terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Catequese do Papa: Creio em Deus

Papa Bento XVI
Audiência Geral
Quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Ano da Fé (14): «Creio em Deus»

Queridos irmãos e irmãs,
Neste Ano da fé, hoje gostaria de começar a meditar convosco sobre o Credo, ou seja, sobre a solene profissão de fé que acompanha a nossa vida de fiéis. O Credo começa assim: «Creio em Deus». É uma afirmação fundamental, aparentemente simples na sua essencialidade, mas que abre ao mundo infinito da relação com o Senhor e com o seu mistério. Acreditar em Deus implica adesão a Ele, acolhimento da sua Palavra e obediência jubilosa à sua revelação. Como ensina o Catecismo da Igreja Católica, «a fé é um acto pessoal, uma resposta livre do homem à proposta de Deus que se revela» (n. 166). Portanto, poder dizer que se crê em Deus é um dom - Deus revela-se, vem ao nosso encontro - e, ao mesmo tempo um compromisso, é graça divina e responsabilidade humana, numa experiência de diálogo com Deus que, por amor, «fala aos homens como a amigos» (Dei Verbum, 2), fala-nos a fim de que, na fé e com a fé, possamos entrar em comunhão com Ele.
Onde podemos ouvir Deus e a sua palavra? É fundamental a Sagrada Escritura, onde podemos ouvir a Palavra de Deus que é alimento para a nossa vida de «amigos» de Deus. A Bíblia inteira narra o revelar-se de Deus à humanidade; toda a Bíblia fala de fé e ensina-nos a fé, narrando uma história em que Deus faz progredir o seu desígnio de redenção, tornando-se próximo de nós, homens, através de muitas figuras luminosas de pessoas que acreditam nele e a Ele se confiam, até à plenitude da revelação no Senhor Jesus.
A este propósito, é muito bonito o capítulo 11 da Carta aos Hebreus, que há pouco ouvimos. Ali, fala-se da fé e põem-se em evidência as grandes figuras bíblicas que a viveram, tornando-se modelo para todos os fiéis. No primeiro versículo, o texto reza: «A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê» (11,1). Por conseguinte, os olhos da fé são capazes de ver o invisível, e o coração do crente pode esperar além de toda a esperança precisamente como Abraão, de quem na Carta aos Romanos Paulo afirma que «acreditou, esperando contra toda a esperança» (4,18).
E é precisamente sobre Abraão, que gostaria de chamar a nossa atenção, porque ele é a primeira grande figura de referência para falar de fé em Deus: Abraão, o grande patriarca, modelo exemplar, pai de todos os crentes (cf. Rm 4,11-12). A Carta aos Hebreus apresenta-o assim: «Foi pela fé que Abraão, obedecendo ao apelo divino, partiu para uma terra que devia receber em herança. E partiu sem saber para onde ia. Foi pela fé que ele habitou na terra prometida, como em terra estrangeira, habitando aí em tendas com Isaac e Jacob, co-herdeiros da mesma promessa. Porque tinha a esperança fixa na cidade assentada sobre os fundamentos eternos, cujo arquiteto e construtor é Deus» (11,8-10).
Aqui, o autor da Carta aos Hebreus faz referência à vocação de Abraão, narrada no Livro do Gênesis, o primeiro livro da Bíblia. O que pede Deus a este patriarca? Pede-lhe que parta, abandonando a própria terra para ir rumo à terra que lhe indicar: «Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar» (Gn 12,1). Como teríamos respondido nós a um convite semelhante? Com efeito, trata-se de uma partida às escuras, sem saber para onde Deus o levará; é um caminho que exige uma obediência e uma confiança radicais, ao qual só a fé permite aceder. Mas a escuridão do desconhecido - onde Abraão deve ir - é iluminado pela luz de uma promessa; Deus acrescenta ao mandato uma palavra tranquilizadora que abre diante de Abraão um futuro de vida em plenitude: «Farei de ti uma grande nação; abençoar-te-ei e exaltarei o teu nome... e todas as famílias da terra serão benditas em ti» (Gn 12,2.3).
Na Sagrada Escritura, a bênção está vinculada primariamente ao dom da vida que vem de Deus e manifesta-se em primeiro lugar na fecundidade, numa vida que se multiplica, passando de geração em geração. E à bênção está ligada também a experiência da posse de uma terra, de um lugar estável onde viver e crescer em liberdade e segurança, temendo Deus e construindo uma sociedade de homens fiéis à Aliança, «reino de sacerdotes e nação santa» (cf. Ex 19,6).
Por isso, no desígnio divino, Abraão está destinado a tornar-se «pai de uma multidão de povos» (Gn 17,5; cf. Rm 4,17-18) e a entrar numa nova terra onde habitar. E no entanto Sara, sua esposa, é estéril, não pode ter filhos; e o país para o qual Deus o conduz é distante da sua terra de origem, já é habitado por outras populações, e nunca lhe pertencerá verdadeiramente. O narrador bíblico sublinha-o, mas com muita discrição: quando Abraão chegou ao lugar da promessa de Deus: «Os Cananeus já viviam naquela terra» (Gn 12,6). A terra que Deus oferece a Abraão não lhe pertence, ele é um estrangeiro e tal permanecerá para sempre, com tudo o que isto comporta: não ter finalidades de posse, sentir sempre a própria pobreza, ver tudo como dádiva. Esta é também a condição espiritual de quem aceita seguir o Senhor, de quem decide partir, acolhendo a sua chamada, sob o sinal da sua bênção invisível mas poderosa. E Abraão, «pai dos crentes», aceita esta chamada na fé. Na Carta aos Romanos são Paulo escreve: «Esperando, contra toda a esperança, Abraão teve fé e tornou-se pai de muitas nações, segundo o que lhe fora dito: “Assim será a tua descendência”. Não vacilou na fé, embora tenha reconhecido o seu próprio corpo sem vigor - pois tinha quase cem anos - e o seio de Sara igualmente amortecido. Diante da promessa de Deus, não vacilou, não desconfiou, mas conservou-se forte na fé e deu glória a Deus. Estava plenamente convencido de que Deus era poderoso, para cumprir o que prometera» (Rm 4,18-21).
A fé leva Abraão a percorrer um caminho paradoxal. Ele será abençoado, mas sem os sinais visíveis da bênção: recebe a promessa de se tornar um grande povo, mas com uma vida marcada pela esterilidade da sua esposa Sara; é levado para uma nova pátria, mas nela deverá viver como estrangeiro; e a única posse da terra que se lhe permitirá será a de um lote de terreno para ali sepultar Sara (cf. Gn 23,1-20). Abraão é abençoado porque, na fé, sabe discernir a bênção divina, indo além das aparências, confiando na presença de Deus até quando os seus caminhos lhe parecem misteriosos.
O que significa isto para nós? Quando afirmamos: «Creio em Deus», nós dizemos como Abraão: «Confio em ti; confio-me a ti, ó Senhor!», mas não como a alguém, ao qual recorrer apenas nos momentos de dificuldade, ou a quem dedicar alguns momentos do dia ou da semana. Dizer «Creio em Deus» significa fundar sobre Ele a minha própria vida, deixar que a sua Palavra a oriente todos os dias, nas escolhas concretas, sem medo de perder algo de mim mesmo. Quando, no Rito do Baptismo, por três vezes somos interrogados: «Credes?» em Deus, em Jesus Cristo, no Espírito Santo, na santa Igreja católica e nas outras verdades de fé, a tríplice resposta é no singular: «Creio», porque é a minha existência pessoal que deve passar por uma transformação mediante o dom da fé; é a minha existência que deve mudar, converter-se. Cada vez que participamos num batizado, deveríamos perguntar-nos como vivemos diariamente o grande dom da fé.
Abraão, o crente, ensina-nos a fé; e, como estrangeiro na terra, indica-nos a pátria verdadeira. A fé torna-nos peregrinos na terra, inseridos no mundo e na história, mas a caminho da pátria celestial. Portanto, crer em Deus torna-nos portadores de valores que muitas vezes não coincidem com a moda, nem com a opinião do momento, exige que adoptemos critérios e assumamos comportamentos que não pertencem ao modo de pensar comum. O cristão não deve ter medo de ir «contra a corrente» para viver a sua fé, resistindo à tentação de «se conformar». Em numerosas das nossas sociedades, Deus tornou-se o «grande ausente» e no seu lugar existem muitos ídolos, ídolos extremamente diferentes entre si, e sobretudo a posse e o «eu» autônomo. E também os progressos notáveis e positivos da ciência e da técnica suscitaram no homem uma ilusão de omnipotência e de auto-suficiência, e um egocentrismo crescente criou não poucos desequilíbrios no contexto das relações interpessoais e dos comportamentos sociais.
E no entanto, a sede de Deus (cf. Sl 63,2) não foi saciada e a mensagem evangélica continua a ressoar através das palavras e das obras de numerosos homens e mulheres de fé. Abraão, o pai dos crentes, continua a ser pai de muitos filhos que aceitam caminhar no seu sulco e põem-se a caminho, em obediência à vocação divina, confiando na presença benévola do Senhor e acolhendo a sua bênção, a fim de se fazer bênção para todos. É o mundo abençoado da fé, ao qual todos somos chamados, para caminhar sem medo no seguimento do Senhor Jesus Cristo. Trata-se de um caminho por vezes difícil, que conhece também a prova e a morte, mas que abre à vida, numa transformação radical da realidade, que unicamente os olhos da fé são capazes de ver e saborear em plenitude.

Então, afirmar «Creio em Deus» impele-nos a partir, a sair de modo incessante de nós mesmos, precisamente como Abraão, para levar à realidade quotidiana em que vivemos a certeza que nos deriva da fé: ou seja, a certeza da presença de Deus na história, também hoje; uma presença que traz vida e salvação, abrindo-nos a um futuro com Ele, para uma plenitude de vida que nunca conhecerá ocaso.


Fonte: Santa Sé

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Mensagem do Papa para o Dia das Comunicações

Foi divulgada ontem, 24 de janeiro, Memória de São Francisco de Sales, a mensagem do Santo Padre o Papa Bento XVI para o 47º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Segue o texto na íntegra, disponível no site da Santa Sé:

Papa Bento XVI
Mensagem para o 47º Dia Mundial das Comunicações Sociais
12 de maio de 2013
«Redes sociais: portais de verdade e de fé; novos espaços de evangelização»

Amados irmãos e irmãs,
Encontrando-se próximo o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2013, desejo oferecer-vos algumas reflexões sobre uma realidade cada vez mais importante que diz respeito à maneira como as pessoas comunicam atualmente entre si; concretamente quero deter-me a considerar o desenvolvimento das redes sociais digitais que estão a contribuir para a aparição duma nova ágora, duma praça pública e aberta onde as pessoas partilham ideias, informações, opiniões e podem ainda ganhar vida novas relações e formas de comunidade.
Estes espaços, quando bem e equilibradamente valorizados, contribuem para favorecer formas de diálogo e debate que, se realizadas com respeito e cuidado pela privacidade, com responsabilidade e empenho pela verdade, podem reforçar os laços de unidade entre as pessoas e promover eficazmente a harmonia da família humana. A troca de informações pode transformar-se numa verdadeira comunicação, os contatos podem amadurecer em amizade, as conexões podem facilitar a comunhão. Se as redes sociais são chamadas a concretizar este grande potencial, as pessoas que nelas participam devem esforçar-se por serem autênticas, porque nestes espaços não se partilham apenas ideias e informações, mas em última instância a pessoa comunica-se a si mesma.
O desenvolvimento das redes sociais requer dedicação: as pessoas envolvem-se nelas para construir relações e encontrar amizade, buscar respostas para as suas questões, divertir-se, mas também para ser estimuladas intelectualmente e partilhar competências e conhecimentos. Assim as redes sociais tornam-se cada vez mais parte do próprio tecido da sociedade enquanto unem as pessoas na base destas necessidades fundamentais. Por isso, as redes sociais são alimentadas por aspirações radicadas no coração do homem.
A cultura das redes sociais e as mudanças nas formas e estilos da comunicação colocam sérios desafios àqueles que querem falar de verdades e valores. Muitas vezes, como acontece também com outros meios de comunicação social, o significado e a eficácia das diferentes formas de expressão parecem determinados mais pela sua popularidade do que pela sua importância intrínseca e validade. E frequentemente a popularidade está mais ligada com a celebridade ou com estratégias de persuasão do que com a lógica da argumentação. Às vezes, a voz discreta da razão pode ser abafada pelo rumor de excessivas informações, e não consegue atrair a atenção que, ao contrário, é dada a quantos se expressam de forma mais persuasiva. Por conseguinte os meios de comunicação social precisam do compromisso de todos aqueles que estão cientes do valor do diálogo, do debate fundamentado, da argumentação lógica; precisam de pessoas que procurem cultivar formas de discurso e expressão que façam apelo às aspirações mais nobres de quem está envolvido no processo de comunicação. Tal diálogo e debate podem florescer e crescer mesmo quando se conversa e toma a sério aqueles que têm ideias diferentes das nossas. «Constatada a diversidade cultural, é preciso fazer com que as pessoas não só aceitem a existência da cultura do outro, mas aspirem também a receber um enriquecimento da mesma e a dar-lhe aquilo que se possui de bem, de verdade e de beleza» (Discurso no Encontro com o mundo da cultura, Belém, Lisboa, 12 de maio de 2010).
O desafio, que as redes sociais têm de enfrentar, é o de serem verdadeiramente abrangentes: então beneficiarão da plena participação dos fiéis que desejam partilhar a Mensagem de Jesus e os valores da dignidade humana que a sua doutrina promove. Na realidade, os fiéis dão-se conta cada vez mais de que, se a Boa Nova não for dada a conhecer também no ambiente digital, poderá ficar fora do alcance da experiência de muitos que consideram importante este espaço existencial. O ambiente digital não é um mundo paralelo ou puramente virtual, mas faz parte da realidade quotidiana de muitas pessoas, especialmente dos mais jovens. As redes sociais são o fruto da interação humana, mas, por sua vez, dão formas novas às dinâmicas da comunicação que cria relações: por isso uma solícita compreensão por este ambiente é o pré-requisito para uma presença significativa dentro do mesmo.
A capacidade de utilizar as novas linguagens requer-se não tanto para estar em sintonia com os tempos, como sobretudo para permitir que a riqueza infinita do Evangelho encontre formas de expressão que sejam capazes de alcançar a mente e o coração de todos. No ambiente digital, a palavra escrita aparece muitas vezes acompanhada por imagens e sons. Uma comunicação eficaz, como as parábolas de Jesus, necessita do envolvimento da imaginação e da sensibilidade afetiva daqueles que queremos convidar para um encontro com o mistério do amor de Deus. Aliás sabemos que a tradição cristã sempre foi rica de sinais e símbolos: penso, por exemplo, na cruz, nos ícones, nas imagens da Virgem Maria, no presépio, nos vitrais e nos quadros das igrejas. Uma parte consistente do património artístico da humanidade foi realizado por artistas e músicos que procuraram exprimir as verdades da fé.
A autenticidade dos fiéis, nas redes sociais, é posta em evidência pela partilha da fonte profunda da sua esperança e da sua alegria: a fé em Deus, rico de misericórdia e amor, revelado em Jesus Cristo. Tal partilha consiste não apenas na expressão de fé explícita, mas também no testemunho, isto é, no modo como se comunicam «escolhas, preferências, juízos que sejam profundamente coerentes com o Evangelho, mesmo quando não se fala explicitamente dele» (Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2011). Um modo particularmente significativo de dar testemunho é a vontade de se doar a si mesmo aos outros através da disponibilidade para se deixar envolver, pacientemente e com respeito, nas suas questões e nas suas dúvidas, no caminho de busca da verdade e do sentido da existência humana. A aparição nas redes sociais do diálogo acerca da fé e do acreditar confirma a importância e a relevância da religião no debate público e social.
Para aqueles que acolheram de coração aberto o dom da fé, a resposta mais radical às questões do homem sobre o amor, a verdade e o sentido da vida – questões estas que não estão de modo algum ausentes das redes sociais – encontra-se na pessoa de Jesus Cristo. É natural que a pessoa que possui a fé deseje, com respeito e tacto, partilhá-la com aqueles que encontra no ambiente digital. Entretanto, se a nossa partilha do Evangelho é capaz de dar bons frutos, fá-lo em última análise pela força que a própria Palavra de Deus tem de tocar os corações, e não tanto por qualquer esforço nosso. A confiança no poder da ação de Deus deve ser sempre superior a toda e qualquer segurança que possamos colocar na utilização dos recursos humanos. Mesmo no ambiente digital, onde é fácil que se ergam vozes de tons demasiado acesos e conflituosos e onde, por vezes, há o risco de que o sensacionalismo prevaleça, somos chamados a um cuidadoso discernimento. A propósito, recordemo-nos de que Elias reconheceu a voz de Deus não no vento impetuoso e forte, nem no tremor de terra ou no fogo, mas no «murmúrio de uma brisa suave» (1Rs 19,11-12). Devemos confiar no facto de que os anseios fundamentais que a pessoa humana tem de amar e ser amada, de encontrar um significado e verdade que o próprio Deus colocou no coração do ser humano, permanecem também nos homens e mulheres do nosso tempo abertos, sempre e em todo o caso, para aquilo que o Beato Cardeal Newman chamava a «luz gentil» da fé.
As redes sociais, para além de instrumento de evangelização, podem ser um factor de desenvolvimento humano. Por exemplo, em alguns contextos geográficos e culturais onde os cristãos se sentem isolados, as redes sociais podem reforçar o sentido da sua unidade efetiva com a comunidade universal dos fiéis. As redes facilitam a partilha dos recursos espirituais e litúrgicos, tornando as pessoas capazes de rezar com um revigorado sentido de proximidade àqueles que professam a sua fé. O envolvimento autêntico e interativo com as questões e as dúvidas daqueles que estão longe da fé, deve-nos fazer sentir a necessidade de alimentar, através da oração e da reflexão, a nossa fé na presença de Deus e também a nossa caridade operante: «Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine» (1Cor 13,1).
No ambiente digital, existem redes sociais que oferecem ao homem atual oportunidades de oração, meditação ou partilha da Palavra de Deus. Mas estas redes podem também abrir as portas a outras dimensões da fé. Na realidade, muitas pessoas estão a descobrir – graças precisamente a um contato inicial feito on line – a importância do encontro direto, de experiências de comunidade ou mesmo de peregrinação, que são elementos sempre importantes no caminho da fé. Procurando tornar o Evangelho presente no ambiente digital, podemos convidar as pessoas a viverem encontros de oração ou celebrações litúrgicas em lugares concretos como igrejas ou capelas. Não deveria haver falta de coerência ou unidade entre a expressão da nossa fé e o nosso testemunho do Evangelho na realidade onde somos chamados a viver, seja ela física ou digital. Sempre e de qualquer modo que nos encontremos com os outros, somos chamados a dar a conhecer o amor de Deus até aos confins da terra.
Enquanto de coração vos abençoo a todos, peço ao Espírito de Deus que sempre vos acompanhe e ilumine para poderdes ser verdadeiramente arautos e testemunhas do Evangelho. «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura» (Mc 16,15).
Vaticano, 24 de janeiro – Festa de São Francisco de Sales – do ano 2013.


BENTO XVI

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Bênção dos cordeiros no dia de Santa Inês

No último dia 21 de Janeiro, o Santo Padre Papa Bento XVI presidiu na Capela Urbano VIII, no Palácio Apostólico, a bênção de dois cordeiros por ocasião da memória de Santa Inês. Da lã desses dois cordeiros são confeccionados os pálios, entregues aos Arcebispos Metropolitanos na Solenidade dos Santos Pedro e Paulo.

Os dois cordeiros são adornados um com flores brancas, símbolo da virgindade e da pureza de Santa Inês, e o outro com flores vermelhas, símbolo de seu martírio.

Chegada do Santo Padre
Apresentação dos cordeiros
Os dois cordeiros de Santa Inês
Oração da bênção

Bênção
Fonte: Santa Sé

Catequese do Papa: Jesus, mediador e plenitude da Revelação

Papa Bento XVI
Audiência Geral
Quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Ano da Fé (13): Jesus Cristo "mediador e plenitude de toda a Revelação"

Queridos irmãos e irmãs,
O Concílio Vaticano II, na Constituição sobre a Revelação Divina Dei Verbum, afirma que a verdade íntima de toda a Revelação de Deus resplandece para nós «em Cristo, que é o mediador e ao mesmo tempo a plenitude de toda a Revelação» (n. 2). O Antigo Testamento narra-nos como Deus, depois da criação, não obstante o pecado original e apesar da arrogância do homem ao querer colocar-se no lugar do seu Criador, oferece de novo a possibilidade da sua amizade, sobretudo através da aliança com Abraão, e caminho de um pequeno povo, o povo de Israel, que Ele escolhe não com critérios de poder, mas simplesmente por amor. É uma escolha que permanece um mistério e revela o estilo de Deus, que chama alguns não para excluir os outros, mas para que sirvam de ponto conduzindo para Ele: escolha é sempre eleição pelo outro. Na história do povo de Israel podemos voltar a percorrer as etapas de um longo caminho em que Deus se faz conhecer, se revela e entra na história com palavras e ações. Para esta obra Ele serve-se de mediadores, como Moisés, os Profetas e os Juízes, que comunicam ao povo a sua vontade, recordam a exigência de fidelidade à aliança e mantêm viva a expectativa da realização plena e definitiva das promessas divinas.
E foi precisamente o cumprimento destas promessas que pudemos contemplar no Santo Natal: a Revelação de Deus alcança o seu ápice, a sua plenitude. Em Jesus de Nazaré, Deus visita realmente o seu povo, visita a humanidade de um modo que vai além de todas as expectativas: envia o seu Único Filho; o próprio Deus faz-se homem. Jesus não nos diz algo de Deus, não fala simplesmente do Pai, mas é Revelação de Deus, porque é Deus, e assim revela-nos o rosto de Deus. No Prólogo do seu Evangelho, são João escreve: «Ninguém nunca viu Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem O revelou» (Jo 1,18).
Gostaria de meditar sobre este «revelar o rosto de Deus». A este propósito São João, no seu Evangelho, recorda-nos um acontecimento significativo que há pouco ouvimos. Aproximando-se da Paixão, Jesus tranquiliza os seus discípulos, convidando-os a não ter medo e a ter fé; depois, instaura um diálogo com eles, no qual fala de Deus Pai (cf. Jo 14,2-9). Numa certa altura, o apóstolo Filipe pede a Jesus: «Senhor, mostra-nos o Pai e isso basta-nos» (Jo 14,8). Filipe é muito prático e concreto, e diz também o que nós desejamos dizer: «Queremos ver, mostra-nos o Pai», pede para «ver» o Pai, para ver o seu rosto. A resposta de Jesus não se dirige apenas a Filipe, mas também a nós, e introduz-nos no coração da fé cristológica; o Senhor afirma: «Aquele que me viu, viu também o Pai» (Jo 14,9). Nesta expressão encerra-se sinteticamente a novidade do Novo Testamento, aquela novidade que apareceu na gruta de Belém: é possível ver Deus, Deus manifestou o seu rosto, é visível em Jesus Cristo.
Em todo o Antigo Testamento está bem presente o tema da «procura do rosto de Deus», o desejo de conhecer esta face, o desejo de ver Deus como Ele é, a tal ponto que o termo hebraico pānîm, que significa «rosto», aparece 400 vezes, das quais 100 se referem a Deus: refere-se a Deus 100 vezes, deseja-se ver o rosto de Deus. E no entanto, a religião judaica proíbe totalmente as imagens, porque Deus não pode ser representado, como ao contrário faziam os povos vizinhos, com a adoração dos ídolos; por conseguinte, com esta proibição de imagens, o Antigo Testamento parece excluir totalmente o «ver» do culto e da piedade. Então, o que significa para o israelita piedoso procurar o rosto de Deus, na consciência de que não pode haver qualquer imagem sua? A pergunta é importante: por um lado, deseja-se dizer que Deus não pode ser reduzido a um objeto, como uma imagem que se toma nas mãos, mas também não se pode pôr algo no lugar de Deus; por outro lado, contudo, afirma-se que Deus tem um rosto, ou seja que é um «Tu» que pode entrar em relação, que não está fechado no seu Céu a olhar do alto a humanidade. Sem dúvida, Deus está acima de todas as coisas, mas dirige-se a nós, ouve-nos, vê-nos, fala-nos, faz uma aliança e é capaz de amar. A história da salvação é a história de Deus com a humanidade, é a história desta relação de Deus que se revela progressivamente ao homem, que se faz conhecer a si mesmo, o seu rosto.
Precisamente no início do ano, no dia 1 de Janeiro, ouvimos na Liturgia a linda prece de bênção sobre o povo: «O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor te mostre a sua face e te conceda a sua graça! O Senhor dirija o seu rosto para ti e te dê a paz!» (Nm 6,24-26). O esplendor do rosto divino é a fonte da vida, é aquilo que permite ver a realidade; a luz da sua face é a guia da vida. No Antigo Testamento existe uma figura à qual está ligado de modo totalmente especial o tema do «rosto de Deus»; trata-se de Moisés, Aquele que Deus escolhe para libertar o povo da escravidão do Egito, para lhe confiar a Lei da aliança e para o guiar rumo à Terra prometida. Pois bem, no capítulo 33 do Livro do Êxodo afirma-se que Moisés tinha uma relação estreita e confidencial com Deus: «O Senhor entretinha-se com Moisés face a face, como um homem que fala com o seu amigo» (v. 11). Em virtude desta confidência, Moisés pede a Deus: «Mostrai-me a vossa glória!», e a resposta de Deus é clara: «Farei passar diante de ti todo o meu esplendor, e pronunciarei diante de ti o nome do Senhor... Mas não poderás ver a minha face, pois o homem não me poderia ver e continuar a viver... Eis um lugar perto de mim... ver-me-ás só de costas. Quanto à minha face, ela não pode ser vista» (vv. 18-23). Então, por um lado há o diálogo face a face como entre amigos, mas por outro há a impossibilidade de ver nesta vida o rosto de Deus, que permanece escondido; a visão é limitada. Os Padres afirmam que estas palavras, «ver-me-ás só de costas», querem dizer: só podes seguir Cristo e, seguindo-o, vês de costas o mistério de Deus; Deus só pode ser seguindo vendo-o de costas.
Porém, mediante a Encarnação acontece algo completamente novo. A busca do rosto de Deus passa por uma transformação inimaginável, porque agora é possível ver este rosto: é o rosto de Jesus, do Filho de Deus que se faz homem. Nele encontra cumprimento o caminho de Revelação de Deus, encetado com a chamada de Abraão, Ele é a plenitude desta Revelação porque é o Filho de Deus e, ao mesmo tempo, «mediador e plenitude de toda a Revelação» (Constituição Dogmática Dei Verbum, 2), e nele o conteúdo da Revelação e o Revelador coincidem. Jesus mostra-nos o rosto de Deus e faz-nos conhecer o nome de Deus. Na Oração sacerdotal, na Última Ceia, Ele diz ao Pai: «Manifestei o teu nome aos homens... Manifestei-lhes o teu nome» (cf. Jo 17,6.26). A expressão «nome de Deus» significa Deus como Aquele que está presente no meio dos homens. A Moisés, junto da sarça ardente, Deus tinha revelado o seu nome, ou seja, tornou-se invocável, lançou um sinal concreto do seu «estar» no meio dos homens. Tudo isto, em Jesus, tem o seu cumprimento e plenitude: Ele inaugura de um modo novo a presença de Deus na história, pois quem O vê, vê o Pai, como diz a Filipe (cf. Jo 14,9). O Cristianismo - afirma são Bernardo - é a «religião da Palavra de Deus»; e não de «uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo» (Hom. super missus est, IV, 11: PL 183, 86b). Na tradição patrística e medieval utiliza-se uma fórmula particular para expressar esta realidade: afirma-se que Jesus é o Verbum abbreviatum (cf. Rm 9,28, com referência a Is 10,23), o Verbo abreviado, a Palavra breve, abreviada e substancial do Pai, que nos disse tudo dele. Em Jesus, toda a Palavra está presente.
Em Jesus, também a mediação entre Deus e o homem encontra a sua plenitude. No Antigo Testamento existe um exército de figuras que desempenharam esta função, de modo particular Moisés, o libertador, o guia, o «mediador» da aliança, como o define também o Novo Testamento (cf. Gl 3,19; At 7,35; Jo 1,17). Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, não é simplesmente um dos mediadores entre Deus e o homem, mas é «o Mediador» da nova e eterna aliança (cf. Hb 8,6; 9,15; 12,24); «Porque há um só Deus - diz são Paulo - e há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem» (1Tm 2,5; cf. Gl 3,19-20). Nele nós vemos e encontramos o Pai; nele podemos invocar Deus com o nome de «Abbá, Pai»; nele é-nos conferida a salvação.
O desejo de conhecer Deus realmente, ou seja, de ver o rosto de Deus, está ínsito em cada homem, inclusive nos ateus. E nós talvez tenhamos, de modo inconsciente, este desejo de ver simplesmente quem Ele é, o que Ele é, quem é Ele para nós. Mas este desejo só se realiza seguindo Cristo, porque assim O vemos de costas e enfim vemos também Deus como amigo, a sua face no rosto de Cristo. O importante é que sigamos Cristo não apenas no momento em que temos necessidade, e quando encontramos um espaço nas nossas ocupações diárias, mas com toda a nossa vida enquanto tal. Toda a nossa existência deve ser orientada para o encontro com Jesus Cristo, para o amor por Ele; e, nela, um lugar central deve ser ocupado também pelo amor ao próximo, aquele amor que, à luz do Crucificado, nos faz reconhecer o rosto de Jesus no pobre, no frágil e no sofredor. Isto só é possível se o verdadeiro rosto de Jesus se tornar familiar para nós na escuta da sua Palavra, no falar interiormente, no entrar nesta Palavra, de maneira que deveras O encontremos, e naturalmente no Mistério da Eucaristia. No Evangelho de são Lucas é significativo o trecho dos dois discípulos de Emaús, que reconhecem Jesus na fracção do pão, mas preparados pelo caminho com Ele, preparados pelo convite que lhe apresentaram, de permanecer com eles, preparados pelo diálogo que fez arder o peito deles; assim, no final, eles veem Jesus. Também para nós a Eucaristia é a grande escola na qual aprendemos a ver o rosto de Deus, entramos em relação íntima com Ele; e aprendemos, ao mesmo tempo, a dirigir o olhar para o momento derradeiro da história, quando Ele nos saciar com a luz do seu rosto. Na terra, nós caminhamos rumo a esta plenitude, na expectativa jubilosa de que se cumpra realmente o Reino de Deus. Obrigado!


Fonte: Santa Sé

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Fotos da Festa da Teofania na Ucrânia

No último domingo, 20 de Janeiro o Arcebispo-Maior da Igreja Greco-Católica Ucraniana, Dom Sviatoslav Shevchuk, presidiu a Divina Liturgia de São João Crisóstomo  e a Grande Bênção das Águas por ocasião da Festa da Teofania do Senhor na Catedral da Ressurreição em Kiev, Ucrânia.

Seguem algumas fotos, do site da ugcc.tv

Orações iniciais

Homilia
Grande Bênção das Águas

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Fotos da Festa do Batismo do Senhor no Vaticano

Procissão de entrada
Sinal da cruz
Evangelho
Preparação da água a ser abençoada
Bênção da água batismal

Homilia do Papa na Festa do Batismo do Senhor

Celebração do Batismo do Senhor e Administração do Batismo
Homilia do Papa Bento XVI
Capela Sistina
Domingo, 13 de janeiro de 2013

Estimados irmãos e irmãs
A alegria brotada da celebração do Santo Natal encontra hoje o seu cumprimento na festa do Batismo do Senhor. A este júbilo acrescenta-se mais um motivo, para nós que nos encontramos aqui reunidos: no sacramento do Batismo, que daqui a pouco administrarei a estes recém-nascidos manifesta-se efetivamente a presença viva e concreta do Espírito Santo que, enriquecendo a Igreja com novos filhos, a vivifica e a faz crescer, e isto não pode deixar de nos alegrar. Desejo dirigir uma saudação especial a vós, queridos pais, padrinhos e madrinhas, que hoje dais testemunho da vossa fé, pedindo o Batismo para estas crianças, a fim de que sejam geradas para a vida nova em Cristo e comecem a fazer parte da comunidade dos crentes.
A narração evangélica do batismo de Jesus, que hoje ouvimos segundo o Evangelho de São Lucas, indica o caminho de abaixamento e de humildade, que o Filho de Deus escolheu livremente para aderir ao desígnio do Pai, para ser obediente à sua vontade de amor ao homem em tudo, até ao sacrifício na cruz. Já adulto, Jesus dá início ao seu ministério público, indo ao rio Jordão para receber de João um batismo de penitência e de conversão. Acontece aquilo que aos nossos olhos parece paradoxal. Tem Jesus necessidade de penitência e de conversão? Com certeza que não! E no entanto, precisamente Aquele que é sem pecado põe-se entre os pecadores para se fazer batizar, para cumprir este gesto de penitência; o Santo de Deus une-se a quantos se reconhecem necessitados de perdão e pedem a Deus o dom da conversão, isto é, a graça de voltar para Ele com todo o coração, para ser totalmente seus. Jesus quer pôr-se da parte dos pecadores, tornando-se solidários para com eles, manifestando a proximidade de Deus. Jesus mostra-se solidário conosco, com a nossa dificuldade de nos convertermos, de abandonarmos os nossos egoísmos, de nos separarmos dos nossos pecados, para nos dizer que se O aceitarmos na nossa vida, Ele é capaz de nos elevar e de nos conduzir à altura de Deus Pai. E esta solidariedade de Jesus não é, por assim dizer, um simples exercício da mente e da vontade. Jesus imergiu-se realmente na nossa condição humana, viveu-a até ao fundo, exceto no pecado, e é capaz de compreender a sua debilidade e fragilidade. Por isso, Ele compadece-se, escolhe «padecer com» os homens, fazer-se penitente juntamente conosco. Esta é a obra de Deus, que Jesus deseja realizar: a missão divina de curar quem está ferido e medicar quantos estão doentes, de assumir sobre si mesmo os pecados do mundo.
O que acontece, no momento em que Jesus se faz batizar por João? Diante deste gesto de amor humilde por parte do Filho de Deus, abrem-se os Céus e manifesta-se visivelmente o Espírito Santo sob a forma de uma pomba, enquanto uma voz do alto exprime a complacência do Pai, que reconhece o seu Filho unigénito, o Amado. Trata-se de uma verdadeira manifestação da Santíssima Trindade, que dá testemunho da divindade de Jesus, do seu ser o Messias prometido, Aquele que Deus enviou para libertar o seu povo, a fim de que seja salvo (cf. Is 40,2). Realiza-se assim a profecia de Isaías, que ouvimos na primeira Leitura: o Senhor Deus vem poderosamente para destruir as obras do pecado, e o seu braço exerce o domínio para desarmar o Maligno; todavia, tenhamos presente que este braço está estendido na cruz e que o poder de Cristo é a força daquele que sofre por nós: trata-se do poder de Deus, diferente do poder do mundo; assim Deus vem com o poder para destruir o pecado. Verdadeiramente, Jesus age como o Bom Pastor que apascenta a grei e a reúne, a fim de que não se perca (cf. Is 40,10-11), e oferece a sua própria vida para que ela tenha vida. É através da sua morte redentora que o homem é libertado do domínio do pecado e reconciliado com o Pai; é pela sua ressurreição que o homem é salvo da morte eterna, tornando-se vitorioso sobre o Maligno.
Caros irmãos e irmãs, o que acontece no Batismo que daqui a pouco administrarei aos vossos filhos? Acontece precisamente isto: serão unidos de modo profundo e para sempre com Jesus, imersos no mistério desta sua força, deste seu poder, ou seja no mistério da sua morte, que é fonte de vida, para participar na sua ressurreição, para renascer para uma vida nova. Eis o prodígio que hoje se repete também para os vossos filhos: recebendo o Batismo, eles renascem como filhos de Deus, partícipes da relação filial que Jesus tem com o seu Pai, capazes de se dirigir a Deus chamando-lhe com plena confidência e confiança: «Abbá, Pai!». O Céu abriu-se também sobre os vossos filhos, e Deus diz: estes são os meus filhos, filhos do meu agrado. Inseridos nesta relação e livres do pecado original, eles passam a ser membros vivos do único corpo que é a Igreja e tornam-se capazes de viver em plenitude a sua vocação à santidade, de modo a poder herdar a vida eterna, que nos foi alcançada pela ressurreição de Jesus.
Queridos pais, quando pedis o Batismo para os vossos filhos, vós manifestais e testemunhais a vossa fé, a alegria de ser cristãos e de pertencer à Igreja. É a alegria que brota da consciência de ter recebido um grandioso dom de Deus, precisamente a fé, uma dádiva que ninguém de nós pôde merecer, mas que nos foi concedida gratuitamente, e à qual nós respondemos com o nosso «sim». Trata-se da alegria de nos reconhecermos como filhos de Deus, de nos descobrirmos confiados às suas mãos, de nos sentirmos acolhidos num abraço de amor, do mesmo modo como uma mãe sustém e abraça o seu filho. Esta alegria, que guia o caminho de cada cristão, fundamenta-se numa relação pessoal com Jesus, uma relação que orienta toda a existência humana. Com efeito, é Ele que confere sentido à nossa vida, Aquele em quem vale a pena manter fixo o nosso olhar, para sermos iluminados pela sua Verdade e para podermos viver em plenitude. Por isso, o caminho da fé que hoje tem início para estas crianças funda-se numa certeza, na experiência de que nada existe de maior do que conhecer Cristo e comunicar aos outros a amizade com Ele; somente nesta amizade se descerram realmente as grandes potencialidades da condição humana e podemos experimentar o que é belo, o que liberta (cf. Homilia na Santa Missa para o início do Pontificado, 24 de abril de 2005). Quem fez esta experiência não está disposto a renunciar à própria fé por nada neste mundo.
E vós, diletos padrinhos e madrinhas, tendes a importante tarefa de sustentar e contribuir para a obra educativa dos pais, acompanhando-os na transmissão das verdades da fé e no testemunho dos valores do Evangelho, para fazer crescer estas crianças numa amizade cada vez mais profunda com o Senhor. Sabei oferecer-lhes sempre o vosso bom exemplo, através do exercício das virtudes cristãs. Não é fácil manifestar abertamente e sem comprometimentos aquilo em que acreditamos, de modo especial no contexto em que vivemos, perante uma sociedade que considera muitas vezes fora de moda e fora do tempo quantos vivem da fé em Jesus. Na onda desta mentalidade, pode haver inclusive entre os cristãos o risco de entender a relação com Jesus como limitadora, como algo que mortifica a própria realização pessoal; «Deus é visto como o limite da nossa liberdade, um limite a ser eliminado, a fim de que o homem possa ser totalmente ele mesmo» (A infância de Jesus, 101). Mas não é assim! Esta visão demonstra que nada entendeu da relação com Deus, pois é precisamente na medida em que se procede pelo caminho da fé, que se compreende como Jesus exerce sobre nós a ação libertadora do amor de Deus, que nos faz sair do nosso egoísmo, do facto de permanecermos fechados em nós mesmos, para nos levar a uma vida plena, em comunhão com Deus e aberta aos outros. «“Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1Jo 4,16). Estas palavras da primeira Carta de João exprimem, com clareza singular, o centro da fé cristã: a imagem cristã de Deus e também a consequente imagem do homem e do seu caminho» (Encíclica Deus caritas est, 1).
A água, com a qual estas crianças serão assinaladas em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, mergulhá-las-á naquela «fonte» de vida que é o próprio Deus e que as tornará seus verdadeiros filhos. E a semente das virtudes teologais infundidas por Deus, a fé, a esperança e a caridade, semente que hoje é lançada no seu coração pelo poder do Espírito Santo, deverá ser alimentada sempre pela Palavra de Deus e pelos Sacramentos, de maneira que estas virtudes do cristão possam crescer e alcançar a plena maturidade, a ponto de fazer de cada um deles uma verdadeira testemunha do Senhor. Enquanto invocamos sobre estas crianças a efusão do Espírito Santo, confiemos-las à salvaguarda da Virgem Santa; que Ela as conserve sempre com a sua presença materna e as acompanhe em cada momento da sua vida. Amém!


Fonte: Santa Sé

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Fotos da Visita de Dom Athanasius Schneider aos EUA

No início do mês de Janeiro, Dom Athanasius Schneider, Bispo Auxiliar de Astana (Cazaquistão) visitou os Estados Unidos da América, a convite da Sociedade de São Hugo de Cluny, para promover a Forma Extraordinária do Rito Romano.

Seguem algumas fotos das celebrações, do site da Sociedade de São Hugo de Cluny:

05 de Janeiro - Missa Pontifical na Catedral de St. James (New York)

Entrada Solene
Orações antes da paramentação
Bispo paramentado na cátedra
Orações iniciais
Leitura

Catequese do Papa: Fez-se homem

Papa Bento XVI
Audiência Geral
Quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
Ano da Fé (12): Fez-se homem

Queridos irmãos e irmãs,
Neste tempo natalício, voltamos a meditar mais uma vez sobre o grande mistério de Deus que desceu do seu Céu para entrar na nossa carne. Em Jesus, Deus encarnou-se, tornou-se homem como nós e assim abriu-nos o caminho para o seu Céu, rumo à plena comunhão com Ele.
Nestes dias, nas nossas igrejas ressoou inúmeras vezes o termo «Encarnação» de Deus, para expressar a realidade que celebramos no Santo Natal: o Filho de Deus fez-se homem, como recitamos no Credo. Mas o que significa esta palavra central para a fé cristã? Encarnação deriva do latim «incarnatio». Santo Inácio de Antioquia - no final do I século - e, acima de tudo, Santo Ireneu, utilizaram este termo, meditando acerca do Prólogo do Evangelho de são João, de modo particular sobre a expressão: «O Verbo fez-se carne» (Jo 1,14). Aqui, a palavra «carne», em conformidade com o uso hebraico, indica o homem na sua integridade, o homem todo, mas precisamente sob o aspecto da sua caducidade e temporalidade, da sua pobreza e contingência. Isto, para nos dizer que a salvação trazida por Deus que se fez carne em Jesus de Nazaré atinge o homem na sua realidade concreta e em qualquer situação em que se encontre. Deus assumiu a condição humana para a purificar de tudo aquilo que a separa dele, para nos permitir chamá-lo, no seu Filho Unigénito, com o nome «Abbá, Pai» e assim ser verdadeiramente filhos de Deus. Santo Ireneu afirma: «Este é o motivo pelo qual o Verbo se fez homem, e o Filho de Deus, Filho do homem: para que o homem, entrando em comunhão com o Verbo e recebendo assim a filiação divina, se tornasse filho de Deus» (Adversus haereses, 3, 19, 1: PG 7, 939; cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 460).
«O Verbo fez-se carne» é uma daquelas verdades com as quais estamos tão habituados que já quase não nos impressiona pela grandeza do acontecimento que ela exprime. E efetivamente neste período natalício, durante o qual tal expressão volta com frequência na liturgia, às vezes prestamos mais atenção aos aspectos exteriores, às «cores» da festa, do que ao coração da grandiosa novidade cristã que celebramos: algo absolutamente impensável, que só Deus podia realizar, e no qual podemos entrar só mediante a fé. O Logos, que está em Deus, o Logos que é Deus, o Criador do mundo (cf. Jo 1,1), por Quem foram criadas todas as coisas (cf. 1,3), que acompanhou e acompanha os homens na história com a sua luz (cf. 1,4-5; 1,9), torna-se um no meio dos outros, adquire morada entre nós, torna-se um de nós (cf. 1,14). O Concílio Ecuménico Vaticano II afirma: «O Filho de Deus... Trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado» (Constituição Gaudium et spes, 22). Então, é importante recuperar a reverência diante deste mistério, deixar-se envolver pela grandeza deste acontecimento: Deus, o Deus verdadeiro, Criador de tudo, percorreu como homem as nossas estradas, entrando no tempo do homem, para nos comunicar a sua própria vida (cf. 1Jo 1,1-4). E fê-lo não com o esplendor de um soberano que com o seu poder submete o mundo, mas com a humildade de um menino.
Gostaria de frisar um segundo elemento. No Santo Natal geralmente trocamos alguns dons com as pessoas mais próximas. Às vezes pode ser um gesto feito por convenção, mas em geral exprime carinho, é um sinal de amor e de estima. Na oração sobre o ofertório da Missa da noite da solenidade do Natal, a Igreja reza assim: «Aceitai, ó Pai, a nossa oferta nesta noite de luz, e através deste misterioso intercâmbio de dons, transformai-nos em Cristo vosso Filho, que elevou o homem ao seu lado na glória». Por conseguinte, o pensamento da doação está no centro da liturgia e na nossa consciência evoca o dom originário do Natal: naquela noite santa Deus, fazendo-se carne, quis entregar-se pelos homens, doou-se a si mesmo por nós; Deus ofereceu-nos o seu único Filho, assumiu a nossa humanidade para nos conferir a sua divindade. Este é o grande dom. Também no nosso doar não é importante que um presente seja caro ou não; quem não consegue doar um pouco de si mesmo, doa sempre muito pouco; aliás, às vezes procura-se precisamente substituir o coração e o compromisso de doação de si mesmo com o dinheiro, com coisas materiais. O mistério da Encarnação indica que Deus não fez assim: não concedeu algo, mas doou-se a si mesmo no seu Filho Unigénito. Encontremos aqui o modelo do nosso doar, a fim de que os nossos relacionamentos, especialmente os mais importantes, sejam guiados pela gratuidade do amor.
Gostaria de oferecer uma terceira reflexão: o acontecimento da Encarnação, de Deus que se faz homem como nós, que nos mostra o realismo inaudito do amor divino. Com efeito, o agir de Deus não se limita às palavras, aliás, poderíamos dizer que Ele não se contenta com falar, mas insere-se na nossa história e assume sobre si a dificuldade e o peso da vida humana. O Filho de Deus fez-se verdadeiramente homem, nasceu da Virgem Maria, numa época e num lugar determinados, em Belém, durante o reino do imperador Augusto, sob o governador Quirino (cf. Lc 2,1-2); cresceu no seio de uma família, teve amigos, formou um grupo de discípulos, instruiu os apóstolos para dar continuidade à sua missão e terminou o curso da sua vida terrena na cruz. Este modo de agir de Deus é um forte estímulo a interrogar-nos sobre o realismo da nossa fé, que não se deve limitar à esfera do sentimento, das emoções deve entrar no concreto da nossa existência, ou seja, deve referir-se à nossa vida de todos os dias e orientá-la inclusive de modo prático. Deus não se limitou às palavras, mas indicou-nos como viver, compartilhando a nossa própria experiência, exceto no pecado. O Catecismo de São Pio X, que alguns de nós estudaram quando eram jovens, com a sua essencialidade, à pergunta: «O que devemos fazer para viver segundo Deus?», dá esta resposta: «Para viver segundo Deus, devemos acreditar nas verdades reveladas por Ele e observar os seus mandamentos com a ajuda da sua graça, que se obtém mediante os sacramentos e a oração». A fé tem um aspecto fundamental, que diz respeito não só à mente e ao coração, mas à nossa vida inteira.
Proponho um último elemento à vossa reflexão. São João afirma que o Verbo, o Logos, estava em Deus desde o princípio, e que tudo foi feito através do Verbo e nada do que existe foi criado sem Ele (cf. Jo 1,1-3). O evangelista alude claramente à narração da criação, que se encontra nos primeiros capítulos do Livro do Génesis, relendo-o à luz de Cristo. Este é um critério fundamental na leitura cristã da Bíblia: o Antigo e o Novo Testamento devem ser lidos sempre juntos, e é a partir do Novo que se revela o sentido mais profundo também do Antigo. Aquele mesmo Verbo que existe desde sempre em Deus, que é Ele mesmo Deus e por meio do qual e em vista do qual tudo foi criado (cf. Cl 1,16-17), fez-se homem: o Deus eterno e infinito imergiu-se na finitude humana, na sua criatura, para reconduzir a Ele o homem e a criação inteira. O Catecismo da Igreja Católica afirma: «A primeira criação encontrou o seu sentido e apogeu na nova criação em Cristo, cujo esplendor ultrapassa o da primeira» (n. 349). Os Padres da Igreja compararam Jesus com Adão, a ponto de o definir «segundo Adão», ou o Adão definitivo, a imagem perfeita de Deus. Com a Encarnação do Filho de Deus tem lugar uma nova criação, que oferece a resposta completa à interrogação: «Quem é o homem?». Só em Jesus se manifesta completamente o desígnio de Deus sobre o ser humano: Ele é o homem definitivo, segundo Deus. O Concílio Vaticano II reitera com vigor: «Na realidade, só no mistério do Verbo Encarnado é que se esclarece verdadeiramente o mistério do homem... Cristo, novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime» (Constituição Gaudium et spes, 22; cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 359). Naquele menino, o Filho de Deus contemplado no Natal, podemos reconhecer a verdadeira face, não apenas de Deus, mas o rosto autêntico do ser humano; e só abrindo-nos à ação da sua graça e procurando segui-lo todos os dias, realizamos o desígnio de Deus sobre nós, sobre cada um de nós.
Caros amigos, neste período meditemos sobre a grande e maravilhosa riqueza do Mistério da Encarnação, para permitir que o Senhor nos ilumine e nos transforme cada vez, à imagem do seu Filho que por nós se fez homem.


Fonte: Santa Sé

sábado, 12 de janeiro de 2013

Divina Liturgia do Natal na Ucrânia

No último dia 07 de Janeiro o Arcebispo-Maior da Igreja Greco-Católica Ucraniana, Dom Sviatoslav Shevchuk, presidiu a Divina Liturgia de São João Crisóstomo por ocasião da Festa do Natal do Senhor na igreja de São Basílio Magno em Kiev, Ucrânia.

Os fieis ucranianos, tanto católicos quanto ortodoxos, seguem o calendário juliano, que possui uma diferença de 14 dias com o calendário gregoriano. Portanto, o Natal ucraniano é celebrado não em 25 de Dezembro, mas em 07 de Janeiro.

Seguem algumas fotos, do site da UGCC.TV:

Bênção episcopal no início da Divina Liturgia
Incensação da iconostase
Homilia
Fieis
Grande Entrada

Festa da Teofania em Constantinopla

No último dia 06 de Janeiro, o Patriarca Ecumênico de Constantinopla e Primaz das Igrejas Ortodoxas, Bartolomeu I, presidiu a Divina Liturgia de São João Crisóstomo por ocasião da festa da Teofania. Após a Divina Liturgia, foi realizada a Grande Bênção das Águas, primeiramente na Catedral de São Jorge e, em seguida, às margens do Estreito de Bósforo. 

Apesar do clima frio, é adotado um interessante costume: o Patriarca, após a oração da bênção, lança nas águas uma pequena cruz. Imediatamente, um grupo de mergulhadores se apressa em descer às águas geladas e recuperar a cruz, devolvendo-a ao Patriarca.

 Seguem algumas fotos, do site do Patriarcado:

Divina Liturgia: Ektenia
Grande Bênção das Águas

Procissão ao Estreito de Bósforo
Grupo de mergulhadores
"Recuperação da cruz"

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013