domingo, 31 de março de 2024

Catequese do Papa Bento XVI: Páscoa (2012)

Neste Domingo da Ressurreição, dando início à Oitava Pascal, resgatamos a Catequese sobre a Páscoa proferida pelo Papa Bento XVI (†2022) no dia 11 de abril de 2012, destacando sobretudo as aparições do Ressuscitado aos Apóstolos e aos discípulos de Emaús:

Papa Bento XVI
Audiência Geral
Quarta-feira, 11 de abril de 2012
A Páscoa do Senhor

Queridos irmãos e irmãs!
Depois das solenes celebrações da Páscoa, o nosso encontro de hoje está imbuído de alegria espiritual, mesmo se o céu está cinzento, no coração levamos a alegria da Páscoa, a certeza da Ressurreição de Cristo que triunfou definitivamente sobre a morte. Antes de tudo renovo a cada um de vós os cordiais votos pascais: em todas as casas e em todos os corações ressoe o anúncio jubiloso da Ressurreição de Cristo, de modo que faça renascer a esperança.


Nesta Catequese gostaria de mostrar a transformação que a Páscoa de Jesus causou nos seus discípulos. Comecemos pela noite do dia da Ressurreição. Os discípulos estão fechados em casa com medo dos judeus (cf. Jo 20,19). O temor aperta o coração e impede de ir ao encontro dos outros, ao encontro da vida. O Mestre já não está com eles. A recordação da sua Paixão alimenta a incerteza. Mas Jesus toma a peito os seus e está para cumprir a promessa que tinha feito durante a Última Ceia: «Não vos deixarei órfãos, virei ter convosco» (Jo 14,18) e diz isto também a nós, igualmente em tempos obscuros: «Não vos deixarei órfãos». Esta situação de angústia dos discípulos muda radicalmente com a chegada de Jesus. Ele entra com as portas fechadas, está no meio deles e concede a paz que tranquiliza: «A paz esteja convosco» (Jo 20,19b). É uma saudação comum que, contudo, adquire agora um significado novo, porque realiza uma mudança interior; é a saudação pascal, que faz com que os discípulos superem qualquer receio. A paz que Jesus traz é o dom da salvação que Ele tinha prometido durante os seus discursos de despedida: «Deixo-vos a minha paz, a minha paz vos dou. Mas não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração e não receeis» (Jo 14,27). Neste dia de Ressurreição, Ele concede-a em plenitude e ela torna-se para a comunidade fonte de alegria, certeza de vitória, segurança ao apoiar-se em Deus. «Não se perturbe o vosso coração e não tenhais medo» (Jo 14,1) diz também a nós.

sábado, 30 de março de 2024

Mensagem de Páscoa do Papa Bento XVI (2011)

Concluindo a retrospectiva das homilias do Papa Bento XVI (†2022) na Semana Santa de 2011, trazemos aqui sua Mensagem Urbi et Orbi (À Cidade e ao Mundo) no Domingo de Páscoa:

Papa Bento XVI
Mensagem Urbi et Orbi de Páscoa
Sacada Central da Basílica Vaticana
Domingo, 24 de abril de 2011

«In Resurrectione tua, Christe, coeli et terra laetentur» - «Na vossa Ressurreição, ó Cristo, alegrem-se os céus e a terra» (Liturgia das Horas).
Amados irmãos e irmãs de Roma e do mundo inteiro!
A manhã de Páscoa trouxe-nos este anúncio antigo e sempre novo: Cristo ressuscitou! O eco deste acontecimento, que partiu de Jerusalém há vinte séculos, continua a ressoar na Igreja, que traz viva no coração a fé vibrante de Maria, a Mãe de Jesus, a fé de Madalena e das primeiras mulheres que viram o sepulcro vazio, a fé de Pedro e dos outros Apóstolos.

Até hoje - mesmo na nossa era de comunicações supertecnológicas - a fé dos cristãos se assenta naquele anúncio, no testemunho daquelas irmãs e irmãos que viram, primeiro, a pedra removida e o túmulo vazio e, depois, os misteriosos mensageiros que atestavam que Jesus, o Crucificado, ressuscitara; em seguida, o Mestre e Senhor em pessoa, vivo e palpável, apareceu a Maria Madalena, aos dois discípulos de Emaús e, finalmente, aos onze, reunidos no Cenáculo (cf. Mc 16,9-14).


A Ressurreição de Cristo não é fruto de uma especulação, de uma experiência mística: é um acontecimento, que ultrapassa certamente a história, mas verifica-se em um momento concreto da história e deixa nela uma marca indelével. A luz, que encandeou os guardas de sentinela ao sepulcro de Jesus, atravessou o tempo e o espaço. É uma luz diferente, divina, que fendeu as trevas da morte e trouxe ao mundo o esplendor de Deus, o esplendor da Verdade e do Bem.

Tal como os raios do sol, na primavera, fazem brotar e desabrochar os rebentos nos ramos das árvores, assim também a irradiação que emana da Ressurreição de Cristo dá força e significado a cada esperança humana, a cada expectativa, desejo, projeto. Por isso, hoje, o universo inteiro se alegra, implicado na primavera da humanidade, que se faz intérprete do tácito hino de louvor da criação. O aleluia pascal, que ressoa na Igreja peregrina no mundo, exprime a exultação silenciosa do universo e sobretudo o anseio de cada alma humana aberta sinceramente a Deus, mais ainda, agradecida pela sua infinita bondade, beleza e verdade.

Quinta-feira Santa em Jerusalém (2024)

Nesta postagem destacamos as celebrações da Quinta-feira Santa em Jerusalém no dia 28 de março de 2024.

Vale recordar que essas celebrações possuem várias particularidades, tanto por tradição quanto por razões pastorais, como o uso compartilhado da Basílica do Santo Sepulcro pelas várias igrejas cristãs.

28 de março: Missa da Ceia do Senhor

Pela manhã o Patriarca Latino de Jerusalém, Cardeal Pierbattista Pizzaballa, presidiu a Missa da Ceia do Senhor na Basílica do Santo Sepulcro com a bênção dos Óleos dos Enfermos e dos Catecúmenos e a consagração do Crisma:

Procissão de entrada
Liturgia da Palavra

Evangelho
Homilia

Missa da Ceia do Senhor presidida pelo Papa (2024)

Na tarde do dia 28 de março de 2024, Quinta-feira Santa, o Papa Francisco presidiu sem celebrar a Missa da Ceia do Senhor (embora endossando a casula, ao invés do pluvial) na Penitenciária Feminina de Rebibbia em Roma. 

A Liturgia Eucarística, por sua vez, foi celebrada por Dom Diego Giovanni Ravelli, Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias.

Confira a seguir sua brevíssima homilia e algumas imagens da celebração:

Santa Missa da Ceia do Senhor
Homilia do Papa Francisco
Penitenciária Feminina de Rebibbia (Roma)
Quinta-feira Santa, 28 de março de 2024

Neste momento da Ceia, dois episódios chamam a nossa atenção. O lava-pés de Jesus: Jesus se humilha, e com este gesto nos faz compreender o que havia dito: «Eu não vim para ser servido, mas para servir» (cf. Mc 10,45). Ensina-nos o caminho do serviço.
O outro episódio - triste - é a traição de Judas, que não é capaz de amar, e depois o dinheiro, o egoísmo, o levam a esta coisa má. Mas Jesus perdoa tudo. Jesus perdoa sempre. Só pede que nós peçamos o perdão.
Uma vez ouvi uma velhinha, sábia, uma velhinha avó, do povo... Ela disse assim: «Jesus não se cansa nunca de perdoar: somos nós que nos cansamos de pedir perdão». Peçamos hoje ao Senhor a graça de não nos cansarmos.
Sempre, todos nós temos pequenos fracassos, grandes fracassos: cada um tem a sua própria história. Mas o Senhor espera sempre por nós, com os braços abertos, e não se cansa nunca de perdoar.
Agora faremos o mesmo gesto que Jesus fez: lavar os pés. É um gesto que chama a atenção para a vocação do serviço. Peçamos ao Senhor que nos faça crescer, todos nós, na vocação do serviço.
Obrigado.

Ritos iniciais
Evangelho
Homilia

Lava pés

sexta-feira, 29 de março de 2024

Homilia do Papa Bento XVI: Vigília Pascal (2011)

Retomando a retrospectiva das homilias do Papa Bento XVI (†2022) na Semana Santa de 2011, confira a seguir suas palavras na Vigília Pascal:

Vigília Pascal na Noite Santa
Homilia do Papa Bento XVI
Basílica Vaticana
Sábado Santo, 23 de abril de 2011

Amados irmãos e irmãs,
Dois grandes sinais caracterizam a celebração litúrgica da Vigília Pascal. Temos antes de tudo o fogo que se torna luz. A luz do círio pascal que, na procissão através da igreja encoberta pela escuridão da noite, se torna uma onda de luzes, fala-nos de Cristo como verdadeira estrela da manhã eternamente sem ocaso, fala-nos do Ressuscitado em quem a luz venceu as trevas. O segundo sinal é a água. Esta recorda, por um lado, as águas do Mar Vermelho, o afundamento e a morte, o mistério da Cruz; mas, por outro, aparece-nos como água nascente, como elemento que dá vida na aridez. Torna-se assim imagem do sacramento do Batismo, que nos faz participantes da Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.


Mas não são apenas estes grandes sinais da criação, a luz e a água, que fazem parte da Liturgia da Vigília Pascal; outra característica verdadeiramente essencial da Vigília é o fato de nos proporcionar um vasto encontro com a palavra da Sagrada Escritura. Antes da reforma litúrgica, havia doze leituras do Antigo Testamento e duas do Novo. As do Novo Testamento permaneceram; entretanto o número das leituras do Antigo Testamento acabou fixado em sete, que, atendendo às situações locais, se podem reduzir a três leituras. A Igreja quer, através de uma ampla visão panorâmica, conduzir-nos ao longo do caminho da história da salvação, desde a criação, passando pela eleição e a libertação de Israel, até aos testemunhos proféticos, pelos quais toda esta história se orienta cada vez mais claramente para Jesus Cristo. Na tradição litúrgica, todas estas leituras se chamavam profecias: mesmo quando não são diretamente vaticínios de acontecimentos futuros, elas têm um caráter profético, mostram-nos o fundamento íntimo e a direção da história; fazem com que a criação e a história se tornem transparentes no essencial. Deste modo tomam-nos pela mão e conduzem-nos para Cristo, mostram-nos a verdadeira luz.

Missa Crismal no Vaticano (2024)

Na manhã do dia 28 de março de 2024, Quinta-feira Santa, o Papa Francisco presidiu sem celebrar a Missa Crismal na Basílica de São Pedro, durante a qual abençoou os Óleos dos Enfermos e dos Catecúmenos e consagrou o Crisma.

A Liturgia Eucarística, por sua vez, foi celebrada pelo Cardeal Angelo De Donatis, Vigário Geral da Diocese de Roma, assistido pelo Monsenhor Krzysztof Marcjanowicz.

O Santo Padre foi assistido por Dom Diego Giovanni Ravelli e pelo Monsenhor Massimiliano Matteo Boiardi. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Como é possível ver nas imagens, o célebre baldaquino sobre o altar da Confissão, realizado por Gian Lorenzo Bernini (†1680), encontra-se em processo de restauração.

Procissão de entrada
Incensação

Sinal da cruz
Liturgia da Palavra

Homilia do Papa: Missa Crismal (2024)

Santa Missa Crismal
Homilia do Papa Francisco
Basílica de São Pedro
Quinta-feira Santa, 28 de março de 2024

«Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos n’Ele» (Lc 4,20). Não cessa de nos impressionar esta passagem do Evangelho, que nos leva a visualizar a cena, a imaginar aquele momento de silêncio com todos os olhares voltados para Jesus, em um misto de maravilha e desconfiança. Entretanto, sabemos como tudo terminou: depois de Jesus ter desmascarado as falsas expectativas de seus conterrâneos, estes «encheram-se de furor» (Lc 4,28), saíram da sinagoga e expulsaram-no da cidade. Os olhos estiveram fixos em Jesus, mas os seus corações não estavam dispostos a mudar, à sua palavra. Assim perderam a ocasião da sua vida.

Contudo, na noite de hoje, Quinta-feira Santa, acontece uma troca de olhares diferente. Protagonista é o primeiro Pastor da nossa Igreja, Pedro. Inicialmente também ele não deu crédito à palavra do Senhor, que o desmascarava: «Tu me negarás três vezes» (Mc 14,30). Assim «perdeu de vista» Jesus, e renegou-o ao cantar do galo. Mas depois, «voltando-se, o Senhor fixou os olhos nele; e Pedro recordou-se da palavra do Senhor (...). E, vindo para fora, chorou amargamente» (Lc 22,61-62). Os seus olhos acabaram inundados de lágrimas que, brotando de um coração ferido, o libertaram de falsas certezas e justificações. Aquele choro amargo mudou-lhe a vida.


Ano após ano, as palavras e os gestos de Jesus não conseguiram mudar as expectativas de Pedro, aliás semelhantes às do povo de Nazaré: também ele esperava um Messias político e poderoso, forte e resoluto, e confrontado com o escândalo de um Jesus frágil, preso sem opor resistência, declarou: «Não o conheço» (Lc 22,57). E era verdade! Não o conhecia... Começou a conhecê-lo quando, na noite da negação, deixou espaço às lágrimas da vergonha, às lágrimas do arrependimento. E vai conhecê-lo verdadeiramente quando, «triste por Jesus lhe ter perguntado, à terceira vez: “Tu és meu amigo?”», se deixará penetrar plenamente pelo olhar de Jesus. Então, daquele «não o conheço», passará a dizer: «Senhor, tu sabes tudo» (Jo 21,17).

Queridos irmãos sacerdotes, verificam-se a cura do coração de Pedro, a cura do Apóstolo, a cura do Pastor, quando, feridos e arrependidos, se deixam perdoar por Jesus; passam através das lágrimas, daquele pranto amargo, do sofrimento que permite redescobrir o amor. Por isso senti o desejo de partilhar convosco qualquer pensamento sobre um aspecto, bastante negligenciado, mas essencial da vida espiritual; proponho-o hoje com uma palavra talvez insólita, mas creio que nos fará bem voltar a descobrir: a compunção.

quinta-feira, 28 de março de 2024

Primeiros dias da Semana Santa em Jerusalém (2024)

Após o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, os primeiros dias da Semana Santa são marcados por duas significativas celebrações em Jerusalém:

Na Segunda-feira da Semana Santa (neste ano de 2024 a 25 de março), o Custódio da Terra Santa, Padre Francesco Patton, celebrou a Missa no Santuário de São Lázaro em Betânia, recordando a unção de Jesus seis dias antes da Páscoa (Jo 12,1-8).

Durante essa Missa são abençoados alguns perfumes que serão usados nos ritos do Sepultamento do Senhor na noite da Sexta-feira Santa.

25 de março: Missa da Segunda-feira Santa com bênção dos perfumes


Ritos iniciais
Evangelho
Homilia
Entronização dos perfumes

Vigília pelos missionários mártires em Roma

No dia 26 de março de 2024, Terça-feira da Semana Santa, o Cardeal Kevin Joseph Farrell, Prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, presidiu uma Vigília Ecumênica na Basílica de São Bartolomeu na Ilha Tiberina em Roma (San Bartolomeo all'Isola) para recordar os missionários mártires.

Após o Evangelho (Mc 13,5-13) e a homilia do Cardeal Farrell, foram recordados os missionários mortos em cada continente: Europa, Ásia (e Oceania), América, África. Após a invocação dos nomes dos missionários e de algumas preces, foi entronizada uma cruz de cada continente, ladeada por velas e ramos de oliveira [1].

A Basílica de São Bartolomeu, com efeito,  desde o Grande Jubileu do Ano 2000 serve como “santuário dos novos mártires”. O dia dos missionários mártires, por sua vez, se celebra a 24 de março (que neste ano coincidiu com o Domingo de Ramos), data da morte de Santo Óscar Romero, Bispo (†1980).

Para ver o livreto da celebração, clique aqui.

Homilia do Cardeal Farrell


Entronização da cruz da Europa
Cruz da Ásia

Catequese do Papa João Paulo II: Semana Santa (2004)

Confira nesta postagem a Catequese proferida pelo Papa São João Paulo II (2005) há vinte anos, durante a Semana Santa de 2004, apresentando uma síntese das celebrações desses dias:

Papa João Paulo II
Audiência Geral
Quarta-feira, 07 de abril de 2004
Convertamos o coração Àquele que, por amor, morreu por nós

1. “Jesus Cristo... humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso, Deus o exaltou acima de tudo” (Fl 2,8-9). Ouvimos há pouco estas palavras do hino contido na Carta aos Filipenses. Elas apresentam-nos, de modo essencial e eficaz, o mistério da Paixão e Morte de Jesus; ao mesmo tempo, fazem-nos entrever a glória da Páscoa da Ressurreição. Por conseguinte, constituem uma meditação que introduz nas celebrações do Tríduo Pascal, que começa amanhã.

2. Caríssimos irmãos e irmãs, preparamo-nos para reviver nos próximos dias o grande mistério da nossa salvação. Amanhã de manhã, Quinta-feira Santa, em todas as comunidades diocesanas o Bispo celebra juntamente com o seu presbitério a Missa Crismal, na qual são abençoados os Óleos dos Catecúmenos e dos Enfermos e o santo Crisma. À noite faz-se memória da Última Ceia com a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio. O rito do “lava-pés” recorda que, com este gesto realizado por Jesus no Cenáculo, Ele antecipou o Sacrifício do Calvário, e deixou-nos como nova lei, “mandatum novum”, o seu amor. Segundo uma tradição piedosa, depois dos ritos da Missa em Coena Domini, os fiéis detêm-se em adoração diante da Eucaristia durante a noite. É uma vigília de oração singular, que se relaciona com a agonia de Cristo no Getsêmani.

3. Na Sexta-Feira Santa a Igreja celebra a Paixão e Morte do Senhor. A assembleia cristã é convidada a meditar sobre o mal e sobre o pecado que oprimem a humanidade e sobre a salvação realizada com o sacrifício redentor de Cristo. A Palavra de Deus e alguns ritos litúrgicos sugestivos, como a adoração da Cruz, ajudam a percorrer as várias etapas da Paixão. Além disso, a tradição cristã deu vida, neste dia, a várias manifestações de piedade popular. Entre elas sobressaem as procissões penitenciais da Sexta-feira Santa e a prática piedosa da “Via Crucis, que fazem interiorizar melhor o mistério da Cruz.
Um grande silêncio caracteriza o Sábado Santo. De fato, não são previstas Liturgias particulares neste dia de expectativa e de oração. Nas igrejas há um grande silêncio, enquanto que os fiéis, à imitação de Maria, se preparam para o grande acontecimento da Ressurreição.

4. Ao cair da noite de Sábado Santo tem início a solene Vigília Pascal, a “mãe de todas as vigílias”. Depois da bênção do fogo novo, acende-se o círio pascal, símbolo de Cristo que ilumina cada homem, e ressoa jubiloso o grande anúncio do Exsultet. A comunidade eclesial, pondo-se à escuta da Palavra de Deus, medita a grande promessa da libertação definitiva da escravidão do pecado e da morte. Seguem-se os ritos do Batismo e da Confirmação para os catecúmenos, que percorreram um longo itinerário de preparação.
O anúncio da Ressurreição irrompe na escuridão da noite e toda a criação desperta do sono da morte, para reconhecer a realeza de Cristo, como realça o hino paulino no qual se inspiram estas nossas reflexões: “Assim, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua proclame: ‘Jesus Cristo é o Senhor’” (Fl 2,10-11).

5. Caríssimos irmãos e irmãs, estes dias são oportunos como nunca para tornar mais viva a conversão do nosso coração Àquele que por amor morreu por nós.
Deixemos que Maria, a Virgem fiel, nos acompanhe; com ela detenhamo-nos no Cenáculo e permaneçamos ao lado de Jesus no Calvário, para encontrá-lo por fim, Ressuscitado, no dia de Páscoa.
Com estes sentimentos e desejos, formulo os mais cordiais bons votos de feliz Páscoa para vós aqui presentes, para as vossas comunidades e para os vossos familiares.

São João Paulo II venera a cruz, apresentada pelo Cardeal Ratzinger
(Sexta-feira Santa de 2004)

Fonte: Santa Sé

Confira também as meditações da Via Sacra presidida pelo Papa João Paulo II na Sexta-feira Santa de 2004 clicando aqui.

quarta-feira, 27 de março de 2024

Raniero Cantalamessa: Celebração da Paixão 2011

Complementando a postagens das homilias do Papa Bento XVI (†2022) na Semana Santa de 2011, trazemos aqui a meditação do Padre Raniero Cantalamessa, Pregador da Casa Pontifícia, na Celebração da Paixão do Senhor do mesmo ano:

Padre Raniero Cantalamessa, OFMCap
Homilia na Celebração da Paixão do Senhor
Basílica de São Pedro
Sexta-feira Santa, 22 de abril de 2011
“Verdadeiramente este era o Filho de Deus!”

1. Na sua Paixão - escreve São Paulo a Timóteo - Jesus Cristo “deu o seu testemunho fazendo sua bela profissão” (1Tm 6,13). Nós nos perguntamos, testemunho de quê? Não da verdade de sua vida e de sua causa. Muitos morreram, e ainda hoje morrem, por uma causa equivocada, acreditando que seja justa. A Ressurreição, esta sim testemunha a verdade de Cristo: “Deus deu a todos prova segura sobre Jesus, ressuscitando-o dos mortos”, diz o Apóstolo no Areópago de Atenas (At 17,31).

A morte não testemunha a verdade, mas o amor de Cristo. De tal amor constitui, de fato, a prova suprema: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Pode-se objetar que há um amor maior do que dar a vida por seus amigos: é dar sua vida pelos seus inimigos. Mas foi isso precisamente que Jesus fez: “Cristo morreu pelos ímpios - escreve o Apóstolo na Carta aos Romanos: “A rigor, alguém morreria por um justo; por uma pessoa muito boa talvez alguém se anime a morrer. Mas eis aqui uma prova brilhante do amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós” (Rm 5,6-8). “Amou-nos quando éramos inimigos, para poder nos tornar amigos” [1].

Certa “teologia da cruz” unilateral pode fazer-nos esquecer o essencial. A cruz não é só juízo de Deus sobre o mundo, refutação de sua sabedoria e revelação de seu pecado. Não é não de Deus ao mundo, mas o seu sim de amor: “A injustiça, o mal real, não pode pura e simplesmente ser ignorado, ser deixado simplesmente em si. Deve ser transformado, vencido. Só esta é a verdadeira misericórdia. Que agora, dado que os homens não são capazes, o faça o próprio Deus, esta é a bondade ‘incondicionada’ de Deus” [2].


2. Mas como ter coragem de falar do amor de Deus, enquanto temos diante dos olhos tantas tragédias humanas, como a catástrofe que se abateu sobre o Japão, ou as mortes no mar nas últimas semanas? Permanecer em completo silêncio seria trair a fé e ignorar o significado do mistério que celebramos.

Há uma verdade a se proclamar com força na Sexta-feira Santa. Aquele que contemplamos sobre a cruz é Deus “in persona”. Sim, é também o homem Jesus de Nazaré, mas esta é uma pessoa com o Filho do Pai Eterno. Até que se reconheça e leve a sério o dogma fundamental da fé cristã - o primeiro definido dogmaticamente no Concílio de Niceia - que Jesus Cristo é o Filho de Deus, o próprio Deus, da mesma substância do Pai, a dor humana permanecerá sem resposta.

Festa da Anunciação do Senhor em Kiev (2024)

Neste ano de 2024 a Solenidade da Anunciação do Senhor, no dia 25 de março, coincidiu com a Segunda-feira da Semana Santa. Por isso, no Rito Romano ela será transferida para a segunda-feira da II semana da Páscoa, a 08 de abril (pois tanto a Semana Santa como a Oitava Pascal têm precedência sobre as Solenidades do Senhor).

A Igreja Greco-Católica Ucraniana, por sua vez, embora tenha acolhido o calendário gregoriano para as festas com data fixa, conserva o cálculo da Páscoa segundo o calendário juliano, como as demais Igrejas Orientais. Segundo esse cálculo, a Páscoa será celebrada neste ano de 2024 no dia 05 de maio.

Assim, no dia 25 de março o Arcebispo-Maior, Dom Sviatoslav Shevchuk (Святосла́в Шевчу́к), celebrou a Divina Liturgia da Festa da Anunciação na Catedral da Ressurreição em Kiev:

O Arcebispo abençoa os fiéis

Procissão até o altar após a Pequena Entrada

Evangelho

terça-feira, 26 de março de 2024

Homilia do Papa Bento XVI: Missa da Ceia do Senhor (2011)

Continuando a retrospectiva das homilias do Papa Bento XVI (†2022) na Semana Santa de 2011, trazemos aqui sua reflexão na Missa da Ceia do Senhor:

Santa Missa da Ceia do Senhor
Homilia do Papa Bento XVI
Basílica de São João do Latrão
Quinta-feira Santa, 21 de abril de 2011

Amados irmãos e irmãs!
«Desejei ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de padecer» (Lc 22,15): com estas palavras Jesus inaugurou a celebração do seu último banquete e da instituição da sagrada Eucaristia. Jesus foi ao encontro daquela hora, desejando-a. No seu íntimo, esperou aquele momento em que haveria de dar-se aos seus sob as espécies do pão e do vinho. Esperou aquele momento que deveria ser, de algum modo, as verdadeiras núpcias messiânicas: a transformação dos dons desta terra e o fazer-se um só com os seus, para transformá-los e inaugurar assim a transformação do mundo. No desejo de Jesus, podemos reconhecer o desejo do próprio Deus: o seu amor pelos homens, pela sua criação, um amor em expectativa. O amor que espera o momento da união, o amor que quer atrair os homens a si, para assim realizar também o desejo da própria criação: esta, de fato, «aguarda a manifestação dos filhos de Deus» (Rm 8,19). Jesus deseja-nos, aguarda-nos. E nós, temos verdadeiramente desejo d’Ele? Sentimos, no nosso interior, o impulso para encontrá-lo? Ansiamos pela sua proximidade, por nos tornarmos um só com Ele, dom este que Ele nos concede na sagrada Eucaristia? Ou, pelo contrário, sentimo-nos indiferentes, distraídos, inundados por outras coisas? Sabemos pelas parábolas de Jesus sobre banquetes que Ele conhece a realidade dos lugares que ficam vazios, a resposta negativa, o desinteresse por Ele e pela sua proximidade. Os lugares vazios no banquete nupcial do Senhor, com ou sem desculpa, há já algum tempo que deixaram de ser para nós uma parábola, tornando-se uma realidade, justamente naqueles países aos quais Ele tinha manifestado a sua proximidade particular. Jesus sabia também de convidados que viriam sim, mas sem estar vestidos de modo nupcial: sem alegria pela sua proximidade, fazendo-o somente por costume e com uma orientação bem diversa na sua vida. São Gregório Magno, em uma das suas homilias, perguntava-se: Que tipo de pessoas são aquelas que vêm sem hábito nupcial? Em que consiste este hábito e como se pode adquiri-lo? Eis a sua resposta: Aqueles que foram chamados e vêm, de alguma maneira têm fé. É a fé que lhes abre a porta; mas falta-lhes o hábito nupcial do amor. Quem não vive a fé como amor, não está preparado para as núpcias e é expulso. A comunhão eucarística exige a fé, mas a fé exige o amor; caso contrário, está morta, inclusive como fé.


Sabemos pelos quatro Evangelhos que o último banquete de Jesus, antes da Paixão, foi também um lugar de anúncio. Jesus propôs, uma vez mais e com insistência, os elementos estruturais da sua mensagem. Palavra e Sacramento, mensagem e dom estão inseparavelmente unidos. Mas, durante o último banquete, Jesus sobretudo rezou. Mateus, Marcos e Lucas usam duas palavras para descrever a oração de Jesus no momento central da Ceia: eucharistesas e eulogesas - agradecer e abençoar. O movimento ascendente do agradecimento e o movimento descendente da bênção aparecem juntos. As palavras da transubstanciação são uma parte desta oração de Jesus. São palavras de oração. Jesus transforma a sua Paixão em oração, em oferta ao Pai pelos homens. Esta transformação do seu sofrimento em amor possui uma força transformadora dos dons, nos quais agora Jesus se dá a si mesmo. Ele nos dá esses dons, para que nós e o mundo sejamos transformados. O objetivo próprio e último da transformação eucarística é a nossa transformação na comunhão com Cristo. A Eucaristia tem em vista o homem novo, com uma novidade tal que assim só pode nascer a partir de Deus e por meio da obra do Servo de Deus.

Domingo de Ramos em Jerusalém (2024)

O Patriarca Latino de Jerusalém, Cardeal Pierbatista Pizzaballa, presidiu as celebrações do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor no dia 24 de março: pela manhã, a Missa na Basílica do Santo Sepulcro e, à tarde, a procissão de Betfagé a Jerusalém.

Nesta postagem destacamos também a Comemoração da entrada messiânica de Jesus em Jerusalém que teve lugar no sábado, dia 23 de março, no Santuário das Palmas em Betfagé:

23 de março: Comemoração da entrada messiânica de Jesus em Jerusalém

Afresco da abside do Santuário
Procissão de entrada
Ritos iniciais
Oração Eucarística

24 de março: Missa do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

Após a bênção dos ramos e a procissão ao redor da Edícula do Santo Sepulcro, a Missa foi celebrada no altar de Santa Maria Madalena:

Procissão de entrada

Domingo de Ramos no Vaticano (2024)

No dia 24 de março de 2024 o Papa Francisco presidiu sem celebrar a Santa Missa do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor na Praça de São Pedro.

O Santo Padre, assistido por Dom Diego Giovanni Ravelli e pelo Monsenhor Marco Agostini, abençoou os ramos junto ao altar, não participando da procissão desde o obelisco central da Praça. O Papa também não pronunciou a homilia durante a celebração.

A Liturgia Eucarística, por sua vez, foi celebrada pelo Cardeal Claudio Gugerotti, Prefeito do Dicastério para as Igrejas Orientais.

O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Procissão de entrada


Bênção dos ramos
Aspersão

segunda-feira, 25 de março de 2024

Missas nos lugares da Paixão em Jerusalém (2024)

Nas quartas-feiras da Quaresma a Custódia Franciscana da Terra Santa promove uma série de celebrações nos lugares da Paixão do Senhor em Jerusalém.

Em cada santuário é celebrada a “Missa própria do lugar” com paramentos vermelhos, cor dos ofícios da Paixão, unida às Vésperas (oração da tarde da Liturgia das Horas).

Neste ano de 2024 as homilias foram confiadas ao Padre Paolo Messina OFMCap, Professor no Studium Biblicum Franciscanum, o qual refletiu sobre o silêncio.

Além das quatro Missas nos lugares da Paixão, o itinerário inclui também a comemoração da ressurreição de Lázaro na quinta-feira da IV semana da Quaresma. Nesta postagem destacamos ainda a comemoração das Dores de Maria na sexta-feira da V semana.

28 de fevereiro: Santuário de Dominus flevit

Incensação do altar
Salmodia das Vésperas
Homilia
Oração Eucarística

06 de março: Basílica do Getsêmani

Ritos iniciais