domingo, 30 de setembro de 2018

Liturgia e misericórdia: Encontro de Pastoral Litúrgica 2016

Há um mês, no dia 30 de agosto, publicamos um texto sobre o Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica de 2017 em Portugal, com o tema “A Virgem Maria na Liturgia”.

No final de cada mês publicaremos retrospectivamente os conteúdos dos encontros, que acontecem anualmente no Santuário de Fátima, com os áudios das conferências conforme publicados pelo site do Secretariado Nacional de Liturgia de Portugal.

A postagem deste mês recorda o 42º Encontro, que aconteceu entre os dias 25 e 29 de julho de 2016. O tema, no contexto do Jubileu Extraordinário da Misericórdia convocado pelo Papa Francisco, não poderia ser outro: “A  Liturgia, fonte e cume da misericórdia”

Seguem os áudios das dez conferências do encontro:

1ª Conferência: O mistério da misericórdia
Pe. Alexandre Palma, Patriarcado de Lisboa

2ª Conferência: O ano litúrgico, itinerário da misericórdia
D. Bernardino Ferreira da Costa, Abade de Singeverga

3ª Conferência: A misericórdia na celebração da Eucaristia
Pe. Carlos Cabecinhas, Reitor do Santuário de Fátima

4ª Conferência: A celebração da penitência, abraço da misericórdia
Pe. Manuel Morujoão, SJ

5ª Conferência: Peregrinação e porta da misericórdia
Pe. Fernando António, SJ

6ª Conferência: Piedade popular e misericórdia
Pe. João Peixoto

7ª Conferência: Sacramentais
Pe. Joaquim Ganhão

8ª Conferência: Liturgia e prática da misericórdia
Pe. Carlos Aquino

9ª Conferência: Unção dos enfermos, sacramento da misericórdia
Pe. Fernando Sampaio

10ª Conferência: As indulgências e o inesgotável tesouro da misericórdia
Pe. José Ribeiro Gomes


sábado, 29 de setembro de 2018

Homilia: XXVI Domingo do Tempo Comum - Ano B

São Beda o Venerável
Do Comentário sobre o Evangelho de São Marcos
No nome de Cristo

João diz a Jesus: Mestre, vimos um homem que expulsava demônios em teu nome, e não o permitimos porque não é dos nossos. João que amava com extraordinário fervor ao Senhor, e por isso era digno de ser amado por Ele, pensava que devia ser privado do benefício aquele que não tinha o ofício. Porém, o Senhor lhe ensinou que ninguém deve ser afastado do bem que em parte possui, mas deve ser convidado para aquilo que ainda não possui. E prossegue dizendo:

Não o proibais. Ninguém que realize milagres em meu nome falará mal de mim. Quem não é contra nós, está a nosso favor”. O mesmo afirma o sábio Apóstolo: Contanto que Cristo seja anunciado, como pretexto ou como fidelidade, disso me alegro e me alegrarei. Porém, ainda que se alegre por aqueles que anunciam a Cristo de forma não sincera, e se inclusive algumas vezes fazem milagres pela salvação de outros, aconselhando que não sejam impedidos, contudo, não podem ser justificados por tais milagres.

Ainda mais, naquele dia dirão: Senhor, Senhor, acaso não profetizamos em teu nome, e não expulsamos demônios em teu nome, e não realizamos milagres em teu nome?, e receberão esta resposta: Não vos conheço, apartai-vos de mim, vós que operais a iniquidade! Portanto, a respeito dos hereges e maus católicos devemos solenemente rejeitar não aquelas crenças e aqueles sacramentos que têm em comum conosco, não contra nós, mas as divisões que se opõem à paz e à verdade, pelas quais estão contra nós e não se mantêm em unidade com o Senhor.

Quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa. Lemos no Profeta Davi que muitos, como desculpa de seus pecados, pretendem que são justos os estímulos que os movem a pecar; de modo que, enquanto pecam voluntariamente, iludem-se de atuar por necessidade. O Senhor, que perscruta os corações e os rins, pode ver os pensamentos de cada um.

Ele disse: Quem recebe a um destes pequeninos em meu nome, recebe a mim. Alguém poderia polemizar dizendo: “A pobreza me impede, minha miséria me impossibilita de recebê-lo”. Porém, o Senhor anula esta desculpa com um suavíssimo mandamento, para induzir-nos a oferecer de todo o coração ao menos um copo de água, mesmo que seja fria, como disse Mateus. E diz um copo de água fria, não quente, a fim de que não se busque uma desculpa alegando miséria ou falta de lenha para esquentar a água.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 474-475. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de Santo Agostinho para este domingo, clique aqui.

Nota de falecimento: Dom Dirceu Vegini

Com pesar noticiamos o falecimento na manhã de hoje, 29 de setembro de 2018, de Dom Dirceu Vegini, Bispo Diocesano de Foz do Iguaçu (PR).


Dom Dirceu Vegini nasceu em 14 de abril de 1952, na cidade de Massaranduba (SC), pertencente à Diocese de Joinville. Estudou Filosofia nas Faculdades Associadas do Ipiranga, em São Paulo, (1974-1976), e Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, (1979-1982).

Incardinado na Diocese de Apucarana (PR), foi ordenado sacerdote no dia 21 de janeiro de 1984, em sua cidade natal, por Dom Domingos Gabriel Wisniewski, então Bispo de Apucarana.

Desempenhou os seguintes serviços: pároco da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes em Jacutinga (1984-1988); pároco da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora em Colorado (1988-2010); Membro do Conselho Presbiteral e do Conselho de Pastoral; Diretor da Rádio da Paróquia de Colorado.

No dia 15 de março de 2006 o Papa Bento XVI o nomeou Bispo Titular de Puzia di Bizacena e Auxiliar da Arquidiocese de Curitiba. Recebeu a ordenação episcopal no dia 02 de junho do mesmo ano, em Apucarana. O ordenante principal foi Dom Domingos Gabriel Wisniewski, Bispo Emérito de Apucarana. Os co-ordenantes foram Dom Luiz Vicente Bernetti, Bispo de Apucarana, e Dom Moacyr José Vitti, Arcebispo de Curitiba.


Na Arquidiocese de Curitiba, tendo sido designado para a Região Episcopal Norte, realizou a Visita Pastoral em 37 das 40 paróquias que compõem esta Região.

No dia 20 de outubro de 2010, o Papa Bento XVI o nomeou Bispo Diocesano de Foz do Iguaçu, sucedendo Dom Laurindo Guizzardi, que havia renunciado por limite de idade. Tomou posse do seu ofício no dia 30 de dezembro do mesmo ano.

Por várias vezes neste blog publicamos fotos das celebrações de Dom Dirceu Vegini em Foz do Iguaçu, destacando seu zelo à Liturgia, sempre unido à sua proximidade das pessoas.


Dom Dirceu estava internado desde o dia 30 de agosto em um hospital de Foz do Iguaçu para um tratamento de câncer no fígado. Faleceu nesta manhã devido a uma parada cardíaca decorrente de complicações devidas aos procedimentos cirúrgicos.

Que Deus o receba em sua glória e o recompense por tanto bem que fez pela Igreja. Os santos arcanjos, que hoje celebramos, o levem na paz, e sua memória seja eterna!

Ó Deus, que chamastes ao ministério episcopal o vosso servo Bispo Dirceu Vegini, colocando-o entre os sucessores dos Apóstolos, concedei-lhe também associar-se a eles no convívio eterno. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.


Com informações do site da Santa Sé.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Festa da Natividade de Maria em Moscou

No último dia 21 de setembro o Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa celebrou, conforme o calendário juliano, a primeira das Doze Grandes Festas do ano litúrgico bizantino: a Natividade de Maria, Mãe de Deus.

Na noite do dia 20 o Patriarca presidiu a Vigília da Festa na Catedral Patriarcal de Cristo Salvador:

Ícone da festa
Entrada do Patriarca

Incensação

No dia 21, a Divina Liturgia da Festa foi celebrada na capela do Convento da Natividade de Maria em Moscou:

Entrada do Patriarca

IX Catequese do Papa sobre os Mandamentos: Honra teu pai e tua mãe

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 19 de setembro de 2018
Os Mandamentos (9): Honra teu pai e tua mãe

Bom dia, prezados irmãos e irmãs!
Na viagem no interior das Dez Palavras, hoje chegamos ao mandamento sobre o pai e a mãe. Fala-se da honra devida aos pais. Em que consiste esta “honra”? O termo hebraico indica a glória, o valor, à letra, o “peso”, a consistência de uma realidade. Não é questão de formas exteriores, mas de verdades. Nas Escrituras, honrar a Deus quer dizer reconhecer a sua realidade, fazer as contas com a sua presença; isto exprime-se também mediante os ritos, mas implica sobretudo atribuir a Deus o lugar certo na existência. Portanto, honrar o pai e a mãe significa reconhecer a sua importância até com gestos concretos, que manifestam dedicação, afeto e esmero. Mas não se trata apenas disto.
A Quarta Palavra tem uma sua caraterística: é o mandamento que contém um êxito. Com efeito, reza: «Honra teu pai e tua mãe, como te mandou o Senhor teu Deus, para que se prolonguem os teus dias e prosperes na terra que te deu o Senhor teu Deus» (Dt 5,16). Honrar os pais leva a uma vida longa e feliz. No Decálogo, a palavra “felicidade” só aparece ligada ao relacionamento com os pais.
Esta sabedoria multimilenária declara aquilo que as ciências humanas souberam elaborar só há pouco mais de um século: ou seja, que a marca da infância se reflete sobre a vida inteira. Muitas vezes pode ser fácil entender se alguém cresceu num ambiente saudável e equilibrado. Mas igualmente perceber se uma pessoa provém de experiências de abandono ou de violência. A nossa infância é um pouco como uma tinta indelével, exprime-se nos gostos, nos modos de ser, não obstante alguns procurem esconder as feridas das próprias origens.
Mas o quarto mandamento diz ainda mais. Não fala da bondade dos pais, não exige que os pais e as mães sejam perfeitos. Fala de um gesto dos filhos, prescindindo dos méritos dos pais, e diz algo extraordinário e libertador: embora nem todos os pais sejam bons e nem todas as infâncias sejam tranquilas, todos os filhos podem ser felizes, porque o êxito de uma vida plena e feliz depende do justo reconhecimento por aqueles que nos deram a vida.
Pensemos como esta Palavra pode ser construtiva para tantos jovens que provêm de histórias de dor e para todos aqueles que sofreram na própria juventude. Muitos santos - e numerosos cristãos - depois de uma infância dolorosa, levaram uma vida luminosa porque, graças a Jesus Cristo, se reconciliaram com a vida. Pensemos no jovem Sulprizio, hoje Beato e no próximo mês Santo, que com 19 anos concluiu a sua vida reconciliado com muitas dores, com tantas situações, porque o seu coração estava sereno e nunca tinha renegado os seus pais. Pensemos em São Camilo de Lellis que, de uma infância desordenada, construiu uma vida de amor e de serviço; em Santa Josefina Bakhita, que cresceu numa escravidão horrível; ou no Beato Carlos Gnocchi, órfão e pobre; e no próprio São João Paulo II, marcado pela perda da mãe em tenra idade.
Independentemente da história da sua proveniência, o homem recebe deste mandamento a orientação que conduz a Cristo: com efeito, é n’Ele que se manifesta o verdadeiro Pai, que nos oferece o “renascimento do Alto” (cf. Jo 3,3-8). Os enigmas das nossas vidas iluminam-se quando se descobre que Deus nos prepara desde sempre para uma vida como seus filhos, onde cada gesto é uma missão recebida d’Ele.
As nossas feridas começam a ser potencialidades quando, por graça, descobrimos que o verdadeiro enigma já não é “porquê?”, mas “por quem?”, por quem me aconteceu isto. Em vista de qual obra Deus me forjou, através da minha história? Aqui tudo se inverte, tudo se torna precioso, tudo se torna construtivo. A minha experiência, ainda que seja triste e dolorosa, à luz do amor, como se torna para os outros, para quem, fonte de salvação? Então, podemos começar a honrar os nossos pais com liberdade de filhos adultos e com misericordiosa aceitação dos seus limites [1].
Honrar os pais: eles deram-nos a vida! Se tu te afastaste dos teus pais, faz um esforço e regressa, volta para eles; talvez sejam idosos... Eles deram-te a vida. Além disso, temos o hábito de proferir expressões feias, até palavrões... Por favor, nunca, nunca, nunca insulteis os pais de outrem. Jamais! Nunca se insulta a mãe, nunca se insulta o pai. Jamais! Tomai vós mesmos esta decisão interior: doravante, nunca insultarei a mãe ou o pai de alguém. Foram eles que lhe deram a vida! Não devem ser insultados.
Esta vida maravilhosa é-nos oferecida, não imposta: renascer em Cristo é uma graça a acolher livremente (cf. Jo 1,11-13), e constitui o tesouro do nosso Batismo no qual, por obra do Espírito Santo, um só é o nosso Pai, aquele que está no Céu (cf. Mt 23,9; 1Cor 8,6; Ef 4,6). Obrigado!

[1] Cf. S. Agostinho, Discurso sobre Mateus, 72, a, 4: «Portanto, Cristo ensina-te a rejeitar os teus pais e, ao mesmo tempo, a amá-los. Pois bem, os pais amam-se ordenadamente e com espírito de fé, quando não se preferem a Deus: quem ama - são palavras do Senhor - o pai e a mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Com estas palavras parece que te admoesta a não os amar; mas, ao contrário, admoesta-te a amá-los. Com efeito, teria podido dizer: “Quem ama o pai ou a mãe, não é digno de mim”. Mas não disse assim, para não falar contra a lei por Ele dada, pois foi Ele que, por meio do seu servo Moisés, concedeu a lei onde está escrito: Honra teu pai e tua mãe. Não promulgou uma lei contrária, mas confirmou-a; depois, ensinou-te a ordem, sem eliminar o dever do amor pelos pais: quem ama o pai e a mãe, mas mais do que a mim. Por conseguinte, deve amá-los, mas não mais do que a mim: Deus é Deus, o homem é o homem. Ama os pais, obedece aos pais, honra os pais; mas se Deus te chamar para uma missão mais importante, na qual o afeto pelos pais poderia servir de impedimento, conserva a ordem, sem suprimir a caridade».


Fonte: Santa Sé

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Catequese do Papa João Paulo I sobre a Caridade


Concluindo nossa série de postagens sobre as Catequeses do Papa João Paulo I nos 40 anos da sua eleição, publicamos hoje sua última Catequese (viria a falecer no dia seguinte), refletindo sobre a virtude da caridade:

Papa João Paulo I
Audiência Geral
Quarta-feira, 27 de setembro de 1978
A caridade

"Meu Deus, com todo o coração e acima de todas as coisas Vos amo, bem infinito e nossa eterna felicidade, e por vosso amor amo o meu próximo como a mim mesmo e perdoo as ofensas recebidas. Ó Senhor, ame-vos eu cada vez mais". É oração conhecidíssima, com expressões bíblicas embutidas. Foi minha mãe que me ensinou. Rezo-a várias vezes por dia, mesmo agora, e procuro explicar-vo-la, palavra por palavra, como faria um catequista de paróquia. Estamos na "terceira lâmpada de santificação" do Papa João: a caridade.
Amo. Na aula de filosofia dizia-me o professor: - Tu conheces a torre de São Marcos? - Conheço. - Isso significa que ela entrou dalgum modo na tua mente: fisicamente ficou onde estava, mas no teu íntimo ela imprimiu quase um retrato seu, intelectual. Mas tu, por tua vez, amas a torre de São Marcos? Significa isto que aquele retrato te impele de dentro e te inclina, quase te leva e te faz ir, com o espírito, até à torre que está fora.
Numa palavra: amar significa viajar, correr com o coração para o objeto amado. Diz a Imitação de Cristo: quem ama "currit, volat, laetatur": corre, voa e alegra-se (Imitação de Cristo, 1. III, c. V, n. 4). Amar a Deus é portanto um viajar com o coração para Deus. Viagem belíssima, embora comporte por vezes sacrifícios. Mas estes não nos devem fazer parar. Jesus está na cruz: queres beijá-l'O? Não o podes fazer sem te debruçares sobre a cruz e deixar que te fira algum espinho da coroa, que está na cabeça do Senhor (Cf. Sales, Oeuvres, Annecy, t. XXI. p. 153). Não podes fazer a figura do bom São Pedro, que foi valente em gritar "Viva Jesus" no monte Tabor, onde havia alegria, mas não deixou sequer que o vissem ao lado de Jesus no monte Calvário, onde havia risco e dor (ibidem:. t. XV, p. 140). O amor a Deus é também viagem misteriosa: isto é, eu não parto se Deus não toma primeiro a iniciativa. Ninguém - disse Jesus - pode vir a mim, se o Pai... o não atrair (Jo 6,44). Perguntava Santo Agostinho a si mesmo: Mas, então, a liberdade humana? Deus, que decidiu que ela existisse e construiu essa liberdade, sabe muito bem como respeitá-la, levando embora os corações ao ponto que tinha em vista: "parum est voluntate, etiam voluptate traheris"; Deus atrai-te não só de modo que tu mesmo venhas a querer, mas até de modo que tu gostes de ser atraído (Augustinho, In Io. Evang. Tr. 26, 4).
Com todo o coração. Faço notar, aqui, o adjetivo "todo". O totalitarismo, em política, é feio. Na religião, pelo contrário, um totalitarismo nosso, quanto a Deus, está muitíssimo bem. Foi escrito: “Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. Estes mandamentos, que hoje te imponho, serão gravados no teu coração. Ensiná-los-ás aos teus filhos e meditá-los-ás quer em tua casa, quer em viagem, quer ao deitar-te ou ao levantar-te. Atá-los-ás, como símbolo, no teu braço, e usá-los-ás como um frontal entre os teus olhos. Escrevê-los-ás sobre os pilares da tua casa e sobre as tuas portas” (Dt 6,5-9).
Aquele "todo", repetido e levado à prática com tanta insistência, é com toda a verdade a bandeira do maximalismo cristão. E é justo: Deus é demasiado grande, demasiado merece de nós, para que baste deitar-lhe, como a um pobre Lázaro, unicamente algumas migalhas do nosso tempo e do nosso coração. bem infinito e será a nossa felicidade eterna: dinheiro, prazeres e felicidades deste mundo, em comparação com Ele, são apenas fragmentos de bem e momentos fugidios de felicidade. Não seria acertado dar muito de nós a estas coisas e dar pouco a Jesus.
Acima de todas as coisas. Agora entra-se numa comparação direta entre Deus e o homem, entre Deus e o mundo. Não seria justo dizer: "Ou Deus ou o homem". Deve-se amar "não só a Deus mas também o homem"; este último, porém, nunca mais do que Deus ou contra Deus ou tanto como Deus. Por outras palavras: O amor de Deus é certamente dominador, mas não exclusivo. A Bíblia declara Jacob santo (Dn 3,35) e amado por Deus (Ml 1,2; Rm 9,13), mostra-o comprometido a sete anos de trabalho para conquistar Raquel como esposa; e pareceram-lhe poucos dias aqueles anos, tão grande era o amor que por ela sentia (Gn 29,20). Francisco de Sales tece sobre estas palavras um comentariozinho: "Jacó - escreve - ama Raquel com todas as suas forças, e, com todas as suas forças ama a Deus; mas nem por isso ama Raquel como a Deus, nem a Deus como a Raquel. Ama a Deus como seu Deus sobre todas as coisas e mais que a si mesmo; ama Raquel como sua esposa acima de todas as outras mulheres e como a si mesmo. Ama a Deus com amor absolutamente e soberanamente sumo, e Raquel com sumo amor marital; um amor não é contrário ao outro, porque o de Raquel não inutiliza as vantagens supremas do amor de Deus" (Sales, Oeuvres, t. V, p. 175).
E por vosso amor amo o meu próximo. Estamos aqui diante de dois amores que são "irmãos gémeos" e inseparáveis. Algumas pessoas é fácil amá-las. Outras, é difícil: não nos são simpáticas, ofenderam-nos e fizeram-nos mal. Só se amo Deus a sério, chego a amá-las a elas, como filhas de Deus e porque Deus mo pede. Jesus fixou também como há-de o próximo ser amado: quer dizer, não só com o sentimento, mas com obras. Este é o modo, disse: Perguntar-vos-ei: Tinha fome, e vós destes-me de comer quando assim estava faminto? Visitastes-me quando estava doente? (Cfr. Mt 25,34ss). O catecismo traduz estas e outras palavras da Bíblia no duplo catálogo das sete obras de misericórdia corporais e sete espirituais. O catálogo não é completo e convinha atualizá-lo. Entre os famintos, por exemplo, hoje não se trata só deste ou aquele indivíduo; são povos inteiros. Todos nos lembramos das notáveis palavras do Papa Paulo VI: "Os povos da fome dirigem-se hoje de modo dramático aos povos da opulência. A Igreja estremece perante este grito de angústia e convida cada um a responder com amor ao apelo do seu irmão" (Populorum Progressio, 3). Neste ponto, à caridade junta-se a justiça, porque - diz ainda Paulo VI - "a propriedade privada não constitui para ninguém um direito incondicional e absoluto. Ninguém tem direito de reservar para seu uso exclusivo aquilo que é supérfluo, quando a outros falta o necessário" (ibid., 23). Por conseguinte, "torna-se escândalo intolerável... qualquer recurso exagerado aos armamentos" (ibid., 53).
À luz destas vigorosas expressões vê-se quanto indivíduos e povos estão ainda longe de amar os outros "como a si mesmos", que é mandamento de Jesus.
Outro mandamento: perdoo as ofensas recebidas. A este perdão quase parece que o Senhor dá precedência sobre o culto: Se fores, portanto, apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; depois, volta para apresentar a tua oferta (Mt 5,23-24).
As últimas palavras da oração são estas: ó Senhor, ame-vos eu cada vez mais. Também aqui há obediência a um mandamento de Deus, que estabeleceu no nosso coração a sede do progresso. Das palafitas, das cavernas e das primeiras cabanas passámos às casas, aos palácios e aos arranha-céus; das viagens a pé, e sobre o dorso de mula ou de camelo, aos carros, aos combóios e aos aviões. E deseja-se progredir ainda com meios cada vez mais rápidos, atingindo metas mais e mais altas: Mas amar a Deus - já o vimos - é também uma viagem: Deus quer que ela seja cada vez mais decidida e perfeita. Disse a todos os seus: Vós sois a luz do mundo, o sal da terra (ibid.. v. 8); sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito (ibid. v. 48). Isto significa: amar a Deus não pouco, mas muito; não parar no ponto a que se chegou, mas, com o Seu auxílio, progredir no amor.


Fonte: Santa Sé

Rito da Nivola em Milão

No último dia 17 de setembro o Arcebispo de Milão, Dom Mario Enrico Delpini, celebrou a Santa Missa no Duomo de Milão (Catedral de Santa Maria Nascente) para a conclusão do Tríduo do Santo Chiodo com a reposição da relíquia da Paixão.

No sábado, dia 15, o Arcipreste do Duomo, Monsenhor Gianantonio Borgonovo, havia presidido o rito da Nivola, isto é, da exposição da relíquia, uma vez que o Arcebispo estava em peregrinação ao Santuário mariano de Lourdes.

Dia 15: Exposição do Santo Chiodo




Dia 17: Missa e reposição da relíquia

Procissão de entrada
Evangelho

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Peregrinação da Arquidiocese de Milão a Lourdes

A Arquidiocese de Milão realizou uma peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora em Lourdes, na França, entre os dias 14 e 16 de setembro, para comemorar os 60 anos da peregrinação ao mesmo destino guiada pelo então Arcebispo, Giovanni Battista Montini (Papa Paulo VI).

Guiou a peregrinação da Arquidiocese ambrosiana o atual Arcebispo, Dom Mario Enrico Delpini, que presidiu todas as celebrações dos três dias:

Dia 14: Missa na Basílica de São Pio X

Procissão de entrada
Homilia
Apresentação das oferendas
Comunhão
Dia 15: Missa na Gruta de Lourdes

Procissão de entrada

Dedicação de igreja em Cracóvia

No último dia 16 de setembro o Arcebispo de Cracóvia, Dom Marek Jędraszewski, celebrou a Santa Missa para a Dedicação da igreja do Santíssimo Nome de Maria em Cracóvia:


Aspersão do altar

Aspersão dos fiéis e das paredes
Entronização do Lecionário

Ângelus: XXIV Domingo do Tempo Comum - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 16 de setembro de 2018

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
No trecho evangélico de hoje (Mc 8,27-35), reapresenta-se a pergunta que atravessa todo o Evangelho de Marcos: quem é Jesus? Mas desta vez é o próprio Jesus que a faz aos discípulos, ajudando-os gradualmente a enfrentar a questão da identidade. Antes de interpelar diretamente os Doze, Jesus quer ouvir deles o que pensam as pessoas sobre Ele - e sabe bem que os discípulos são muito sensíveis à popularidade do Mestre! Portanto, pergunta: «Quem dizem os homens que eu sou?» (v. 27). Sobressai que Jesus é considerado pelo povo um grande profeta. Mas, na realidade, não lhe interessam as sondagens e as bisbilhotices do povo. Ele não aceita sequer que os seus discípulos respondam às suas perguntas com fórmulas já preparadas, citando personagens famosos da Sagrada Escritura, porque uma fé que se reduz às fórmulas é uma fé míope.

O Senhor quer que os seus discípulos de ontem e de hoje estabeleçam com Ele uma relação pessoal, e assim o acolham no centro da sua vida. Por esta razão, incentiva-os a colocar-se em toda a verdade diante de si mesmos, e pergunta: «E vós, quem dizeis que eu sou?» (v. 29). Jesus, hoje, faz este pedido tão direto e confidencial a cada um de nós: “Tu, quem dizes que eu sou? Vós, quem dizeis que eu sou? Quem sou eu para ti?”. Cada um é chamado a responder, no próprio coração, deixando-se iluminar pela luz que o Pai nos dá a fim de conhecer o seu Filho Jesus. E pode acontecer também que nós, assim como Pedro, afirmemos com entusiasmo: «Tu és o Cristo». Contudo, quando Jesus nos comunica claramente o que disse aos discípulos, ou seja, que a sua missão se cumpre não no amplo caminho do sucesso, mas na senda árdua do Servo sofredor, humilhado, rejeitado e crucificado, então pode acontecer também a nós como a Pedro, protestar e rebelar-nos porque isto contrasta com as nossas expectativas, com as expectativas mundanas. Nestes momentos, também nós merecemos a repreensão saudável de Jesus: «Afasta-te de mim, Satanás, porque teus sentimentos não são os de Deus, mas os dos homens» (v. 33).

Irmãos e irmãs, a profissão de fé em Jesus Cristo não pode limitar-se às palavras, mas exige ser autenticada com escolhas e gestos concretos, com uma vida caraterizada pelo amor de Deus, com uma vida grande, com uma vida cheia de amor pelo próximo.

Jesus diz-nos que para o seguir, para sermos seus discípulos, é preciso renegar-se a si mesmos (v. 34), isto é, renegar as pretensões do próprio orgulho egoísta, e carregar a própria cruz. Depois dá a todos uma regra fundamental. E qual é esta regra? «Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á». Muitas vezes na vida, por vários motivos, erramos o caminho, procurando a felicidade só nas coisas ou nas pessoas que tratamos como coisas. Mas a felicidade encontramo-la somente quando o amor, aquele verdadeiro, nos encontra, nos surpreende, nos muda. O amor transforma tudo! E o amor pode mudar também a nós, cada um de nós. Demonstram-no os testemunhos dos santos.

A Virgem Maria, que viveu a sua fé seguindo fielmente o seu Filho Jesus, nos ajude também a caminhar pela sua estrada, dedicando generosamente a nossa vida a Ele e aos irmãos.


Fonte: Santa Sé.

sábado, 22 de setembro de 2018

Homilia: XXV Domingo do Tempo Comum - Ano B

São Máximo de Turim
Sermão 48
Pela humildade se chega ao Reino, pela simplicidade se entra no céu

Se escutastes com atenção a leitura evangélica podereis compreender o respeito que se deve aos ministros e sacerdotes de Deus e a humildade com que os próprios clérigos devem prevenir-se uns aos outros. De fato, tendo os seus discípulos perguntado ao Senhor quem deles seria o maior no Reino dos céus, aproximando a uma criança, a colocou no meio deles e lhes disse: Aquele que se fizer pequeno como esta criança, esse será o maior no Reino dos céus. De onde deduzimos que pela humildade se chega ao Reino, pela simplicidade se entra no céu.

Portanto, quem deseje escalar o cume da divindade empenhe-se por alcançar os abismos da humildade; quem deseje preceder ao seu irmão no Reino, deve antes antecipar-se no amor, como diz o Apóstolo: Estimando aos demais mais do que a si mesmo. Supere-se na afabilidade, para poder vencer-lhe em santidade. Pois se o irmão não te ofendeu é credor ao dom de teu amor; e se talvez tiver te ofendido, é ainda mais credor à dádiva de tua superação. Esta é realmente a quintessência do cristianismo: devolver amor por amor e responder com a paciência a quem nos ofende.

Assim, quem for mais paciente em suportar as injúrias, mais potente será no Reino. Porque ao império dos céus não se chega mediante um título abonado pela faustuosidade das riquezas, mas mediante a humildade, a pobreza, a mansidão. Quão estreita é a porta e quão apertado o caminho que conduz à vida! Em consequência, quem estiver rompante de honras e carregado de ouro, qual jumento sobrecarregado, não conseguirá passar pelo apertado caminho do Reino. E no preciso momento em que acreditar ter chegado à porta estreita, ao não dar espaço a sua carga, lhe impedirá de entrar e lhe obrigará a retroceder. A porta do céu é para o rico tão apertada como estreita é ao camelo o furo de uma agulha. É mais fácil um camelo passar pelo furo de uma agulha que um rico entrar no Reino dos céus.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 470-471. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de Santo Efrém para este domingo, clique aqui.

A viagem do Papa aos Países Bálticos


Entre os dias 22 e 25 de setembro de 2018 o Papa Francisco realiza sua vigésima quinta Viagem Apostólica fora da Itália, visitando os três Países Bálticos: Lituânia, Letônia e Estônia.

A visita de Francisco acontece na comemoração do Centenário da independência destes países e dos 25 anos da visita de São João Paulo II, que esteve nos três países de 04 a 10 de setembro de 1993.

Logotipos das três etapas da viagem

Programa da viagem:

Dia 22 (Lituânia):
O Papa chega a Vilnius, capital da Lituânia, e encontra-se com o Presidente e com as autoridades. À tarde, visita o Santuário de Maria, Mãe de Misericórdia (Mater Misericordiae), e encontra-se com os jovens diante da Catedral de Vilnius.

Dia 23 (Lituânia):
Pela manhã, o Papa dirige-se à cidade de Kaunas, onde celebra a Missa do XXV Domingo do Tempo Comum no Parque Santakos e encontra-se com o clero e religiosos na Catedral. Retornando a Vilnius, visita o museu que recorda as ocupações e lutas pela liberdade do país. 

Dia 24 (Letônia):
Pela manhã Francisco parte para a Letônia, tendo como primeiro compromisso o encontro com o Presidente e autoridades na capital, Riga. Depois de uma visita ao Monumento da Liberdade, o Papa participa de uma Celebração Ecumênica na Catedral Luterana de Riga. À tarde, dirige-se à cidade de Aglona, onde celebra a Santa Missa votiva de Maria Mãe da Igreja no Santuário da Mãe de Deus.

Dia 25 (Estônia):
A última etapa da viagem começa com a chegada do Papa à capital da Estônia, Tallin, onde é recebido pelo Presidente e autoridades. Segue-se um encontro ecumênico com os jovens na igreja luterana de São Carlos e a visita ao Centro Social da Catedral dos Santos Pedro e Paulo. A visita encerra-se com a celebração da Santa Missa votiva do Espírito Santo na Praça da Liberdade.

Maria, Mãe de Misericórdia (Lituânia)

Alguns dados da Igreja Católica na Lituânia:
Número de católicos: 2.590.000 (79,9% da população)
Dioceses: 8
Paróquias: 712
Outros centros de pastoral: 227
Bispos: 17
Sacerdotes diocesanos: 708
Sacerdotes religiosos: 101
Diáconos permanentes: 3
Religiosos (as): 577
Seminaristas: 46
Escolas católicas: 446 (105.891 estudantes)
Universidades católicas: 9 (8.807 estudantes)
Hospitais: 3
Asilos: 26
Orfanatos: 29
Outras instituições sociais: 140

Alguns dados da Igreja Católica na Letônia:
Número de católicos: 413.000 (20,9% da população)
Dioceses: 4
Paróquias: 263
Outros centros de pastoral: 22
Bispos: 8
Sacerdotes diocesanos: 138
Sacerdotes religiosos: 28
Diáconos permanentes: 1
Religiosos (as): 99
Seminaristas: 12
Escolas católicas: 9 (628 estudantes)
Universidades católicas: 1 (53 estudantes)
Asilos: 1
Outras instituições sociais: 4

Alguns dados da Igreja Católica na Estônia:
Número de católicos: 6.000 (0,5% da população)
Dioceses: 1
Paróquias: 9
Outros centros de pastoral: 6
Bispos: 1
Sacerdotes diocesanos: 15
Sacerdotes religiosos: 2
Religiosos (as): 30
Seminaristas: 7
Escolas católicas: 3 (517 estudantes)

Informações: Santa Sé

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Discurso do Papa ao Clero de Palermo


Durante sua Visita Pastoral à Diocese de Palermo no último dia 15 de setembro, o Papa Francisco encontrou-se com os sacerdotes, religiosos e seminaristas na Catedral. Durante seu discurso, o Papa refletiu sobre três verbos: celebrar, acompanhar e testemunhar. Destacamos aqui o primeiro verbo - celebrar - no qual o Santo Padre fala da importância da Liturgia na vida do sacerdote:

Visita Pastoral do Papa Francisco à Diocese de Palermo
Encontro com o Clero, os Religiosos e os Seminaristas
Discurso do Santo Padre
Catedral de Palermo
Sábado, 15 de setembro de 2018

Boa tarde!
Hoje de manhã celebramos juntos a memória do Beato Pino Puglisi; agora gostaria de partilhar convosco três aspetos basilares do seu sacerdócio, que podem ajudar o nosso sacerdócio e também as consagradas e consagrados não sacerdotes, o nosso “sim” total a Deus e aos irmãos. São três verbos simples, por conseguinte fiéis à figura do padre Pino, que foi simplesmente um presbítero, um sacerdote autêntico. E, como padre, um consagrado a Deus, porque também as religiosas podem participar nisto.
O primeiro verbo é celebrar. Também hoje, como no centro de cada Missa, pronunciamos as palavras da Instituição: «Tomai e comei todos vós: isto é o meu corpo, que é dado por vós». Estas palavras não podem permanecer no altar, devem entrar na vida: elas são o nosso programa diário de vida. Não devemos dizê-las só in persona Christi, mas vivê-las em primeira pessoa. Tomai e comei, isto é o meu corpo que é dado por vós: dizemo-lo aos irmãos, juntamente com Jesus. Portanto, as palavras da Instituição delineiam a nossa identidade sacerdotal: recordemo-nos que o sacerdote é homem do dom, do dom de si mesmo, todos os dias, sem férias e sem parar. Porque a nossa, queridos sacerdotes, não é uma profissão mas uma doação; não um emprego, que pode servir também para fazer carreira, mas uma missão. Da mesma forma, a vida consagrada. Todos os dias podemos fazer o exame de consciência até sobre estas palavras - Tomai e comei, isto é o meu corpo que é dado por vós - e questionarmo-nos: “Hoje ofereci a vida por amor ao Senhor, deixei-me "consumir" pelos irmãos?”. O padre Pino viveu deste modo: o epílogo da sua vida foi a consequência lógica da Missa que celebrava todos os dias.
Há uma segunda fórmula sacramental fundamental na vida do sacerdote: «Eu te absolvo dos teus pecados». Eis a alegria de doar o perdão de Deus. E o sacerdote, homem do dom, descobre-se também homem do perdão. Também todos nós cristãos, devemos ser homens e mulheres de perdão. De maneira especial os sacerdotes no sacramento da Reconciliação. De facto, as palavras da Reconciliação não dizem só o que acontece quando agimos in persona Christi, mas indicam-nos inclusive como agir segundo Cristo. Eu te absolvo: o sacerdote, homem do perdão, é chamado a encarnar estas palavras. É o homem do perdão. E analogamente, as religiosas são mulheres de perdão. Quantas vezes nas comunidades religiosas não há perdão, mas há mexericos, ciúmes... Não. Homem do perdão, o sacerdote, na Confissão, mas também todos os consagrados, homens e mulheres do perdão. O sacerdote não conserva rancor, não dá importância ao que não recebeu, não retribui mal com o mal. O sacerdote é portador da paz de Jesus: benévolo, misericordioso, capaz de perdoar os outros como Deus os perdoa através dele (cf. Ef 4,32). Leva concórdia onde há divisão, harmonia onde há disputa, serenidade onde há ressentimento. Mas se o sacerdote é um mexeriqueiro, em vez de levar concórdia levará divisão, levará guerra, fará com que o presbitério acabe por se dividir no seu interior e com o bispo. O sacerdote é ministro de reconciliação a tempo inteiro: administra «o perdão e a paz» não só no confessionário, mas em todos os lugares. Peçamos a Deus para sermos portadores sadios do Evangelho, capazes de perdoar de coração, de amar os inimigos. Pensemos nos muitos presbíteros e nas muitas comunidades, onde se odeiam como inimigos, devido à concorrência, à inveja, nos arrivistas... isto não é cristão! Dizia-me certa vez um bispo: "Eu batizaria outra vez algumas comunidades religiosas e alguns presbíteros para os tornar cristãos". Porque se comportam como pagãos. E o Senhor pede-nos que sejamos homens e mulheres de perdão, capazes de perdoar de coração, de amar os inimigos e de rezar por quantos nos fazem mal (cf. Mt 18,35; 5,44). Rezar por quantos nos fazem mal parece coisa de museu... Não. Hoje devemos fazer isto, hoje! A força do vosso sacerdócio, sacerdotes, e a força da vossa vida consagrada, religiosas, consiste nisto: rezar pelos que praticam o mal, como Jesus.
O ginásio no qual treinar para ser homens de perdão é primeiro o seminário e, depois, o presbitério. Para os consagrados é a comunidade. Todos sabemos que não é fácil perdoarmo-nos entre nós: “Fez-me isto? Então pagarás!". Não só na máfia, mas também nas nossas comunidades e nos nossos presbitérios é assim. No presbitério e na comunidade deve ser alimentado o desejo de unir, segundo Deus; não de dividir segundo o diabo. Coloquemos bem isto na cabeça. Onde houver divisão estará o diabo, ele é o grande acusador, aquele que acusa para dividir, separa tudo! No presbitério e na comunidade devemos aceitar os irmãos e irmãs, o Senhor chama todos os dias cada um a trabalhar para superar as divergências. Isto é parte constitutiva do ser sacerdote e consagrado. Não é um acidente, pertence à substância. Provocar intrigas, divisões, falar mal, mexericar não são "pecadinhos que todos cometem", não: é negar a nossa identidade de sacerdotes, homens de perdão, e de consagrados, homens de comunhão. Deve-se sempre distinguir entre o erro e quem o comete, o irmão e a irmã devem ser sempre amados e queridos. Pensemos no padre Pino, que estava disponível para todos e esperava a todos com o coração aberto, até os malfeitores.
Sacerdote homem do dom e do perdão, eis como conjugar na vida o verbo celebrar. Podes celebrar a Missa todos os dias e depois ser um homem de divisão, de mexerico, de inveja, até um "criminoso" porque matas o irmão com a língua. Estas não são palavras minhas, são do apóstolo Tiago. Lede a carta de Tiago. Também as comunidades religiosas podem ouvir Missa todos os dias, comungar, mas com o ódio no coração pelo irmão, pela irmã. O sacerdote é homem de Deus 24 horas por dia, não homem do sagrado quando veste os paramentos. A Liturgia seja vida para vós, que não permaneça rito. Por isso, é fundamental rezar Àquele de quem falamos, nutrir-nos da Palavra que pregamos, adorar o Pão que consagramos e fazê-lo todos os dias. Prece, Palavra, Pão: o Padre Pino Puglisi, dito "3P", nos ajude a recordar os três "P" essenciais para cada presbítero todos os dias, essenciais para todos os consagrados e consagradas diariamente: prece, palavra e pão.
Homem de perdão, sacerdote que oferece o perdão, isto é, homem de misericórdia, especialmente no confessionário, no sacramento da Reconciliação. É muito ruim quando na Confissão o sacerdote começa a escavar, a escavar na alma do outro: “E o que aconteceu, como fazes...”. Este é um homem que faz adoecer! Estás ali para perdoar em nome do único Pai que perdoa, não para medir até onde posso, até onde não posso... Penso que sobre este ponto da Confissão devemos converter-nos muito: receber os penitentes com misericórdia sem escavar na alma, sem fazer da Confissão uma consulta psiquiátrica, sem fazer da Confissão uma investigação como um detetive que indaga. Perdão, coração grande, misericórdia. Recentemente, um Cardeal muito severo, diria até conservador - porque hoje se diz: este é conservador, aquele é aberto - um Cardeal assim disse-me: “Se alguém vier ter com o Pai, porque estou ali em nome de Jesus e do Pai Eterno, e diz: Perdoe-me, perdoe-me, fiz isto e aquilo...; e eu sinto que segundo as regras não deveria perdoar, mas qual pai não dá o perdão ao filho que o pede com lágrimas e desespero?”. Depois, uma vez perdoado, deve ser aconselhado: “deverás fazer isto...”; ou então: “Devo fazer isto, e far-lo-ei por ti”. Quando o filho pródigo chegou com o discurso preparado diante do pai e começou a dizer: “Pai, pequei!...”, o pai abraçou-o, não o deixou continuar, perdoou-o imediatamente. E quando o outro filho não queria entrar, o pai saiu a dar também a ele aquela confiança de perdão, de filiação. Na minha opinião isto é muito importante para curar a nossa Igreja tão ferida que parece um hospital de campo.
Por último, sempre sobre a celebração, gostaria de dizer algo acerca da piedade popular, muito difundida nestas terras. Um Bispo, que na sua diocese não sabe quantas confrarias existem, disse-me: “Vou sempre ter com elas, não as deixo sozinhas, acompanho-as”. É um tesouro que deve ser apreciado e conservado, porque tem em si uma força evangelizadora (cf. Evangelii gaudium, 122-126), mas o protagonista deve ser sempre o Espírito Santo. Por conseguinte, peço-vos para vigiar atentamente, a fim de que a religiosidade popular não seja instrumentalizada pela presença mafiosa, porque caso contrário, em vez de ser meio de adoração afetuosa, se torna veículo de ostentação corrupta. Vimos nos jornais quando Nossa Senhora pára e é inclinada diante da casa do chefe da máfia; não, isto não vai bem, não está absolutamente bem! Zelai pela piedade popular, ajudai, sede presentes. Um Bispo italiano disse-me: “A piedade popular é um sistema imunitário da Igreja”, é o sistema imunitário da Igreja. Quando a Igreja começa a formular demasiada ideologia, a ser muita gnóstica ou pelagiana, a piedade popular corrige-a, defende-a.

Fotos da Missa do Papa em Palermo

No último dia 15 de setembro o Papa Francisco celebrou a Santa Missa na cidade de Palermo, por ocasião de sua visita à cidade na comemoração dos 25 anos do martírio do Beato Pino Puglisi.

O Santo Padre foi assistido por Monsenhor Guido Marini. Para ler sua homilia, clique aqui.

Procissão de entrada

Incensação
 

Ritos iniciais

Homilia do Papa: Missa em Palermo

Visita Pastoral do Papa Francisco à Diocese de Palermo por ocasião do 25º aniversário da Morte do Beato Pino Puglisi
Celebração da Santa Missa na Memória Litúrgica do Beato Pino Puglisi
Homilia do Santo Padre
Palermo, Foro Itálico
Sábado, 15 de setembro de 2018

Hoje Deus fala-nos de vitória e de derrota. São João, na primeira leitura, apresenta a fé como «a vitória que venceu o mundo» (1Jo 5,4), enquanto que no Evangelho apresenta a frase de Jesus: «Quem ama a sua vida perdê-la-á» (Jo 12,25).
Esta é a derrota: perde quem ama a própria vida. Porquê? Certamente não porque se deve aborrecer a vida: a vida deve ser amada e defendida, é o primeiro dom de Deus! O que leva à derrota é amar a própria vida, isto é, amar o que é seu. Quem vive para o que é seu perde, é um egoísta, dizemos nós. Pareceria o contrário. Quem vive para si, quem multiplica os seus negócios, quem tem sucesso, quem satisfaz plenamente as suas necessidades aos olhos do mundo é considerado vencedor. A publicidade martela-nos com esta ideia - a ideia de procurar o que é próprio, o egoísmo - mas Jesus não concorda e inverte-a. Segundo Ele, quem vive para si não só perde algo, mas também a vida inteira; enquanto que quem se doa a si mesmo encontra o sentido da vida e vence.
Portanto, é preciso escolher: amor ou egoísmo. O egoísta pensa em cuidar da própria vida e apega-se às coisas, ao dinheiro, ao poder, ao prazer. Então o diabo tem as portas abertas. O diabo “entra pelos bolsos”, se fores apegado ao dinheiro. O diabo faz acreditar que tudo corre bem mas na realidade o coração anestesia-se com o egoísmo. O egoísmo é uma anestesia muito forte. Este caminho acaba sempre mal: no fim ficamos sozinhos, com o vazio dentro. O fim dos egoístas é triste: vazios, sozinhos, circundados apenas por quantos querem herdar. É como o grão de trigo do Evangelho: se ficar fechado em si permanece sozinho debaixo da terra. Ao contrário, se se abrir e morrer, dará muito fruto na superfície.
Mas vós poderíeis dizer-me: doar-se, viver para Deus e pelos outros é uma grande canseira por nada, mas a realidade do mundo é outra: para ir em frente servem grãos de trigo, dinheiro e poder. Mas é uma grande ilusão: o dinheiro e o poder não libertam o homem, escravizam-no. Vede: Deus não exerce o poder para resolver os nossos males nem os do mundo. O seu caminho é sempre o do amor humilde: só o amor liberta dentro, dá paz e alegria. Por isso o verdadeiro poder, o poder segundo Deus, é o serviço. É Jesus quem o diz. E a voz mais forte não é a que grita mais. A voz mais forte é a oração. E o maior sucesso não é a própria fama, como o pavão, não. A maior glória, o maior sucesso é o próprio testemunho.
Queridos irmãos e irmãs, hoje somos chamados a escolher de que parte estar: viver para si - com a mão fechada [faz o gesto] -ou doar a vida - a mão aberta [faz o gesto]. Só doando a vida derrotamos o mal. Um preço alto, mas só assim [se derrota o mal]. O padre Pino ensina isto: não vivia para se mostrar, não vivia de apelos antimáfia, nem sequer se contentava com não fazer nada de mal, mas semeava o bem, tanto bem. A sua parecia uma lógica fracassada, e parecia vencedora a lógica do porta-moedas. Mas o padre Pino tinha razão: a lógica do deus dinheiro é sempre fracasso. Olhemos para dentro de nós. Ter estimula sempre a querer: tenho uma coisa e quero imediatamente outra, e depois outra e cada vez mais, sem fim. Quanto mais tens mais queres: é uma péssima dependência. É uma péssima dependência. É como uma droga. Quem se enche de coisas rebenta. Ao contrário, quem ama reencontra-se a si mesmo e descobre como é bom ajudar, como é bom servir; encontra a alegria interior e o sorriso exterior, como aconteceu com o padre Pino.
Há vinte e cinco anos, como hoje, quando morreu no dia do seu aniversário, coroou a sua vitória com o sorriso, com aquele sorriso que não deixou dormir de noite o seu algoz, o qual disse: «Havia uma espécie de luz naquele sorriso». O padre Pino era inerme, mas o seu sorriso transmitia a força de Deus: não um clarão ofuscante, mas uma luz suave que escava dentro e ilumina o coração. É a luz do amor, da doação, do serviço. Precisamos de muitos sacerdotes do sorriso. Precisamos de cristãos do sorriso, não porque levam as coisas a sério, mas porque são ricos apenas da alegria de Deus, pois creem no amor e vivem para servir. É doando a vida que se encontra a alegria, porque há mais alegria em dar do que em receber (cf. At 20,35). Então gostaria de vos perguntar: também vós quereis viver assim? Quereis dar a vida, sem esperar que os outros deem o primeiro passo? Quereis fazer o bem sem esperar nada em troca, sem esperar que o mundo se torne melhor? Amados irmãos e irmãs, quereis arriscar por este caminho, arriscar pelo Senhor?
O padre Pino, ele sim, sabia que arriscava, mas sabia sobretudo que o verdadeiro perigo na vida é não arriscar, é ir vivendo entre confortos, tentativas e atalhos. Deus nos livre de viver em descida, contentando-nos com meias-verdades. As meias-verdades não satisfazem o coração, não fazem o bem. Deus nos livre de uma vida pequena, que roda à volta dos “cepos”. Nos livre de pensar que tudo corre bem se para mim tudo corre bem, e o outro que se arranje. Nos livre de pensar que somos justos se nada fazemos para contrastar a injustiça. Quem nada faz para contrastar a injustiça não é um homem, uma mulher justo. Nos livre de nos considerarmos bons unicamente porque não fazemos nada de mal. “É bom - dizia um santo - não praticar o mal. Mas é mau não praticar o bem” [S. Alberto Hurtado]. Senhor, concedei-nos o desejo de praticar o bem; de procurar a verdade detestando a falsidade; de escolher o sacrifício, não a preguiça; o amor, não o ódio; o perdão, não a vingança.
A vida dá-se aos demais, a vida dá-se aos outros, não se tira. Não se pode crer em Deus e odiar o irmão, tirar a vida com o ódio. A primeira leitura recorda isto: «Se alguém disser: “eu amo a Deus” mas odiar a seu irmão, é mentiroso» (1Jo 4,20). Um mentiroso, porque desmente a fé que diz ter, a fé que professa Deus-amor. Deus-amor repudia qualquer violência e ama todos os homens. Por isso a palavra ódio deve ser cancelada da vida cristã; pois não se pode crer em Deus e subjugar o irmão. Não se pode crer em Deus e ser mafioso. Quem é mafioso não vive como cristão, porque blasfema com a vida o nome de Deus-amor. Hoje precisamos de homens e mulheres de amor, não de homens e mulheres de honra; de serviço, não de opressão. Precisamos de caminhar juntos, não de correr atrás do poder. Se a ladainha mafiosa é: “Tu não sabes quem eu sou”, a cristã é: “Eu preciso de ti”. Se a ameaça mafiosa é: “Tu vais pagar”, a prece cristã é: “Senhor, ajudai-me a amar”. Portanto, aos mafiosos digo: mudai, irmãos e irmãs! Deixai de pensar em vós mesmos e no vosso dinheiro. Tu sabes, vós sabeis, que “o sudário não tem bolsos”. Nada podeis levar convosco. Convertei-vos ao verdadeiro Deus de Jesus Cristo, amados irmãos e irmãs! A vós, mafiosos, digo: se não fizerdes isto, perdereis a vossa própria vida e será a pior das derrotas.
Hoje o Evangelho termina com o convite de Jesus: «Se alguém quiser servir-me, siga-me» (v. 26). Mas siga, isto é, ponha-se a caminho. Não se pode seguir Jesus com as ideias, é preciso lançar mãos à obra. «Se cada um fizer alguma coisa, muito pode ser feito», repetia o padre Pino. Quantos de nós põem em prática estas palavras? Hoje, diante dele questionemo-nos: o que posso fazer? Que posso fazer pelos outros, pela Igreja, pela sociedade? Não esperes que a Igreja faça algo por ti, começa tu. Não esperes que a sociedade o faça, começa tu! Não penses em ti mesmo, não fujas da tua responsabilidade, escolhe o amor! Sente a vida do teu povo em necessidade, ouve o teu povo. Receai a surdez de não ouvir o vosso povo. Este é o único populismo possível: ouvir o teu povo, o único “populismo cristão”: ouvir e servir o povo, sem bradar, acusar ou suscitar conflitos.
Assim fez o padre Pino, pobre entre os pobres da sua terra. No seu quarto, a cadeira onde estudava estava partida. Mas a cadeira não era o centro da vida, pois ele não estava sentado a repousar, mas vivia a caminho para amar. Eis a mentalidade vencedora. Eis a vitória da fé, que nasce da doação diária de si. Eis a vitória da fé, que leva o sorriso de Deus pelas estradas do mundo. Eis a vitória da fé, que nasce do escândalo do martírio. «Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos» (Jo 15,13). Estas palavras de Jesus, escritas no túmulo do padre Puglisi, recordam a todos que dar a vida foi o segredo da sua vitória, o segredo de uma vida boa. Hoje, queridos irmãos e irmãs, escolhamos também nós uma vida boa. Assim seja.


Fonte: Santa Sé