terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Homilia do Papa Bento XVI na Quarta-feira de Cinzas

Statio e Procissão Penitencial da Igreja de Santo Anselmo à Basílica de Santa Sabina no Aventino
Santa Missa, Bênção e Imposição das Cinzas
Homilia do Papa Bento XVI
Basílica de Santa Sabina
Quarta-feira, 22 de Fevereiro de 2012

Venerados Irmãos
Queridos irmãos e irmãs
Com este dia de penitência e de jejum - Quarta-Feira de Cinzas - iniciamos um novo caminho rumo à Páscoa de Ressurreição: o caminho da Quaresma. Gostaria de meditar brevemente sobre o sinal litúrgico das cinzas, um sinal material, um elemento da natureza, que na Liturgia se torna um símbolo sagrado, muito importante neste dia que dá início ao itinerário quaresmal. Antigamente, na cultura judaica, o uso de colocar sobre a cabeça cinza em sinal de penitência era comum, combinado muitas vezes com o vestir-se com um saco ou com trapos. Para nós cristãos, ao contrário, há este momento único, que tem aliás uma notável relevância ritual e espiritual.
Antes de tudo, a cinza é um destes sinais materiais que levam a criação dentro da Liturgia. Os principais são evidentemente os dos Sacramentos: a água, o óleo, o pão e o vinho, que se tornam verdadeira matéria sacramental, instrumento através do qual se comunica a graça de Cristo que chega até nós. No caso das cinzas trata-se ao contrário de um sinal não sacramental, mas contudo sempre relacionado com a oração e a santificação do Povo cristão. Com efeito, é prevista, antes da imposição individual sobre a cabeça - que faremos daqui a pouco - com duas fórmulas possíveis. Na primeira elas são definidas «símbolo austero»; na segunda invoca-se diretamente sobre elas a bênção e faz-se referência ao texto do Livro do Gênesis, que também pode acompanhar o gesto da imposição: «Recorda-te que és pó e em pó te hás de tornar» (cf. Gn 3,19).
Detenhamo-nos um momento sobre este versículo do Génesis. Ele conclui o juízo pronunciado por Deus depois do pecado original: Deus maldiz a serpente, que fez pecar o homem e a mulher; depois pune a mulher anunciando-lhe as dores de parto e uma relação desequilibrada com o marido; por fim, castiga o homem, anuncia-lhe a fadiga do trabalho e amaldiçoa o solo. «Maldita seja a terra por tua causa!» (Gn 3,17), por causa do teu pecado. Por conseguinte, o homem e a mulher não são diretamente amaldiçoados como ao contrário a serpente, mas, por causa do pecado de Adão, é amaldiçoada a terra, com a qual ele tinha sido moldado. Releiamos a magnífica narração da criação do homem com a terra: «O Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo. Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, ao oriente, e nele colocou o homem que havia formado» (Gn 2,7-8); assim narra o Livro do Gênesis.
Eis por conseguinte que o sinal das cinzas nos conduz ao grande afresco da criação, no qual se diz que o ser humano é uma singular unidade de matéria e de sopro divino, através da imagem do pó da terra plasmada por Deus e animada pelo seu sopro insuflado pelas narinas da nova criatura. Podemos observar como na narração do Génesis o símbolo do pó sofre uma transformação negativa por causa do pecado. Enquanto antes da queda a terra é uma potencialidade totalmente boa, irrigada por uma nascente de água (cf. Gn 2,6) e capaz, por obra de Deus, de germinar «todas as espécies de árvores agradáveis à vista e de saborosos frutos para comer» (Gn 2,9), depois da queda e da consequente maldição divina ela produzirá «espinhos e abrolhos» e só em troca «de penoso trabalho» e do «suor do rosto» concederá ao homem os seus frutos (cf. Gn 3,17-18). O pó da terra já não recorda só o gesto criador de Deus, totalmente aberto à vida, mas torna-se sinal de um destino inexorável de morte: «Recorda-te que és pó e em pó te hás de tornar» (Gn 3,19).
É evidente no texto bíblico que a terra participa no destino do homem. Diz a este propósito são João Crisóstomo, numa das suas homilias: «Vê como depois da sua desobediência tudo é imposto sobre ele [o homem] de forma contrária ao seu estilo de vida precedente» (Homilias sobre o Gênesis 17,9: PG 53,146). Esta maldição da terra tem uma função curativa para o homem, que pelas «contrariedades» da terra deveria ser ajudado a manter-se nos seus limites e reconhecer a própria natureza (cf. ibid.). Assim, com uma bonita síntese, exprime-se outro antigo comentário, que diz: «Adão foi por Deus criado puro para o seu serviço. Todas as criaturas lhe foram concedidas para o servir. Ele fora destinado para ser o senhor e rei de todas as criaturas. Mas quando o mal chegou e conversou com ele, ele recebeu-o por meio de uma escuta externa. Depois, adentrou-se no seu coração e apoderou-se de todo o seu ser. Quando, deste modo, foi capturado, a criação, que o tinha assistido e servido, foi capturada com ele» (Pseudo-Macário, Homilias 11,5; PG 34,547).
Dizíamos há pouco, citando são João Crisóstomo, que a maldição da terra tem uma função «curativa». Isto significa que a intenção de Deus, que é sempre benéfica, é mais profunda do que a própria maldição. Com efeito, é devida não a Deus mas ao pecado, mas Deus não pode deixar de a infligir, porque respeita a liberdade do homem e as suas consequências, até negativas. Por conseguinte, no âmbito da punição, e também da maldição da terra, permanece uma intenção boa que provém de Deus. Quando Ele diz ao homem: «Recorda-te que és pó e em pó te hás de tornar!», juntamente com o justo castigo pretende anunciar também um caminho de salvação, que passará precisamente através da terra, através do «pó», da «carne» que será assumida no Verbo. É nesta perspectiva salvífica que a palavra do Génesis é retomada pela Liturgia da Quarta-Feira de Cinzas: como convite à penitência, à humildade, a ter presente a própria condição mortal, e não para acabar no desespero, mas sim para acolher, precisamente nesta nossa mortalidade, a proximidade impensável de Deus que, além da morte, abre a passagem para a ressurreição, o paraíso finalmente reencontrado. Neste sentido orienta-nos um texto de Orígenes, que diz: «Aquilo que inicialmente era carne, da terra, um homem de pó (cf. 1Cor 15,47), e foi dissolvido através da morte e de novo tornado pó e cinza - de facto está escrito: és pó e em pó te hás de tornar - é feito ressuscitar da terra. Em seguida, segundo os merecimentos da alma que habita o corpo, a pessoa caminha rumo à glória de um corpo espiritual» (Sobre os Princípios 3,6,5: Sch., 268,248).
Os «merecimentos da alma», dos quais fala Orígenes, são necessários; mas fundamentais são os merecimentos de Cristo, a eficácia do seu Mistério pascal. São Paulo ofereceu-nos dele uma formulação sintética na Segunda Carta aos Coríntios, segunda Leitura de hoje: «Aquele que não havia conhecido pecado, Deus O fez pecado por nós para que nos tornássemos n’Ele justiça de Deus» (2Cor 5,21). A nossa possibilidade do perdão divino depende essencialmente do facto que o próprio Deus, na pessoa do seu Filho, quis partilhar a nossa condição, mas não a corrupção do pecado. E o Pai ressuscitou-o com o poder do seu Espírito Santo e Jesus, novo Adão, tornou-se, como diz são Paulo, «espírito dador de vida» (1Cor 15,45), primazia da nova criação. O mesmo Espírito que ressuscitou Jesus dos mortos pode transformar os nossos corações de pedra em corações de carne (cf. Ez 36,26). Invocámo-lo há pouco com o Salmo Miserere: «Cria em mim, ó Deus, um coração puro / renova em mim um espírito firme. / Não me afastes da tua presença / e não me prives do teu santo espírito» (Sl 50,12-13). Aquele Deus que expulsou os progenitores do Éden, enviou o seu Filho à nossa terra devastada pelo pecado, não o poupou, para que nós, filhos pródigos, pudéssemos voltar, arrependidos e remidos pela sua misericórdia, à nossa pátria verdadeira. Assim seja, para cada um de nós, para todos os crentes, para cada homem que humildemente se reconhece necessitado de salvação. Amém.


Fonte: Santa Sé

sábado, 25 de fevereiro de 2012

O rito da eleição ou da inscrição do nome

O tempo da Quaresma, não excluído seu caráter penitencial, possui uma forte dimensão batismal. Para todos nós é tempo de rever como estamos vivendo as promessas de nosso Batismo, que iremos renovar solenemente na Vigília Pascal. Para os catecúmenos, isto é, para aqueles que desejam abraçar a fé da Igreja, o tempo da Quaresma é o tempo da preparação próxima para a recepção dos Sacramentos da Iniciação Cristã, igualmente na Vigília Pascal.

Para as comunidades que, seguindo a venerável tradição e o ensinamento da Igreja, administram aos catecúmenos os sacramentos na Vigília Pascal, com o tempo da Quaresma inicia-se o chamado Tempo da Purificação e Iluminação. Após o período de catequese e estando devidamente preparados, os catecúmenos são acolhidos pela comunidade e acompanhados por ela em sua preparação à recepção dos sacramentos. Este tempo é marcado por várias celebrações, as quais passaremos a comentar durante este tempo quaresmal.

No Primeiro Domingo da Quaresma realiza-se o rito da Eleição ou Inscrição do Nome (Ritual da Iniciação Cristã de Adultos - RICA, nn. 133-151). É o momento em que, concluído o período de catequese, a Igreja ouve o testemunho dos padrinhos e catequistas a respeito da preparação dos catecúmenos e estes são acolhidos como “eleitos” para receber os sacramentos.

O "livro dos eleitos"
A Missa inicia-se como de costume, até a homilia inclusive. Podem ser tomadas as orações da Missa ritual para a Inscrição do Nome (Missal Romano, pp.787-788), sobretudo se, por razões pastorais, o rito da eleição não for celebrado no domingo.

Após a homilia, é feita a apresentação dos candidatos pelo catequista ou outra pessoa indicada, com a fórmula proposta no RICA (n. 143) ou outra semelhante. Em seguida, cada um dos catecúmenos, chamado pelo nome, aproxima-se do sacerdote, juntamente com seu padrinho ou madrinha.

O sacerdote interroga primeiramente os padrinhos acerca da vivência cristã dos catecúmenos (RICA, n. 144). Dado o testemunho favorável, o celebrante interroga os próprios catecúmenos acerca de seu desejo de iniciar-se na fé católica (n. 145).

Segue-se o rito da inscrição dos nomes, que pode ser feito de várias formas:

a) cada catecúmeno aproxima-se do sacerdote e diz claramente o seu nome. O sacerdote então anota o nome em um livro;

b) cada catecúmeno escreve previamente seu nome em um pedaço de papel e entrega ao sacerdote, que depois registra no livro;

c) sobretudo se os candidatos forem muitos, estes escrevem previamente seu nome em um livro que é apresentado neste momento ao sacerdote pelo catequista.

Bispo acolhe uma catecúmena, acompanhada de seu padrinho
Não é obrigatório que a comunidade possua um livro específico para registrar o nome dos eleitos. Contudo, tal prática é bastante recomendável.

Terminada a inscrição dos nomes, passa-se à admissão ou eleição dos catecúmenos propriamente dita. O sacerdote acolhe os catecúmenos como eleitos usando a fórmula proposta pelo RICA (n. 147) ou outra semelhante.

O rito encerra-se com uma oração pelos eleitos em forma litânica, usando a fórmula proposta pelo RICA (n. 148) ou outra semelhante. Estas preces concluem-se com uma oração sobre os eleitos proferida pelo sacerdote.

Segue-se a despedida dos catecúmenos, que devem retirar-se da igreja. Pode mesmo parecer-nos estranha tal recomendação, mas é uma antiquíssima tradição para indicar que os catecúmenos participarão de forma plena da Eucaristia apenas na Vigília Pascal. Se, porém, tal gesto gerar dificuldades, podem permanecer na celebração.

A celebração da Missa, após a saída dos catecúmenos, prossegue com a oração dos fiéis (que, porém, pode ser omitida), a Profissão de Fé e o Ofertório, a partir do qual faz-se tudo como de costume.


REFERÊNCIA:
Ritual da Iniciação Cristã de Adultos (RICA). Tradução portuguesa para o Brasil da edição típica. São Paulo: Paulus, 2007, pp. 62-69.

(Postagem atualizada em 19 de fevereiro de 2018).

Confira também:
O Primeiro Escrutínio e a Entrega do Símbolo
O Segundo Escrutínio
O Terceiro Escrutínio e a Entrega do Pai Nosso

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Fotos da Missa da Cátedra de São Pedro no Vaticano

No último dia 19 de fevereiro o Papa Bento XVI celebrou na Basílica de São Pedro a Santa Missa da Festa da Cátedra de São Pedro (antecipada do dia 22) com os 22 novos Cardeais.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e John Richard Cihak. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Clique aqui para ler a homilia do Papa.

"Cátedra de São Pedro"
Procissão de entrada


Cardeal Filoni agradece o Papa

Fotos do Consistório para criação de Cardeais: Fevereiro de 2012

No último dia 18 de fevereiro o Papa Bento XVI presidiu na Basílica de São Pedro um Consistório para criação de 22 novos Cardeais.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Francesco Camaldo. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Clique aqui para ler a homilia do Papa.

Procissão de entrada
Oração silenciosa

Coleta

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Mensagem do Papa Bento XVI para a Quaresma 2012

Papa Bento XVI
Mensagem para a Quaresma de 2012
«Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (Hb 10, 24)

Irmãos e irmãs!
A Quaresma oferece-nos a oportunidade de refletir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.
Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado da Carta aos Hebreus: «Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (10,24). Esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor «com um coração sincero, com a plena segurança da fé» (v. 22), de conservarmos firmemente «a profissão da nossa esperança» (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, «o amor e as boas obras» (v. 24). Na passagem em questão afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24, que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre atual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade pessoal.

1. «Prestemos atenção»: a responsabilidade pelo irmão.
O primeiro elemento é o convite a «prestar atenção»: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho, quando Jesus convida os discípulos a «observar» as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e todavia são objeto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12,24), e a «dar-se conta» da trave que têm na própria vista antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6,41). Encontramos o referido verbo também noutro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a «considerar Jesus» (3,1) como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte o verbo, que aparece na abertura da nossa exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela «esfera privada». Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o «guarda» dos nossos irmãos (cf. Gn 4,9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem. O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o facto de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo atual sofre sobretudo de falta de fraternidade: «O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo» (Carta Enc. Populorum progressio, 66).
A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é «bom e faz o bem» (Sl 119/118,68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, «passam ao largo» do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10,30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16,19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de «prestar atenção», de olhar com amor e compaixão. O que é que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos interesses e preocupações próprias. Sempre devemos ser capazes de «ter misericórdia» por quem sofre; o nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre. Diversamente, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente, revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: «O justo conhece a causa dos pobres, porém o ímpio não o compreende» (Pr 29,7). Deste modo entende-se a bem-aventurança «dos que choram» (Mt 5,4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio. O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de bem-aventurança.
O facto de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Pr 9,8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18,15). O verbo usado para exprimir a correção fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5,11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de «corrigir os que erram». É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto a advertência cristã nunca há de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo Paulo: «Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado» (Gl 6,1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que «sete vezes cai o justo» (Pr 24,16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1Jo 1,8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais retamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22,61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós.

2. «Uns aos outros»: o dom da reciprocidade.
O facto de sermos o «guarda» dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de a considerar na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a atual pode tornar-se surda quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo Paulo convida a procurar o que «leva à paz e à edificação mútua» (Rm 14,19), favorecendo o «próximo no bem, em ordem à construção da comunidade» (Rm 15,2), sem buscar «o próprio interesse, mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos» (1Cor 10,33). Esta recíproca correção e exortação, em espírito de humildade e de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.
Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm a ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que «os membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros» (1Cor 12,25) – afirma São Paulo –, porque somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal, juntamente com a oração e o jejum – radica-se nesta pertença comum. Também com a preocupação concreta pelos mais pobres, pode cada cristão expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E é também atenção aos outros na reciprocidade saber reconhecer o bem que o Senhor faz neles e agradecer com eles pelos prodígios da graça que Deus, bom e omnipotente, continua a realizar nos seus filhos. Quando um cristão vislumbra no outro a ação do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai celeste (cf. Mt 5,16).

3. «Para nos estimularmos ao amor e às boas obras»: caminhar juntos na santidade.
Esta afirmação da Carta aos Hebreus (10,24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1Cor 12,31–13,13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efetivo sempre maior, «como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia» (Pr 4,18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus. O tempo, que nos é concedido na nossa vida, é precioso para descobrir e realizar as boas obras, no amor de Deus. Assim a própria Igreja cresce e se desenvolve para chegar à plena maturidade de Cristo (cf. Ef 4,13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a estimular-nos reciprocamente para chegar à plenitude do amor e das boas obras.
Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de «pôr a render os talentos» que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25,24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12,21; 1Tm 6,18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua. Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre atual, para tendermos à «medida alta da vida cristã» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: «Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima» (Rm 12,10).
Que todos, à vista de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, sintam a urgência de esforçar-se por adiantar no amor, no serviço e nas obras boas (cf. Hb 6,10). Este apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica.
Vaticano, 3 de Novembro de 2011.

BENTO XVI


Fonte: Santa Sé

O sentido das cinzas

Na Quarta-feira de Cinzas iniciamos o Tempo da Quaresma com o significativo gesto da imposição de cinzas sobre nossas cabeças. Mas, o que significa tal gesto?

Primeiramente, a cinza (ou pó) remete-nos à realidade da criação: “O Senhor Deus formou, pois, o homem do pó da terra” (Gn 2, 7). O símbolo da cinza recorda-nos que somos criaturas mortais, frágeis, dependentes de Deus. Umas das fórmulas da imposição das cinzas recorda justamente que: “És pó e ao pó hás de voltar” (Gn 3, 19).


A cinza é o fogo apagado, o resto de uma vida que se foi. Assim, recorda-nos que perdemos nossa comunhão com Deus pelo pecado e que, por isso, experimentamos o vazio.

Mas, ao mesmo tempo que a cinza é sinal da fragilidade e transitoriedade da vida, é também sinal da humildade de quem reconhece seus pecados e deseja mudar. Torna-se, então, sinal de penitência e conversão


A cinza como sinal de penitência está presente desde o Antigo Testamento. Quando Jonas foi a Nínive anunciar a destruição desta cidade por conta de seus muitos pecados, o rei “levantou-se de seu trono, tirou o manto, cobriu-se de saco e sentou-se sobre a cinza” (Jn 3, 6).

As cinzas que recebemos provêm das palmas do último Domingo de Ramos, símbolo da entrada messiânica de Jesus em Jerusalém, sinal de sua vitória sobre o pecado e a morte. Tornando-se cinzas, recordam-nos que somente seremos participantes na vitória de Cristo se nos convertermos.


Este é o convite da outra fórmula da imposição das cinzas: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 15). Nós só poderemos celebrar o Mistério Pascal com o coração purificado. Por isso, propomos no início da Quaresma a percorrer o caminho da penitência e da conversão do coração.

Contudo, a imposição das cinzas não absolve nossos pecados, muito menos é um gesto mágico que nos faz mudar de vida. A imposição das cinzas é um sacramental: um sinal  e um "lembrete" de nosso desejo sincero de, durante a Quaresma, buscar a conversão através da oração, do jejum e da prática da caridade. As cinzas dispõem-nos à Confissão sacramental, não a substituem.


Por fim, o que fazer com as cinzas que sobrarem? Primeiramente, podem ser levadas aos doentes, que não puderam comparecer à celebração, mas que também desejam percorrer com a Igreja o caminho quaresmal. Se ainda sobrarem cinzas, devem ser misturadas à água e então jogadas em plantas. Tendo sido abençoadas, não podem simplesmente ser jogadas fora.

REFERÊNCIAS:

BECKHAÜSER, Alberto. Símbolos Litúrgicos. Petrópolis: Vozes, 1976, pp. 84-85.

CONSELHO EPISCOPAL LATINO AMERICANO (CELAM). Manual de Liturgia. Volume II: A celebração do Mistério Pascal, fundamentos teológicos e elementos constitutivos. São Paulo: Paulus, 2005, pp. 271-274.

A história da Quarta-feira de Cinzas

“Memento quia pulvis es...” - “Lembra-te de que és pó...” (Gn 3,19).

Nos primeiros séculos do Cristianismo, a celebração anual da Páscoa era precedida de dois dias de intenso jejum, na sexta-feira e no sábado. No século IV, porém, a partir do rico simbolismo bíblico do número “quarenta”, surge a “Quadragesima”, um período de preparação de 40 dias para a Páscoa.

Para acessar nossa postagem sobre a história do Tempo da Quaresma, clique aqui.


Inicialmente esse Tempo tinha início no I Domingo da Quaresma (o sexto domingo antes da Páscoa). Porém, como os cristãos tradicionalmente não jejuam nos domingos, dia consagrado à memória da Ressurreição do Senhor, os domingos logo foram excluídos da contagem dos quarenta dias e a Quaresma passou a começar na quarta-feira anterior, chamada in capite ieiunni (no início do jejum).

Esse tempo estava diretamente associado a duas instituições: a preparação dos catecúmenos para a recepção dos sacramentos da Iniciação Cristã na Vigília Pascal e a penitência eclesiástica pública [1]. Em relação à imposição das cinzas, nos deteremos aqui sobre esta última.

A imposição das cinzas sobre os penitentes

A partir do século IV começa a organizar-se um rigoroso itinerário penitencial para os pecadores públicos, isto é, para aqueles que haviam cometido pecados graves (como, por exemplo, a apostasia, renegando a fé em contextos de perseguição).

No primeiro dia da Quaresma os pecadores se dirigiam ao Bispo ou a um presbítero, confessavam seu pecado e este lhes impunha uma penitência [2]. Como expressão externa do seu arrependimento e propósito de conversão, os pecadores (doravante chamados “penitentes”) prostravam-se no chão e os sacerdotes impunham as mãos sobre eles. Em seguida os penitentes recebiam uma veste ou cinto grosseiro, chamado “cilício”, e um punhado de cinzas sobre a cabeça.

Esse duplo gesto aparece já na Sagrada Escritura: atento à exortação do profeta Jonas, o rei de Nínive “vestiu-se de saco e sentou-se em cima de cinza” (Jn 3,6); Judite, ao rezar, “prostrou-se com o rosto em terra, cobriu a cabeça com cinza, rasgou sua túnica e deixou à mostra o pano de saco com que se revestia” (Jt 9,1).

O próprio Jesus alude a tais gestos ao repreender os impenitentes: “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se os milagres que se realizaram no meio de vós, tivessem sido feitos em Tiro e Sidônia, há muito tempo elas teriam feito penitência, vestindo-se de cilício e cobrindo-se de cinza” (Mt 11,21).

Comentando esses textos, os Santos Padres (como Tertuliano, Cipriano, Ambrósio, Jerônimo...) exortavam frequentemente à penitência in cinere et cilicio...

Pregação do profeta Jonas na cidade de Nínive (Andrea Vaccaro)

Além da imposição das cinzas e da veste grosseira, os penitentes não podiam participar de maneira plena da Celebração Eucarística, até que fossem reconciliados com Deus e com a comunidade pela absolvição sacramental.

A celebração da Quarta-feira de Cinzas

“Deixai-vos reconciliar com Deus: é agora o momento favorável, é agora o dia da salvação!” (2Cor 5,20; 6,2).

A Quarta-feira de Cinzas marca, no Rito Romano, o início do Tempo da Quaresma, tempo batismal e penitencial em preparação à Páscoa do Senhor.

Nesse dia, conforme a tradição bíblica e eclesial, os fiéis recebem o sinal das cinzas sobre suas cabeças, no qual “é significada a condição do homem pecador; confessando exteriormente a sua culpa diante do Senhor, exprime assim a vontade de conversão, confiado em que o Senhor seja benigno e compassivo para com ele, paciente e cheio de misericórdia” (Cerimonial dos Bispos, n. 253).

Para acessar nossa postagem sobre a história da Quarta-feira de Cinzas, clique aqui.


1. O que se deve preparar:

- Todo o necessário para a celebração da Missa
- Turíbulo com naveta do incenso e colher
- Cruz processional
- Dois castiçais com velas
- Missal Romano
- Recipientes para as cinzas
- Caldeirinha de água benta e aspersório

O uso do incenso é sempre facultativo na Missa (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano [IGMR], 3ª edição, nn. 276-277), incluindo as Missas de Advento e Quaresma. Portanto, o incenso pode ser usado na Quarta-feira de Cinzas, como indica o Cerimonial dos Bispos (n. 255).

Durante toda a Quaresma é proibido ornamentar o altar com flores (exceto no IV Domingo da Quaresma, chamado Laetare, nas solenidades e festas) e os instrumentos musicais devem ser usados de maneira sóbria, apenas para sustentar o canto (cf. Cerimonial dos Bispos, n. 252; IGMR, n. 305).

Papa Francisco incensa o altar na Quarta-feira de Cinzas

Sobre o toque das sinetas durante a consagração nas Missas da Quaresma:
Cerimonial dos Bispos indica no n. 300 que o toque dos sinos é previsto no Glória da Missa da Ceia do Senhor (Quinta-feira Santa) e no Glória da Vigília Pascal, sendo proibido nesse intervalo.
Sobre as demais celebrações, os livros litúrgicos não se pronunciam. Portanto, valem os costumes locais: a comunidade pode tocar os sinos durante a consagração nas Missas da Quaresma, omitindo-os apenas no Tríduo Pascal; ou omitir o toque dos sinos durante toda a Quaresma.

As cinzas são preparadas através da queima dos ramos abençoados na Semana Santa do ano anterior. Podem estar dispostas na credência ou numa mesa em um lugar adequado do presbitério - não porém no altar, sobre o qual se coloca apenas o estritamente necessário para a celebração (cf. IGMR, n. 306).

2. Ritos iniciais

A celebração inicia-se como de costume, com a procissão de entrada do sacerdote acompanhado dos ministros e a incensação do altar.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Homilia do Papa Bento XVI na Festa da Cátedra de S. Pedro

Consistório Ordinário Público para a Criação de novos Cardeais
Concelebração Eucarística com os novos Cardeais
Homilia do Papa Bento XVI
Basílica Vaticana
Domingo, 19 de fevereiro de 2012

Senhores Cardeais,
Venerados Irmãos no episcopado e no sacerdócio,
Amados Irmãos e Irmãs!
Na solenidade da Cátedra de São Pedro Apóstolo, temos a alegria de nos reunir à volta do altar do Senhor, juntamente com os novos Cardeais que ontem agreguei ao Colégio Cardinalício. Para eles, em primeiro lugar, vai a minha cordial saudação, agradecendo ao Cardeal Fernando Filoni as amáveis palavras que me dirigiu em nome de todos. Estendo a minha saudação aos outros Purpurados e a todos os Bispos presentes, como também às ilustres Autoridades, aos senhores Embaixadores, aos sacerdotes, aos religiosos e a todos os fiéis, vindos de várias partes do mundo para esta feliz ocasião, que se reveste de um carácter especial de universalidade.
Na segunda leitura, há pouco proclamada, o apóstolo Pedro exorta os «presbíteros» da Igreja a serem pastores zelosos e solícitos do rebanho de Cristo (cf. 1Pd 5,1-2). Estas palavras são dirigidas antes de mais nada a vós, amados e venerados Irmãos, que sois reconhecidos no meio do Povo de Deus pelos vossos méritos na obra generosa e sábia do ministério pastoral em dioceses relevantes, ou na direção dos Dicastérios da Cúria Romana, ou ainda no serviço eclesial do estudo e do ensino. A nova dignidade que vos foi conferida pretende manifestar o apreço pelo vosso trabalho fiel na vinha do Senhor, homenagear as comunidades e nações donde provindes e de que sois dignos representantes na Igreja, investir-vos de novas e mais importantes responsabilidades eclesiais e, enfim, pedir-vos um suplemento de disponibilidade para Cristo e para a comunidade cristã inteira. Esta disponibilidade para o serviço do Evangelho está fundada firmemente na certeza da fé. De facto, sabemos que Deus é fiel às suas promessas e aguardamos, na esperança, a realização destas palavras do apóstolo Pedro: «E, quando o supremo Pastor Se manifestar, então recebereis a coroa imperecível da glória» (1Pd 5,4).
O texto evangélico de hoje apresenta Pedro que, movido por uma inspiração divina, exprime firmemente a sua fé em Jesus, o Filho de Deus e o Messias prometido. Respondendo a esta profissão clara de fé, que Pedro faz também em nome dos outros Apóstolos, Cristo revela-lhe a missão que pensa confiar-lhe: ser a «pedra», a «rocha», o alicerce visível sobre o qual será construído todo o edifício espiritual da Igreja (cf. Mt 16,16-19). Esta denominação de «rocha-pedra» não alude ao carácter da pessoa, mas só é compreensível a partir dum aspecto mais profundo, a partir do mistério: através do encargo que Jesus lhe confere, Simão Pedro tornar-se-á aquilo que ele não é mediante «a carne e o sangue». O exegeta Joachim Jeremias mostrou que aqui está presente, como cenário de fundo, a linguagem simbólica da «rocha santa». A propósito, pode ajudar-nos um texto rabínico onde se afirma: «O Senhor disse: “Como posso criar o mundo, sabendo que hão de surgir estes sem-Deus que se revoltarão contra Mim?” Mas, quando Deus viu que devia nascer Abraão, disse: “Vê! Encontrei uma rocha, sobre a qual posso construir e assentar o mundo”. Por isso, Ele chamou Abraão uma rocha». O profeta Isaías alude a isto mesmo, quando recorda ao povo: «Considerai a rocha de que fostes talhados (…). Olhai para Abraão, vosso pai» (51,1-2). Pela sua fé, Abraão, o pai dos crentes, é visto como a rocha que sustenta a criação. Simão, o primeiro que confessou Jesus como o Cristo e também a primeira testemunha da ressurreição, torna-se agora, com a sua fé renovada, a rocha que se opõe às forças destruidoras do mal.
Amados irmãos e irmãs! Este episódio evangélico, que escutámos, encontra subsequente e mais eloquente explicação num elemento artístico muito conhecido, que enriquece esta Basílica Vaticana: o altar da Cátedra. Quando, depois de percorrer a grandiosa nave central e ultrapassar o transepto, se chega à abside, encontramo-nos perante um trono de bronze enorme, que parece suspenso em voo mas na realidade está sustentado por quatro estátuas de grandes Padres da Igreja do Oriente e do Ocidente. E na janela oval, por cima do trono, resplandece a glória do Espírito Santo, envolvida por um triunfo de anjos suspensos no ar. Que nos diz este conjunto escultório, nascido do gênio de Bernini? Representa uma visão da essência da Igreja e, no seio dela, do magistério petrino.
A janela da abside abre a Igreja para o exterior, para a criação inteira, enquanto a imagem da pomba do Espírito Santo mostra Deus como a fonte da luz. Mas há ainda outro aspecto a evidenciar: de fato, a própria Igreja é como que uma janela, o lugar onde Deus Se faz próximo, vem ao encontro do nosso mundo. A Igreja não existe para si mesma, não é o ponto de chegada, mas deve apontar para além de si, para o alto, acima de nós. A Igreja é verdadeiramente o que deve ser, na medida em que deixa transparecer o Outro – com o “O” grande – do qual provém e para o qual conduz. A Igreja é o lugar onde Deus «chega» a nós e donde nós «partimos» para Ele; a este mundo que tende a fechar-se em si próprio, a Igreja tem a missão de o abrir para além de si mesmo e levar-lhe a luz que vem do Alto e sem a qual se tornaria inabitável.
A grande cátedra de bronze contém dentro dela uma cadeira em madeira, do século IX, que foi considerada durante muito tempo a cátedra do apóstolo Pedro e, precisamente pelo seu alto valor simbólico, colocada neste altar monumental. Na realidade, exprime a presença permanente do Apóstolo no magistério dos seus sucessores. Podemos dizer que a cadeira de São Pedro é o trono da verdade, cuja origem está no mandato de Cristo depois da confissão em Cesareia de Filipe. A cadeira magistral renova em nós também a lembrança das seguintes palavras dirigidas pelo Senhor a Pedro no Cenáculo: «Eu roguei por ti, para que a tua fé não desapareça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos» (Lc 22,32).
A cátedra de Pedro evoca outra recordação: a conhecida expressão de Santo Inácio de Antioquia, que, na sua Carta aos Romanos, designa a Igreja de Roma como «aquela que preside à caridade» (Inscr.: PG 5, 801). Com efeito, o facto de presidir na fé está inseparavelmente ligado à presidência no amor. Uma fé sem amor deixaria de ser uma fé cristã autêntica. Mas as palavras de Santo Inácio contêm ainda outro aspecto, muito mais concreto: de facto, o termo «caridade» era usado pela Igreja primitiva para indicar também a Eucaristia. Efetivamente a Eucaristia é Sacramentum caritatis Christi, por meio do qual Ele continua a atrair a Si todos nós, como fez do alto da cruz (cf. Jo 12,32). Portanto, «presidir à caridade» significa atrair os homens num abraço eucarístico – o abraço de Cristo – que supera toda a barreira e estranheza, criando a comunhão entre as múltiplas diferenças. Por conseguinte, o ministério petrino é primado no amor em sentido eucarístico, ou seja, solicitude pela comunhão universal da Igreja em Cristo. E a Eucaristia é forma e medida desta comunhão, e garantia de que a Igreja se mantém fiel ao critério da tradição da fé.
A grande Cátedra é sustentada pelos Padres da Igreja. Os dois mestres do Oriente, São João Crisóstomo e Santo Atanásio, juntamente com os latinos, Santo Ambrósio e Santo Agostinho, representam a totalidade da tradição e, consequentemente, a riqueza da expressão da verdadeira fé na santa e única Igreja. Este elemento do altar diz-nos que o amor apoia-se sobre a fé. O amor desfaz-se, se o homem deixa de confiar em Deus e obedecer-Lhe. Na Igreja, tudo se apoia na fé: os sacramentos, a liturgia, a evangelização, a caridade. Mesmo o direito e a própria autoridade na Igreja assentam na fé. A Igreja não se auto-regula, não confere a si mesma o seu próprio ordenamento, mas recebe-o da Palavra de Deus, que escuta na fé e procura compreender e viver. Na comunidade eclesial, os Padres da Igreja têm a função de garantes da fidelidade à Sagrada Escritura. Asseguram uma exegese fidedigna, segura, capaz de formar um conjunto estável e unitário com a cátedra de Pedro. As Sagradas Escrituras, interpretadas com autoridade pelo Magistério à luz dos Padres, iluminam o caminho da Igreja no tempo, assegurando-lhe um fundamento estável no meio das transformações da história.
Depois de termos considerado os diversos elementos do altar da Cátedra, lancemos um olhar ao seu conjunto. Vemos que é atravessado por um duplo movimento: de subida e de descida. Trata-se da reciprocidade entre a fé e o amor. A Cátedra aparece em grande destaque neste lugar, não só porque está aqui o túmulo do apóstolo Pedro, mas também porque ela encaminha para o amor de Deus. Com efeito, a fé orienta-se para o amor. Uma fé egoísta seria uma fé não-verdadeira. Quem crê em Jesus Cristo e entra no dinamismo de amor que encontra a sua fonte na Eucaristia, descobre a verdadeira alegria e torna-se, por sua vez, capaz de viver segundo a lógica deste dom. A verdadeira fé é iluminada pelo amor e conduz ao amor, conduz para o alto, como o altar da Cátedra nos eleva para a janela luminosa, para a glória do Espírito Santo, que constitui o verdadeiro ponto focal que atrai o olhar do peregrino quando cruza o limiar da Basílica Vaticana. O triunfo dos anjos e os grandes raios dourados conferem àquela janela o máximo destaque, com um sentido de transbordante plenitude que exprime a riqueza da comunhão com Deus. Deus não é solidão, mas amor glorioso e feliz, irradiante e luminoso.
Amados irmãos e irmãs, a nós, a cada cristão, está confiado o dom deste amor: um dom que deve ser oferecido com o testemunho da nossa vida. Esta é de modo particular a vossa missão, venerados Irmãos Cardeais: testemunhar a alegria do amor de Cristo. À Virgem Maria, presente na comunidade apostólica reunida em oração à espera do Espírito Santo (cf. At 1,14), confiamos agora o vosso novo serviço eclesial. Que Ela, Mãe do Verbo Encarnado, proteja o caminho da Igreja, sustente com a sua intercessão a obra dos Pastores e acolha sob o seu manto todo o Colégio Cardinalício. Amém!


Fonte: Santa Sé / Clique aqui para ver as fotos da celebração.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Títulos e Diaconias dos novos Cardeais

Eis os títulos e diaconias dos novos Cardeais:

Cardeal Fernando Filoni
Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos
Diaconia de Nossa Senhora de Coromoto em São João de Deus
(Esta diaconia pertencia ao Cardeal Castillo Lara, falecido em 16/10/2007)

Cardeal Manuel Monteiro de Castro
Penitenciário-Mor
Diaconia de São Domingos de Gusmão
(Esta é uma diaconia nova)

Cardeal Santos Abril y Castelló
Arcipreste da Basílica de Santa Maria Maior
Diaconia de São Ponciano
 (Esta diaconia pertencia ao Cardeal Navarrete, falecido em 22/11/2010)

Cardeal Antonio Maria Vegliò
Presidente do Conselho para a Pastoral dos Migrantes
Diaconia de São Cesareo in Palatio
 (Esta diaconia pertencia ao Cardeal Deskur, falecido em 03/09/2011.
Também foi a diaconia do Cardeal Wojtyla de 1967 a 1978)

Cardeal Giuseppe Bertello
Presidente do Governatorato do Vaticano
Diaconia dos Santos Vito, Modesto e Crescência
 (Esta diaconia pertencia ao Cardeal Betti, falecido em 01/04/2009)

Discurso do Papa Bento XVI durante o Consistório

Consistório Ordinário Público para a Criação de Novos Cardeais
e pelo voto de algumas Causas de Canonização
Discurso do Santo Padre Bento XVI
Basílica Vaticana
Sábado, 18 de fevereiro de 2012

«Tu es Petrus, et super hanc petram ædificabo Ecclesiam meam».
Venerados Irmãos,
Amados irmãos e irmãs!
Com estas palavras do cântico de entrada, teve início o rito solene e sugestivo do Consistório Ordinário Público para a criação dos novos Cardeais, que inclui a imposição do barrete cardinalício, a entrega do anel e a atribuição do título. Trata-se das palavras com que Jesus constituiu, eficazmente, Pedro como firme alicerce da Igreja. E o fator qualificativo deste alicerce é a fé: realmente Simão torna-se Pedro – rocha – por ter professado a sua fé em Jesus, Messias e Filho de Deus. Quando anuncia Cristo, a Igreja está ligada a Pedro, e Pedro permanece colocado na Igreja como rocha; mas, quem edifica a Igreja, é o próprio Cristo, sendo Pedro um elemento particular da construção. E deve sê-lo por meio da fidelidade à sua confissão feita junto de Cesareia de Filipe, ou seja, em virtude da afirmação: «Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo».
As palavras, que Jesus dirige a Pedro, põem claramente em destaque o carácter eclesial da celebração de hoje. De fato, através da atribuição do título duma igreja desta Cidade [de Roma] ou duma diocese suburbicária, os novos Cardeais ficam, para todos os efeitos, inseridos na Igreja de Roma guiada pelo Sucessor de Pedro, para cooperar estreitamente com ele no governo da Igreja universal. Estes dilectos Irmãos, que dentro de momentos começarão a fazer parte do Colégio Cardinalício, unir-se-ão, por vínculos novos e mais fortes, não só com o Pontífice Romano mas também com toda a comunidade dos fiéis espalhada pelo mundo inteiro. Com efeito, no desempenho do seu peculiar serviço de apoio ao ministério petrino, os neo-purpurados serão chamados a analisar e avaliar os casos, os problemas e os critérios pastorais que dizem respeito à missão da Igreja inteira. Nesta delicada tarefa, servir-lhes-á de exemplo e ajuda o testemunho de fé prestado pelo Príncipe dos Apóstolos, com a sua vida e morte, pois, por amor de Cristo, deu-se inteiramente até ao sacrifício extremo.
É com este significado que se deve entender também a imposição do barrete vermelho. Aos novos Cardeais, é confiado o serviço do amor: amor a Deus, amor à sua Igreja, amor aos irmãos com dedicação absoluta e incondicional – se for necessário – até ao derramamento do sangue, como diz a fórmula para a imposição do barrete cardinalício e como indica a cor vermelha das vestes que trazem. Além disso, é-lhes pedido que sirvam a Igreja com amor e vigor, com a clareza e a sabedoria dos mestres, com a energia e a fortaleza dos pastores, com a fidelidade e a coragem dos mártires. Trata-se de ser servidores eminentes da Igreja, que encontra em Pedro o fundamento visível da unidade.
No texto evangélico há pouco proclamado, Jesus apresenta-Se como servo, oferecendo-Se como modelo a imitar e a seguir. No cenário de fundo do terceiro anúncio da paixão, morte e ressurreição do Filho do Homem, sobressai, pelo seu clamoroso contraste, a cena dos dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, que, ao lado de Jesus, ainda correm atrás de sonhos de glória. Pediram-Lhe: «Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda» (Mc 10,37). Contundente é a resposta de Jesus, e inesperada a sua pergunta: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu bebo?» (Mc 10,38). A alusão é claríssima: o cálice é o da paixão, que Jesus aceita para cumprir a vontade do Pai. O serviço a Deus e aos irmãos, a doação de si mesmo: esta é a lógica que a fé autêntica imprime e gera na nossa existência quotidiana, mas que está em contradição com o estilo mundano do poder e da glória.
Com o seu pedido, Tiago e João mostram que não compreendem a lógica de vida que Jesus testemunha, aquela lógica que deve – segundo o Mestre – caracterizar o discípulo no seu espírito e nas suas ações. E a lógica errada não reside só nos dois filhos de Zebedeu, mas, segundo o evangelista, contagia também «os outros dez» apóstolos, que «começaram a indignar-se contra Tiago e João» (Mc 10,41). Indignam-se, porque não é fácil entrar na lógica do Evangelho, deixando a do poder e da glória. São João Crisóstomo afirma que ainda eram imperfeitos os apóstolos todos: tanto os dois que procuravam obter precedência sobre os outros dez, como os dez que tinham inveja dos dois (cf. Comentário a Mateus, 65,4: PG 58,622). E São Cirilo de Alexandria, ao comentar passagens paralelas no Evangelho de Lucas, acrescenta: «Os discípulos caíram na fraqueza humana e puseram-se a discutir uns com os outros qual deles seria o chefe, ficando superior aos outros. (…) Isto aconteceu e foi-nos narrado para nosso proveito. (…) O que sucedeu aos santos Apóstolos pode revelar-se, para nós, um estímulo à humildade» (Comentário a Lucas, 12,5,24: PG 72,912). Este episódio deu ocasião a Jesus para Se dirigir a todos os discípulos e «chamá-los a Si», de certo modo para os estreitar a Si, a fim de formarem como que um corpo único e indivisível com Ele, e indicar qual é a estrada para se chegar à verdadeira glória, a de Deus: «Sabeis como aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder. Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo, e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos» (Mc 10,42-44).
Domínio e serviço, egoísmo e altruísmo, posse e dom, lucro e gratuidade: estas lógicas, profundamente contrastantes, defrontam-se em todo o tempo e lugar. Não há dúvida alguma sobre a estrada escolhida por Jesus: e não Se limita a indicá-la por palavras aos discípulos de ontem e de hoje, mas vive-a na sua própria carne. Efetivamente explica: «Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua via em resgate por muitos» (Mc 10,45). Estas palavras iluminam, com singular intensidade, o Consistório público de hoje. Ecoam no fundo da alma e constituem um convite e um apelo, um legado e um encorajamento especialmente para vós, amados e venerados Irmãos que estais para ser incluídos no Colégio Cardinalício.
Segundo a tradição bíblica, o Filho do Homem é aquele que recebe de Deus o poder e o domínio (cf. Dn 7,13-14). Jesus interpreta a sua missão na terra, sobrepondo à figura do Filho do Homem a imagem do Servo sofredor descrita por Isaías (cf. Is 53,1-12). Ele recebe o poder e a glória apenas enquanto «servo»; mas é servo na medida em que assume sobre Si o destino de sofrimento e de pecado da humanidade inteira. O seu serviço realiza-se na fidelidade total e na plena responsabilidade pelos homens. Por isso, a livre aceitação da sua morte violenta torna-se o preço de libertação para muitos, torna-se o princípio e o fundamento da redenção de cada homem e de todo o género humano.
Amados Irmãos que estais para ser inscritos no Colégio Cardinalício! Que a doação total de Si mesmo, feita por Cristo na cruz, vos sirva de norma, estímulo e força para uma fé que actua na caridade. Que a vossa missão na Igreja e no mundo se situe sempre e só «em Cristo» e corresponda à sua lógica e não à do mundo, sendo iluminada pela fé e animada pela caridade que nos vem da Cruz gloriosa do Senhor. No anel que daqui a pouco vos entregarei, aparecem representados São Pedro e São Paulo e, no centro, uma estrela que evoca Nossa Senhora. Trazendo este anel, sois convidados diariamente a recordar o testemunho de Cristo que os dois Apóstolos deram até ao seu martírio aqui em Roma, tornando assim fecunda a Igreja com o seu sangue. Por sua vez a evocação da Virgem Maria constituirá para vós um convite incessante a seguir Aquela que permaneceu firme na fé e serva humilde do Senhor.
Ao concluir esta breve reflexão, quero dirigir a minha grata e cordial saudação a todos vós aqui presentes, particularmente às Delegações oficiais de diversos Países e aos Representantes de numerosas dioceses. No seu serviço, os novos Cardeais são chamados a permanecer fiéis a Cristo, deixando-se guiar unicamente pelo seu Evangelho. Amados irmãos e irmãs, rezai para que possa refletir-se ao vivo neles o Senhor Jesus, o nosso único Pastor e Mestre e a fonte de toda a sabedoria que indica a estrada a todos. E rezai também por mim, para que sempre possa oferecer ao Povo de Deus o testemunho da doutrina segura e reger, com suave firmeza, o timão da santa Igreja.


Fonte: Santa Sé / Confira aqui as fotos da celebração.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Quem são os novos Cardeais (Fevereiro de 2012)

Cardeais eleitores:

 1. D. Fernando Filoni, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos;


2. D. Manuel Monteiro de Castro, Penitenciário-Mor;


3. D. Santos Abril y Castelló, Arcipreste da Basílica Papal de Santa Maria Maior;


4. D. Antonio Maria Vegliò, Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes;


5. D. Giuseppe Bertello, Presidente da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano e Presidente do Governatorado do mesmo Estado;