Nossa última sugestão de leitura mensal, em agosto, foi o
livro Liturgia e vida espiritual: Teologia, celebração, experiência, de autoria de Jesús Castellano, um
grande manual de espiritualidade litúrgica.
Neste mês propomos uma obra mais
modesta, mas ainda assim dedicada à relação entre Liturgia e espiritualidade.
Trata-se de O sentido espiritual da Liturgia de Goffredo Boselli, publicada no Brasil em 2014 pelas Edições CNBB
como primeiro volume da Coleção Vida e
Liturgia da Igreja.
A obra, publicada originalmente em italiano (Il senso spirituale della Liturgia) em 2011, está dividida em três partes e possui dez capítulos. Como o autor indica na Introdução, trata-se de uma antologia de textos escritos em circunstâncias diversas. Portanto, não tem o objetivo de oferecer uma reflexão sistemática, como um “manual”.
Não obstante, há um “fio condutor”: a tentativa de uma leitura espiritual da Liturgia. O autor lamenta já no início da Introdução que a Liturgia seja muitas vezes considerada mais um problema a resolver do que uma fonte da qual haurir o alimento da vida espiritual.
Primeira parte: A mistagogia
A primeira parte da obra é dedicada à mistagogia: após um
capítulo introdutório, o autor propõe uma leitura mistagógica de três momentos
da Celebração Eucarística, como vemos a seguir:
1. Introdução à
mistagogia (pp. 17-32)
Neste capítulo, Goffredo Boselli introduz o conceito de
mistagogia, iniciação ao mistério, fundamental para a compreensão do vínculo
entre Escritura e Liturgia. Dialogando com alguns textos bíblicos e com os
Padres da Igreja, se demonstra a atualidade da mistagogia.
2. Mistagogia do Ato
Penitencial (pp. 33-52)
Após introduzir o conceito, se propõe uma leitura
mistagógica de três momentos da Celebração Eucarística, começando pelo Ato
Penitencial. O autor situa este rito dentro dos Ritos iniciais e em relação com
as “liturgias penitenciais” da Escritura, marcadas por quatro passos:
invitatório, silêncio, confissão, bênção.
3. Mistagogia da
Liturgia da Palavra (pp. 53-79)
À luz de dois relatos bíblicos - Cristo que lê o profeta
Isaías na sinagoga de Nazaré (Lc 4,16-21) e Esdras que lê o livro da Lei diante
do povo (Ne 8) -, o autor identifica três elementos fundamentais da Liturgia da
Palavra: a assembleia reunida, o livro das Escrituras e o leitor
que proclama.
4. Mistagogia da Apresentação dos dons (pp. 80-98)
Por fim, a leitura mistagógica da apresentação dos dons é
dividida em três partes: as raízes bíblicas do rito, as orações sobre o pão e o
vinho e a apresentação dos dons como apelo à responsabilidade ética.
Segunda parte: A Liturgia na vida da Igreja
Esta segunda parte reúne quatro textos dedicados à dimensão
eclesial da Liturgia, através dos quais o autor quer demonstrar que o modo como
a Igreja reza determina o modo como ela vive sua missão (lex orandi - lex vivendi).
5. O sacramento da
assembleia (pp. 101-119)
Também recorrendo a uma leitura mistagógica, o autor reflete
sobre três dimensões da assembleia litúrgica: Deus a convoca, fala a ela e sela
uma aliança com ela. Conclui o capítulo uma reflexão pneumatológica: a
assembleia como “o lugar onde floresce o Espírito”.
6. Presbíteros
formados pela Liturgia (pp. 120-130)
Aqui o autor exorta os presbíteros a deixarem-se formar pela
Liturgia e para a Liturgia, destacando três dimensões: formar para a oração,
para a presidência e para a mistagogia.
7. O Missal, livro da
oração da Igreja (pp. 131-143)
Boselli reflete neste texto sobre o Missal como livro de
oração da Igreja por excelência, pois exprime a resposta orante da assembleia à
Escritura, testemunhando o vínculo entre lex
orandi e lex credendi, ou seja,
entre a “lei da oração” e a “lei da fé”.
8. A Liturgia, escola
de oração (pp. 144-160)
O último capítulo da segunda parte começa com uma afirmação
fundamental: “a Liturgia cristã é oração”. O autor centra sua reflexão sobre a
Liturgia como o “lugar” onde o próprio Deus educa seu povo para a oração,
exortando-nos portanto à escuta da Palavra.
Terceira parte: Uma Liturgia para o Cristianismo que nos espera
A terceira e última parte do livro contém apenas dois
capítulos (além da conclusão), dedicados ao diálogo entre a Liturgia e o hodie (hoje) da Igreja e do mundo.
9. Liturgia e amor
pelos pobres (pp. 163-185)
A partir das reflexões de São Paulo na Primeira Carta aos Coríntios e das contribuições dos Padres da
Igreja, Goffredo Boselli recorda aqui o vínculo entre Liturgia e solidariedade
com os pobres, entre Liturgia e justiça social.
10. Liturgia e
transmissão da fé (pp. 186-203)
Por fim, o último capítulo parte de uma pergunta: como a
Liturgia transmite a fé? A pergunta é respondida olhando para três momentos: o
presente (como a Liturgia de hoje transmite a fé), o passado (como a Liturgia
de sempre transmitiu a fé) e o futuro (como a Liturgia de amanhã transmitirá a
fé).
Conclusão (pp. 205-208)
“A Liturgia é a ação mais eficaz da Igreja”. Com esta
afirmação Goffredo Boselli conclui sua obra, exortando mais uma vez a
redescobrir a primazia da escuta da Palavra de Deus e a primazia da celebração
da fé.
Sobre o autor
Goffredo Boselli nasceu em Codogno (Itália) em 1967. É monge
do Mosteiro de Bose e Doutor em Liturgia pelo Instituto Católico de Paris. É o
responsável pela Liturgia no Mosteiro de Bose e consultor do Ofício Litúrgico
Nacional da Conferência Episcopal Italiana.
Para
adquirir o livro no site da editora, clique aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário