sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Sugestão de leitura: O sentido espiritual da Liturgia

Nossa última sugestão de leitura mensal, em agosto, foi o livro Liturgia e vida espiritual: Teologia, celebração, experiência, de autoria de Jesús Castellano, um grande manual de espiritualidade litúrgica.

Neste mês propomos uma obra mais modesta, mas ainda assim dedicada à relação entre Liturgia e espiritualidade. Trata-se de O sentido espiritual da Liturgia de Goffredo Boselli, publicada no Brasil em 2014 pelas Edições CNBB como primeiro volume da Coleção Vida e Liturgia da Igreja.


A obra, publicada originalmente em italiano (Il senso spirituale della Liturgia) em 2011, está dividida em três partes e possui dez capítulos. Como o autor indica na Introdução, trata-se de uma antologia de textos escritos em circunstâncias diversas. Portanto, não tem o objetivo de oferecer uma reflexão sistemática, como um “manual”.

Não obstante, há um “fio condutor”: a tentativa de uma leitura espiritual da Liturgia. O autor lamenta já no início da Introdução que a Liturgia seja muitas vezes considerada mais um problema a resolver do que uma fonte da qual haurir o alimento da vida espiritual.

Primeira parte: A mistagogia

A primeira parte da obra é dedicada à mistagogia: após um capítulo introdutório, o autor propõe uma leitura mistagógica de três momentos da Celebração Eucarística, como vemos a seguir:

1. Introdução à mistagogia (pp. 17-32)
Neste capítulo, Goffredo Boselli introduz o conceito de mistagogia, iniciação ao mistério, fundamental para a compreensão do vínculo entre Escritura e Liturgia. Dialogando com alguns textos bíblicos e com os Padres da Igreja, se demonstra a atualidade da mistagogia.

2. Mistagogia do Ato Penitencial (pp. 33-52)
Após introduzir o conceito, se propõe uma leitura mistagógica de três momentos da Celebração Eucarística, começando pelo Ato Penitencial. O autor situa este rito dentro dos Ritos iniciais e em relação com as “liturgias penitenciais” da Escritura, marcadas por quatro passos: invitatório, silêncio, confissão, bênção.

3. Mistagogia da Liturgia da Palavra (pp. 53-79)
À luz de dois relatos bíblicos - Cristo que lê o profeta Isaías na sinagoga de Nazaré (Lc 4,16-21) e Esdras que lê o livro da Lei diante do povo (Ne 8) -, o autor identifica três elementos fundamentais da Liturgia da Palavra: a assembleia reunida, o livro das Escrituras e o leitor que proclama.

4. Mistagogia da Apresentação dos dons (pp. 80-98)       
Por fim, a leitura mistagógica da apresentação dos dons é dividida em três partes: as raízes bíblicas do rito, as orações sobre o pão e o vinho e a apresentação dos dons como apelo à responsabilidade ética.


Segunda parte: A Liturgia na vida da Igreja

Esta segunda parte reúne quatro textos dedicados à dimensão eclesial da Liturgia, através dos quais o autor quer demonstrar que o modo como a Igreja reza determina o modo como ela vive sua missão (lex orandi - lex vivendi).

5. O sacramento da assembleia (pp. 101-119)
Também recorrendo a uma leitura mistagógica, o autor reflete sobre três dimensões da assembleia litúrgica: Deus a convoca, fala a ela e sela uma aliança com ela. Conclui o capítulo uma reflexão pneumatológica: a assembleia como “o lugar onde floresce o Espírito”.

6. Presbíteros formados pela Liturgia (pp. 120-130)
Aqui o autor exorta os presbíteros a deixarem-se formar pela Liturgia e para a Liturgia, destacando três dimensões: formar para a oração, para a presidência e para a mistagogia.

7. O Missal, livro da oração da Igreja (pp. 131-143)
Boselli reflete neste texto sobre o Missal como livro de oração da Igreja por excelência, pois exprime a resposta orante da assembleia à Escritura, testemunhando o vínculo entre lex orandi e lex credendi, ou seja, entre a “lei da oração” e a “lei da fé”.

8. A Liturgia, escola de oração (pp. 144-160)
O último capítulo da segunda parte começa com uma afirmação fundamental: “a Liturgia cristã é oração”. O autor centra sua reflexão sobre a Liturgia como o “lugar” onde o próprio Deus educa seu povo para a oração, exortando-nos portanto à escuta da Palavra.

Terceira parte: Uma Liturgia para o Cristianismo que nos espera

A terceira e última parte do livro contém apenas dois capítulos (além da conclusão), dedicados ao diálogo entre a Liturgia e o hodie (hoje) da Igreja e do mundo.

9. Liturgia e amor pelos pobres (pp. 163-185)
A partir das reflexões de São Paulo na Primeira Carta aos Coríntios e das contribuições dos Padres da Igreja, Goffredo Boselli recorda aqui o vínculo entre Liturgia e solidariedade com os pobres, entre Liturgia e justiça social.

10. Liturgia e transmissão da fé (pp. 186-203)
Por fim, o último capítulo parte de uma pergunta: como a Liturgia transmite a fé? A pergunta é respondida olhando para três momentos: o presente (como a Liturgia de hoje transmite a fé), o passado (como a Liturgia de sempre transmitiu a fé) e o futuro (como a Liturgia de amanhã transmitirá a fé).

Conclusão (pp. 205-208)
“A Liturgia é a ação mais eficaz da Igreja”. Com esta afirmação Goffredo Boselli conclui sua obra, exortando mais uma vez a redescobrir a primazia da escuta da Palavra de Deus e a primazia da celebração da fé.


Sobre o autor
Goffredo Boselli nasceu em Codogno (Itália) em 1967. É monge do Mosteiro de Bose e Doutor em Liturgia pelo Instituto Católico de Paris. É o responsável pela Liturgia no Mosteiro de Bose e consultor do Ofício Litúrgico Nacional da Conferência Episcopal Italiana.

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