. A alegria do perdão é indescritível, mas transparece em nós sempre que a experimentamos. Na sua origem, está o amor com que Deus vem ao nosso encontro, rompendo o círculo de egoísmo que nos envolve, para fazer também de nós instrumentos de misericórdia.
Como são significativas, também para nós, estas palavras antigas que guiavam os primeiros cristãos: «Reveste-te de alegria, que é sempre agradável a Deus e por Ele bem acolhida. Todo o homem alegre trabalha bem, pensa bem e despreza a tristeza. (...) Viverão em Deus todas as pessoas que afastam a tristeza e se revestem de toda a alegria».[2] Experimentar a misericórdia dá alegria; não no-la deixemos roubar pelas várias aflições e preocupações. Que ela permaneça bem enraizada no nosso coração e sempre nos faça olhar com serenidade a vida do dia-a-dia.
Numa cultura frequentemente dominada pela tecnologia, parecem multiplicar-se as formas de tristeza e solidão em que caem as pessoas, incluindo muitos jovens. Com efeito, o futuro parece estar refém da incerteza, que não permite ter estabilidade. É assim que muitas vezes surgem sentimentos de melancolia, tristeza e tédio, que podem, pouco a pouco, levar ao desespero. Há necessidade de testemunhas de esperança e de alegria verdadeira, para expulsar as quimeras que prometem uma felicidade fácil com paraísos artificiais. O vazio profundo de tanta gente pode ser preenchido pela esperança que trazemos no coração e pela alegria que brota dela. Há tanta necessidade de reconhecer a alegria que se revela no coração tocado pela misericórdia! Por isso guardemos como um tesouro estas palavras do Apóstolo: «Alegrai-vos sempre no Senhor!» (Flp 4, 4; cf. 1 Ts 5, 16).
4. Celebramos um Ano intenso, durante o qual nos foi concedida, em abundância, a graça da misericórdia. Como um vento impetuoso e salutar, a bondade e a misericórdia do Senhor derramaram-se sobre o mundo inteiro. E perante este olhar amoroso de Deus, que se fixou de maneira tão prolongada sobre cada um de nós, não se pode ficar indiferente, porque muda a vida.
Antes de mais nada, sentimos necessidade de agradecer ao Senhor, dizendo-Lhe: «Vós abençoastes a vossa terra (…). Perdoastes as culpas do vosso povo» (Sal 85/84, 2.3). Foi mesmo assim: Deus esmagou as nossas culpas e lançou ao fundo do mar os nossos pecados (cf. Miq 7, 19); já não Se lembra deles, lançou-os para trás de Si (cf. Is 38, 17); como o Oriente está afastado do Ocidente, assim os nossos pecados estão longe d’Ele (cf. Sal 103/102, 12).
Neste Ano Santo, a Igreja pôde colocar-se à escuta e experimentou com grande intensidade a presença e proximidade do Pai, que, por obra do Espírito Santo, lhe tornou mais evidente o dom e o mandato de Jesus Cristo relativo ao perdão. Foi realmente uma nova visita do Senhor ao meio de nós. Sentimos o seu sopro vital efundir-se sobre a Igreja, enquanto, mais uma vez, as suas palavras indicavam a missão: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos» (Jo 20, 22-23).

Fotos da Missa no Encerramento do Ano da Misericórdia

No último dia 20 de novembro, Solenidade de Cristo Rei do Universo, o Papa Francisco celebrou na Praça São Pedro a Santa Missa por ocasião do encerramento do Ano da Misericórdia.

No início da celebração o Papa fechou a Porta Santa da Basílica de São Pedro, por ele aberta no dia 08 de dezembro de 2015, encerrando assim este Jubileu Extraordinário.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Marco Agostini. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

O Papa reza em silêncio no limiar da Porta

Fechamento da Porta Santa



Homilia do Papa no Encerramento do Ano da Misericórdia

Santa Missa no Encerramento do Jubileu da Misericórdia
Homilia do Papa Francisco
Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo
Praça São Pedro
Domingo, 20 de novembro de 2016

A solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo coroa o ano litúrgico e este Ano Santo da Misericórdia. Na verdade, o Evangelho apresenta a realeza de Jesus no auge da sua obra salvadora e fá-lo duma maneira surpreendente. «O Messias de Deus, o Eleito, (…) o Rei» (Lc 23, 35.37) aparece sem poder nem glória: está na cruz, onde parece mais um vencido do que um vencedor. A sua realeza é paradoxal: o seu trono é a cruz; a sua coroa é de espinhos; não tem um cetro, mas põem-Lhe uma cana na mão; não usa vestidos sumptuosos, mas é privado da própria túnica; não tem anéis brilhantes nos dedos, mas as mãos trespassadas pelos pregos; não possui um tesouro, mas é vendido por trinta moedas.
Verdadeiramente não é deste mundo o reino de Jesus (cf. Jo 18, 36); mas precisamente nele – diz-nos o apóstolo Paulo na segunda leitura – é que encontramos a redenção e o perdão (cf. Col 1, 13-14). Porque a grandeza do seu reino não está na força segundo o mundo, mas no amor de Deus, um amor capaz de alcançar e restaurar todas as coisas. Por este amor, Cristo abaixou-Se até nós, viveu a nossa miséria humana, provou a nossa condição mais ignóbil: a injustiça, a traição, o abandono; experimentou a morte, o sepulcro, a morada dos mortos. Assim Se aventurou o nosso Rei até aos confins do universo, para abraçar e salvar todo o vivente. Não nos condenou, nem sequer nos conquistou, nunca violou a nossa liberdade, mas abriu caminho com o amor humilde, que tudo desculpa, tudo espera, tudo suporta (cf. 1 Cor 13, 7). Unicamente este amor venceu e continua a vencer os nossos grandes adversários: o pecado, a morte, o medo.
Hoje, amados irmãos e irmãs, proclamamos esta vitória singular, pela qual Jesus Se tornou o Rei dos séculos, o Senhor da história: apenas com a omnipotência do amor, que é a natureza de Deus, a sua própria vida, e que nunca terá fim (cf. 1 Cor 13, 8). Jubilosamente compartilhamos a beleza de ter Jesus como nosso Rei: o seu domínio de amor transforma o pecado em graça, a morte em ressurreição, o medo em confiança.
Mas seria demasiado pouco crer que Jesus é Rei do universo e centro da história, sem fazê-Lo tornar-Se Senhor da nossa vida: tudo aquilo será vão, se não O acolhermos pessoalmente e se não acolhermos também o seu modo de reinar. Nisto, ajudam-nos os personagens presentes no Evangelho de hoje. Além de Jesus, aparecem três tipos de figuras: o povo que olha, o grupo que está aos pés da cruz e um malfeitor crucificado ao lado de Jesus.
Começamos pelo povo. O Evangelho diz que «permanecia ali, a observar» (Lc 23, 35): ninguém se pronuncia, ninguém se aproxima. O povo permanece longe, a ver o que sucedia. É o mesmo povo que, levado pelas próprias necessidades, se aglomerava à volta de Jesus e, agora, se mantém à distância. Vendo certas circunstâncias da vida ou as nossas expectativas por realizar, podemos também nós ser tentados a manter a distância da realeza de Jesus, não aceitando completamente o escândalo do seu amor humilde, que interpela o nosso eu e o desassossega. Prefere-se ficar à janela, alhear-se, em vez de se avizinhar e fazer-se próximo. Mas o povo santo, que tem Jesus como Rei, é chamado a seguir o seu caminho de amor concreto; a interrogar-se, diariamente, cada um para si: «Que me pede o amor, para onde me impele? Que resposta dou a Jesus com a minha vida?»
Temos depois um segundo grupo, que engloba vários personagens: os chefes do povo, os soldados e um dos malfeitores. Todos eles escarnecem de Jesus, dirigindo-Lhe a mesma provocação: «Salve-Se a Si mesmo» (cf. Lc 23, 35.37.39). É uma tentação pior do que a do povo. Aqui tentam Jesus, como fez o diabo ao início do Evangelho (cf. Lc 4, 1-13), para que renuncie a reinar à maneira de Deus e o faça segundo a lógica do mundo: desça da cruz e derrote os inimigos! Se é Deus, demonstre força e superioridade! Esta tentação é um ataque contra o amor: «Salva-te a ti mesmo» (Lc 23, 37.39); não os outros, mas a ti mesmo. Prevaleça o eu com a sua força, a sua glória, o seu sucesso. É a tentação mais terrível; a primeira e a última do Evangelho. Entretanto Jesus, face a este ataque ao seu próprio modo de ser, não fala, não reage. Não Se defende, não tenta convencer, não há uma apologética da sua realeza. Mas antes continua a amar, perdoa, vive o momento da prova segundo a vontade do Pai, seguro de que o amor dará fruto.
Para acolher a realeza de Jesus, somos chamados a lutar contra esta tentação, a fixar o olhar no Crucificado, para Lhe sermos fiéis cada vez mais. Mas, em vez disso, quantas vezes se procuraram – mesmo entre nós – as seguranças gratificantes oferecidas pelo mundo! Quantas vezes nos sentimos tentados a descer da cruz! A força de atração que tem o poder e o sucesso pareceu um caminho mais fácil e rápido para difundir o Evangelho, esquecendo depressa como atua o reino de Deus. Este Ano da Misericórdia convidou-nos a descobrir novamente o centro, a regressar ao essencial. Este tempo de misericórdia chama-nos a contemplar o verdadeiro rosto do nosso Rei, aquele que brilha na Páscoa, e a descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor, missionária. A misericórdia, levando-nos ao coração do Evangelho, anima-nos também a renunciar a hábitos e costumes que possam obstaculizar o serviço ao reino de Deus, a encontrar a nossa orientação apenas na realeza perene e humilde de Jesus, e não na acomodação às realezas precárias e aos poderes mutáveis de cada época.
No Evangelho, aparece outro personagem, mais perto de Jesus, o malfeitor que O invoca dizendo: «Jesus, lembra-Te de mim, quando estiveres no teu Reino» (Lc 23, 42). Com a simples contemplação de Jesus, ele acreditou no seu Reino. E não se fechou em si mesmo, mas, com os seus erros, os seus pecados e os seus problemas, dirigiu-se a Jesus. Pediu para ser lembrado, e saboreou a misericórdia de Deus: «Hoje estarás comigo no Paraíso» (Lc 23, 43). Deus, logo que Lhe damos tal possibilidade, lembra-Se de nós. Está pronto a apagar completamente e para sempre o pecado, porque a sua memória não é como a nossa: não regista o mal feito, nem continua a ter em conta as ofensas sofridas. Deus não tem memória do pecado, mas de nós, de cada um de nós, seus filhos amados. E crê que é sempre possível recomeçar, levantar-se.
Peçamos, também nós, o dom desta memória aberta e viva. Peçamos a graça de não fechar jamais as portas da reconciliação e do perdão, mas saber ultrapassar o mal e as divergências, abrindo todas as vias possíveis de esperança. Assim como Deus acredita em nós próprios, infinitamente para além dos nossos méritos, assim também nós somos chamados a infundir esperança e a dar uma oportunidade aos outros. Com efeito, embora se feche a Porta Santa, continua sempre escancarada para nós a verdadeira porta da misericórdia que é o Coração de Cristo. Do lado trespassado do Ressuscitado jorram até ao fim dos tempos a misericórdia, a consolação e a esperança.
Muitos peregrinos atravessaram as Portas Santas e, longe do fragor dos noticiários, saborearam a grande bondade do Senhor. Agradeçamos ao Senhor por isso e recordemo-nos de que fomos investidos em misericórdia para nos revestir de sentimentos de misericórdia, para nos tornarmos, nós também, instrumentos de misericórdia. Prossigamos, juntos, este nosso caminho. Acompanhe-nos Nossa Senhora! Também Ela estava junto da cruz; lá nos deu à luz enquanto terna Mãe da Igreja, que a todos deseja abrigar sob o seu manto. Ao pé da cruz, Ela viu o bom ladrão receber o perdão e tomou o discípulo de Jesus como seu filho. É a Mãe de misericórdia, a quem nos consagramos: cada situação nossa, cada oração nossa, dirigida aos seus olhos misericordiosos, não ficará sem resposta.


Fonte: Santa Sé

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Títulos e Diaconias dos novos Cardeais

A cada um dos Cardeais é confiado o cuidado espiritual por uma das igrejas de Roma: aos Cardeais Presbíteros é confiada uma igreja titular e aos Cardeais Diáconos uma diaconia. O Cardeal não possui nenhuma autoridade administrativa sobre a igreja: apenas pode aconselhar o pároco e celebra nela em algumas ocasiões especiais.

Eis os títulos e diaconias dos novos Cardeais:

Cardeal Mario Zenari
Núncio Apostólico na Síria
Cardeal Diácono de Santa Maria das Graças “alle Fornaci fuori Porta Cavalleggeri
(Esta diaconia pertencia ao Cardeal Lourdusamy, falecido em 02/06/2014)
 

Cardeal Dieudonné Nzapalainga
Arcebispo de Bangui (República Centro-Africana)
Cardeal Presbítero do Título de Santo André “della Valle
(Este título pertencia ao Cardeal Canestri, falecido em 29/04/2015)
 

Cardeal Carlos Osoro Sierra
Arcebispo de Madri (Espanha)
Cardeal Presbítero do Título de Santa Maria “in Trastevere
(Este título pertencia ao Cardeal Capovilla, falecido em 26/05/2016)
 

Cardeal Sérgio da Rocha
Arcebispo de Brasília (Brasil)
Cardeal Presbítero do Título de Santa Cruz “in via Flaminia
(Este título pertencia ao Cardeal Baum, falecido em 23/07/2015)


Cardeal Blase J. Cupich
Arcebispo de Chicago (EUA)
Cardeal Presbítero do Título de São Bartolomeu “all’Isola”
(Este título pertencia ao Cardeal George, falecido em 17/04/2015)

Visita dos novos Cardeais ao Papa Bento

Após o Consistório para criação de Cardeais do último dia 19 de novembro, o Papa Francisco e os novos Cardeais dirigiram-se ao Mosteiro Mater Ecclesiae no Vaticano para uma visita ao Papa Emérito Bento XVI.







Fotos do Consistório para criação de novos Cardeais

No último dia 19 de novembro o Papa Francisco presidiu na Basílica Vaticana o 3º Consistório para a criação de novos Cardeais do seu pontificado. Como anunciado em outubro, foram criados 17 novos Cardeais, 13 eleitores e 4 não-eleitores.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Massimiliano Matteo Boiardi. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Procissão de entrada

Oração diante do túmulo de São Pedro
Sinal da cruz e saudação
Saudação do neo-Cardeal Zenari

Homilia do Papa no Consistório para criação de Cardeais

Consistório Ordinário Público para a Criação de novos Cardeais
Homilia do Papa Francisco
Basílica Vaticana
Sábado, 19 de novembro de 2016

A passagem do Evangelho que acabamos de ouvir (cf. Lc 6, 27-36) faz parte do que muitos chamam «o discurso da planície». Despois da instituição dos Doze, Jesus desceu com os seus discípulos para um local plano, onde uma multidão estava à sua espera para O escutar e ser curada por Ele. A vocação dos Apóstolos aparece associada com este «pôr-se a caminho» rumo à planície, para encontrar uma multidão que se sentia – como diz o texto do Evangelho – «atormentada» (Lc 6, 18). A escolha deles, em vez de os fazer permanecer lá no alto, no cimo da montanha, leva-os para o seio da multidão, coloca-os no meio das suas tribulações, ao nível da sua vida. Assim o Senhor revela, a eles e a nós, que o verdadeiro cume se alcança na planície, e esta lembra-nos que o cume se situa num horizonte e, especialmente, num convite: «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso» (Lc 6, 36).
Um convite acompanhado por quatro imperativos – poderíamos dizer quatro exortações – que o Senhor lhes dirige, para moldar a sua vocação na existência concreta do dia-a-dia. São quatro ações que darão forma, encarnarão e tornarão palpável o caminho do discípulo. Poderíamos dizer que são quatro etapas da mistagogia da misericórdia: amai, fazei o bem, abençoai e rezai. Penso que, sobre estes aspetos, é possível estarmos todos de acordo, parecendo-nos mesmo razoáveis. São quatro ações que facilmente realizamos com os nossos amigos, com as pessoas mais ou menos chegadas, próximas na estima, nos gostos, nos costumes.
O problema surge quando Jesus nos apresenta os destinatários destas ações, e fá-lo com muita clareza, sem divagações nem eufemismos. Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai aqueles que vos amaldiçoam, rezai pelos que vos caluniam (cf. Lc 6, 27-28).
Estas ações, não nos vem espontaneamente a vontade de as fazer a pessoas que aparecem a nossos olhos como um adversário, como um inimigo. Ao vê-las, a nossa atitude primária e instintiva é desqualificá-las, desacreditá-las, amaldiçoá-las; em muitos casos, procuramos «demonizá-las» a fim de ter uma justificação «santa» para nos livrarmos delas. Ao contrário Jesus, referindo-Se ao inimigo, a quem te odeia, amaldiçoa ou difama, diz-nos: ama-o, faz-lhe bem, abençoa-o e reza por ele.
Estamos perante uma das caraterísticas mais específicas da mensagem de Jesus, onde se esconde a sua força e o seu segredo; daí dimana a fonte da nossa alegria, a força da nossa missão e o anúncio da Boa Nova. O inimigo é alguém que devo amar. No coração de Deus, não há inimigos; Deus tem apenas filhos. Nós erguemos muros, construímos barreiras e classificamos as pessoas. Deus tem filhos, e não foi para Se livrar deles que os quis. O amor de Deus tem o sabor da fidelidade às pessoas, porque é um amor entranhado, um amor materno/paterno que não as deixa ao abandono, mesmo quando erraram. O nosso Pai não espera pelo momento em que formos bons, para amar o mundo; para nos amar, não espera pelo momento em que formos menos injustos, ou mesmo perfeitos; ama-nos porque escolheu amar-nos, ama-nos porque nos deu o estatuto de filhos. Amou-nos mesmo quando éramos seus inimigos (cf. Rm 5, 10). O amor incondicional do Pai para com todos foi, e é, uma verdadeira exigência de conversão para o nosso pobre coração, que tende a julgar, dividir, contrapor e condenar. Saber que Deus continua a amar mesmo quem O rejeita, é uma fonte ilimitada de confiança e estímulo para a missão. Nenhuma mão, por mais suja que esteja, pode impedir a Deus de colocar nela a Vida que nos deseja oferecer.
A nossa época carateriza-se por problemáticas e interrogativos fortes à escala mundial. Tocou-nos atravessar um tempo em que ressurgem, à maneira duma epidemia nas nossas sociedades, a polarização e a exclusão como única forma possível de resolver os conflitos. Vemos, por exemplo, como rapidamente quem vive ao nosso lado não só possui a condição de desconhecido, imigrante ou refugiado, mas torna-se uma ameaça, adquire a condição de inimigo. Inimigo, porque vem duma terra distante, ou porque tem outros costumes. Inimigo pela cor da sua pele, pela sua língua ou a sua condição social; inimigo, porque pensa de maneira diferente e mesmo porque tem outra fé. Inimigo, porque... E, sem nos darmos conta, esta lógica instala-se no nosso modo de viver, agir e proceder. Consequentemente, tudo e todos começam a ter sabor de inimizade. Pouco a pouco as diferenças transformam-se em sintomas de hostilidade, ameaça e violência. Quantas feridas se alargam devido a esta epidemia de inimizade e violência, que se imprime na carne de muitos que não têm voz, porque o seu clamor foi esmorecendo até ficar reduzido ao silêncio por causa desta patologia da indiferença! Quantas situações de precariedade e sofrimento são disseminadas através deste crescimento da inimizade entre os povos, entre nós! Sim, entre nós, dentro das nossas comunidades, dos nossos presbitérios, das nossas reuniões. O vírus da polarização e da inimizade permeia as nossas maneiras de pensar, sentir e agir. Não sendo imunes a isto, devemos estar atentos para que tal conduta não ocupe o nosso coração, pois iria contra a riqueza e a universalidade da Igreja que podemos constatar palpavelmente neste Colégio Cardinalício. Vimos de terras distantes, temos costumes, cor da pele, línguas e condições sociais distintas; pensamos de forma diferente e também celebramos a fé com vários ritos. E nada de tudo isto nos torna inimigos; pelo contrário, é uma das nossas maiores riquezas.
Amados irmãos, Jesus não cessa de «descer do monte», não cessa de querer inserir-nos na encruzilhada da nossa história para anunciarmos o Evangelho da Misericórdia. Jesus continua a chamar-nos e a enviar-nos à «planície» dos nossos povos, continua a convidar-nos a gastar a nossa vida apoiando a esperança do nosso povo, como sinais de reconciliação. Como Igreja, continuamos a ser convidados a abrir os nossos olhos para vermos as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da sua dignidade, provados na sua dignidade.
Amado irmão neo-cardeal, o caminho para o céu começa na planície, no dia-a-dia da vida repartida e compartilhada, duma vida gasta e doada: na doação diária e silenciosa do que somos. O nosso cume é esta qualidade do amor; a nossa meta e aspiração é procurar na planície da vida, juntamente com o povo de Deus, transformar-nos em pessoas capazes de perdão e reconciliação.
Amado irmão, aquilo que hoje se te pede é que guardes no teu coração e no coração da Igreja este convite a ser misericordioso como o Pai, sabendo que «se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 49).


Fonte: Santa Sé

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Homilia: Solenidade de Cristo Rei - Ano C

São João Crisóstomo
Sermão sobre a cruz e o ladrão
A cruz, símbolo do reino

Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino. Não teve a audácia de dizer: lembra-te de mim quando entrares no teu reino, antes de ter destituído pela confissão o peso dos seus pecados. Percebes a importância da confissão? Confessou-se e abriu o paraíso. Confessou-se e tal confiança lhe penetrou que, de ladrão, passou a pedir o reino. Vês quantos benefícios nos alcança a cruz? Pedes o reino? E o que vês que o recomende a ti? Diante de ti tens os cravos e a cruz. Sim, porém esta mesma cruz - diz - é o símbolo do reino. Por isso o chamo rei, porque o vejo crucificado: já que é próprio de um rei morrer pelos seus súditos. Ele mesmo o disse: O bom pastor dá a vida pelas ovelhas; portanto, o bom rei dá a vida pelos seus súditos. E visto que realmente deu a sua vida, por isso o chamo rei: Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino.
Vês como a cruz é o símbolo do reino? Queres outra confirmação desta verdade? Não a deixou na terra, mas a tomou e a levou consigo ao céu. E como me demonstras isto? Muito simples: porque naquela sua gloriosa e segunda vinda aparecerá com ela, para que aprendas que a cruz é algo digno de honra. Por isso a chamou sua “glória”.
Mas vejamos como ele virá com a cruz, pois neste tema convém pôs as cartas viradas para cima. Diz o Evangelho: Se insistirem: “Vede, Cristo está no porão”, não creias neles; “vede, que está no deserto”, não vá. Ele falava deste modo de sua segunda vinda em glória, prevenindo-nos contra os falsos cristos e contra o anticristo, para que ninguém, seduzido, caísse em seus laços.
Como antes de Cristo deve aparecer o anticristo, para que ninguém, buscando o pastor, caia nas mãos do lobo, por isso te deu um sinal para que identifiques a vinda do pastor. Pois como a primeira vinda foi anônima, para que não penses que a segunda ocorrerá de maneira semelhante, te deu esta contrassenha. E com razão a primeira vinda a realizou como desconhecido, pois veio buscar o que estava perdido. Mas a segunda não será assim. Então, como? Porque assim como o relâmpago sai do oriente e brilha até o ocidente, assim ocorrerá com a vinda do Filho do Homem. Imediatamente será manifesto a todos, e ninguém terá que perguntar se Cristo está aqui ou está ali.
Assim como quando brilha o relâmpago não é necessário perguntar se ele ocorreu ou não, assim também na vida de Cristo: não será necessário indagar se Cristo veio ou não veio. Porém, o problema era se aparecerá com a cruz, pois não nos esquecemos do prometido. Escuta, pois, o que segue. Então, diz. Então, mas quando? Quando vier o Filho do Homem o sol se escurecerá, a lua não brilhará. Naquele dia será tal a intensidade da luz que se escurecerão até as estrelas mais luminosas. Então as estrelas cairão; então brilhará no céu o sinal do Filho do Homem. Vês qual é o poder do sinal da cruz?
E assim como um rei ao fazer a sua entrada na cidade, os soldados lhe precedem levando as insígnias do soberano, precursoras de sua chegada, assim também, ao descer o Senhor dos céus, lhe precederão os exércitos de anjos e arcanjos erguendo o glorioso estandarte da cruz, e anunciando-nos desta maneira sua entrada real.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 759-761. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Cesário de Arles para essa Solenidade clicando aqui.

Catequese do Papa: Suportar com paciência as pessoas

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 16 de novembro de 2016
Jubileu (36): Suportar com paciência as pessoas

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Dedicamos a catequese de hoje a uma obra de misericórdia que todos conhecemos muito bem, mas que talvez não a ponhamos em prática como deveríamos: suportar pacientemente as pessoas inoportunas. Todos somos capazes de identificar uma presença que pode incomodar: acontece quando encontramos alguém pela rua, ou quando recebemos um telefonema... Imediatamente pensamos: «Por quanto tempo tenho que ouvir as lamentações, as conversas, as solicitações ou as ostentações desta pessoa?». Às vezes acontece até que as pessoas inoportunas são as mais próximas de nós: entre os parentes há sempre alguma; no lugar de trabalho nunca faltam; e nem no tempo livre ficamos isentos delas. O que devemos fazer com as pessoas inoportunas? Mas também nós muitas vezes somos inoportunos para os outros. Por que entre as obras de misericórdia também ela está inserida? Suportar pacientemente as pessoas inoportunas?
Na Bíblia vemos que o próprio Deus deve usar misericórdia para suportar as lamentações do seu povo. Por exemplo no livro do Êxodo o povo resulta deveras insuportável: primeiro chora porque é escravo no Egito, e Deus liberta-o; depois, no deserto, lamenta-se porque não tem o que comer (cf. 16,3), e Deus manda-lhe o maná (cf. 16,13-16), e não obstante tudo as lamentações não cessam. Moisés era o mediador entre Deus e o povo, e também ele às vezes foi inoportuno para o Senhor. Mas Deus teve paciência e assim ensinou a Moisés e ao povo esta dimensão essencial da fé.
Portanto, surge espontânea uma primeira pergunta: às vezes fazemos o exame de consciência para verificar se também nós resultamos inoportunos aos outros? É fácil apontar o dedo contra defeitos e falhas dos outros, mas devemos aprender a pôr-nos no lugar dos outros.
Olhemos sobretudo para Jesus: quanta paciência teve nos três anos da sua vida pública! Certa vez, enquanto caminhava com os discípulos, foi interpelado pela mãe de Tiago e João, a qual lhe disse: «Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda» (Mt 20,21). A mãe fazia a lobby pelos seus filhos, mas era a mãe... Jesus aproveita também esta situação para oferecer um ensinamento fundamental: o seu não é um reino de poder, e não é um reino de glória como os terrenos, mas de serviço e doação aos outros. Jesus ensina a ir sempre ao essencial e a olhar mais longe para assumir com responsabilidade a própria missão. Poderíamos ver aqui a evocação a outras duas obras de misericórdia espiritual: advertir os pecadores e ensinar os ignorantes. Pensemos no grande compromisso que podemos assumir quando ajudamos as pessoas a crescer na fé e na vida. Por exemplo, os catequistas - entre os quais se inserem muitas mães e religiosas - que dedicam tempo para ensinar aos jovens os elementos basilares da fé. Quanto esforço sobretudo quando os jovens prefeririam divertir-se a ouvir o catecismo!
Acompanhar na busca do essencial é bom e importante, porque nos faz partilhar a alegria de saborear o sentido da vida. Com frequência, acontece que nos encontramos com pessoas que dão importância a aspetos superficiais, efémeros e banais; muitas vezes porque não encontraram alguém que as estimulasse a procurar outra coisa, a apreciar os tesouros verdadeiros. Ensinar a olhar para o essencial é uma ajuda determinante, especialmente numa época como a nossa que parece ter perdido a orientação e persegue satisfações a curto prazo. Ensinar a descobrir o que o Senhor quer de nós e como lhes podemos corresponder significa pôr-nos a caminho para crescer na própria vocação, na vereda da alegria autêntica. Assim, as palavras de Jesus à mãe de Tiago e João, e depois ao grupo inteiro dos discípulos, indicam o caminho para evitar a queda na inveja, na ambição e na adulação, tentações que estão sempre à espreita também entre nós cristãos. A exigência de aconselhar, advertir e ensinar não nos deve fazer sentir superiores aos outros, mas obriga-nos antes de tudo a penetrar em nós mesmos para verificar se somos coerentes com quanto exigimos dos outros. Não nos esqueçamos das palavras de Jesus: «Por que vês tu o argueiro no olho do teu irmão e não reparas na trave que está no teu olho?» (Lc 6,41). O Espírito Santo nos ajude a ser pacientes no suportar e humildes e simples no aconselhar.


Fonte: Santa Sé

Encerramento do Ano da Misericórdia em Londres

No último dia 13 de novembro o Cardeal Vicent Gerard Nichols, Arcebispo de Westminster, celebrou na Catedral do Preciosíssimo Sangue em Londres as II Vésperas do XXXIII Domingo do Tempo Comum por ocasião do Ano da Misericórdia.

A celebração teve um alcance ecumênico, com a presença do Primaz da Comunhão Anglicana, Arcebispo Justin Welby, que inclusive proferiu a homilia.

Apesar de não ter sido prescrito pelo rito, o Cardeal Nichols fechou a Porta da Misericórdia no final da celebração.

Procissão de entrada
Hino

Salmodia

Encerramento do Ano da Misericórdia em Milão

No último dia 13 de novembro o Cardeal Angelo Scola, Arcebispo de Milão, celebrou na Catedral de Santa Maria Nascente (Duomo de Milão) a Santa Missa do I Domingo do Advento no Rito Ambrosiano (cujo Advento possui 6 domingos) por ocasião do encerramento do Ano da Misericórdia.

Procissão de entrada
Saudação inicial
Veneração do Livro dos Evangelhos
Homilia

Para ver a Missa de início do Ano da Misericórdia em Milão clique aqui