sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Nota de falecimento: Dom Sofron Mudry

Com pesar noticiamos o falecimento de Dom Sofron Stefan Mudry, OSBM, (Софрон Мудрий), Bispo Emérito da Diocese de Ivano-Frankivsk (Ucrânia), pertencente à Igreja Greco-Católica Ucraniana.

Dom Soforn Mudry (Софрон Мудрий)

Dom Sofron nasceu em 27 de Novembro de 1923, na cidade de Zolocziw (Ucrânia). Ingressou na ordem dos Basilianos de São Josaphat em 1950, professando os votos perpétuos em 14 de janeiro de 1955. Foi ordenado sacerdote no dia 25 de dezembro de 1958, por Dom Ivan Bucko.

Como sacerdote, obteve o mestrado em Direito Canônico Oriental junto à Universidade Lateranense, tornando-se depois professor do Pontifício Instituto Oriental. De 1960 a 1974 foi vice-reitor do Pontifício Colégio São Josaphat para os Ucranianos em Roma. Em 1974 foi promovido a reitor, cargou que desempenhou até 1994.

Em 1994 retornou à Ucrânia, assumindo a função de reitor do Seminário da diocese de Ivano-Frankivsk. No dia 24 de novembro de 1995, o Sínodo da Igreja Greco-Católica Ucraniana o nomeou Bispo Coadujtor de Ivano-Frankivsk. Sua eleição foi confirmada pelo Papa São João Paulo II em 02 de março de 1996.

Com o Papa São João Paulo II
Recebeu a Ordenação Episcopal em 12 de maio do mesmo ano, pelas mãos de Dom Miroslav Stefan Marusyn, então Secretário da Congregação para as Igrejas Orientais. Em 1997, com a renúncia de Dom Sofron Dmyterko, torna-se Bispo da Diocese de Ivano-Frankivsk.

Em 02 de junho de 2005, o Papa Bento XVI aceitou sua renúncia ao governo da diocese, tornando-o Bispo Emérito. Em novembro do ano passado, celebrou seus 90 anos com a Divina Liturgia presidida pelo Arcebispo-Maior, Dom Sviatoslav Shevchuk, celebração que noticiamos aqui no blog.

Oremos por seu descanso eterno:

Ó Deus, que chamastes ao ministério episcopal o vosso servo o Bispo Sofron, colocando-o entre os sucessores dos Apóstolos, concedei-lhe também associar-se a eles no convívio eterno. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.


Informações: Catholic Hierarchy e Diácono Elton Wonsik, via Facebook.

Peregrinação Summorum Pontificum: Missa de Cristo Rei

A Peregrinação Summorum Pontificum 2014 encerrou-se com a celebração da Santa Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano na Basílica de São Bento em Nórcia (Núrsia), cidade natal de São Bento, no domingo dia 26 de outubro.

A Missa foi celebrada pelo Prior da Abadia, Pe. Cassian Folsom. A homilia foi proferida pelo Cardeal Walter Brandmüller, Prefeito Emérito do Pontifício Comitê das Ciências Históricas.

Na Forma Extraordinária, no último domingo de outubro celebra-se a Festa de Cristo Rei.

Fieis aguardam o início da celebração
Procissão de entrada (note-se o uso do amito com capuz)
Rito do Asperges


quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Peregrinação Summorum Pontificum: Santa Missa celebrada pelo Cardeal Burke

Como mencionado na postagem anterior, no dia 25 de outubro, após a procissão rumo à Basílica de São Pedro, o clero e os fieis da Peregrinação Summorum Pontificum participaram da Santa Missa Pontifical na Forma Extraordinária do Rito Romano, celebrada no Altar da Cátedra pelo Cardeal Raymond Leo Burke, Prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica.

A Missa, que teve início por volta do meio-dia, seguiu o formulário da Missa votiva de Santa Maria no Sábado (Salve, Sancta Parens).

Durante a Missa, foi lida uma mensagem do Papa Emérito Bento XVI, que assim se expressou: "Estou muito contente que o Usus antiquus agora viva em plena paz dentro da Igreja, também entre os jovens, apoiado e celebrado por grandes cardeais. Estarei espiritualmente com vocês".

Altar da Cátedra
Procissão de entrada
Cardeal Raymond Leo Burke

Orações ao pé do altar

Peregrinação Summorum Pontificum: Adoração Eucarística e Procissão

O terceiro dia da Peregrinação Summorum Pontificum, dia 25 de outubro, iniciou-se com a Adoração Eucarística na Basílica de São Lourenço in Dâmaso, presidida pelo Padre Marino Neri, secretário da "Amicizia Sacerdotale Summorum Pontificum" (grupo de sacerdotes ligados à Forma Extraordinária).

Após a Bênção Eucarística, o clero e os fieis dirigiram-se em procissão à Basílica de São Pedro, para a celebração da Santa Missa Pontifical (sobre a qual falaremos na próxima postagem). Com autorização da Santa Sé, foi permitido ao grupo cruzar a Praça São Pedro e entrar na Basílica Vaticana pela porta central, dirigindo-se até o altar da Cátedra.

Adoração Eucarística

Bênção
Início da procissão
Sacerdote preside a procissão revestido de pluvial, sem estola

Peregrinação Summorum Pontificum: Vésperas de São Rafael

No último dia 23 de outubro teve início em Roma a Peregrinação anual Summorum Pontificum, para os sacerdotes, religiosos e fieis ligados à Forma Extraordinária do Rito Romano.

O primeiro ato da peregrinação foi a celebração das I Vésperas Solenes da Festa de São Miguel Arcanjo, que no calendário da Forma Extraordinária é celebrado no dia 24 de outubro.

A celebração das Vésperas ocorreu na igreja Santíssima Trinità dei Pellegrini e foi presidida por Dom Guido Pozzo, Secretário da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei.

Altar com a imagem de São Rafael
Clero
Dom Guido Pozzo saúda os fieis antes das Vésperas
Paramentação para as Vésperas

terça-feira, 28 de outubro de 2014

A férula papal

A férula papal consiste em uma cruz de metal, sem a imagem do Crucificado, sobre um bastão igualmente de metal, que o Papa leva nas celebrações litúrgicas, à semelhança do báculo dos bispos.

Bento XVI com sua férula
Sabe-se que o Papa jamais fez uso do báculo, como indicam textos do Papa Inocêncio III (séc. XIII): “Romanus Pontifex pastorali virga non utitur” (O Romano Pontífice não usa o bastão pastoral) e de seu contemporâneo Santo Tomás de Aquino: “Romanus pontifex non utitur baculo  etiam in signum quod non habet coarctatam potestatem, quod curvatio baculi significat” (O Romano Pontífice não usa báculo... também em sinal de que ele não possui um poder restrito, que a curva do báculo significa).

Provavelmente o uso da férula pelo Papa tem início no século VIII, como indicam algumas pinturas da época. Neste período, o Papa ao tomar posse da Basílica Lateranense, catedral de Roma, recebia a férula do Arcipreste da Basílica de São Lourenço Fora-dos-Muros, como símbolo de seu poder temporal.

No final da Idade Média, introduziu-se um novo formato de férula, encimada por uma cruz de três traves. Seu simbolismo era duplo: as três dimensões da Igreja (militante, padecente e triunfante) e os três múnus episcopais (sacerdotal, profético e régio). Na história recente, há apenas um registro do uso desta férula: São João Paulo II na abertura do Ano Santo da Redenção em 25 de março de 1983.

S. João Paulo II com a férula de três traves (1983)
O uso da férula era muito limitado. O Papa, além de sua posse, a usava apenas durante os ritos de abertura das portas santas nos Jubileus e na consagração de igrejas (nesta, para bater na porta no início do rito e para marcar os alfabetos grego e latino no chão da igreja).

A partir da Missa de encerramento do Concílio Vaticano II, em 08 de dezembro de 1965, o Beato Papa Paulo VI passou a usar a férula em todas as celebrações litúrgicas mais solenes, do mesmo modo que os bispos usam o báculo.

Bv. Paulo VI com sua férula
Contudo, Paulo VI introduziu um modelo totalmente novo de férula, com a imagem do Crucificado, algo nunca usado até então e que fere séculos de tradição. Esta mesma férula, confeccionada pelo artista Lelo Scorzelli, foi usada também por seus sucessores João Paulo I e São João Paulo II (apenas foi feito um modelo mais leve para João Paulo II, em razão de sua saúde).

Bento XVI durante os três primeiros anos de pontificado usou igualmente a férula de Paulo VI. A partir do Domingo de Ramos de 2008, passou a usar uma férula que pertenceu a Pio IX e que foi usada pelos Papas até João XXIII, fiel ao modelo tradicional. Finalmente, nas Primeiras Vésperas do Advento de 2009, passou a usar sua própria férula, doada pelo Círculo de São Pedro, igualmente um modelo tradicional.
Bento XVI com a férula de Pio IX (2009)

O Papa Francisco iniciou seu pontificado usando a férula de Bento XVI. Porém, a partir de sua Posse da Basílica Lateranense, em 07 de abril de 2013, voltou a usar também a férula de Paulo VI, além de mais quatro férulas: um modelo de madeira (08.07.2013), um modelo em metal e madeira com a imagem do Ressuscitado (01.11.2013), um modelo em oliveira da Terra Santa (a partir de 13.04.204) e, por fim, um modelo tradicional em metal prateado (a partir de 17.04.2014).

XI Catequese do Papa sobre a Igreja

PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro
Quarta-feira, 22 de Outubro de 2014

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Quando se deseja salientar como os elementos que compõem uma realidade estão intimamente unidos uns aos outros, formando uma só realidade, usa-se com frequência a imagem do corpo. A partir do apóstolo Paulo, esta expressão foi aplicada à Igreja e reconhecida como a sua característica distintiva mais profunda e mais bonita. Então, hoje queremos interrogar-nos: em que sentido a Igreja forma um corpo? E por que é definida «corpo de Cristo»?
No Livro de Ezequiel é descrita uma visão um pouco especial, impressionante, mas capaz de infundir confiança e esperança nos nossos corações. Deus mostra ao profeta uma planície de ossos, separados uns dos outros, secos. Um cenário desolador... Imaginai uma planície cheia de ossos. Então, Deus pede-lhe que invoque o Espírito sobre eles. Naquele instante, os ossos movem-se, começam a aproximar-se e a unir-se entre si, neles crescem primeiro os nervos e depois a carne, formando-se assim um corpo, completo e cheio de vida (cf. Ez 37, 1-14). Eis, assim é a Igreja! Recomendo-vos que hoje, em casa, pegueis na Bíblia, no capítulo 37 do profeta Ezequiel; não vos esqueçais e lede-o, é muito bonito! Esta é a Igreja, uma obra-prima, a obra-prima do Espírito, que infunde em cada um a vida nova do Ressuscitado, pondo-nos uns ao lado dos outros, uns ao serviço e em ajuda dos outros, fazendo assim de todos nós um único corpo, edificado na comunhão e no amor.
Mas a Igreja não é apenas um corpo edificado no Espírito: a Igreja é o corpo de Cristo! E não se trata simplesmente de um modo de dizer: mas somo-lo verdadeiramente! É o grande dom que recebemos no dia do nosso Baptismo! Com efeito, no sacramento do Baptismo Cristo faz-nos seus, recebendo-nos no âmago do mistério da cruz, o mistério supremo do seu amor por nós, para depois nos fazer ressurgir com Ele, como novas criaturas. Eis: assim nasce a Igreja, é assim que a Igreja se reconhece como corpo de Cristo! O Baptismo constitui um renascimento autêntico, que nos regenera em Cristo, nos torna parte dele e nos une intimamente entre nós, como membros do mesmo corpo, cuja Cabeça é Ele (cf. Rm 12, 5; 1 Cor 12, 12-13).
Então, daqui brota uma profunda comunhão de amor. Neste sentido é iluminador que Paulo, exortando os maridos a «amarem as suas esposas como o próprio corpo», afirme: «Como Cristo faz à sua Igreja, porque somos membros do seu corpo» (Ef 5, 28-30). Como seria bom se recordássemos mais frequentemente o que somos, o que o Senhor Jesus fez de nós: somos o seu corpo, aquele corpo do qual nada nem ninguém pode privá-lo e que Ele cobre com toda a sua paixão e todo o seu amor, precisamente como um esposo faz com a sua esposa. Mas este pensamento deve fazer nascer em nós o desejo de corresponder ao Senhor Jesus e de compartilhar o seu amor entre nós, como membros vivos do seu próprio corpo. Na época de Paulo, a comunidade de Corinto encontrava muitas dificuldades neste sentido, vivendo, como também nós tantas vezes, a experiência das divisões, das invejas, das incompreensões e da marginalização. Nada disto é bom porque, em vez de edificar e levar a Igreja a crescer como corpo de Cristo, fragmenta-a em muitas partes, desmembrando-a. E isto acontece inclusive nos dias de hoje. Pensemos nas comunidades cristãs, nalgumas paróquias, pensemos nos nossos bairros, quantas divisões, quantos ciúmes, como se critica, quanta incompreensão e marginalização! E o que comporta isto? Desmembra-nos uns dos outros. É o início da guerra. A guerra não começa no campo de batalha: a guerra, as guerras têm início no coração, com incompreensões, divisões, invejas e com esta luta contra o próximo! A comunidade de Corinto era assim, eles eram campeões nisto! O apóstolo Paulo deu aos Coríntios alguns conselhos concretos que são válidos também para nós: não ser invejosos, mas nas nossas comunidades apreciar os dons e as qualidades dos nossos irmãos. Os ciúmes: «Aquele comprou um carro» e sinto aqui uma inveja; «Este ganhou na lotaria», e outra inveja; «E aquele é bem sucedido nisto», e mais uma inveja. Tudo isto desmembra, faz mal, e não se deve fazê-lo, pois assim os ciúmes aumentam e enchem o coração! E um coração ciumento é um coração amargo, um coração que em vez de sangue parece conter vinagre; é um coração que nunca está feliz, é um coração que desmembra a comunidade. Mas então que devo fazer? Apreciar nas nossas comunidades os dons e as qualidades dos outros, dos nossos irmãos. E quando sinto inveja- porque todos sentem, todos somos pecadores - devo dizer ao Senhor: «Obrigado, Senhor, porque concedestes isto àquela pessoa»! Estimar as qualidades, tornar-se próximo e participar no sofrimento dos últimos e dos mais necessitados; manifestar a própria gratidão a todos. O coração que sabe dizer obrigado é um coração bom, um coração nobre, um coração feliz! Pergunto-vos: todos nós sabemos dizer obrigado, sempre? Nem sempre, porque a inveja, os ciúmes nos limitam um pouco. E, finalmente, eis o conselho que o apóstolo Paulo dá aos Coríntios e que também nós devemos dar-nos uns aos outros: não consideres ninguém superior aos outros. Quanta gente se sente superior aos outros! Também nós, muitas vezes, dizemos como aquele fariseu da parábola: «Obrigado, Senhor, porque não sou como aquele, sou superior!». Mas isto é feio, nunca se deve agir assim! E quando estiveres prestes a fazê-lo, recorda-te dos teus pecados, daqueles que ninguém conhece, envergonha-te diante de Deus e diz: «Mas Tu, Senhor, Tu sabes quem é superior, eu fecho a boca!». E isto faz bem. E, sempre na caridade, consideremo-nos membros uns dos outros, que vivem e se entregam para o bem de todos (cf.1 Cor 12–14).
Caros irmãos e irmãs, como o profeta Ezequiel e como o apóstolo Paulo, invoquemos também nós o Espírito Santo, para que a sua graça e a abundância dos seus dons nos ajudem a viver verdadeiramente como corpo de Cristo, unidos como família, mas uma família que é o corpo de Cristo, e como sinal visível e belo do amor de Cristo.


Fonte: Santa Sé 

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Fotos da Beatificação de Paulo VI

No último dia 19 de outubro, Sua Santidade o Papa Francisco celebrou na Praça São Pedro a Santa Missa de encerramento do Sínodo dos Bispos sobre a Família, durante a qual presidiu ao rito de Beatificação do Papa Paulo VI.

Destacamos a presença do Papa Emérito Bento XVI, que concelebrou a Santa Missa.

O Santo Padre Francisco usou uma casula de Paulo VI, que foi igualmente usada por João Paulo I e São João Paulo II. Da mesma forma, usou a férula e um cálice que pertenceram ao novo Beato.

Após a fórmula da Beatificação, foi entronizada uma relíquia do sangue de Paulo VI, contido na camisa que ele usava quando sofreu um atentado em 1970.

Assistiram ao Santo Padre os Monsenhores Guido Marini e Vincenzo Peroni. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Ícone da Apresentação do Senhor, alusivo ao mistério da família
Entrada do Papa Emérito Bento XVI

Procissão de entrada
Saudação dos Papas Francisco e Bento XVI

Homilia do Papa: Beatificação de Paulo VI

Santa Missa de Encerramento do Sínodo Extraordinário sobre a Família
Beatificação do Papa Paulo VI
Homilia do Papa Francisco
Praça de São Pedro
XXIX Domingo do Tempo Comum (Ano A), 19 de outubro de 2014

Acabamos de ouvir uma das frases mais célebres de todo o Evangelho: «Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus» (Mt 22,21).
À provocação dos fariseus, que queriam, por assim dizer, fazer-Lhe o exame de religião e induzi-Lo em erro, Jesus responde com esta frase irónica e genial. É uma resposta útil que o Senhor dá a todos aqueles que sentem problemas de consciência, sobretudo quando estão em jogo as suas conveniências, as suas riquezas, o seu prestígio, o seu poder e a sua fama. E isto acontece em todos os tempos e desde sempre.

A acentuação de Jesus recai certamente sobre a segunda parte da frase: «E [dai] a Deus o que é de Deus». Isto significa reconhecer e professar - diante de qualquer tipo de poder - que só Deus é o Senhor do homem, e não há outro. Esta é a novidade perene que é preciso redescobrir cada dia, vencendo o temor que muitas vezes sentimos perante as surpresas de Deus.

Ele não tem medo das novidades! Por isso nos surpreende continuamente, abrindo-nos e levando-nos para caminhos inesperados. Ele renova-nos, isto é, faz-nos «novos» continuamente. Um cristão que vive o Evangelho é «a novidade de Deus» na Igreja e no mundo. E Deus ama tanto esta «novidade»!

«Dar a Deus o que é de Deus» significa abrir-se à sua vontade e dedicar-Lhe a nossa vida, cooperando para o seu Reino de misericórdia, amor e paz.
Aqui está a nossa verdadeira força, o fermento que faz levedar e o sal que dá sabor a todo o esforço humano contra o pessimismo predominante que o mundo nos propõe. Aqui está a nossa esperança, porque a esperança em Deus não é uma fuga da realidade, não é um álibi: é restituir diligentemente a Deus aquilo que Lhe pertence. É por isso que o cristão fixa o olhar na realidade futura, a realidade de Deus, para viver plenamente a existência - com os pés bem firmes na terra - e responder, com coragem, aos inúmeros desafios novos.

Vimo-lo, nestes dias, durante o Sínodo Extraordinário dos Bispos: «sínodo» significa «caminhar juntos». E, na realidade, pastores e leigos de todo o mundo trouxeram aqui a Roma a voz das suas Igrejas particulares para ajudar as famílias de hoje a caminharem pela estrada do Evangelho, com o olhar fixo em Jesus. Foi uma grande experiência, na qual vivemos a sinodalidade e a colegialidade e sentimos a força do Espírito Santo que sempre guia e renova a Igreja, chamada sem demora a cuidar das feridas que sangram e a reacender a esperança para tantas pessoas sem esperança.

Pelo dom deste Sínodo e pelo espírito construtivo concedido a todos, com o Apóstolo Paulo «damos continuamente graças a Deus por todos vós, recordando-vos sem cessar nas nossas orações» (1Ts 1,2). E o Espírito Santo, que nos concedeu, nestes dias laboriosos, trabalhar generosamente com verdadeira liberdade e humilde criatividade, continue a acompanhar o caminho que nos prepara, nas Igrejas de toda a terra, para o Sínodo Ordinário dos Bispos no próximo Outubro de 2015. Semeámos e continuaremos a semear, com paciência e perseverança, na certeza de que é o Senhor que faz crescer tudo o que semeámos (cf. 1Cor 3,6).

Neste dia da Beatificação do Papa Paulo VI, voltam-me à mente estas palavras com que ele instituiu o Sínodo dos Bispos: «Ao perscrutar atentamente os sinais dos tempos, procuramos adaptar os métodos (...) às múltiplas necessidades dos nossos dias e às novas características da sociedade» (Carta Apostólica em forma de Motu proprio Apostolica sollicitudo).

A respeito deste grande Papa, deste cristão corajoso, deste apóstolo incansável, diante de Deus hoje só podemos dizer uma palavra tão simples como sincera e importante: Obrigado! Obrigado, nosso querido e amado Papa Paulo VI! Obrigado pelo teu humilde e profético testemunho de amor a Cristo e à sua Igreja!

No seu diário pessoal, depois do encerramento da Assembleia Conciliar, o grande timoneiro do Concílio deixou anotado: «Talvez o Senhor me tenha chamado e me mantenha neste serviço não tanto por qualquer aptidão que eu possua ou para que eu governe e salve a Igreja das suas dificuldades actuais, mas para que eu sofra algo pela Igreja e fique claro que Ele, e mais ninguém, a guia e salva» (P. Macchi, Paolo VI nella sua parola, Brescia, 2001, pp. 120-121). Nesta humildade, resplandece a grandeza do Beato Paulo VI, que soube, quando se perfilava uma sociedade secularizada e hostil, reger com clarividente sabedoria - e às vezes em solidão - o timão da barca de Pedro, sem nunca perder a alegria e a confiança no Senhor.

Verdadeiramente Paulo VI soube «dar a Deus o que é de Deus», dedicando toda a sua vida a este «dever sacro, solene e gravíssimo: continuar no tempo e dilatar sobre a terra a missão de Cristo» (Homilia no Rito da sua Coroação, Insegnamenti, I, 1963, 26), amando a Igreja e guiando-a para ser «ao mesmo tempo mãe amorosa de todos os homens e medianeira de salvação» (Encílica Ecclesiam suam, Prólogo).


Fonte: Santa Sé.

Homilia de São João Paulo II no início de seu Pontificado

Hoje a Igreja celebra a memória litúrgica de São João Paulo II, Papa, canonizado em 27 de abril de 2014. Por ocasião desta data, publicamos sua primeira homilia como Sumo Pontífice:

Papa João Paulo II
Homilia no início do seu Pontificado
Domingo, 22 de Outubro de 1978

Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! (Mt 16,16).
Estas palavras foram pronunciadas por Simão, filho de Jonas, na região de Cesareia de Filipe. Sim, ele exprimiu-as na sua própria língua, com uma profunda, vivida e sentida convicção; mas elas não tiveram nele a sua fonte, a sua nascente: .., porque não foram a carne nem o sangue quem to revelaram, mas o Meu Pai que está nos céus (Mt 16,17). Tais palavras eram palavras de Fé.
Elas assinalam o início da missão de Pedro na história da Salvação, na história do Povo de Deus. E a partir de então, de uma tal confissão de Fé, a história sagrada da Salvação e do Povo de Deus devia adquirir uma nova dimensão: exprimir-se na caminhada histórica da Igreja. Esta dimensão eclesial da história do Povo de Deus tem as suas origens, nasce efetivamente dessas palavras de Fé e está vinculada ao homem que as pronunciou, Pedro: Tu és Pedro - rocha, pedra - e sobre ti, como sobre uma pedra, Eu edificarei a Minha Igreja (Cf. Mt 16,18).
Hoje e neste lugar é necessário que novamente sejam pronunciadas e ouvidas as mesmas palavras: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!
Sim, Irmãos e Filhos, antes de mais nada estas palavras.
O seu conteúdo desvela aos nossos olhos o mistério de Deus vivo, aquele mistério que o Filho veio colocar mais perto de nós. Ninguém como Ele, de facto, tornou o Deus vivo assim próximo dos homens e ninguém O revelou como o fez só Ele mesmo. No nosso conhecimento de Deus, no nosso caminhar para Deus, estamos totalmente dependentes do poder destas palavras: Quem me vê a Mim, vê também o Pai (Jo 14,9). Aquele que é infinito, imperscrutável e inefável veio para junto de nós em Jesus Cristo, o Filho unigênito, nascido de Maria Virgem no presépio de Belém.
O vós, todos os que já tendes a dita inestimável de crer; vós, todos os que ainda andais a buscar a Deus; e vós também, os atormentados pela dúvida:
-  procurai acolher uma vez mais -  hoje e neste local sagrado - as palavras pronunciadas por Simão Pedro. Naquelas mesmas palavras está a fé da Igreja; em tais palavras, ainda, encontra-se a verdade nova, ou melhor, a última e definitiva verdade -  sobre o homem: o filho de Deus vivo. - Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo!
Hoje o novo Bispo de Roma inicia solenemente o seu ministério e a missão de Pedro. Nesta Cidade, de fato, Pedro desempenhou e realizou a missão que lhe foi confiada pelo Senhor. Alguma vez, o mesmo Senhor dirigiu-se a ele e disse-lhe: Quando eras mais jovem, tu próprio te cingias e andavas por onde querias; mas quando fores velho, estenderás as mãos e outro cingir-te-á e levar-te-á para onde tu não queres (Jo 21,18).
Pedro, depois, veio para Roma! E o que foi que o guiou e o conduziu para esta Urbe, o coração do Império Romano, senão a obediência à inspiração recebida do Senhor? - Talvez aquele pescador da Galileia não tivesse tido nunca vontade de vir até aqui; teria preferido, quiçá, permanecer lá onde estava, nas margens do lago de Genesaré, com a sua barca e com as suas redes. Mas, guiado pelo Senhor e obediente à sua inspiração, chegou até aqui.
Segundo uma antiga tradição (e, qual foi objeto de uma expressão literária magnífica num romance de Henryk Sienkiewicz), durante a perseguição de Nero, Pedro teria tido vontade de deixar Roma. Mas o Senhor interveio e teria vindo ao encontro dele. Pedro, então, dirigindo-se ao mesmo Senhor perguntou: "Quo vadis Domine? - Onde ides, Senhor?". E o Senhor imediatamente lhe respondeu: "Vou para Roma, para ser crucificado pela segunda vez". Pedro voltou então para Roma e aí permaneceu até à sua crucifixão.
Sim, Irmãos e Filhos, Roma é a Sede de Pedro. No decorrer dos séculos sucederam-se nesta Sede sempre novos Bispos. E hoje um outro novo Bispo sobe à Cátedra de Pedro, um Bispo cheio de trepidação e consciente da sua indignidade. E como não havia ele de trepidar perante a grandeza de tal chamamento e perante a missão universal desta Sede Romana?
Depois, passou a ocupar hoje a Sé de Pedro em Roma um Bispo que não é romano, um Bispo que é filho da Polônia. Mas, a partir deste momento também ele se torna romano. Sim, romano! Até porque é filho de uma nação cuja história, desde os seus alvores, e cujas tradições milenárias estão marcadas por um ligame vivo, forte, jamais interrompido, sentido e vivido com a Sé de Pedro, de uma nação que a esta mesma Sé de Roma permaneceu sempre fiel. Oh, como é insondável o desígnio da Divina Providência!
Nos séculos passados, quando o Sucessor de Pedro tomava posse da sua Sede, era colocado sobre a sua cabeça o símbolo do trirregno, a tiara papal. O último a ser assim coroado foi o Papa Paulo VI em 1963, o qual, porém, após o rito solene da coroação, nunca mais usou esse símbolo do trirregno, deixando aos seus sucessores a liberdade para decidirem a tal respeito.
O Papa João Paulo I, cuja memória está ainda tão viva nos nossos corações, houve por bem não querer o trirregno; e hoje igualmente o declina o seu Sucessor. Efetivamente, não é o tempo em que vivemos tempo para se retornar a um rito e àquilo que, talvez injustamente, foi considerado como símbolo do poder temporal dos Papas.
O nosso tempo convida-nos, impele-nos e obriga-nos a olhar para o Senhor e a imergir-nos numa humilde e devota meditação do mistério do supremo poder do mesmo Cristo.
Aquele que nasceu da Virgem Maria, o filho do carpinteiro - como se considerava -, o Filho de Deus vivo - confessado por Pedro - veio para fazer de todos nós um reino de sacerdotes (Cf. Ex 19,6).
O II Concílio do Vaticano recordou-nos o mistério de um tal poder e o fato de que a missão de Cristo - Sacerdote, Profeta, Mestre e Rei - continua na Igreja. Todos, todo o Povo de Deus é participe desta tríplice missão. E talvez que no passado se pusesse sobre a cabeça do Papa o trirregno, aquela tríplice coroa, para exprimir, mediante tal símbolo, o desígnio do Senhor sobre a sua Igreja; ou seja, que toda a ordem hierárquica da Igreja de Cristo, todo o seu "sagrado poder" que nela é exercitado mais não é do que o serviço, aquele serviço que tem como finalidade uma só coisa: que todo o Povo de Deus seja participe daquela tríplice missão de Cristo e que permaneça sempre sob a soberania do Senhor, a qual não tem as suas origens nas potências deste mundo, mas sim no Pai celeste e no mistério da Cruz e da Ressurreição.
O poder absoluto e ao mesmo tempo doce e suave do Senhor corresponde a quanto é o mais -   profundo do homem, às suas mais elevadas aspirações da inteligência, da vontade e do coração. Esse poder não fala com a linguagem da força, mas exprime-se na caridade e na verdade.
O novo Sucessor de Pedro na Sé de Roma, neste dia, eleva uma prece ardente, humilde e confiante: Ó Cristo! Fazei com que eu possa tornar-me e ser sempre servidor do Vosso único poder! Servidor do Vosso suave poder! Servidor do vosso poder que não conhece ocaso! Fazei com que eu possa ser um servo! Mais ainda: servo dos Vossos servos.
Irmãos e Irmãs: não tenhais medo de acolher Cristo e de aceitar o Seu poder! E ajudai o Papa e todos aqueles que querem servir a Cristo e, com o poder de Cristo, servir o homem e a humanidade inteira! Não, não tenhais medo! Antes, procurai abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo! Ao Seu poder salvador abri os confins dos Estados, os sistemas econômicos assim como os políticos, os vastos campos de cultura, de civilização e de progresso! Não tenhais medo! Cristo sabe bem "o que é que está dentro do homem". Somente Ele o sabe!
Hoje em dia muito frequentemente o homem não sabe o que traz no interior de si mesmo, no profundo do seu ânimo e do seu coração, muito frequentemente se encontra incerto acerca do sentido da sua vida sobre esta terra. E sucede que é invadido pela dúvida que se transmuta em desespero. Permiti, pois - peço-vos e vo-lo imploro com humildade e com confiança - permiti a Cristo falar ao homem. Somente Ele tem palavras de vida; sim, de vida eterna.
Precisamente neste dia, a Igreja inteira celebra o seu "Dia Missionário Mundial"; ou seja, reza, medita e age a fim de que as palavras de vida de Cristo possam chegar a todos os homens e por eles sejam. acolhidas como mensagem de salvação, de esperança e de libertação total.
Quero agradecer a todos os presentes, que quiseram assim participar neste ato solene do início do ministério do novo Sucessor de Pedro.
Agradeço do coração aos Chefes de Estado, aos Representantes das Autoridades, às Delegações de Governos, pela sua presença que muito me honra.
Obrigado a Vós, Eminentíssimos Cardeais da Santa Igreja Romana!
Agradeço-vos, amados Irmãos no Episcopado! .
Obrigado a vós, Sacerdotes!
A vós, Irmãs e Irmãos, Religiosas e Religiosos das várias Ordens e Congregações, obrigado!
Obrigado a vós, romanos!
Obrigado aos peregrinos, vindos aqui de todo o mundo!
E obrigado a todos aqueles que estão unidos a este Rito Sagrado através da Rádio e da Televisão!
E agora (em polaco) dirijo-me a vós, meus queridos compatriotas, Peregrinos da Polônia: aos Irmãos Bispos, tendo à frente o vosso magnífico Primaz; e aos Sacerdotes, Irmãs e Irmãos das Congregações religiosas, polacos, como também a vós, representantes da "Polônia" do mundo todo:
E que vos direi a vós, os que viestes aqui da minha Cracóvia, da Sé de Santo Estanislau, de quem eu fui indigno sucessor durante catorze anos! Que vos direi? - Tudo aquilo que vos pudesse dizer seria pálido reflexo em confronto com quanto sente neste momento o meu coração e sentem igualmente os vossos corações. Deixemos de parte, portanto, as palavras. E que fique apenas o grande silêncio diante de Deus, o silêncio que se traduz em oração.
Peço-vos que estejais comigo! Em Jasna Góra e em toda a parte. Não deixeis nunca de estar com o Papa, que neste dia ora com as palavras do poeta: "Mãe de Deus defendei vós a Límpida Czestochowa e resplandecei na 'Porta Aguda'!". E as mesmas palavras eu as dirijo a vós, neste momento particular.
Fiz um apelo (em italiano) e um convite à oração pelo novo Papa, apelo que comecei a exprimir em língua polaca...
Com o mesmo apelo dirijo-me agora a vós, todos os filhos e todas as filhas da Igreja Católica. Lembrai-vos de mim, hoje e sempre, na vossa oração!
Aos católicos dos países de língua francesa (em francês), exprimo todo o meu afeto e toda a minha dedicação! E permito-me contar com o vosso amparo filial e sem reservas! Oxalá façais novos progressos na fé! Aqueles que não partilham esta fé, dirijo também a minha respeitosa e cordial saudação. Espero que os seus sentimentos de benevolência facilitarão a missão que me incumbe e que não deixa de ter reflexos sobre a felicidade e a paz do mundo!
A todos vós os que falais a língua inglesa (em inglês) envio, em nome de Cristo, uma cordial saudação. Conto com a ajuda das vossas orações e na vossa boa vontade, para levar avante a minha missão de serviço à Igreja e à humanidade. Que Cristo vos dê a Sua graça e a Sua paz, abatendo as barreiras da divisão e de tudo fazendo, n'Ele, uma só coisa.
Dirijo (em alemão) uma afetuosa saudação a todos os representantes dos povos dos países de língua alemã, aqui presentes. Diversas vezes, e ainda recentemente durante a minha visita à República Federal da Alemanha, tive ocasião de conhecer pessoalmente e de apreciar a benéfica atividade da Igreja e dos seus fiéis. Oxalá que o vosso compromisso e o vosso sacrifício por Cristo venham, também no futuro, a tornar-se fecundos para os grandes problemas e as preocupações da Igreja em todo o mundo. É isto o que vos peço, recomendando às vossas especiais orações o meu novo ministério apostólico.
O meu pensamento dirije-se agora para o mundo de língua espanhola (em espanhol), porção tão considerável da Igreja de Cristo. A vós, queridos Irmãos e Filhos, chegue neste momento solene a saudação afetuosa do novo Papa. Unidos pelos vínculos da comum fé católica, sede fiéis à vossa tradição cristã vivida num clima cada vez mais justo e solidário, mantende a vossa conhecida proximidade ao Vigário de Cristo e cultivai intensamente a devoção à nossa Mãe Maria Santíssima.
Irmãos e Filhos de língua portuguesa (em português): Como "servo dos servos de Deus", eu vos saúdo afetuosamente no Senhor. Abençoando-vos, confio na caridade da vossa oração e na vossa fidelidade, para viverdes sempre a mensagem deste dia e deste rito: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!
Que o Senhor, na Sua misericórdia, nos acompanhe a todos com a Sua graça e com o Seu amor pelos homens (em russo).
Com afeto sincero saúdo e abençoo todos os ucranianos e rutenos no mundo (em ucraniano).
Do coração saúdo e abençoo os checos e os eslovacos, que me estão tão próximos (em língua eslovaca).
Os meus sinceros bons votos para os irmãos lituanos (em lituano). Sede felizes e fiéis a Cristo.
Abro o coração a todos os Irmãos das Igrejas e das Comunidades Cristãs, saudando-vos (em italiano) em particular a vós, os que estais aqui presentes, na expectativa do próximo encontro pessoal; mas desde já vos quero expressar sincero apreço por haverdes querido assistir a este rito solene.
E quero ainda dirigir-me a todos os homens - a cada um dos homens (e com quanta veneração o apóstolo de Cristo deve pronunciar esta palavra, homem!):
- rezai por mim!
- ajudai-me, a fim de que eu vos possa servir!
Amém.


Fonte: Santa Sé

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

O rito da Beatificação

Conforme anunciado no último mês de maio, neste domingo, 19 de outubro, Sua Santidade o Papa Francisco presidiu na Praça de São Pedro a Santa Missa para a Beatificação do Servo de Deus Paulo VI, Papa. Julgamos oportuna a ocasião para falar um pouco do rito da Beatificação:


A Beatificação consiste em uma permissão oficial para o culto em caráter local. Portanto, por séculos foi celebrada não pelo Papa, mas por um Cardeal Legado na diocese do novo Beato. Foi o próprio Paulo VI que, em 1971, tomou para si a celebração das Beatificações, práxis continuada por São João Paulo II.

Em 2005, com a eleição de Bento XVI, voltou-se ao costume tradicional, reservando ao Papa apenas as Canonizações. Como exceções, Bento XVI celebrou as Beatificações do Cardeal John Henry Newmann em 2010 e do Papa João Paulo II em 2011. A Beatificação de Paulo VI foi a segunda do Pontificado de Francisco, que em agosto beatificou 124 mártires coreanos em sua viagem ao país.

Beatificação de João Paulo II (2011)
A Beatificação geralmente celebra-se com a Santa Missa, podendo em circunstâncias especiais celebrar-se em uma Celebração da Palavra de Deus ou da Liturgia das Horas. Tomaremos como modelo o rito para a Beatificação deste domingo:

A Missa inicia-se como de costume. Após o Ato Penitencial, o Bispo da Diocese do novo Beato (no caso, o Bispo de Bréscia), juntamente com o Postulador da Causa da Beatificação, aproxima-se da cátedra do Santo Padre e pede a Beatificação com a seguinte fórmula:

Beatissime Pater, ego, Episcopus Brixiensis, humillime a Sanctitate Vestra peto ut Venerabilem Servum Dei Paulum VI , papam, numero Beatorum adscribere begnissime digneris.

(Beatíssimo Padre, eu, Bispo de Bréscia, humildemente peço a Vossa Santidade que se digne inscrever o Venerável Servo de Deus Paulo VI, Papa, no número dos Beatos.)

O Postulador da Causa da Beatificação lê então uma pequena biografia do novo Beato. Terminada esta, o Papa, sentado e portando suas insígnias (mitra e férula), profere a fórmula de Beatificação:

Nos, vota Fratris Nostri Luciani Monari, Episcopi Brixiensi, necnon plurimorum aliorum Fratrum in Episcopatu multorumque christifidelium explentes, de Congregationis de Causis Sanctorum consulto, Auctoritate Nostra Apostolica facultatem facimus ut Venerabilis Servus Dei Paulus VI, papa, Beati nomine in posterum appelletur, eiusque festum die vicesima sexta Septembris in locis et modis iure statutis quotannis celebrari possit.
In nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti.


(Nós, acolhendo o desejo de Nosso Irmão Luciano Monari, Bispo de Bréscia, de muitos outros Irmãos no Episcopado e de muitos fieis cristãos, tendo consultado a Congregação das Causas dos Santos, com Nossa Autoridade Apostólica concedemos a faculdade de que o Venerável Servo de Deus Paulo VI, Papa, seja doravante chamado Beato, e que sua festa possa celebrar-se no dia 26 de setembro nos locais e modos estabelecidos pelo direito.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.)

Papa Bento XVI pronuncia a fórmula de Beatificação de João Paulo II (2011)
Enquanto entoa-se um canto em ação de graças, descobre-se a imagem do novo Beato na sacada da Basílica Vaticana e alguns fieis (geralmente destinatários do milagre que leva à Beatificação) levam até junto do altar a relíquia do novo Beato. Depositam-se flores e velas junto à relíquia e um diácono a incensa.

Religiosas conduzem a relíquia de João Paulo II (2011)
Depostas as relíquias junto do altar, o Bispo da Diocese do novo Beato, juntamente com o Postulador da Causa, agradece ao Santo Padre com estas palavras:

Beatissime Pater, ego, Episcopus Brixiensis, gratias ex animo Sancitati Vestrae ago quod titulum Beati hodie Venerabili Servo Dei Paulo VI, papae, confere dignatus est.

(Beatíssimo Padre, eu, Bispo de Bréscia, agradeço Vossa Santidade por vos haver dignado conferir hoje o título de Beato ao Venerável Servo de Deus Paulo VI, Papa.)

O Bispo e o Postulador aproximam-se do Santo Padre para um abraço fraterno. Em seguida entoa-se o Glória e a Missa segue como de costume. No domingo será celebrada a Missa do XXIX Domingo do Tempo Comum, com todas as orações e o Evangelho proferidos em latim, a fim de expressar a universalidade da Igreja.

Um último comentário: destacamos a presença do Papa Emérito Bento XVI, que concelebrou a Santa Missa. Cumpre notar que Bento XVI foi criado Cardeal por Paulo VI no Consistório de 27 de junho de 1977. Além do Papa Emérito estão vivos mais dois Cardeais criados por Paulo VI: Dom Paulo Evaristo Arns (Consistório de 1973) e Dom William Wakefield Baum (Consistório de 1976).

Joseph Ratzinger é criado Cardeal por Paulo VI (1977)

(Observação: As traduções do rito da Beatificação foram feitas livremente pelo autor deste blog, a partir do original latino disponível no livreto da celebração).

X Catequese do Papa sobre a Igreja

PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro
Quarta-feira, 15 de Outubro de 2014

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Durante este período pudemos falar da Igreja, da nossa santa mãe Igreja hierárquica, do povo de Deus a caminho. Hoje queremos interrogar-nos: no final, o que acontecerá com o povo de Deus? Com cada um de nós? O que devemos esperar? O apóstolo Paulo animava os cristãos da comunidade de Tessalonica, que faziam estas mesmas perguntas, e depois da sua argumentação diziam estas palavras, que estão entre as mais bonitas do Novo Testamento: «E assim estaremos para sempre com o Senhor!» (1 Ts 4, 17). Trata-se de palavras simples, mas com uma imensa densidade de esperança! «E assim estaremos para sempre com o Senhor!». Acreditais nisto? ... Parece que não. Credes? Vamos repeti-lo juntos, três vezes? «E assim estaremos para sempre com o Senhor!». «E assim estaremos para sempre com o Senhor!». «E assim estaremos para sempre com o Senhor!». É emblemático o modo como no livro do Apocalipse, retomando a intuição dos Profetas, João descreve a dimensão, derradeira, definitiva, segundo os termos da «nova Jerusalém, eu vi descer do céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, como uma esposa ornada para o seu esposo» (Ap 21, 2). É isto que nos espera! Então, eis quem é a Igreja: ela é o povo de Deus que segue o Senhor Jesus e que, dia após dia, se prepara para o encontro com Ele, como uma esposa em relação ao seu esposo. E não é apenas um modo de dizer: celebrar-se-ão núpcias autênticas! Sim, porque Cristo, fazendo-se homem como nós, e tornando-nos todos um só com Ele, com a sua morte e ressurreição, desposou-nos verdadeiramente e fez de nós, como povo, sua esposa. E isto resume-se no cumprimento do desígnio de comunhão e de amor tecido por Deus ao longo da história inteira, da história do povo de Deus e também da história pessoal de cada um de nós. É o Senhor que leva isto em frente.
No entanto, há mais um elemento, que nos conforta ulteriormente e nos abre o coração: João diz-nos que na Igreja, esposa de Cristo, se torna visível a «nova Jerusalém». Isto significa que a Igreja, além de esposa, é chamada a tornar-se cidade, símbolo por excelência da convivência e da relacionalidade humana. Então, como é bonito poder contemplar desde já, segundo outra imagem deveras sugestiva do Apocalipse, todas as nações e povos reunidos nessa cidade, como que numa tenda, «a tenda de Deus (cf.Ap 21, 3)! E nesta moldura gloriosa já não haverá isolamentos, prevaricações nem distinções de qualquer tipo — de natureza social, étnica ou religiosa, mas seremos todos um só em Cristo.
Perante este cenário inaudito e maravilhoso, o nosso coração não pode deixar de se sentir vigorosamente confirmado na esperança. Vede, a esperança cristã é simplesmente um desejo, um auspício, não é optimismo: para o cristão, a esperança significa expectativa, espera fervorosa e apaixonada do cumprimento derradeiro e definitivo do mistério do amor de Deus, no qual renascemos e já vivemos. E é expectativa de Alguém que está prestes a chegar: é o Cristo Senhor que se faz cada vez mais próximo de nós, dia após dia, e que vem para finalmente nos introduzir na plenitude da sua comunhão e da sua paz. Então, a Igreja tem a tarefa de manter acesa e bem visível a lâmpada da esperança, para que possa continuar a resplandecer como sinal seguro de salvação e iluminar para a humanidade inteira a vereda que conduz rumo ao encontro com o semblante misericordioso de Deus.
Caros irmãos e irmãs, eis então do que estamos à espera: que Jesus volte! Como esposa, a Igreja aguarda o seu esposo! No entanto, devemos interrogar-nos com profunda sinceridade: somos verdadeiramente testemunhas luminosas e credíveis desta expectativa, desta esperança? As nossas comunidades ainda vivem no sinal da presença do Senhor Jesus e à espera da sua vinda, ou então parecem cansadas, entorpecidas sob o peso da fadiga e da resignação? Corremos também nós o risco de esgotar o azeite da fé, o óleo da alegria? Tomemos cuidado!
Invoquemos a Virgem Maria, Mãe da esperança e rainha do céu, para que nos preserve sempre numa atitude de escuta e esperança, de maneira a podermos ser desde já permeados do amor de Cristo e participar um dia no júbilo sem fim, na plena comunhão de Deus. Mas nunca vos esqueçais: «E assim estaremos para sempre com o Senhor!» (1 Ts 4, 17). Vamos repeti-lo mais três vezes juntos? «E assim estaremos para sempre com o Senhor!». «E assim estaremos para sempre com o Senhor!». «E assim estaremos para sempre com o Senhor!».

(Juízo Final, Fra Angelico)
Fonte: Santa Sé